Tuesday, February 27, 2007

calotas

nunca mais sentei numa esquina. é perigoso hoje sentar numa esquina. aliás, é muito perigoso sentar-se em qualquer coisa hoje em dia, seja ela pública ou privada.

antigamente uma esquina era o melhor ponto de observação de tudo, das moçoilas, principalmente. mas também de todo o resto, cuja curiosidade compreendesse os recônditos de qualquer bairro alargados para o horizonte do imenso panorama humano.

havia um violão em cada esquina, uma bola em cada rua, uma birita em cada canto de calçada, e a vida não costumava derrapar para cima de nós, pois ainda corria em cima dos trilhos.

hoje, é o que se vê. sente-se na esquina, e no mínimo levas com pedaços de pneu ou asfaltos esmigalhados na cara. isso se nenhum ônibus ou caminhão truncado não levar você, o muro, e as paredes da casa que angula com a quina da calçada que um dia pode ter sido o ponto dos seus ex-amores.

sentei por uns instantes dia destes numa esquina qualquer. como estou escrevendo, desnecessário dizer que escapei dos mastodontes rodoviários ou de um assalto e até das balas perdidas que não curvam a esquina.

contudo não escapei de uma calota, precedida por uma derrapada que quase me abre a testa, antes de se estraçalhar ela mesma a meus pés.

conclusôes outras, que não menos violentas. boa parte das pessoas como são calotas. nem tão bonitinhas assim, mas ordinárias até dizer que basta. sua única função é esconder rodas ainda mais tortas e imperfeições que desmascariam o mal estar das pernas de gente que precisa de máscara para passar pelo crivo da esquina.

calotas. plástico ruim, design enganador, resistência nenhuma, absolutamente descartáveis. menos de cinco minutos na esquina e lembrei de tanta gente assim pela calota que vi girando fora do eixo a meus pés fim do ar ameaçador e mais ainda da sua triste aplicação.

Monday, February 26, 2007

a vida não tá fácil para quem quer ganhar um oscar (merecido).nas outras categorias é mole

uma vida inteira a busca de uma estatueta. muita gente vive assim. ou com a cara dela, o que é, decididamente, muito pior. mas o esforço nem sempre corresponde ao prêmio. não porque a estatueta seja injusta. mas sim porque a vida o é. senão vejamos:

pra começar, james taylor careca, quer injustiça maior? careca e cantando, no oscar uma musicazinha mais careta para não fazer trocadilho com o ainda mais careca(alguém se lembra da cabeleira do rapaz, que nos bons tempos de fire and rain endoidava as moças como endoidou as suas três musas(carole king, joni mitchell e carly simon) ?

martin scorcese fez filmes brilhantes e nunca lhe deram nem o endereço de um reparador de sobrancelhas. agora, o cara faz um remake de um hong-kong e leva a estatueta que lhe deixou com um cara de personagem miniaturizado do fauno, que também concorria mas noutras categorias. valia-lhe mais condignamente a oitava indicação sem levar nada. muitíssimo mais honrosa e dignificante. ainda mais neste prêmio ganho por infiltração. mas vá dizer para ele, depois deste, que a vida - e o prêmio - não é justa ?

clint eastwood, fez dois filmes comoventes. um deles brilhante. mais do que poucos, merecia ganhar o oscar. pelo menos a frente do martin. mas nada. perdeu por sobrancelha. logo ele que gosta de franzir a testa e com ela ganhar todos os duelos. mas se nem clint pode com a sobrancelha do scorcese, quem mais poderia? para reforçar a injusteza das coisas nesta vida. ainda mais para ele que a filmou sob dois pontos de vista.

forest whitaker, eterno ator de " segundo time". fez dezenas de interpretações cult e necas de ser estatutário, quer dizer, galardoado pela academia. agora leva o prêmio por um dadaismo performático de segunda. em compensação, compensação negativa, para ambos, eddie murphy ressurgiu gigantesco num papel dramático demais para ser premiado a sério.

al gore perdeu a eleição e ganhou o oscar. se levarmos em conta as piadinhas dele, e dos companheiros de palco, puta de uma injustiça que compensa? a perda da eleição contra bush?
de novo dois exemplos das injustiças da vida. um matador cômico. só que não sabendo matar de riso, mata de verdade. o outro, o maior canastrão do salvamento do planeta. mas como de boa intenção o inferno está quente, pumba, prêmio de melhor filme para algo que como filme é tão frio que até pede para esquentar o que justamente ele combate. ou seja, talvez como presidente gore pudesse fazer mais. faria? sem concorrer ao oscar ?

para finalizar, o que se remexer não tem fim, a pouco menos justa tentativa da academia, dizem, de compensar o não premiar o libreto gay do ano passado - aquele filme que todo mundo erra o título - forçando um roteiro do politicamente correto ao trazer ao palco a lésbica mas sem graça do que a que ganhou o oscar. o que de antemão digo, para não levar saia justa(ou calça) em relação a opção sexual, que continuo com preconceito que acho absolutamente justo, contra a falta de talento e aplonb, categoria por exemplo onde não me vejo concorrendo ao oscar.

p.s. josé wilker portando-se como pinguim nos comentários ao oscar é uma injustiça, para não dizer uma fria contra o próprio zé. mas neste caso, ele merece. até porque, é hour-concour.

Friday, February 23, 2007

espírito de porco eu? coitado do porco

se há alguma coisa difícil é ser agnóstico ou ateu. aliás não sei como alguém não pensou em fazer uma igreja de ateus e agnósticos. todo mundo quer nos converter a qualquer custo.

alguns conhecidos espiritualistas tentam me doutrinar mui sutilmente. quase guincho como um porco na hora de morrer -você já viu como morre um porco? não? então coma a sua carne em paz.

teimoso como sou, desdenho de doutrinas que remetem, seja a imortalidade da alma, a transmigração, salvo a fisico química que nos faça engordar a macaxeira se por ventura plantada bem em cima da nossa cova rasa, alma indigente, único destino certo. ressureição, reencarnação ou coisa que o valha, comigo não cola. de antemão digo que não acredito nem quero ir para lugar algum que não tenha uma bodyboarder a dois metros do meu pescoço. quer dizer se ficar mais próxima de outras partes também não vou reclamar, contanto que haja balanço.

mas voltando a outra praia, argumentam meus amigos - nem quero pensar se fossem inimigos -, quer dizer, eles se acham, eu não, que as mazelas e as dores aqui sofridas fazem parte de um pagamento "espiritual" de dívidas do passado. e que raivas e ódios fazem-nos voltar a vida até que aprendamos o perdão, e sim, que todas as doenças são motivadas por desequilibrios espirituais que tem a ver com a nossa conduta, o que já começa complicar já que se estou de volta pagando, imagino que com algum juros, dividas passadas, não tenho como comandar estes desequilibrios por melhor que sejam as minhas intenções.

e na minha perdição, segundo eles, acho-me pensando na morte do menino do rio. não o da música, mas da criança que era um menino. pensando por estas variantes espirituais o menino morreu barbaramente porque devia ter uma dívida tamanho de uma barbaridade ainda maior, o que custo a acreditar. e menos ainda que aqueles que o mataram, fico na dúvida, estão no repeteco não sei das quantas vezes? acertando sempre devedores com cara de inocentes? ou são instrumentos espirituais a serviço da justiça divina, que não nos enganemos nós, não protegeu o menino porque quem manda cobrar dívidas não admite perdão.

sigo sem acreditar em nada, mas com a imensa sensação de perda dolorosa ante porcos e meninos que não imagino com outro espírito que não seja o da vida perdida para sempre.

Sunday, February 18, 2007

abunda plausibilis finis

de norte a sul do país, transmissões de carnaval. em todas, seja lá de onde forem, pernambuco, salvador, rio ou são paulo, sistematicamente entremeadas do ufanístico a festa que mostra o melhor do brasileiro, devidamente encangados com o " o maior bloco do mundo", a maior ópera ao ar livre do mundo", espetáculo do mundo, festa do mundo, enfim, um arraso só, do mundo.

observado mais acurado, para alguns mal humorado, pinço que o melhor do brasileiro, tal o tempo e desmesuras computados, fica alí entre bunda, alegria, cachaça e crime(peito artificial não vale)

por eliminação, para não estragar a tal festa, ripo o crime, o que não é garantia de que ele não vá vitimar milhares. cachaça, vá lá, tida como politicamente incorreta, também chispa. se bem que na base da alegria, lá está ela. por isso mesmo é eliminada por cabeça. e se a alegria tão louvada, é movida pela dita cuja marvada pinga, também trisca a linha mas não chega para vencer a bunda, que está mais presente nas telas do que os sorrisos tidos como porta-estandartes da alegria, conquanto também o sejam muita das vezes do desespero ou desatino, ainda mais nestes tempos.

sobra então a tão exposta, rebolativa, e oleada bunda, como o melhor do brasileiro. e aí, ainda mais atento, escarafuçando as nuances das tuberosidades esquiáticas ou cuzais, como dizem alguns, chego também a conclusão de que nosso artefato que tanto atrai turistas em bandos atrás da bunda, vai mal como nunca esteve, donde se conclui que o melhor do brasileiro, sem intenções trocadilhescas tangentes, e ser a tribo da mal-fadada bunda mole.

se não? onde que foram meter as mulatas sem culotes despregados, e que proliferação é esta de estrias de porta-bandeira e celulites na comissão de frente, opps, discostas? o que se vê, decididamente. em nada lembra a bunda que já fomos antigamente. bunda espontânea, lisa, musculosa, sem nada que a adipasse para baixo.

donde se pode concluir que aquele discurso de país do futuro chechecou faz tempo. não há mais futuro para as nossas bundas, condenadas a baixar de nível a medida que o tempo passa. quanto a nós, vamos simplesmente tomando dentro por falta de brio e excesso de bunda, o que obviamente, só pode dar em merda, como já deu.

no meio de tudo isso, o fantástico faz matéria onde especialistas dizem que o cinto de segurança salva vidas, rescaldo do episódio da barbárie mortis de uma criança. que já virou confete no meio de uma folia onde a bunda murcha, idem a vida, e a morte abunda, sem que receba o adjetivo, que nisso nós já estamos sendo os melhores do mundo: no menosprezo para com a vida, não importa se de crianças ou o que mais respire.

mas quem se lembra disso por hora? quem quiser que aperte o seu cinto, ou afrouxe, que por hora, o melhor do brasileiro é fazer a festa da tragédia em que tornou-se ele mesmo. enredo escrito pelo seu analfabetismo funcional. tanga da sua histórica complacência, na qual a bunda é a festa em gênero, número e grau. cada vez mais exposta em sua decadência da vida, que nos vai sendo empalada simplesmente como pena de morte. e não mais como ar que alimenta os pulmões que sustentam os quadris de um povo do qual diz-se altaneiro, ainda que pela bunda um dia dita erecto.

Thursday, February 15, 2007

ser ou não ser, a conexão é a questão?

escrevo, logo existo.
realmente e virtualmente?
bom, eu creio que sim, caso contrário não estaria aqui.
mas nestes dias tudo leva a crer que não.
fiquei num quase coma, uma ausência não consentida, um choque anafilático mais do que potente pela minha impotência, razão desconexa, resultante da troca de endereço e linhas que me abateram net literalmente.
escrevendo torto por linhas tortas não parece ser o meu melhor endereço para encontrar ou ser encontrado por alguém ou alguma coisa. neste carretel, a perda de uma linha deu-me nós.
no entanto senti várias batidas à porta.
oxalá não sejam as do meu coração solitário tamborilando presságios do que sentirei quando chegar a linha final.
afinal, ninguém fica conectado a alguém ou coisa alguma para sempre.
nem mesmo a sí mesmo.
desocupem a linha se faz favor, deveria ser um pedido ainda mais importante do que recuperem a minha conexão.
no entanto, todos insistem em conectar-se seja lá com o que fora(a moda agora é é co ou re-conectar-se com o divino, com o espiritual).
então tomem. foi vocês que pediram.
deram linha, tomem nós.

Sunday, February 11, 2007

centésimo primeiro macaco

a grande maioria das pessoas abençoa o domingo como a pausa benta de uma semana onde também a grande maioria é massacrada naquilo que faz, chamem emprego, trabalho, bico ou o que seja.
deve ser por isso que o domingo acaba por ser um dia infernal onde quer que você vá.

numa época assim, onde também presenciamos outro tipo de massacre, a falta de emprego, trabalho, bico o que seja, sou eu o excomungado sem pausa que dirijo-me ao trabalho para fazer aquilo que mais gosto e que me dá mais prazer.

é domingo, e sigo na contra-mão dos fluxos que dirigem-se à praia, futebol, almoços de família, sítios, e todos aqueles lugares comuns do domingo.

tenho um caminhão de tarefas por cumprir - leia-se uma dezena ou mais de jobs por abrir, planificações para ordenar, planos por incrementar e planejamentos por pensar, para não falar das limpezas incessantes do local de tabalho, banheiros e calçadas inclusive, verdadeiro exercício de superioridade dos verdadeiramente humildes e compromissados.

chega a ser assustadora a minha felicidade e o meu prazer diante de tudo isso. tanta que numa época onde a maioria dos colegas de profissão cinquentões, estão mortos ou semi-mortos ou alijados do mercado(e não só de trabalho) eu vou adolescentemente preparado para o meu "primeiro dia" de trabalho, trabalho? que trabalho? pronto a fazer sexo com as idéias, o que dá orgasmos quase(as vezes melhores) comparáveis ao sexo entre sexos.

e o melhor de tudo, é que é um sexo animal, sem nenhum tipo de preconceito, repressão, aversão ou ódio ao prazer. é sexo cu de cachorro, instintivo e incessantemente prazeiroso nos mínimos detalhes.

é tudo tão desbragado, que as vezes preciso lembrar-me que isto é um negócio. sim, nossa agência de comunicação&marketing de marcas está funcionando. e isto me traz um riso levemente irônico, por estar funcionando onde funciona, o que ainda não posso revelar, por razões que mais tarde todos compreenderão.

enquanto todo mundo chora, maldiz e se atordoa, aqui estou eu como um macaco dando bananas para o mercado, e não por isso mais feliz, mas sem deixar de dizer que isso também faz parte. se você não é publicitário não vai entender isso muito bem. mas digo-lhe que é uma profissão das mais infelizes hoje em dia. indo mais além, diria: apresente-me um publicitário feliz que eu lhe apresento um et. não vale para mim claro, que estou dando cambalhotas que deixaria qualquer um escangotado.

sim. hoje é domingo. mas não um domingo chato. eu vou trabalhar. trabalhar no que gosto, com que gosto, fazendo o que gosto, o que só pode de mais dar mais gosto e gozo.

sim, eu sou um centésimo primeiro macaco. por falar nisso, vai uma dedada ái na sua tristeza de domingo?

Saturday, February 10, 2007

muito romântico ou cria cuervos

se você pretende algo após a noitada, fuja dos bares e restaurantes mexicanos. não vá você ficar com cara de guacamole, e ela, com cara de chili. ainda mais se você não confia no seu taco e ela se chamar jack tequilla.

café pequeno

beba, mas tome a iniciativa. nunca chegue ao fim da noite com as mulheres no comando. elas são capazes de tudo. inclusive de deixá-lo inteirinho em casa.

observação sanitária

em alguns bares a cozinha é vizinha do banheiro. tal e qual a nossa fisiologia ?

dose dupla

quer estragar uma bebedeira? misture espiritualidade e problemas existenciais. nem deus fica na mesa.
quanto ao diabo?bom, dizem que o diabo bebe na mesa ao lado. mas é claro que ele está sempre melhor acompanhado. e aí constatamos, sim, que isto sim é que é o diabo.

não cobramos dez por cento

a conta nunca é exorbitante para os bêbados felizes.

porre

não sei o que mais chato: se os chatos sóbrios ou os chatos bêbados.
mas o fato é que o chato sempre se supera. ele é capaz de ficar bêbado sóbrio ou sóbrio bêbado só para chatear.

Thursday, February 08, 2007

por obra das versões ou das aversões?

provocar o maior número possível de reações ou provocar a mesma reação no maior número possível de leitores?

alguns escritores, pretensos ou não, dividem-se, a sí e a sua obra, nesta dicotomia. nem sempre claudicante quanto a perspectiva daquilo que julgamos chamar literatura. e haja terminações que sejam, dos obtusos ao ditos herméticos.

vivemos um tempo em que paulo coelho é sinônimo de escritor(nunca de literatura, é bom deixar claro) e de magistral sucesso. como se o sucesso nesse tempo de retumbantes fracassos do compromisso do homem com o homem, e portando da obra com a literatura, fosse medidor de alguma coisa.

se entrar na academia, medida o é, por certo, não é de qualidade, de há muito. um verdadeiro escritor aceitaria fazer parte de uma academia ? bom, alguns nomes de qualidade inquestionável o fizeram. a maioria nem tanto. mas a qualidade dos escritores nunca justificou a academia. aliás, a má qualidade doutrem, também não.

enquanto atenho-me ao meu desalento pela falta de talento, vou consolidando tal enervação ao ler manoel de barros, joão guimarães rosa, rubem fonsêca, ultimamente as topadas, dalton trevisan, nosso eterno vampiro, meu avô ranzinza saramago e joyce. dublinenses, obviamente, já que seu livro de maior peso, acaba por ser isso mesmo na estante. devo ser muito franzino para ler ulisses. e assim sendo, releio rilke.

elegias de duino, que um dia hei de entender sem exegetismos, e que abaixo reproduzo introdução, toma-me pela mão a porrada, que devolvo aos anjos em pedradas. já cartas a um jovem poeta, que responde-me pelo número 530, da coleção pocket books plus, da L&PM editores(os seis reais mais bem empregados de toda uma vida)conseguem o que parecer ser impossível: provocar em mim, e a todos a quem presenteio, ao que parece, exatamente a mesma reação como se provocasse o maior número possível de reações o que só um verdadeiro e bom escritor consegue fazer.

e olhe que ao contrário do que está sendo feito atualmente ele não conta com a parceria baixada de deus. muito menos em tom de auto-ajuda. inclusive aos do tipo seja isso, seja aquilo ou aprenda a dar o cu como o escorpião. e até mesmo as coleções analógicas que começam com o cartas a um jovem isso, aquilo, aqueloutro.

rilke simplesmente escreve simples de qualidade ainda mais em suas cartas. e é esta a sua complexidade. simples o suficiente para ser profundo sem ser demasiado simples ou um raso complexo.

ao mesmo tempo em elegias, voa porque mergulha abissal onde só enxerga a luz quem vive a claridade na mais completa escuridão ou quem sabe o vice-sem versa.


"Quem se eu gritasse, entre as legiões de Anjos me ouviria? E mesmo que um deles me tomasse inesperadamente em seu coração, aniquilar-me-ia sua existência demasiado forte. Pois que é o Belo senão o grau do Terrível que ainda suportamos e que admiramos porque, impassível, desdenha destruir-nos? Todo anjo é terrível. E eu me contenho, pois, e reprimo o apelo do meu soluço obscuro. Ai, quem nos poderia valer? Nem anjos, nem homens e o intuitivo animal logo adverte que para nós não há amparo neste mundo definido. "(trecho de abertura da primeira elegia, in elegias de duino)

Monday, February 05, 2007

múltipla escolha

conhecimento é poder. mas também há poder sem conhecimento.
para sorte ou desgraça da espécie humana não se sabe qual o pior em termos de malefícios. ainda.

Sunday, February 04, 2007

apocalypse now

a previsão metereológica quase nunca é boa quando você se prepara para se divertir. mas o que nos espera dentre de míseras décadas realmente é quente. o que não significa que não vai haver chuva.

há quem diga que tudo está escrito, prato cheio para os devoradores de gentes pelas falas das escrituras. quanto a estes, e aos que acreditam nestes, muito sinceramente, estou pouquissimamente preocupado. acharam o que cavaram. sejam crentes, falsos ou verdadeiros.

mas que culpa tem os animais nisto tudo? quem salvará os ursos brancos já condenados a deixar de comer por ocasião das crias para garantir a tentativa de sobrevivência da sua espécie, isenta de qualquer culpa que seja?

o grande castigo humano parece ser este. não satisfeita em vitimar a sí própria, arrasa tudo onde pôe a mão(oxalá não cheguem a outros planetas).

creio como homem de fé, que se houvesse mesmo sabedoria divina, ela decerto pouparia os animais. não a nós, espécie sem salvação, d´antes mesmo de ser criada. mas todas as outras que diariamente nos dão lições que por não aprendidas significaram a nossa relés extinção.

e justamente para eles, ninguém prediz reencarnação. não bastasse a vida toda atormentada pelas nossos extermínios civilizatórios sempre em nome do crescimento, até mesmo o dito espiritual.

basta uma vida digna. e ninguém precisaria do céu ou inferno. vez em quando um purgatóriozinho, tal qual um purgante, mas nada que não fosse engolido por uma privada em vez de termos de engolir goela a dentro toda a fetitude própria de nós mesmos.

Friday, February 02, 2007

na cabeceira da pista

toda vez que vou voar, lembro que não sou um passarinho. e que turbina nenhuma dá-me a confiança que as aparentemente frágeis asas de qualquer passarinho mais chinfrim inspiram, transmitem e garantem, sempre, vôos mais altos.

quanto aos aviões... bom, se agora, apesar de tanta tecnologia, eles mal conseguem sair do chão, que dizer do resto, se agora para sobreviver até as aeromoças andam fazendo fotos onde são vendidas como avião mas não dão nem pra teco-teco.

e lá vamos nós, mal disfarçando nosso desconforto em toneladas que se sustentam no ar que se nos falta, de um jeito ou de outro, nos remete a espaço configurado tal e qual uma gaiola, não sei das duas qual mais fúnebre, mesmo que os passarinhos cantem e nós apenas silêncio eterno e decomposto.

creio que nesta história da aviação, só atingiremos a maturidade quando não houver mais nenhum passáro preso numa gaiola. ai, quem sabe, os aviões poderão descansar em paz dos seus vôos surtidos de maus efeitos.

até lá passáros e aviões continuarão em linha de trombada. e as nossas vidas atadas a esta linha por um fio ainda mais tênue do que as asas dos passarinhos que aparentemente são tão frágeis mas ainda capazes de fazer o que muito avião não faz, quando não de derrubá-los.

conquanto isso verdadeiramente só os passáros voam. nós continuamos apenas a cair em tentação na maioria das vezes, apesar de todas as estatísticas em contrário.