Friday, May 18, 2007

demasiadamente humano


recolho o cão de rua que namora a minha amizade. abraça-me e enfia a cabeça ora entre minhas pernas ora entre as axilas.
temos um diálogo comum. ele fede e eu não ando muito bem do hálito.

todo dia vem eu dou-lhe leite que para ele tamanha avidez, imagino algo além da carne, carne que ele não prefere ao leite, muito pelo contrário.

fede ainda o cão de rua, piaba, por ser de pescador. miguel, porque o achamos esperto, justo nome na terrra da malacagem ou miguelagem.

além do leite, cismo que para fazer-me melhor deve tomá-lo misturado a ração. o miguel faz-me as vontades, e vá lá, toma o leite com ração de cachorro pequeno, foster, adquirida a preços de supermercado chique em mercearia de povão.

miguel não me induz a cheirar os beiços e cuidar do hálito. mas cismo que tenho de dar-lhe um banho para que entre nos conformes.

nossa amizade continua a mesma. toda dia pela manhão ele me vê e faz o ritual de sempre: enfia-me cabeça entre as pernas ou fucinho entre as axilas e lá vamos nós tomar leite e comer aquela ração para satisfazer o homem.

pego-lhe de jeito e sabobete de coco a mão digo-lhe sem escapatória: vai ao banho.

rosna e tal banho não dura meio lombo, nem pense em costelas, que já foge e desaparece na rua.

outro dia me vê e passa desconhecido. fico com o rabo entre as pernas refletindo sobre a parábola: melhor a liberdade suja do que a escravatura limpa.

miguel tem razão e coração. eu, perdi a amizade por conta de um banho.

continuo com o hálito agora sem ter o interlocutor que não me cobrava escovar os dentes
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