Sunday, December 31, 2023

contabilidade reversa

será que farei 69 aos 70?

não é lendo as orelhas que se chega ao cérebro

hermilo borba filho; rainer maria rilke; paulo francis; carlos heitor cony; o vampiro de curitiba(dalton trevisan) e baudelaire, estão, com destaque, na lista dos que me influenciaram a viver. não digo escrever, porque se assim o digo, ponho por terra a "máxima" que ler bons escritores vai fazer de você, se não melhor, alguém que valha a pena ser lido. um não paulo coelho, não ser, já me basta - consciente de que estou a quilômetros de produzir sequer um borrão dos citados, ainda mais que, se muito, não passei das crônicas, gênero dificílimo, onde rubem braga, paulo mendes campos, nelson rodrigues, já demarcaram território difícil de estabelecer cabeça de praia, ainda mais onde entrincheirado está machado de assis - o que já é um feito fenomenal não afundar nos caminhos do mago do faturamento. os escritores citados, juntos, não venderam sequer um quarto do que vendeu o dente de coelho, amuletando-se num misticismo equivalente a "macumba inspiracional zen de auto ajuda filosófica de shopping". e olhem que deles já se pode dizer eternos, clássicos, enquanto o coelho jamais passará de um fenômeno editorial. tolo esbravejo da mais pura inveja dos zero à esquerda? não diria isto quem leu " os pequenos poemas em prosa", o spleen em paris, de baudelaire; o ventre de cony; as cartas a um jovem poeta de rilke; a trilogia de novelas de hermilo; as novelas nada exemplares de trevisan ou as crônicas de francis, de quem muito se falou mal de sua incursão na literatura mas o homem tinha estilo, até mesmo quando blefava, o que não é para amadores. disso tudo, o melhor que me ficou foi: nem sempre ler os bons nos torna bons. mas ler os maus nos torna piores. assim, ler os bons nos afasta dos medíocres e nos permite escapar da falsa literatura onde o dente de coelho roi não só o seu bolso como o seu cérebro. então pode-se assim dizer que o junta-te aos bons é fulcral. assim, mesmo que não te tornes um deles, não estarás em má companhia. e neste caso, antes bem acompanhado do que solo.

Friday, December 29, 2023

stand down

perco o amigo mas não perco a piada. "que estupidez perder um amigo por conta de uma piada". que fique claro desde já que o problema não é a piada; é a qualidade da piada ou do amigo nalguns vasos. até os inimigos merecem uma piada onde o humor não despreze a sutileza e o riso seja não um peido mas uma navalha sobre seus pescoços.

Monday, December 25, 2023

fazendo tipo

pergunta ressurgente. do repórter iniciado a parente chegado. escritores, cantores, escultores, fotografia, cada um a sua pena, gostam de enfeitar a resposta. comigo não violão. por quê escreve? não tergiverso. escrevo porque gosto de conversar comigo mesmo. e como ainda não estou no estágio de ficar falando comigo mesmo no meio da rua ( que eles erroneamente classificam como estar falando sozinho) escrevo. ah! mas e os leitores?  como eles participam desta conversa? bom, não acho de bom tom alguém participar da conversa alheia.

Saturday, December 23, 2023

pintando o presente

não porque seja natal - dar um presente no natal, para mim equivale a dar uma dedada em cristo ainda na cruz - e como calhou de só agora achar o exemplar que ilustra a postagem e que procurava há tempos, adquiri o exemplar, um pouco surrado mas íntegro, num sebo virtual sim senhor - o que deve sair incomum para alguns que acham que presente só valem os saídos das lojas em sacolas outdoor de marcas - para presentear alguém, que o merece, obviamente: por quê dar presente a quem não merece, por força da imposição de datas, equivale a presente de judas. este, vai logo depois da virada do ano, para fugir deste tempo de dedadas e de vendilhões de gorro. presentes, no meu parco entendimento idiossincrático, excêntrico é o que eufemisticamente dizem, só valem fora das datas que o comércio estabelece como oficiais e que "de brinde" estabelece  também como sanção praticamente excomunhão a quem não der. assim, não dou presentes no natal, aniversários, seja do que for, nascimentos, batismo, dia dos namorados, criança, mãe, vó, nem da paz mundial. presente pra mim, é antecipar o futuro e resgatar o passado, na alegria de no instante presente lembrar de alguém e de certa forma demonstrar que estamos presentes no seu infortúnio ou no seu júbilo para além do presente. alguns presentes fazem sorrir, outros chorar. penso que o presente ideal faria alguém chorar de rir ou não. mas talvez pela pouca habilidade satisfaço-me, ego à parte, se o presenteado chorar ou rir. e quiçá não seja porque achou o "presente de chorar ou rir" se é que me entendem. lembrança tida, busquei um livro, por presente. a pessoa é "mais velha" e por certo não cultiva a estupidez, a idiotia, a ignorância, da geração que pensa lacrar quando diz que mais de duas linhas é textão. não lacra mas de certa forma traz na testa o lacre de analfabeto funcional, algo que neste país dá mais do que "xuxu na serra". e nada de autores " besta sellers" que este tipo de literatura nem pra papel higiênico serve. mas um autor local mas universal : canta a tua aldeia e serás universal, já dizia um certo tolstoy - quase esquecido a não ser fora dos círculos bem restritos que gostam de textão. e os textos de hermilo, se não o presente, em certas passagens fazem chorar de rir sem abrir mão da seriedade com que agrava sua literatura que seriedade não é sisudice. assim, vindo de um sebo - instituição que nos alivia o bolso (mas nem sempre) e o espírito, possibilitando encontrar velhos amigos (se você não considera os livros seus amigos você está cercado de falsos amigos) - que julgavamos desaparecidos, isso por sí só um grande presente para mim também, que é boa está sensação de presentear não o que a gente gosta mas algo que não desgoste presenteado e presenteador. não quero tecer loas a mim próprio: mas creio que a escolha foi boa. assim, contribuo de certa forma para que os sebos continuem possibilitando encontros; e ao escolher um autor cuja obra merece bem mais reedições possibilito novos encontros, novas amizades e oxalá eflúvios a quem o ler. se for gostado se fará eterno. mesmo que não passe do instante do recebimento que o presente nada mais é do que isto: vida em átimo.


o sono é sagrado


na manhã nublada de dezembro os gatos dormem. gatos são animais crepusculares, o que quer dizer que eles dormem entre o alvorecer e anoitecer. espalhados pela casa, inusitados são os locais de escolha para tal sono. o que importa não é o lugar, é a lição deles dada de que o sono é sagrado, seguida à risca, ao contrário dos humanos que reclamam da falta de sono - leia-se dificuldade para dormir ou sono sem qualidade - quando justamente os próprios despropositadamente vilipendiam o próprio. mais velho, já não durmo tanto, eu que sempre dormi pouco, o que dizem outros humanos, que também não dormem muito bem, não é bom mas é característica desta fase crepuscular, que antecede o sono eterno (e ainda bem que é sono porque se for insônia eterna, aí fodeu!)apesar da rede convidativa que tantas vezes divido com eles mas não aprendo, assim como tantas outras coisas, ponho-me a escrever pequenas sonecas, como esta. mas de uma coisa tenho certeza: quando aqui já não mais estiver, eles não deixarão de dormir por minha causa, nem no primeiro dia da eterna ausência. pois para eles, sempre, o sono é sagrado e nada o deve interromper. isto posto, percebo-me sonolento em plena manhã e caio num sono ronronado, quase tão gato como eles.

Thursday, November 16, 2023

receita para uma vida saudável

da vida, de tudo um pouco, daqueles poucos que não sejam muitos, incluindo o veneno criado pela própria natureza, das suas próprias entranhas, dos ultraprocessados e sobretudo dos inimigos, incluindo desafetos dos ex-amores, cujo ódio é sempre maior que o amor que um dia porventura tiveram. de tudo um pouco; que é saudável não sorver a vida de uma talagada só. não é a vingança que é um prato frio. esta também, se caso for, de tudo um pouco, mas de uma esticada só para não perder tempo com o que vale a pena - se tal vingança assim o é. e aproveitar o resto em coisas benfazejas como suscitar o ronronar de um gato. quanto a pratos frios e quentes, a morte é que é um prato que se deve comer frio. tendo a consciência de que não há almoços grátis e que o perdão em tal hora é tal qual sobremesa estragada. uma vida saudável requer uma certa disciplina para o de tudo um pouco, moralmente inclusive. sempre vai haver momentos em que você vai querer ou tudo ou nada. nesta hora o de tudo um pouco deve o guiar. não é o veneno que não mata que nos torna fortes. é o conhecimento de nossas fraquezas por isso mesmo o de tudo um pouco mais que um alíbi é um princípio para quem deseja ter um meio e não empancar antes do fim.

Tuesday, November 14, 2023

i want tô bem alone ou greta garbo quem diria acabou no cabo de santo agostinho

talvez o grande problema dos idosos hoje em dia seja o culto ao velho cult, ou seja: aquelas diversas tentativas de querer permanecer em evidência principalmente exortando o fato de que tem 70,80,90? mas com uma cabeça - e por quê não um físico? - de quarentão. e vamos correr maratonas, tem uns até iron man como se isso fosse sinônimo de dar três sem tirar de dentro.comigo não violão. quero mais é curtir minha decadência solo. veja lá se vou perder meu tempo tentando provar aos outros que dei a volta no tempo e que bocó e gagá é ele e não eu. tenho mais o que fazer, como por exemplo ler bukowski, que tomou e comeu todas até o fim da vida  cagando e poetando para aqueles que sentiam asco por sua aparência decadente e asquerosa inclusive moralmente, isso coisa lá dos caretas que chamam a tudo depravação, aquelas coisas que gostariam - e muito de fazer - e não fazem ou não podem justamente porque são uns depravados de meia tigela até que irrompem em surtos assassinos. dizem que o homem/mulher ( ressalvo que o processo de envelhecimento é sempre mais cruel com as mulheres cujos hormônios são seus melhores amantes na juventude e seus piores carrascos na velhice) sim, homem e mulher, ao envelhecer tem dois caminhos. o da sabedoria, tão pouco trilhado e o da mais completa estupidez que parece ser a high way preferida. como diz a canção do cazuza( as canções do cazuza nunca são só do cazuza) blue do ano 2000, que não é das mais tocadas, "quando eu for velho, tarado e gagá" ( ser gagá não é ser estúpido ou idiota penso até que são uns gozadores a troçar da nossa pretensa esperteza quando não somos e pensamos que nunca vamos ficar velhos - qual caminho nestes casos não tem errada) bom quando eu for velho, tarado e gagá, as duas primeiras já matei. ser gagá é uma arte em dissolução. vou levar ainda um tempo. mas creio que é o melhor atalho entre a esperteza e a estupidez. mas o melhor de tudo é que pode ser exercitada sozinho e só posteriormente apresentada ao grande público. que obviamente baterá palmas e pedirá bis. e ainda mais que óbvio agradecerei com o i want to be alone.

Wednesday, November 08, 2023

acidente ortográfico

dedão do pé troncho. para sempre trincado e inchado. a culpa é das vírgulas, que me perseguem e levam a topadas piores que chutar a quina do refrigerador( nestas é o mindinho que se fode). e o que dói mais, como se topada que enverga o dedão já não doesse pra caralho, é a repetição. não sei mais quantas vezes fraturei o dedão. mas raios! quantas vezes no mesmo lugar? se não estivesse fraturado dava umas bicudas nas putas das vírgulas; já que não posso, condeno as reticências ao desaparecimento. e as expulso do vernáculo com um peteleco.

posologia (cozinha na água fria dona maria)

pra salvar minha vida, que não é lá grande coisa -  se bem que quanto "mais pequena", mais preciosa é a vida, que se não chega a ser grande, em duração e eventos é sempre maior nos seus menores - sim, me entupo de remédios, cujos efeitos colaterais equivalem a suicídio premeditado e referendado por recomendação médica. antigamente, jocosamente ou não, mais velhos diziam que as macaxeira plantadas em " solo santo" ou seja:  nos espaços pútridos bem nutridos por mortos podres, em vida ou não, eram as melhores, incomparáveis, finalizavam. então, reflito que morte imprestável será a minha: corpo puido e poluído de substancias químicas, médicas e não médicas, que terminarão por enfraquecer as macaxeiras, que se não morrerem de desgosto, morrerão mirradas por falta de adubo melhor. assim, enquanto devolvo a terra matrizes das macaxeiras que antepassados dizem ser de cemitérios, as melhores até então, penso como adubar minha pequena plantação em vida, mesmo que ela não seja lá grande coisa, para que as macaxeiras não mirrem de morte pela vida que mesmo pequena ainda pode, agorinha mesmo, lhes servir de adubo. depois, melhor sorte não terão as macaxeiras, vítimas dos meus efeitos colaterais que poluirão a terra que deveriam adubar.

Monday, October 16, 2023

bianco martini

se a curiosidade matou o gato, o humano enterra ainda mais sorte e desdita pela busca do minucioso nas peculiaridades da sua existência. essa mania de meter-se em relojoeiro das possibilidades é a sua desgraça maior, ainda que isso o leve a " evolução da humanidade", o que, convenhamos, é um critério pra lá de controverso. principalmente quando se desmonta os tics e tacs intestinos ao fundo - que a mais nova é descoberta que a microbiota até pode mais que o cérebro -  onde o lógico e o ilógico é a sua tentativa sempre frustada de querer encamisar os fatos da vida como se ser lógico ou ilógico detivesse o movimento do universo que, também convenhamos, decididamente não conspira a nosso favor. o que parece lógico na existência, é absolutamente ilógico. e o ilógico é absurda e teimosamente lógico. mas o humano faz sempre uma confusão do caralho ao submeter o que quer que seja aos critérios da logicidade e ilogicidade. o que há de lógico num peido ou ilógico ? o tal acaso e necessidade são coincidência ou determinação de deuses ou que quer que seja? para sua felicidade, o humano poderia sair por aí soltando seus peidinhos, fagueiro na vida, nesta caminhada que quanto mais longa mais curta é. mas não: tem de classificar o peido, numa fenomenologia barata que ele eleva a um categoria de metanoia, desaprendendo o que a natureza ensina a cada respiração: quanto mais simples mais complexo é. e vice-versa. e quanto mais elaborado o discurso mais vazio, embolorado e inutil se tornará, quando não genocida. no arcabouço de uma jornada que iniciou-se no pó de alguma estrela até virar o pó de merda em que nos tornamos e que não melhora com o nosso fim (na verdade terminamos antes de começar) a tortura a que o humano se submete, subvertendo as leis da natureza, cuja mais bela é: existir naturalmente, sem pensar n existência como um processo cerebral, plantas e animais que o digam - o humano até inventa a filosofia que nada do que acontece fora do seu cérebro existe, o que tanto tem de lógico, como de ilógico e de sísifo tentativas de desvendar o que é ou não é - enquanto subverte, a começar da destruição da própria e portanto da sua, que deformada agora é sua propria natureza: pensar que se constrói algo destruindo ou que reconstruir é a prova maior da sua capacidade, é atestado de pós doutorado de espécie nociva e de uma estupidez tamanha, que não satisfeito eleva a categoria de ciência - aqui também o ilógico está mais do que lógico. mas tem de sublinhar. por quê o humano imediatamente dirá que não é lógico, o pensamento, que leva a ciência ser classificado de nociva, não tem lógica ou é ilógico , percebem? enquanto isto, vida e morte, a beira de algum vulcão extinto, que se tornou lagoa azul nos açores, conversam sobre acontecimentos em outras galáxias tomando seu bianco martini - mas sem gelo. que até às águas das alturas já são residências de micro plásticos, lógico, of course. mas que coisa mais ilógica sô. não?

Sunday, September 24, 2023

fiat lux

a fotografia capta o que ao olho escapa; o que a alma despreza; o que o espírito não alcança. atrevo-me a dizer que só a fotografia ( mas não toda fotografia) enxerga a realidade como ela é. sem ela, o humano é cego e ainda mais estúpido do que é. a lente de uma câmera fotográfica é o portal através do qual o tempo se apresenta se dilui e se recompõe como se não houvesse testemunhas. 

Thursday, September 14, 2023

restos de bagagem

não tente recuperar o passado, é inútil. tente recuperar o futuro. pode ser que tenha alguma utilidade no presente momento. de resto, nada de bagagens para o fim de viagem. pra onde você vai malas nem recordações são necessárias. e você não vai querer pagar por excesso de bagagem por aquilo que decididamente não vai usar.

Friday, August 25, 2023

pássaros sem asas

medíocre vem do latim mediocris. ou seja: é o mediano. não é tão ruim mas também não é tão bom. é a sinapse entre o gigante e o minúsculo, a qualidade e a falta dela. e muitas vezes entre a criatividade e a cópia -  inconsciente. porque consciente já passa a ser mau caratismo, o que afeta não só o medíocre mas também o gênio. o humano na sua vivência descompromissada ou sem maiores ambições vive e convive muito bem com sua mediocridade. não é sequer impedimento para ser feliz. felicidade medíocre, obviamente. mas se há um tipo de humano e uma atividade onde a mediocridade é uma pedra no rim, uma leshimaniose, um furúnculo na bunda e total impedimento para a felicidade e verdadeira realização pessoal, é na arte. ser ou ser considerado um artista medíocre é a anátema que faz um passarinho sem asas se sentir privilegiado. a mediocridade para o artista é o pantano que o afasta do olimpo. sim, porque não há gênios medíocres muito embora alguns medíocres sejam gênios em não reconhecer a sua mediocridade e de arrastar seguidores com a sua ilusão ou retumbante cara de pau ( romero brito é o exemplo da vez). quando se tem a consciência da mediocridade enquanto artista tomam-se atitudes extremas para fugir dela ou digamos enganá-la. foi o que fez o guitarrista blueseiro robert johnson ao fazer um pacto com o diabo - outros preferiram o pacto com o absinto - e que acabou entrando para o clube dos 27 ( artistas que morreram aos 27) onde se destaca o jimi hendrix. lenda, fato? há quem diga que sim, que ele não era habilidoso até fazer o tal pacto. outra lenda ? é a de salieri em relação a mozart. compositor de recursos, ante a genialidade de mozart teria lhe caído mediocridade como cortina cerrada a seu brilho. mas o fato é que o artista medíocre é um condenado em vida por tal condição e em morte a viver, a depender do seu grau de mediocridade, do seu tempo e dos congêneres, como exemplo da ave que não voa, mesmo que aqui e ali enseje alcançar a linha do horizonte. por quê mesmo que a ultrapasse, por um bafejo de vento qualquer, será sempre arrastado para os medianos que regem seus impulsos por maior que sejam seus desejos e esforços para fugir da mediocridade. o medíocre consciente da sua mediocridade, que não se afasta do seu mister artístico em busca de algo onde não possa ser assim ou assado, é uma espécie de prometeu - aquele que por revelar, segundo a mitologia, o fogo do conhecimento aos homens, foi condenado a viver por toda eternidade acorrentado ao cáucaso com um corvo bicando o seu fígado diariamente. como era imortal e o fígado se regenerava a noite, no outro dia o corvo voltava todos os dias para todo sempre. moral da história: aos medíocres não lhes salva o figatil. não é a embriaguez do corpo ou do espirito que vai salvá-los dos corvos. a mediocridade na arte é uma condição insustentável para o artista como tal e que tem a consciência de que não há arte onde está presente a mediocridade.

a última valsa do amor

humanidade, movida pela ânsia de poder e rentismo desenfreado, reduziu as possibilidades do amor ainda florescer, ao ponto de que até o amor é suspeito e incriminado, contrariando a máxima de que o réu é inocente até prova em contrário. como os robôs e as bonecas infláveis são considerados pela maioria tara insípida, sobrou para os animais preencher este vazio de amor, o qual oferecem até à mão que os extermina. o rabo abanando do cão, o ronronar do gato, o cheirar do animal que não é costumeiro amar ou o deixar nos amar, é o que resta de ainda puro entre o céu e o inferno por onde o amor costumava transitar. mas isto também está em extinção. a chamada indústria pet infantiliza, distorce, exacerba o falso amor, em nome do lucro que não ama ninguém, sequer a sí próprio, pois o amor verdadeiro é um prejuízo, pensam eles e por isso mesmo engendram um fake amor na forna de babilaques para os quais os animais não dão a mínima, até se chateiam, quando não sofrem pela obrigação de ostentar estes símbolos de amor prensado em números sobretudo quantitativos. os cachorros de madame até sofrem da depressão que reflete este amor monetizado que também não resolve a depressão das madames. enquanto isso, em noite chuvosa, o sem teto e seu vira latas esquelético, dançam a dança da fome e do amor verdadeiro, num delírio de vida que muito provável não terá encore de outra valsa.

Thursday, July 13, 2023

o guitarrista

mal entrado na adolescência, desejo ser um guitarrista cujos solos teriam o fio de uma navalha. deceparia o pudor das moças recatadas sem sequer um respiro e dos senhores da guerra, obteria troncos espalhados ao deserto, disputados a tapa por serpentes, aves, vermes e lagartos. soaria mínima, corte sutil, nota de passagem, sem desafinar os graves. mas isto aparando as unhas, pensei, samurais já faziam com suas espadas de aço, forjadas em rituais onde bramiam o som do silêncio que é vermelho em fogo e nunca branco, azul ou espelhado. hoje o guitarrista, que não fui, toca instrumentos domésticos, acariciando, se muito, colo de longevas adolescentes que no ouvido da memória ficam ainda mais castanho esverdeados quando vem as lágrimas mas que se tornam mais bonitas quando um imaginario rubor maquia as rugas do rosto. toco uma música só, sei, que nunca é repetitiva, porque por mais que tudo leve a crer que a vida tem momentos e pessoas em itens de repetição, nada se repete. nem a nota de passagem que o guitarrista em sustain entre escalas dos altos e baixos das cifras que lhe couberam tatuou no braço. e que soa sempre diferente a cada audição que a encontra. as pausas dão a esta nota um legato que me escorreu por entre os dedos. depois, das pausas, concertos, em sol ou dor maior, sempre em improviso, a vida afinando seu instrumento solo no diapasão da existência momento que me toca ou se esvai .

Thursday, July 06, 2023

politicamente co-reto

uma crença na qual aqueles que convivem com animais os encontrarão no infinito depois que esticarem as pernas, baterem as botas ou baterem a caçuleta povoa o imaginário de muitos.
muitos donos, palavra que não se usa mais, com o politicamente correto nos encorajando ou seria escorraçando? a nos chamar de tutores, por certo baseados na presunção de que podemos tutelar alguma coisa, muito menos a quem nos é muito superior. antes que quede estupefato, esbraveje ou desdenhe, reafirmo que é certo que um animal é incapaz de formular teorias no território da física nuclear mas por outro lado, quem entre nós, é capaz de caminhar, nadar, voar,  milhares de quilômetros sem gps,  bússola, quadrante, giroscópio que seja, de volta ao começo ou até o fim, girando e fazendo o mundo girar apenas com a memória instintiva? ante seu queixo caído pelo desconhecimento do sentido magnético da vida  -  a ignorância humana não admite o conhecimento imenso sobre as leis da vida que os animais de qualquer espécie absorvem e reproduzem num bater de asas, no cheiro, no toque e sabor, isso sem perder de vista o instinto e a capacidade de antever catástrofes, que nem com aparelhos de última tecnologia somos capazes de prever, até porque a idiotia e estupidez, cada vez mais reinantes,  nos transforma em agentes de catástrofes, inclusive a nossa própria -. 
voltando ao assunto inicial, se isso for verdade - do encontro com os animais que amamos e que por eles fomos,  muito mais, amados, direi, com a imodéstia e presunção que nos são tipicas, que, no meu caso, não será um encontro: vai ser um "comício". mas onde prometo estarei calado. até porque, a morte nos dá o dom de tudo dizer e perceber sem a necessidade de uma só palavra. inclusive a mais nefasta de todos que se chama deus. esta que tenta impedir o encontro do homem consigo próprio e com aquilo que ele tem de mais belo enquanto despido de si e exposto na pele de um animal, que mesmo morto, ainda assim continua a nos alimentar em vida até que chegue a hora de um encontro, que não se realizará porque já aconteceu. 

Monday, July 03, 2023

Sunday, June 04, 2023

paradoxo

cuidar dos tantos animais está fisicamente me matando. ao mesmo tempo é o que me faz espiritualmente vivo - não me venham com baboseiras religiosas. até quando o paradoxo se sustenta? " abandonado a própria sorte " miíases( bicheiras) fizeram o estrago. recuperado, não se pode dizer que a sorte não lhe foi boa.(" presentemente, posso me considerar um sujeito de sorte. ano passado eu morri mas este ano eu não morro").
 

Monday, April 24, 2023

carpe dien - o tal eu dissolvente

experiência única, ainda vivo, ver o corpo decompor-se, desmanchar-se, derreter, esfarelar, amolecer, falhar, trucar, enquanto a alma ( não no sentido místico e ou religioso) permanece dura e atenta. não desperdice este momento com lamúrias. há gente que se foi sem nunca ter tido esta experiência. ser velho, sim, decididamente, não é a melhor coisa do mundo. ainda que seja uma merda, desde que você esteja lúcido - o que não impede de ser um velho louco - é muito melhor que morrer jovem vestido de uma aparência que te engessa na ilusão da juventude que se pensa eterna, o que além de ser um logro, é uma das sacanagens mais cruéis que pode existir; pois a gente quase acredita mesmo que ser jovem é ser imortal. imortais são os velhos que vieram e fizeram por onde, aqueles do tipo que frente a morte, não se quedam em arrependimentos e aí aí meu deus. quando chega a hora, pulam no abismo e gritam: que se fodam! entre zombeteiros, despachados e iconoclastas. ainda sem saber, nós os dizemos coitados. mas certamente isso é o que eles acham de nós. e eles tem razão, porque eles tem a razão e a emoção da experiência.    
" eu não quero ser moderno. eu quero ser eterno " ( picasso em seu atelier, foto andré villers,1955 )

Monday, March 27, 2023

to be not

atualmente em dúvida: but oh, that magic feeling, no where to go ou o what hell am i doing here. não que eu dê alguma importância a epitáfios. mas antes que alguém escreva algo do tipo que me faria revirar na cova, fica a sugestão. no caso da escolha não agradar a quem incubido do trabalho sujo, fiquemos com o lacônico " thend". pode não ser um barato. mas é mais barato. cabe em qualquer lápide pequenina. nem posso dizer uma contribuição final para o meio ambiente porque todo morto o empestia. e epitáfio nenhum salva o defunto disto.o.