Thursday, June 28, 2007

retrato em preto e branco


dizem que os índios não se deixam fotografar porque acreditam que a foto lhes rouba a alma. eu também acredito nisso piamente. por isso detesto fotos, detesto ser fotografado, salvo aquelas muito editadas, a meu gosto evidentemnte.

mas quem não é assim? mesmo aqueles que adoram ser fotografados?
fazer pose é fundamental. tirar várias e várias fotos também. mesmo amadores, quando tem possibilidade, fazem isso, agora ainda mais com as possibilidades inesgotáveis das máquinas digitais que permitem dezenas, centenas de fotos. profissionais então, muitas, para que seja feita a escolha da foto que lhe convém.

mas há uma exceção de onde a alma de ninguém escapa. o retrato para os documentos. já reparou que estes ninguém mostra? e se mostra sempre diz que está horrível neste retrato?

pois bem, esta é a nossa verdadeira alma. horrível. é por isso que a fotografia, como dizem os índios, nos rouba a alma. a alma idealizada do homem dito civilizado que ser quer diferente daquilo que realmente é.

quanto aos índios, seu temor da caixa fotográfica é justamente o inverso. que ela lhes roube o que tem de mais puro, deixando para futuras revelações o que hoje se vê da realidade que ninguém quer fotografar,

nunca é demais pensar que nós também já fomos índios algum dia, pelo menos antes da alma nos ser roubada. e nem falamos dos tempos de agora onde nosso espectro a procura da fama faz qualquer foto de lambe-lambe parecer obra de arte.

alcançando o nirvana

escrevo sempre com alguns dos cachorros aos meus pés. invariavelmente lá pelas tantas da madrugada um deles se aproxima e com a pata posta sobre a minha perna interrompe a escrita com um pedido de cafuné.

devidamente assoberdado, tento resistir inflando-me da autodisciplina da não interrupção para tentar dar um ar sério a girandôla de palavras as quais tento atribuir utilidade em significação e que talvez por isso mesmo caçoam de mim como bolas de gude a fugir-me das mãos.

mas quem resiste a um rabo abanando? e olhe que não é de nenhuma mulata mas apenas de um cachorro vira-lata que me convida de volta à vida que esquecemos onde está.

no momento que acedo a seu pedido o mundo torna-se perfeito porque pára de existir. somos só eu e o cachorro que me conduz ao nirvana onde ele e eu somos uma só respiração.

neste momento percebo o quão é tão difícil para os monges budistas, mesmo os tibetanos, alcançar o nirvana: eles não tem rabos de cachorro a abanar-lhes a vida demostrando o quanto é inútil esta postura de lótus que ainda periga nos deixar bífidos com o rabo sem balanço.

esqueça o dalai lama. preste atenção nos rabos que abanam, de preferência naqueles que estavam petrificados pelo abandono e maus tratos, e que você ao retirar da rua, do canil municipal, da casa de onde não tem amigos, do fim da feira fétida, fez abanar.

Wednesday, June 27, 2007

o direito a preguiça

os jovens, e nesta categoria enquadram-se os muito jovens, os nem tanto assim, e os pra lá de jovens,não conseguem arranjar emprego porque são jovens.

os velhos, e nesta categoria enquadram-se os mais velhos, os menos velhos, os velhos velhos e os quase velhos, porque são velhos.

mas o pior acontece com os de meia-idade: não conseguem emprego porque ficaram no meio do caminho e não são uma coisa nem outra. e como não podem ficar mais jovens devem ficar um bom tempo desempregados até ficarem velhos o suficente para não arranjar emprego porque são velhos.

aliás, é inacreditável, como mesmo assim continuam trabalhando apesar de não conseguirem emprego.

talvez este seja o mal de todas as idades. as pessoas querem empregos e simplesmente não conseguem trabalhar na maioria dos casos por isso mesmo.

o emprego, conclui-se, é uma coisa que dá muito trabalho conseguir, e isto cansa. por isso mesmo é melhor empregar seu tempo num trabalho mais produtivo.

Monday, June 25, 2007

com medo ou com pedro?

e aí, você pensa com o coração, com a razão ou com o bolso? que é o símbolo da razão exarcebada ou do coração atrofiado.

eu não penso, pensou o que pensa bem antes de tomar a decisão. mas ai já era tarde. já havia tomado a decisão.

Friday, June 22, 2007

tiro pela culatra


quando pequenos muitos dos meninos da vizinhança se divertiam amarrando bombas no rabo dos gatos. nunca fui disto. era um menino cagão como se dizia na época. no máximo acertei 3 ou 4 lagartixas, com badoque que me maldiz a mão até hoje. suas caudas voltaram a crescer. eu cresci mas o menino nunca mais ficou bom da mão. mas bomba em gatos não. suas caras apavoradas frequentam minhas tenras lembranças até hoje como um pesadelo do qual a memória não me deixa acordar. e nas situações em que me vejo agoniado tenho-lhe a cara do desespero, muito embora nunca tenha ficado realmente despesperado ante a morte que ainda brinca de esconde esconde.

hoje, ante-véspera de são joão, vejo o desespero de algum dos meus cachorros e dos gatos do telhado, com as bombas que ribombam incessantemente como se fossem um bombardeiro interminável. e escapo-me a pensar que tal qual deviam sentir-se as lagartixas sobre fogo cruzado dos atiradores

e daquilo de menino que não cresceu em mim - praga talvez das lagartixas - bate-me uma vontade tinhosa de amarrar um bomba no rabo de cada um desses que soltam fogos nas festas de são joão como se estivessem amarrando fogos na cauda do gato.

mas como sabem, nunca mais fiquei bom de mão ou seria ainda aquela coisa de cagão?

Thursday, June 21, 2007

nem imortalidade nem ressureição

uma vez definitivamente provado que a imortalidade não existe, não custa lembrar que o que estava em jogo ontem não era só o ser imortal, era a própria ressureição.

como a libertadores acabou, nesta o grêmio não resusscita mesmo. o diabo é que vem o internacional por aí com aquele vermelho inferno.

até se ganhar, é purgatório.

Wednesday, June 20, 2007

historinha de minifúndio

eu tenho uma terrinhas. daquelas que você compra mas não tem dinheiro pra construir.já tentaram invadir,diminuir,e até crescer,contanto que eu ajudasse a terra de outras a crescer muito mais.

é um lugar onde quero morar até onde possa viver. pra ficar bem com todos tenho de subverter a minha consciência e não apontar que andaram metendo a mão no terreno que era destinado a equipamentos para a comunidade. aliás,se fizer isto,não só fico bem com a turma do poder como de repente ainda faço carreira política no local que se quer turístico. afinal como publicitário, pegava bem ser o secretário do turismo do local que tem uma anta a se dizer de um. e o que é ainda melhor: ainda abocanhava de favores outra terrinha ao lado que deveria ser uma pequenina, bem pequenina, mas ainda assim importante área verde, que ao final das contas era o que faria mesmo com a própria.

os meus valores estão para a minha consciência como uma minifundio da sobrevivência da minha existência enquanto pessoa. a terrinha extra,que só vai me dar mais problemas, pois se não tenho dinheiro nem para murar uns parcos 3 mil metros,como vou murar mais uns 1.500? são o latifúndio que por poucos metros podem me transformar no crápula latente que existe em todos nós nestes tempos onde qualquer vantagem é a diferença entre a vida e a morte do homem premido entre a subserviência e a sobrevivência.

a barriga tem consciência ou a consciência da barriga acaba sempre falando mais alto?

Tuesday, June 19, 2007

cisco no colírio


por que choras? perguntava o homem que chorava a moça que chorava junto apiedada dele que sem saber porque já chorava um pouco mais ao ver a moça tão bonita assim chorar tão feio que não sabia ele por causa dele que não sabia ela agora chorava ainda mais por causa dele que perguntava sem cessar por que choras?

Saturday, June 16, 2007

conto para o guardanaposdeescriturario.blogspot.com

do meu pai não herdei muitas qualidades que não sei se ele tinha ou se eu não soube colher entre a nossa convivência de vida arrancada e atribulada

mas herdei-lhe a barriga, e que por isso mesmo quero eliminá-la.

sabe-se lá se eu não estou grávido de mais um estorvo?

Friday, June 15, 2007

a pedra do reino


a rede globo investe maciço no seu projeto de tornar um dos mais reacionários dos nossos escritores em pedra de toque da cultura nordestina-brasileira usando com permissidade recíproca o avatar ariano suassuna para encher os olhos de juris e compradores nas próxima feira de compra de programas internacional. o universo suassunesco, tratado pelo "experimentalismo datado " do "primo luiz", um quase armorialista de ocasião, serve bem ao propóstito, e ainda a outros como atestar a força da nordestinidade dos 35 anos globais na hoje mais que nunca sede cultural das sesmarias de riba. no contexto "cultural" de um pernambuco que a tudo devora e diz sua cultura o paraibano suassuna foi operacionalizado de radical a radicado, esta sim uma pedra do seu novo reino, monarca da terra que já quase pária se quer renascida como lugar onde além de nascer a pátria nascedouro da nova cultura beatnik-mangue.

a globo não importa liderar o ibope do horário. o foco não é este. sua estratégia tampouco é qualificar a programação. e sim, através da estranheza da dita arte, menos literária, mais teatral, em nada televisiva, não cinema mais linguagem de vídeo experimental datado, nele incrustando para além da película, marca de jogo de meninos grandes, a crônica deficiência, cultural?, do eterno som de merda do cinema nacional, e da construção narrativa em linguagem de letras e lentes que compreendem muito mais os malucos das feiras nordestinas do que o telespectador da classe média periférica que ainda sintoniza a televisão, afirmar sua supremacia na realização de um espetáculo de deleite do esvaziado padrão global já que desaprendeu a fazer com competência comercial televisão.a aparente contradição de produzir um produto não comercial para afirmar a sua supremacia é o grande texto de quaderna.

quanto a ariano, detestável por algumas de suas posições, tornou-se um escritor vivente de seu maior personagem: ele mesmo, cada vez mais show e menos aula, para além da rabujice agora gênero que o faz tão simpático as novas gerações.

aliás, os oitenta anos de ariano e brenannd dão a tônica do que a arte e o pensamento de elite provocou e provoca no movimento cultural do pernambuco do hoje em dia. um escritor dito popular que se tornou rei no momento que intepretou o papel de bobo, e por outro lado a excrescência da pedra adulterada pelo viés burguês do bem nascido com sua visão de elite processando a pulsão que move da arte popular gerada entre o ricochete da fé, sua expressão religiosa, e o céu inferno do sexo.

enquanto isto abelardo da hora o verdadeiro homem da pedra não tem as honras do reino, para por de vez uma pedra no assunto.

Thursday, June 14, 2007

relaxe e goze

a frase insuspeita de uma sexóloga como marta suplicy na qualidade de ministra do turismo confirma a falta de visão do povo brasileiro em relação a seus políticos.

sem querer querendo, marta, que não tem suplicy à toa no nome(alguma relação como suplício pode se tratar de mera flatulência) deu a chave para a resolução de todos os nossos problemas, assim como uma espécie de osho ajustada ao linguajar nacional.

bala perdida? relaxe e goze. gasolina adulterada? relaxe e goze(aproveite que a mangueira e também o cano da escopeta são fálicos). greve do metro ? relaxe e goze.

enfim uma lista sem fim de mil e uma utilidades que deixa bombril no chinelo. a lista, pode e deve ser complementada de acordo com as especificidades de cada um. a família tem 12 membros e o salarío mínimo catado no papel só dá para alimentá~los por uma semana? relaxe e goze(notou a propriedade entre membros e gozo - coletivo de 12 por acaso não seria gozação?)
certo é que a ministra com seu sorrisozinho de desdém foi acusada de tripudiar da parcela da população brasileira que pode andar avião e tirar férias(não seria esta parte da população que anda a desdenhar da outra?)

e assim a ministra, que num rompante quase orgástico(o modelinho não ajudava muito) nos deu a solução para as nossas maleitas foi apedrejada pelo antojo nacional conduzido pela mídia que orquestrou-la contra a parede.

assim premida, soltou uma nota, nota esta que não se sabe se abduzida ou estimulada por sua própria vontade.

de qualquer maneira, não lhe deve ter sido assim tanto penar. bastava-lhe a si seguir o próprio conselho: relaxe e goze. depois das agruras da gafe ser ministro sempre, de um jeito ou de outro, compensa. basta ver o volteface que pemitiu o outrora gozado ministro da defesa ressurgir como patrono do relaxamento responsável.

afinal,enquanto todos relaxam e gozam alguém ter de manter-se duro. para o caso da necessidade de um estado onde se goze sem relaxar.

Wednesday, June 13, 2007

nem boa vista nem boa morte

a avenida conde da boa vista, no recife, já foi um dos endereços mais nobres e bucólicos da cidade nos anos 60.70.
ônibus elétricos subiam a ponte e faziam mesuras ao cinema são luiz enquanto arregalava os olhos para as meninas do colégio são josé com suas saias azuis e blusas brancas, nalgumas já abolidas anáguas e combinações.

dava gosto caminhar na avenida, cheiro de metrópole, predios altos, sol de auroras a anunciar ruas de poetas a enxergar-lhe mais que bela.

passados trinta anos, a avenida conde da boa vista acompanha a decadência da raça, seja ela nobre ou plebéia. fedem-lhe as galerias, sejam externas ou apenas de passagem, um comércio de micharias tomou-lhe de assalto, o cine são luiz fechou, os onibus estao de olhos fechados, as meninas do são josé deram lugar a prostitutas sem poesia alguma.

o rio cabibaribe espelha esta mudança e nenhuma aurora se vislumbra nestas lembranças que também começam a feder.

Tuesday, June 12, 2007

da série criança não verás um país como este

remédio no brasil sempre esteve pela hora da morte. aí inventaram o genérico que viria para ser mais barato. hoje tem muito genérico que é mais caro do que o de "marca". na falta da bufunfa para o genérico, corre por fora o similar. similar é uma bula ao acaso. não se sabe se é apenas um placebo ou veneno de rato porque ele não é testado. acredita-se no que está escrito conforme a reza rezada. ainda assim o similar é vendido nas farmácias sob o beneplácito das siglas ditas responsáveis pela saúde no brasil. acontece que todos os orgãos oficiais responsáveis pela sáude no brasil, de uma maneira genérica, são similiares aos similares. tem embalagem que mostra fachada mas o conteúdo é sempre pra lá de duvidoso quando não mortal. e tudo isso porque no brasil a saúde tem planos oficiais de atendimento para todos que no geral não passam de muito particulares para uns muitos pouco vivos: os que fazem os planos, não os donos, que estes são cadaveris à toda prova e por isso mesmo candidatos a uma longevidade que não se espera dos que fazem o plano por isso mesmo.
para terminar a receita, no brasil onde bicho também é gente já que gente é tratada como bicho e bicho, se não for de madame, é tratado como verme, veterinários agora dizem que não fornecem atestado de vacinação a quem vacina seus animais com vacinas nacionais o que dá uma bruta raiva das importadas.
criança, se cresceres, o que pressupôe que não sejais paupérrima ou pobre de ter nascido as expensas do inss, talvez não vejas um país como este. ele certamente terá acabado.

Monday, June 11, 2007

vavá não faria um vatapá ?

no país dos bacharéis, esta só podia mesmo sair da boca de um bacharel - advogado não passa de bacharel. só lhe chama doutor quem é pastal, coisa que rima pobremente com bacharel -.

pois bem, o tal bacharel, saindo na defesa do irmão do presidente, argumenta que ele, o vavá, não teria formação intelectual, nem malícia, nem traquejo social, para ser um lobbista. uai! ou melhor, oxente!, não é este o mesmo argumento que usaram e abusaram para tentar impedir a eleição e posteriormente costurar mais um chocalho ao impeachment do lula?

a julgar pelo desempenho do lula presidente, o vava se lobbista, não faria as honras da família?

Sunday, June 10, 2007

a parada marcha. a marcha caminha meio murcha ou é outra parada?

parada gay caminha para os 3 milhões de participantes. a marcha com jesus, dizem os organizadores, é uma parada com 4 milhões. não sou lá muito da "numerologia", mas 3 mais 4 dá 7, que é conta de mentiroso. não se sabe onde mais concentrados em maior ou menor número. mas certamente devem haver gays na marcha. e filhos de jesus, senão o próprio, dando uma palinha na parada.
afinal de contas, preconceito é coisa de homens de pouca fé, senão neles, em deus, dizem os paradeiros. já a troupe da marcha, a faz com uma alegria tão penitente que soa tão falsa como o sexo de muitos dos seus participantes. nesta caso tal qual outros tantos que exarcebam-se frente as cameras. e nisto, se igualam parada e marcha.

Saturday, June 09, 2007

inversamente proporcional ou doença dos carrapatos

cometi hoje um genocídio. matei, matei sim, dezenas, centenas, completando os milhares de carrapatos que arranquei a unha e a pinça do infestado que se abateu sobre meus cães.

logo eu, defensor da vida em todas as suas formas, ataquei os minúsculos seres com uma fúria, da qual só escaparam outras tantas dezenas de pulgas, jovens, porque anciâs não tiveram a menor compaixão. esfacelei uma por uma não me interessando se estavam de ponta a cabeça-

terminada a tarefa, contemplanto a minha obra, necessária,se aprofudarmos sua utilidade não sei até que ponto pela forma, foi inevitável a comparação entre o meu tamanho e o tamanho dos animais que exterminei.

bateu-me de fazer um comparação entre a mortandade em massa dos humanos por outros humanos que dizem alguns ser obra de deus.

não sei o que sente deus ao permitir tantos genocídios, onde humanos tem destino pior que o mais inocente ou ignóbil animal. mas eu, senhor do universo, da vida e da morte, por sorte, me senti um carrapato.

Thursday, June 07, 2007

corpus christi

mais do que um feriado hoje é um dia para não se esquecer. tem sido há assim há quase cincoenta anos para aquela turma de pós cinquentões do dominó ao abrigo do largo de campo grande.

corpus christi, corpo de deus. ou mehor, corpo de uma deusa. passados todos aqueles anos que se refletem nos cabelos brancos da turma do lá e lô e até mesmo na falta deles, mais do que a data em que se lembra do filho de deus lembravam eles mais fortemente dos filhos que não fizeram na deusa.

não que fossem ateus ou não temessem a deus. muito pelo contrário. católicos apostólicos, batismo, crisma, primeira comunhão,alguns até coroinhas. mas nada que se impusesse por mais divino que fosse lembrança do corpo e do espírito de nilsinha.

nilsinha, já por volta dos seus 11 12 anos era tudo que qualquer mal intencionado podia demonstrar para derrubar a tese de pedofilia. não que fosse a prática da turma. muito pelo contrário. dos 11 homens apenas um conseguiu beijá-la. os outros ficaram na mão. aliás, já um mulherão aos 12 anos, nilsinha tinha toda a malícia que a mais maliciosa das mulheres junto dela pareceria uma extrema farsante. nilsinha era assim porque era assim, estava nos poros, nos bicos dos seios pequenos, na boca pequena que suscitava outras bocas, nas coxas volumosas que contribuiram em muito para a manutenção do índice corportal daquela turma que também derrotou a teoria de que masturbação fazia crescer cabelos nas mãos. motivos; bem, vocês nunca viram nilsinha de shorts. nua estaria mais vestida. de shorts, a malha acentuava ainda mais uma bunda para sempre maravilhosa na lembrança daquela quase irmandade. e foram aqueles shorts os responsáveis por horas e horas de trepação no pé de mangueira que dava para a janela do quarto de nilsinha. dizem as mas línguas que a velha piada que se masturbação matasse as gostosas estariam mortas, foi criada graças a nilsinha. nilsinha era a subversão de todas as lições do catecismo, do manual de conduta do colégio militar. dos 12 aos 16 anos nada mais existia quando nilsinha passava todas as tardes para a compra do pão na padaria de bairro.

certas lembranças só aqueles homens em volta do jogo de sentar pedras poderiam falar, mas eles mantinham um silêncio de cúmplices. ninguém comeu, não ia ser agora que iriam falar. não se cantam certas pedras. apenas um a beijara, dia que meteu-lhe a mão nas coxas, subiu-lhe a bunda, beijou-lhe o sutiã como se bico do peito fosse e sentiu além da língua no céu da boca a mão de nilsinha pegando em cheio seu pau que derreteu-se ao primeiro toque. nunca dissera nada a ninguém. mais do que orgulho pela façanha sentiu-se culpado toda a vida por ter sido o único a ter acesso ao que os outros apenas imaginavam anos e anos a fio, muitas vezes chegando a meia dúzia de punhetas diárias no que teria sido o melhor período das suas vidas.

por isso hoje, data em que nilsinha tinha sido atropelada, era sim um dia de corpus christi. mas não do cristo que hoje era um dia por demais crucificado para se lembrarem de alguma coisa mais que fosse divina, pois nada mais divino e pecaminoso do que a lembrança para sempre de nilsinha, ponte entre o céu e o inferno, a inocência perdida e a sexualidade achada, sexo imaginado por uma década viva como o mar se abrindo para receber aqueles homens que enterraram-se na areia até hoje.

para aquela roda de dominó nilsinha significou uma aliança partida apenas por aquele que a tocara e que por isso mesmo sentia-se a parte fraca do anel fundido. no jogo de dominó daquelas vidas uma peça perdida que marcava o feriado de vidas onde seu corações jamais bateram noutro como final de partida.

Wednesday, June 06, 2007

slices of life

soneca que faz tempos não tiro. entre as pernas, peralta a gata quase cão. do lado esquerdo, moki o cão israelense que contrariando as piadas não late em hebraico e abana o rabo sem problemas para palestinos ou árabes, desde que tenham caráter. do lado direito, pequetita, esta sim um míssil, que encontrei em plena rodovia a correr desesperada a procura não sei até hoje dos donos que a bandonaram em plena br 101 ou se colocada ali para morrer ou viver pelo meu chamado que atendido a projetou para dentro do mp lafer que até hoje ela reconhece como sua arca de noé.

tarde nublada, um meio raio de sol penetra a janela. quase posso ouvir nossos corações em uníssono e penso, sim isto é vida. ainda não posso dizer "isto é que é vida". mas falta muito pouco. estamos quase dormindo para isso digo a mim mesmo afugentando os problemas que se pensados demais podem afundar o colchão ou incomodar-nos como pulgas e carrapatos que nos dão trégua nesta soneca.

dormindo todos nós sonhamos em acordar para viver o que fizemos dormindo.

Tuesday, June 05, 2007

respire e siga em frente

voltei hoje a lugares que não ia a tempos. as voltas nuncam dão alegrias, nem em fotografia. de tempos em tempos tento convencer-me de que isso é uma bobagem que estas voltas algumas vezes permitem compreender certos fatos ou passagem mal resolvidas.

ledo engano. é como voltar para quem se deixou. raramente a volta dá certo. mais do que uma impossibilidade física, nunca se volta a lugar algum, pois você é outro e lugares também. mas temos esta tendência mesmo quando pensamos que estamos seguindo em frente.

o segredo para não cair na tentação é não parar de respirar. respire e você não volta. nem ao coma, nem ao gozo, nem ao clique da fotografia.

na dúvida, compre um gps. uma garantia a mais de que você não está caminhando em círculos.

Monday, June 04, 2007

itararé vive


há algo no ar além dos aviões de carreira. a cpi não quer provar isso. é uma espécie de esquadrilha da fumaça. os controladores militares colocam a culpa no equipamento, com a comodidade da afirmação de terem feito relatos sobre as falhas.
o comandante sansei da aeronáutica diz que os equipamentos não tem problema alguma e que não há buraco algum nem na mata nem na nossa defesa.ainda bem que não estamos em guerra senão sei não. os pilotos do legacy estão de advogados calados apesar da culpa que lhes está sendo imposta. são 154 mortos. itararé vive. estes não. erro de leitura, equipamento desligado,inglês engasgado,zonas fantasmas. legacy embraer e muita gente cada vez mais voando de cabelo em pé.

Sunday, June 03, 2007

vida de muitas mortes

ninhadas de gatos, cães, de rua principalmente, e um sem-número de animais, a maioria dos quais não damos tanta atenção, sempre são numerosas, já foi dito, para garantir a sobrevivência da espécie.

nascem muitos porque morrerão muitos. é a matemática simples que não leva em consideração que com a mudança dos habitats pelo homem a mortandade aumenta. ainda que se argumente que as conquistas veterinárias salvam a vida de outro tantos.

nem vale a pensa discutir que não é bem assim. e se levarmos em consideração, por exemplo, que o trânsito provoca o enlouquecimento de nós todos, é de se imaginar o que deve causar a ninhada que nasce na boca de um tunel, por exemplo. ou a beira da plantação que em breve sofrerá a queimada.

a maioria de nós já nem se importa com isso. pudera! se nem já nos importa a carnificina humana, quem vai se importar com aquela meia dúzia de vira-latas pré-sarnentos, ou gatinhos colocados na caixa fechada que será amassada pela roda aleatória do destino?

má sorte, imagino, tem os humanos que se ainda preocupam com isto. é que para estes cada vida perdida de um relés animal significa uma morte. e assim, como não tem vidas em crias tão numerosas, morrem dezenas, as vezes, centenas de vidas numa só, que não procria na tal ordem de todos aqueles pequeninos que morrem sem nenhuma dó que não seja a daqueles que sentem dor por todos estes seres perdidos.

Saturday, June 02, 2007

quase colcci


onde quiser
imagine-se

por algum lugar
comece

importe-se
a si mesmo
para todos

de volta
olhe-se
até onda possa
da cabeça aos pés

onde quiser
seja romãntica
e diga um
até logo
eu volto já.