Sunday, October 29, 2017

das janelas laterais

daubigny´s garden, van gogh



na minha infância
de janelas
e alpendres
quase todos
tínhamos
visões
de
van goghs
nos
quintais
a nos encher a vista.

hoje,
sequer
francis bacon.

                

Wednesday, October 25, 2017

o cover ainda vai lhe tornar a sombra de suas sobras

Resultado de imagem para picasso



atribui-se a picasso o pito: nada pior do que plagiar-se a si próprio.

na vida, o que seria o plágio de si próprio? o cover, talvez, principalmente quando você tenta viver de novo, a todo custo, melhor dizendo a toda cópia, o que já viveu originalmente. nem o clone lhe tenta ser tão fiel como o cover.

há muitos fazendo cover por ai. na vida e na música(mais na vida do que na música. não deixe os ouvidos lhe enganarem, e tampouco acredite no que veem os seus olhos). e o drama do cover é sempre o mesmo: mesmo que supere o original, será sempre o cover. é raro, mas acontece. já fazer coladinho, ou seja, exatamente igual, mas tão igual, que o cover acaba sendo chamado de cópia - e nada mais depreciativo para o ego de um cover do que ser chamado de cópia - o cover de si mesmo é um holograma pálido, apenas isto, que não me escute o erasmo (assim como eu não o escutei nessa). 

sobre o cover entendo que não deve ter como meta a cópia, mas sim algo aproximado, guardando um mínimo toque seu que seja(poucos fizeram isso, mas só na música). e o cover, na versão faça diferente, mas tão diferente, que deixa de ser cover e passa a ser outra coisa, e que por isso mesmo, na maioria das vezes vai levar bordoada porque a grande maioria vai dizer: - ah! mas nem se parece com o original. assim até eu faço(não fazem, pode acreditar).

então eis o dilema: fazer igual, superior ou diferente? estamos falando agora de vida meus caros covers. não dá para fazer igual o que deixa de ser igual no meio do segundo do que quer que seja que você esteja fazendo, porque neste átimo de tempo já foi. se fizer estribilho, também já foi, não é o mesmo, nem na metade dele. o cover do passado é medíocre como só o pior cover poderia ser.

fazer superior é pra poucos. e se seu nível é rasteiro, é um indício de que dificilmente - se você toma o cover como modelo - vai superar-se a si próprio a ponto de não mais ter de se copiar naquilo que já foi feito, porque o que você sente, o tune, já é outro, seja pela idade, seja por qualquer outra circunstância, mesmo que você arme o cenário tal e qual um plágio na sua galeria dos quadros retidos pela memória.

resta o fazer diferente, o que não é fácil, neste mundo que incentiva o cover - não vê que os programas musicais de originais foram substituídos por programas de covers? -  e que chega a valorizar mais a cópia do que o original. até mais dos que eles chamam de bons exemplos ou da versão diferente da partitura na qual eles tentam nos enquadrar, sem direito a voo próprio, só o trinado da cópia doutrinada.

há quem goste de ser cover - é mais fácil andar na cola dos outros, mesmo que seja de você mesmo.

quanto a mim, matei o meu cover de porrada e deixei o corpo estrebuchado lá na quina calçada, onde rasguei a cópia que se atrevia a querer mandar em mim. (e antecipando a presepada, confisquei-lhe dos bolsos os ingressos para os meus próximos shows. para não dar incentivo aos covers que sempre ficam na espreita).


Saturday, October 21, 2017

nem sempre questão de tato



diante
da porta do amor
homens e mulheres
em dúvida
de qual
campainha tocar
entreolham-se
ante
as instalações trocadas.
presenciando 
o impasse
o amor 
lá de dentro
desiderou:
entre sem tocar
é menos
complicado.
                                                   

Friday, October 13, 2017

desculpas pra que te quero


sempre digo a mim 
e se digo a mim, 
digo a mim mesmo 
- ora ora
pra que o pleonasmo vicioso
se já basta o vicio de mal escrever ? -

que não escrevo livro ou romance
porque me falta paciência
já que o talento
hoje em dia
é frase que não conta

conto eu então 
outra lorota
forma de falsa
autocrítica
que não cola

assim como o livro que não rola
por impura falta de talento
mesmo que de dentro pra fora
ou dos fora pra dentro
seja o autor
ainda que em pseudônimo
a verdadeira
e destemida
obra
não entra de sola
o até possível escritor
desta provável novela
furada
que só lhe renderia chacota
e aborrecimentos
portanto muito provável
perda de tempo

como disse
não tenho a menor paciência
-e poupem-me da insistência -
que nestas horas o talento sobressai-me
ao menos para a recusa

já me basto
a lamber-me as botas
como todo escritor metido
diz que não, mais gosta

fim de papo.

(entro
e fecho a porta)
agora vamos lá 
à serio
escrever sem sermos 
molestados
por quem quer
e o que quer que seja
que quer que eu seja escritor
porque foda-se! 
não tenho a menor paciência

23717




Saturday, October 07, 2017

pega-pega


a morte moço ? ah! não se engane. a morte, ela te pega pelo pescoço. ferrenha, sanguinária, impiedosa, sufocante e carrancuda.

mas a vida, ah! a vida moço, esta te pega por onde puder, pudor ou pudera. 

* quem foi criança, grande ou pequena, no recife dos anos 60, aprendeu também que a vida também pegava pela garganta. em goles de sete vidas, contidos e explodidos nas pequenas garrafas do guaraná fratelli vita. em suas dependências arrasadas, pelo bombardeiro imobiliário de agora, vida ainda há. um pega-pega de arbustos com vitrais,  ton sur ton de melancolia e memória que resplandece sabores do outrora. sabor que ainda guardo nos lábios. por ele, lhe digo moço, que a vida é um refrigerante, um gasosa de sabor único, seja à talagadas ou aos goles delicados, desfrutada ainda melhor se não nos importamos com formato ou tamanho da garrafa. aliás, fato é, que a vida nunca se importou muito com isso. mas, tristemente, muitos de nós, sim. e assim sendo, não aproveitaram o tal sabor, até sentir na garganta, o tal aperto da morte, à seco


foto-montagem de gustavo arruda, autor de
a história da fratelli vita no recife.

Tuesday, October 03, 2017

fruto de nosso dente, além


entre os verdes que não vingam
semente da vingança 
podres rogados aos maduros: 
não se quedarão em carnosidades ávidas 
bocas não lho morderão 
há de ser caroço 
condenso de tudo aquilo 
que somos mas não pudemos ser 

(frutificar, olinda, 220817)