Monday, May 28, 2007

parábola quase pulguenta

a noção de piedade das igrejas(eu disse igrejas, portanto amplie o conceito para além do catolicismo, protestantismo,etc, pode incluir, se quiser, até o conceito de igrejas literárias) eu prefiro a crueldade dos incréus. pois não acredito em cortes sem sangue, na assepsia do discurso já grangrenado moralmente.

no templo, um quase sinônimo de igreja, que a minha ignorância semiótica não vai ser desperdiçada aqui, mora um cachorro. um entre outros. este mais cachorro do que qualquer outro, no sentido de bonacheirão como ele só. o terreno do templo é grande. mas o mundo é maior. e nele cadelas em cio fazem na sua fé o chamado maior. deu brecha, e lá vai ele para os "pecados do mundo", como todo bom cachorro o faria. e nisto passam-se semanas até que desejo saciado ou frustação maior ele volte, magro, doente, reiniciando um ciclo, que também é o ciclo da vida.

cachorro fujão, cachorro das cachorras, não presta para nada. não toma conta do templo, não late, não afugenta, não morde. só quer saber de fugir e ir às cachorras.

que se mande então o cachorro para o canil municipal, pensa a mente pragmática encarregada de propagar a doutrina da verdade da vida, baseada na compreensão e na felicidade de praticar os bons atos, enquanto não se compreenda as mazelas e tortuosas ruelas da vida.

frente ao canil, espetáculo mal cheiroso de esqueletos chamados cães, um certo arrependimento. uma certa dúvida não se sabe da fé ou do ser humano.

o cachorro salvou-se pelo arrependimento. não dele convicto pela boa fé da sua natureza e dos bons atos que mandam-o instinto a procriação. mas não salvou-se do eterno xingamento de cachorro inútil, safado, não presta para nada, só quer saber de fugir,de ir as cachorras.

na mente do cachorro qual o pensamento sobre os humanos que lhe alimentam a carcaça enquanto distratam-lhe a alma?

há quem diga que cachorros não tem alma, um tipo de desculpa eterna para aliviar a não consciência da maldade humana que se manifesta na quase carrocinha que a maioria de nós carrega como uma sombra maldita.

quanto ao templo, que prega as boas coisas da vida, nem o arrependimento lhe salva da sua maior verdade: alimentam-se cachorros e almas desde que elas não abanem o rabo para a liberdade.

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