Wednesday, November 26, 2008

sem pádedeus

se chegou onde chegou e não tem escolha ou você está sozinho ou está solo: sapateie. mas não chore. chorar só vai estragar sua fantasia.

Now playing: Jarabe De Palo - Cry (If You Don't Mind) via FoxyTunes

Monday, November 24, 2008

vôo de ícaro

encontro a pomba ao cair da noite trêmula junto a um portão que lhe é falso abrigo. tem uma das asas machucadas e quase não oferece resistência quando lhe pego. no chão, que não é seu território, será presa fácil de gatos, cachorros e sabe-se lá de alguém que não terá o que jantar.

tenho-lhe imensa pena e não penso nem um pouco que os pombos são os "ratos do ar", com suas pulgas e três ou quatro possibilidades de transmissão de doenças que podem matar um homem. mas não posso ajudá-la, pois não tenho mesmo como abrigá-la numa casa já ocupada por cães e gatos as pencas.

é claro que num esforço além do que posso fazer agora, poderia levá-la e ver o que conseguiria fazer pela sua asa que não sei se abocanhada. mas de certa maneira também não posso me permitir a este voo. coloco-a então sobre um muro alto de parapeito e plantas que podem servir-lhe de abrigo, em noite que ameaça chuva e de onde se cair, agora ou pela manhã, não sei o que acontecerá.

e saio voando, ou melhor, mancando dali.

Now playing: The Black Crowes - Oh Josephine via FoxyTunes

Friday, November 21, 2008

de uma tragada só

- filho da puta profissional ou amador? indagou o incubido sem paciência.
- ahn? titubeou o farsante, medo vazando os olhos. o desentendido decifrando a mensagem. bilhete final chapado com o suor de cuspe na testa.
- amador. afinal deu-se por concluir. profissional não se engasga com caroço quanto mais sem. e, tendo dito, disparou o teco bem no meio do cú do filha da puta, amador - a propósito: dizem que assim o atingido leva um tempão pra morrer e dói pra cacete. um sangrar preguiçoso em dueto com uma dor ácida que só piora a medida que o sangue se esvai. filho da puta a gente mata assim. não tem essa de dar teço na cabeça ou no coração, coisinha ridícula e asseada, rapidinha mais para perdão do que para fim de fatura. e na medida, não deixa de ser um ato de responsabilidade social: zero desperdício de balas, que chumbo é coisa ruim pra natureza.

então, é no cú. a merda peidando alto, mais que o balaço, meleiro do caralho, flash do fato mais parecido com fim de feira. mais preste atenção, se o filho da puta, alem de amador for bundão, a coisa não é fácil. portanto, se a via for essa, aprume o bicho e facilite a obra enterrando o cano até o tambor. mas num força, se não trava e ai nem queira imaginar a merda de outra cirscunstância. isto observado, não falha com método, metodicamente falando.
(continua)

esta história de matar é vicio. coça que nem cio. se começa, não para. não se mata por gosto que não seja outro de sangue. controlar? adianta jurar que bem que tentei ? digo até que de fumar até deixei. mas matar, ainda mais com a quantidade de filho da puta, profissional e amador, que anda por aí? não é fácil. deixar de fumar, a gente até que deixa. mas de matar-matar, a porca torce o rabo. não dá jeito. é da hora. o sujeito passa um tempo na moita, disfarça com outros prazeres, bebida, mulher, comida, tabaco, mais dia menos dia o dedo coça e aí o trabuco campeia. foi assim que na falta de coisa melhor matei um filho da puta, amador, o que é bem diferente de um filho da puta profissional, não por questão de status mais por questão de senso do dever aplicado.

mas era filho da puta, e isso é o que interessa no frigir dos ovos(deles).
mas sabem de uma coisa? buraco feito, bateu um vontade de fumar de matar. foi preciso muita força de vontade. segurou, apertado mas segurou. e não fumou. se agüentar mais duas destas, lampejou que tava curado - da falta de tabaco.

vicio filho da puta este de fumar. mais fácil matar filho da puta. e foi assim que comecei a tragar ao maços.

Now playing: John Forgety - Joy of my life via FoxyTunes

Friday, November 14, 2008

básico instinto ou isso que levas aí

gosto imenso da sensação de não ter destinos e ao mesmo tempo de saber que não há para onde correr.

a vida ali na frente, sem pedaços de escolha, apenas o bife do mal passado fomentando o molho da parte que virá.

e o que virá, virá. não se sabe se colo ou companhia ou apenas sombra de alguém pra cravar-lhe a lâmina que cerze a cicatriz. o corte da realidade é caco de sonho não conquistado. não sangra mais arde como nada igual.

nestas tardes em que o sono bate mais o calor o repele como mosca, presumo que o sono é apenas um todo, desmembrado. a vida não.

feita de pedaços contabilizados no todo. alguns são o todo que se torna maior que os pedaços outros. d´outros, apenas pedaços que nunca somarão metades.

assim, ando cada vez mais sozinho. e quanto mais sozinho mais acompanhado: do todo ou em partes eu me abasteço de mim mesmo. e torno-me um vivente cego para as lâminas deste ser vidente.

Now playing: Fito Paez - Eso que llevas ahí via FoxyTunes

Wednesday, November 12, 2008

daqui a cincoenta anos

- faz tempo não?
- nem tanto;
- ora se faz, nem me lembro quando foi a última vez?
- deve ser por isso então que pergunta?
- pergunta?
- faz tempo não?
- ah! isso é força de expressão. frase do tipo quem é vivo sempre aparece. na falta de coisa mais elaborada a gente solta o clichê.
- mas faz tempo não quer dizer que a gente desapareceu?
- não é bem assim. é apenas uma maneira, digamos resumida, de tentar saber o que a pessoa andou fazendo quando estava longe dos nossos olhos.
- quer dizer então que aquela estória de que o que os olhos não veem o coração não sente é falsa ?
- não sacrifica. eu estava só perguntando como você tem andado; e não por onde tem andado. em suma, se estava vivo, capice?
- ah! então tá bom. quando souber te respondo.

Now playing: allman brothers - in memory of elisabeth reed via FoxyTunes

Thursday, November 06, 2008

quase purê

“fé cega, faca amolada”, descasque esta: certas batalhas existem para serem travadas e não para serem vencidas.

é duro compreender isto. muito mais que perde-las. são derrotas ainda mais solitárias, porque desabonam o compreensível. ao perdedor que não fique de joelhos, um esgarçar de ironia, quase riso, que disfarça a trajetória do sal da lágrima perdida.

nesta batalhas, os vencedores fazem disto um alarde ao nível do carnaval. e o riso da vitória, fantasiosa ou não, é sustentado por números. e números são números. mas até para eles, perdedores são como noves fora.

com as máscaras de tal carnaval, o cordão dos puxa-saco cada vez engrossa mais, enquanto você não passa de porta-estandarte do bloco da solidão. quase suicídio é o sentimento. quase: eles só te matam se você quiser. caso contrario torna-te um incomodo sobrevivente a tal ponto que te chamarão de louco. eis a verdadeira face da lucidez. a cara borrada é a deles, não a tua.

de resto, cascas aos perdedores e aos vencedoras as batatas.

Now playing: I califfi - marshal jim 100 via FoxyTunes

Monday, November 03, 2008

um olho no humano outro no prato

um fundo de garrafa pet mal cortado. o suficiente para que seja improvisado um comedouro para que o gato sarnento de rua faça as refeições que lhe propus dar.

nada demais, eu sei. no espaço das calçadas fronteiriças sempre que saio ele está lá. vigiando cada vez mais os meus passos e dando-me bom dia quando saio ou boa noite ou madrugada quando chego.

o gato de pequenos olhos amarelos tem linha. black-white, se não fosse a sarna a altura do pescoço, que lhe deixa quase parecendo um galo em petição de miséria, seria uma peróla em qualquer sofá de cobertura.

penso que se tiver acesso a alimentação que não seja provida azeda ou quase-podre pelo lixo, sua sorte pode melhorar. não há de alcançar o sofá, mas alcançará mais rápidos muros e outros roteiros de fuga. já que na vida de rua, olho vivo sem forças, não basta para sobreviver.

com o gato aprendo que existe algo que não melhora. não a sua sarna, mas a enorme coceira humana em sua sina de sarna. já perdi as contas das vasilhas que andei a cortar para improvisar o tal vasilhame onde o tal gato possa se alimentar. mal as coloco, e sempre tem alguém a chutá-las, despejá-las, roubá-las, enfim, desaparecem como se o destino raso a que se lhe destinam agora fosse algo mais importante do que matar a sede e a fome do gato que tem linha, apesar da sarna, coisa que decidamente os humanos, adultos e crianças, que somem com a vasilha não tem.

para não perdê-las, fico de vigia, e o gato, que aprende rápido, como se já não soubesse o que é o dejeto humano após tanto tempo na rua, come o mais rápido que pode, para tentar salvar o pescoço: um olho no humano, outro no prato.

um simples vasilhame de pet "malamanhado" acaba sendo o portal revelador de quem é quem neste mundo de chuta-vasilhas sem nexo: o gato sarnento que tem linha, e que não a perde. mesmo sabendo que sou eu que lhe ajuda, e que não chuto - nem vasilhames, nem gatos - mantém a distância, alertando-me para evitar o contágio com os sarnentos sem linha que indubitavelmente são os humanos e não o gato que ainda que sarnento seja o é de outra espécie.