Friday, September 16, 2022

Tuesday, August 30, 2022

pétalas

meu coração dragqueen coitado é teen é flor de mármore jazz petrificado em lençóis de cetim é máscara de veneza sorriso amarelo de cariz carmim é clava escudo é fenda estio é pan é sininho aí de ti aí de mim e fim ( porto 22 Jun 2002)

Monday, August 08, 2022

mordida

do fundo do meu canino quebrado tenho a certeza meu coração é de um cão abandonado

Sunday, July 24, 2022

overdose

em tempos de escuridão política religiosa uma coisa não se separa da outra pois xifópagos cerebrais que são existem para derrocada da liberdade e sendo as drogas veredas a outras possibilidades de enxergar a realidade e a não realidade na qual estamos imersos lucidez é droga altamente perigosa e como tal seus usuários são alijados da sociedade como todos os drogados por mínima dose que seja nem precisando ser na veia nesses tempos onde a normalidade de tal modo alienada em torpor covarde fez da loucura o barato que só bate e volta

lustra-móveis

dignidade sempre tem mais brilho na pobreza mas o estômago não concorda 

Thursday, July 21, 2022

anjos caídos

dos suicidas ainda que não queiram vivem entre a agonia da pena ou desprezo em tributos melosos ou raivosos carimbados em mais uma das condenações decretadas pelo tribunal dos vivos que sempre tem razões para justificar a sua sanha contra quem decidiu interromper a viagem sem usar toda extensão do bilhete talvez por não aceitar que talvez eles vivos sejam os loucos ou covardes em continuar vivendo pelas beiradas e não aqueles que dizem bye bye com ou sem very well pra infortúnio de quem os preferia vivos ainda que na merda mas que não respingasse pra todo lado de sorte que contra a maré que não está pra vida eu os saúdo bem aventurados no seu desespero ou em seu mergulho para o mar da tranquilidade não que seja fácil indolor ou desafio de tik tok pois também unhapiness is a warm gun e ninguém aguenta as mãos queimando por mais tempo que o necessário para disparar ainda que cantando seja zombie ou não suicidas deixam claro que não querem bilhete de volta mas são sempre  cobrados pelo preço da passagem inteira e assim ninguém os esquece como devedores de satisfação o que arrisco pensar que os deixa ainda mais insatisfeitos do que antes do tudo ou nada

o vendedor de lenços

decidi que não terei mais lágrimas para a morte apenas para a vida

das ciências inexatas

estatística é prepúcio de problemas esteja você dentro ou fora delas se estiver na tal margem de segurança - eu chamaria de insegurança - dos tais pontos para cima ou para baixo fodeu você não é mesmo tendo sido ou é sem nunca ter quais das duas fodas não sei pior se como dizia levestein que foi apropriado por um certo ministro da economia que se apropriava de muito mais que a estatística é como o biquíni que mostra o sugestivo mas esconde o essencial você é o traço do equívoco da existência ainda que aparentemente sinta-se sugestionado como um existente que nunca está lá ou sempre desaparece por mais que os números digam que se faz presente em suma a estatística o ignora penhoradamente por mais que ela diga que você é o objeto de sua existencia

Thursday, July 14, 2022

o pecador

quando deus redimir-de de seus inúmeros pecados entre eles o homem subjugado e genuflexório talvez eu o tire do purgatório 
 hermes pato, mendigo nas ruas de madrid, 1940

Wednesday, July 06, 2022

últimos dias de pauperia*

meu avô materno era calvo calvície alinhada lustro no tom certo mesmo de chinelos de couro transpassado findando a trabalhar num mercado público de bairro excomungado de posses rico que já foi tinha postura elegante mas sem afetação nunca em tempo algum tinha postura de caráter que jamais terei já meus tios filhos de tal avô desalinhados de tudo nada mais preciso dizer de suas calvicies meu pai amazônia intocada e assim talvez esperei a calvície que não me apanhe pelo menos antes dos 50 passou do ponto demorou não demorou mas chegou a beira dos setenta torquato neto que morreu cabeludo e muito mais muito antes disso já dizia que difícil mesmo é não cortar o cabelo quando a barra pesa grande difuso meu cabelo assim até poderia encobrir por mais uns aninhos a alopecia que o finasterida retarda mas que não detém principalmente nos velhos não alivia o termo nem na bula pois bem antes que a barra pese mais do que pesa pois a barra semore vale o quanto pesa decidi eu mesmo imolar a minha amazônia já um tanto ou quanto devastada sem maiores percalços e ditirambos de despedida muito embora as longas madeixas jogadas ao leo me trouxesse imagens que prefiro não são de narrar agora é tudo vento e nenhum cabelo no olho se os cabelos são antenas para os céus como crêem os dreadlocks eu a partir do fato ando meio desligado e furarei as nuvens com o que restar e por certo aquela gatinha de cabelos azuis no esplendor dos seus 90 anos que disse-me em meio a fila no caixa do supermercado que os meus cabelos eram muito bonitos não irá me reconhecer se me vir novamente e certamente nem o espelho nos últimos dias de pauperia                                              ( *título de livro sobre torquato)

lines on my face

até poderia acreditar em deus se me fizesse envelhecer como o peter frampton nem precisava o sorriso que esse não posso mais mesmo com as facetas que a odontologia usa para fazer toda gente ter aquele sorriso impessoal neon onde todos se tornam ainda mais artificiais em sua incrustada perfeição fudida de tão perfeitinha que é a falácia dos sorrisos exacerbadamente clareados que até o branco se sente amarelo como o riso dos manequins diante de tamanho over que até bonito fica quando fica mas nunca gente de cara e dente como quem tem aquele canino torto aquela obturação frontal fatídica ou o sizo encravado ou eternamente sumido que nós dá a certeza de que somos o que somos neste mundo onde banguelas casta mais paria não há não terão outra faceta nesta vida cada vez mais mórbida de tantos sorrisos falsos já que a alegria não se sabe mais a cor que não seja branca ainda que branca seja a palidez da fome e da morte que não desperdiça nenhum matiz                                 https://youtu.be/I_Kv1O2KpoA                  

Wednesday, June 29, 2022

última sessão de cinema

velhice é a vida em slow-motion isso se você escapar do final quadro a quadro naquele hoje cinema porno do centro da cidade outrora de balcões dourados e luxuosas poltronas onde tradicionais famílias soltavam seus peidinhos estalando pipocas vida agora se resume a  "tercetos" de intenções desencontradas o jovem casal fugidio na falta de local de encontro discreto emburacou imaginando ser ideia divertida mas que logo se enoja com as poltronas manchadas de espermas que tiveram origem em juras de amor que se esfacelaram na esquina ali por volta dos cinquenta o tal cinema que já não existe também não existiria quando as juras dos adolescentes de agora tropeçarem na sua esquina a decadência da velhice e do cinema é tamanha que o projetista que se masturbava a cada sessão agora preenche palavras cruzadas enquanto a fita desfoca e empanca no equivalente de bunda com sete letras qualquer dia destes a sessão é interrompida e duas ou três vaias puxarão o cântico final a velhice depois do slow motion ou quadro a quadro acaba em fita partida cuja luz que dizem ver os que morrem é a lâmpada do projetor que logo começará a piscar para depois apagar para sempre mesmo que desencadeie curto-circuito pra incendiar quarteirão vida inteira ou meia entrada quem acredita nas promessas dos trailers não terá final feliz

Tuesday, May 24, 2022

tic-tac tim-tim

ficando velho de verdade consciência se torna manto pesado tempo passou e ainda estou aqui ou más allá ou sequer estou (tenho algumas dúvidas) quando velho de verdade o ser presente se perde facilmente no passado ou tropeça no futuro inexistente ainda que se avulte presente é rua de pedras e paralepipedos pontiagudos em muitas topadas de açúcar e sal velhos de verdade sonham com a mesma indecência sonhos dos adolescentes se estes perdem tempo velhos de verdade ainda conscientes não tem tempo e agarram-se as escarpas da memória para sonhar paisagens dos tempos perdidos o tempo perdido é a criptomoeda que nunca se valorizou e esvaziou-se na cotação do mercado das almas incompletas uns investiram tudo na hora errada outros pouco na hora certa como sempre o tempo notório especulador magnata das finanças ganha sempre numa agiotagem existencial sempre a cobrar juros de mora do nosso passado cominado as multas do nosso tempo o futuro é um emprestimo consignado que o presente não pode pagar a conta não bate e o velho de verdade que bate bem tem consciência de que o manto da velhice esconde um bebê nu que esperneia mas ninguém percebee gasta suas últimas moedas num gole de alteração da consciência que teima em não deixar-se entorpecer o velho de verdade é um tolo ou um sábio mas ainda mais verdadeiro é o velho tarado e gagá nele eros e tânatos duelam e brincam com o humano enquanto o velho de verdade baba e se engasga de passado presente e futuro num brinde que não borbulha mais

Thursday, May 12, 2022

asas pra que te quero

mundo é injusto todo mundo sabe no cocoruto no bolso ou no rabo mas uma das maiores injustiças gatos não terem asas mesmo que os passarinhos discordem veementemente

Friday, May 06, 2022

uma pequena prova de amor

muito cuidado para ao despertar o ódio dos medíocres não ser medíocre também desenho cuidadoso do antônio quaresma

Monday, April 04, 2022

"nada do que é humano me espanta"

tudo que podia fazer pelos "homens" fiz pelos animais pelos "homens" me arrependeria pelos animais nunca mesmo quando eles me deram as costas humano que há em mim desaponta e quase se desmonta mas o animal não é instintivo mesmo que pareça contraditório meu entendimento eu faria o mesmo sem deixar pegadas

Monday, March 28, 2022

carpe dien

gatos não tem 7 vidas amores também não

amores vãos

amores são como a vida de um cão duram pouco e quando excedem o prazo feridas abrem se tornam mancos arrastados e sem o menor senso de orientação não fosse isso o amor quase nunca acaba na hora certa

Thursday, February 24, 2022

o sorriso de duncan

quão afortunado sabe ser aquele ou aquela que obteve o sorriso de graça de zélia

Wednesday, February 23, 2022

quase me afogando

da janela via o mar
o mar que é um mar de coisas e seres
que nos atraem ao tempo que nos amedronta.
mas o que plantei no quintal
minúsculos e minúsculas 
fruta pão, mangueira, coqueiros
goiabeira e parreiral e mais amoras mamoeiros, abacateiros e jaqueira - e das bananeiras não posso me esquecer, nem das pitangueiras e dos pés de acerolas e pinhas
cresceu tanto mas tanto mas muito
que tapou a vista do mar
e é este o meu dilema ecológico
para ver o verde do mar tenho de cortar o verde das árvores
caso contrário fico a ver navios
mas como vou explicar isto aos bem-te-vis, e tantos outros pássaros que nem sei o nome apenas sei das suas multiplas cores a moverem-se em picardia picando frutos antes que eu possa comer e também aos saguins, timbús, lagartixas, salamandras e as formigas
que para ver o mar do qual tenho medo
mas que me presenteia com suas praias quase infinitas
que esta é minha praia 
que o mar de verde deles me impede de ver sereias acenando até mesmo quando 
eu não estiver mais aqui




juventude transviada

que jovens são esses
que se recusam a morrer 
disfarçados de velhos serelepes
que sobrevivem resistindo a toda sorte de ditaduras
inclusive a da moda
permanecendo fieis a seus ideais 
ora comunistas
ora woodstockianos
acreditando que o novo sempre vem
mas que não saem dos anos 70
quando a utopia mostrou seu corpo e suas caras 
pra morrer 
num logo após
bem antes da
virada do século
empanturrada de fastfood
o que já não lhe permitia
nadar nua
nas noites de lua
nos mares do sul
sem nem ao menos 
ouvir o canto do cisne 
da última banda
da qual já nem se lembra o nome
abafada pelo tilintar de moedas 
que é o novo riff do rock de quem já nem sabe que o rock não morreu
mas que mumificou-se
na pele de um pandeiro
que não shake mais.




Tuesday, February 15, 2022

sem tirar de dentro

eu não quero o para sempre eu quero o aqui e agora e pra ontem.

semana de vinte e vinte e dois

um dia a elite comerá do biscoito grosso que eu produzo. será o funk?

recusa

não quero obituários
não quero lavagens do corpo - e roupa preferida pra enfeitar caixão
não quero velórios
não quero homenagens - nem discussões se mereço ou não
não quero orações que peçam (ou se apiedem) pela minha alma e nem solenidades de passagem 
não quero que me vejam em espírito tampouco lembranças eflúvias nem saudades sentidas
não quero ressuscitar
quero sumir
nem que não seja em boa companhia

Monday, January 24, 2022

recuerdo

um dia, faltarei aos gatos, assim como faltarei a mim. e tudo será apenas sombras, ilusão e podridão.