Tuesday, August 30, 2011

troco

em certa perspectiva, os pobres tem a vida muito rica mas eles são pobres.

sob certa ótica, espelhadamente complementar, os ricos tem a vida muito pobre mas eles são ricos.


Monday, August 22, 2011

vesti azul


já não se fazem olds man como antigamente.

não estou falando de picasso ou burroughs, por exemplo, que detonou sozinho todas as preventivas sobre drogas. exceção da regra, por aventuras, o homem fez tudo de não encontro aos manuais de vida saudável e tornou-se longevo, produtivo e iconoclasta - e bota iconoclasta nissso - apesar de todo alcatrão e toda espécie de química alucinógena que ousou adentrar seu corpo passando longe dos abrigos e piedade dos que o detestam ou não o compreenderam, destestável por isso mesmo: eis o retrato da nossa pobreza ontológica: detestar tudo aquilo que não se compreenda. capítulo a parte, a parte em que assassinou a mulher, quando quis bancar o guilherme tell(robim hood depois dos filmes não se pasta mais) e em vez de acertar a maça sobre a cabeça daquela que amava - sim, ele a amava, como só os homossexuais sabem amar uma mulher - acertou em cheio a cabeça.

mas voltando ao assunto dos old, and womens que avançaram no tempo, estou falando da mutação que confere novos olhares sobre os que passam dos sessenta, setenta, já não tão difícil oitentas e começam a se contar centenas de casos sobre os noventa operantes.
para a minha geração, quando da adolescência, nos conturbados anos sessenta(toda adolescência é conturbante, até mesmo a desta geração que não merece a minha simpatia tamanha idiotia. coisas de velho?) sim, completar quarenta era o adeus as colegiais, o preparo para pousar a barriga em algum bairo de subúrbio recordando elvis e similares?elvis teria similares? hum, o tempo passa - e como isso é bom, ao contrário do que se pensa em contrário, desde que evidentemente você o torne um aliado( o tempo é o que você faz dele, não se esqueça, diz o mote do comercial de certa marca de relógios, contraditoriamente? descartáveis).

já nos anos oitenta, quarentões passaram a ser o charme para lolitas e borboletas cansadas. anos 90: cinquentões já se tornam capazes de fazer o que até eles duvidavam. fim do século passado e os sessentões não viam no espelho a imagem do fim do mundo e com a descoberta da internet descobriram que era possível sim fazer também aquelas sacanagens virtuais para além de sonhos molhados, por lágrimas. no travesseiro.
viramos o século e setentões, homens e mulheres, dizem não ao fim do sexo, refinam-se em modos e atitudes - menos os dedicados a carolagem e outros tipos de associação com religião - metem a mão na massa a frente ou na retaguarda de ongs e muitos deles são a vanguarda intelectual de um tempo onde os adolescentes conseguem se dizer geração y mas que não sabem nada do bé a bá da escrita que os espera. inclusive ler ou interpretar o que quer que seja.
casos há em que oitentões e noventões, seguem em frente, sem muletas psicológicas, fisicamente e intelectualmente invejáveis(sem a aflição que nos causam certos anciões de terços incontáveis a desmanchar-se a nossa frente, alguns com corcovas a mostrar o peso do tempo hipócrita) - levando a vida, não a normal que imaginamos para longevos bem comportados que devem suplicar a nossa caridade, mas muito pelo contrário a nos confrontar com seu " mau exemplo" ante a covardia de uma juventude que já nasceu, em sua grande maioria, imprestável e com defeitos de fabricação graves no tocante ao carátere propósitos.
mas como definir então o momento em que nos tornamos velhos - terceira idade ou melhor idade é mais um daqueles eufemismos com os quais o politicamente correto anula a verdadeira luta política -   ou não? para além das ameças concretizadas ou não dos avcs, enfartos, diabetes, alzheimers, parkinsons, escleroses, neuroses, que aterrorizam tanta gente? como deciframos esta virada do placar ? já que decididamente a fonte da juventude não há, muito embora já se flerte com as possibilidades concretas de nos tornarmos cyborgs com peças de reposição negociadas na prateleira?
penso que nos tornamos velhos quando deixamos de sonhar e passamos a recordar. e mais velhos ainda quando ficamos a sonhar e deixamos de realizar. e muito mais ainda quando perdemos a capacidade de dizer não,quando nos confinamos ao papel de dizer sim, quer pela comodidade, quer pelo medo de não ter aonde cair, como se algo fosse necessário quando se está a cair.

a vida nem sempre é o contrário da morte. tampouco a morte é a sua negação.há muitos vivos mortos, de tão enterrados em convenções, e muitos mortos vivos acima de qualquer suspeita. portanto, digo que a vida é a morte vestida de azul para um baile de debutantes que dura o tempo do compasso de espera de cada um. e se torna mínima ou máxima pelo andamento que se marca e se forja entre o acaso e a necessidade do convívio consigo próprio nesta imensa orquestra chamada universo, que se expande e se contrai muito mais dentro da cabeça de cada um do que fora. neste contexto - e para mim em todos os outros - a figura de deus, que o senso comum define como uma espécie de maestro de todos os universos, é tal a daqueles maestros cuja batuta regedora tem apenas a função de tentar conter, mas sem conseguir, o solo de vida, fora da partitura, dos verdadeiros imortais.

in tempo: não é porque vocês vestem jeans que podem achar-se vessidos de azul. de há muito que a geração jeans mais do que desbotada ficou-se pelo roxo mofo mortalha.