Monday, December 13, 2010

fidelidade a toda prova


depois de todos estes anos permaneço fiel a mim mesmo. não sei se seria diferente caso as separações, amigáveis ou litigiosas, não fossem tão caras.
custa mesmo os olhos da fuça olhar a si ou a outrém e não vê-lo mais alí como o velho sobretudo ou chapéu que no fundo funcionam como bengala para a saída que planejamos há anos mas ficamos sempre adiando para o último momento deserdado, quando então desertamos, imagino, de tudo, até da fidelidade do pulmões aos narizes que, suspiro e suspeito, não mais acendem e só apaga.


permaneço fiel e inacabado a tudo que sou enquanto vivo. quem se acaba é o mundo e, dentro dele, o que de mim já não faz parte por mais fiel que eu seja ao que já me deixou para nunca mais seguir-me em frente.

Monday, December 06, 2010

Friday, November 26, 2010

beatnick


meus melhores amigos, dizia ele o compositor, são, além dos cães, meus livros, meus discos e meus instrumentos musicais, incluindo-se entre eles, caralho, o meu cacete.

Monday, November 22, 2010

eunuco

nunca sonhava, apenas deitava e dormia. contando ovelhas castradas, que se esfumaçavam em bandos de roncos sós.

Tuesday, November 09, 2010

honoris causa


envelheço, por enquanto apenas biologicamente, o que não é pouco, nem de longe, nem perto. observo, com rigor, que não sou mais tão inteligente quanto eu era ou, segundo as más línguas, o que eu acho que era.
em compensação, estou menos turvo e sagaz, ao menos nas sobremesas. e se a palavra não tivesse tanto sebo, diría que um um tiquinho mais sábio. but a little bit only desta tal lasquinha de tirinhas de tiquinhos que tentam compensar vida arrancada aos nacos.
se estudei ou atentei mais para o conhecimento necessário para isto, pouco provável, muito pouco provável. o que fiz, foi justamente não estudar e não aprender, o que definitivamente não devia ser apreendido. afinal, chega um momento em que a vida já se basta de tantos erros.

Friday, November 05, 2010

o banana

havia uma pedra no meio do caminho. mas ele tinha à mão, uma banana de dinamite.

Thursday, November 04, 2010

hannah arendt


tão incrustado da realidade vivida quê às tantas tinha de fotografar-se para só assim enxergar o que era real.

Sunday, October 24, 2010

Tuesday, September 28, 2010

sonrisal

gato preto dá azar, passar por baixo de escada dá azar, chinelo emborcado dá azar, amar, dá azia.

Tuesday, September 21, 2010

Friday, September 17, 2010

inversamente proporcional


há quem dê tudo, que ao fim e ao cabo não significa nada. há quem dê nada, o que ao fim e ao cabo significa tudo, ou melhor: o fim de tudo que era nada.

Sunday, September 12, 2010

Saturday, September 11, 2010

com os olhos no chão


quanto mais perfeita a beleza, mais dói; mais até do que a feiura mais horrenda. assim são nossos olhos, não nascidos para enxergar o que de mais belo seja ou não o reverso da feiura.

Monday, September 06, 2010

Monday, August 09, 2010

palavra de anjo


o homem que nesta terra miserável mora entre feras sente inevitável necessidade de também ser fera. (augusto dos anjos, versos íntimos)

Thursday, August 05, 2010

slow food

tempo, bem ou mal, muito precioso para ser digerido com pressa.

Tuesday, March 02, 2010

o amor é mesmo fundido ou antimônio do vazio


dizem que o bom do amor é a espera, com a posterior conclusão, sabe você de que, of course.

mas quem espera, normalmente ou anormalmente, desespera.

conclusão ou, vá lá que seja, soluço: vale a pena esperar pelo amor que se espera ou encontrar o que não se desespera?

na dúvida, muita gente fica esperando, e de novo a tal espera que, se não desespera,destempera.

o amor é mesmo fundido?

Thursday, February 11, 2010

porque se deve amar sempre os gatos(ou as gatas)

no primeiro beijo, o amor salta aos olhos da cara. a língua estala, a baba escorre, se duvidar até catarro engole, tamanho o desejo, a tesão, alguns dizem ilusão. e haja espaços públicos e privados para tanta demonstração de como o amor é lindo.

não há de passar muito tempo, quanto anos? até que o cuspe engasgue, enrolando a cuspida, a língua anestesie a dama e o lorde, que cada vez mais recorrerá as putas, pigarreie na hora h. do quarto iluminado, cada vez mais obscuro e envergonhado da luz que lá fora aponta o fim de caso da retina com a imagem, assombra o mofo em tufos de esmegma. na mesinha de cabeçeira, linho de lenço cambraia lentes intactas e uma griffe da armação que ainda que se queiram conferentes de bom gosto de nada mais já adiantam quando a imagem da perfeição sucumbe ao gosto do gasto.

os que amam tanto, de tanto amar em umidez de enxurrada em breve não se suportarão justamente por isso mesmo. por sua própria natureza o corpo fluidifica ora para dentro e ora para fora o que já não serve aos propósitos da secura.

o amor baba, a boca escarra, a língua seca, isso tudo até que dava pra suportar mas aquela mijada semi-incontinente na porta do banheiro nem cachorro faz.

Friday, January 08, 2010

carpe diem

virada do ano. todo mundo fazendo promessas de tudo um pouco e sabe-se mais o quê, para mudar de vida. dos pequenos aos grandes detalhes, como por exemplo, perder a barriga, a verruga, livrar-se da operação na bexiga ou refestelar-se no prêmio da loteria que é quase certo não virá.

vida - bem ou mal - vivida, e seus traços, são como varizes. uma vez instaladas, não adianta querelar. seja qual for o laser que se sonhar, elas vencerão e ficarão eternizadas na batata dos seus tiques existenciais para sempre. mesmo que apagadas por recursos dolorosos - são falsas também as promessas que não vai haver dor - e prontamente não se as vejam, elas e você sabe, estão lá.

quanto a mim, de há muito não faço promessas. concentro-me em não tentar ser uma pessoa nova - ou na mania de fazer tudo velho de novo como se fosse outro sob a disfaçatez de uma falsa mudança, a viver como novo, as mesmas coisas de sempre(mas há quem acredite que vai perder a barriguinha-sem deixar de abarrotar-se de chopps e chouriço, e que o sexo tântrico vai salvar seu casamento ou união de outros interesses. satisfaço-me com os centavos atirados a fonte do desejo, que carregam o pedido, sem troco, de manter-se exatamente como sou, fiel a mim mesmo, e a minha teimosia taurina. afinal, leva-se uma vida - tantos nem assim - para aperfeiçoar o que quer que seja, inclusive os defeitos, que se aprimorados a excelência, acabam-se tornando virtude, ao contrário das virtudes que não resistem as tentações que derrubam promessas que esvaem-se na duração do tempo de bolhas de espumantes.

sonhos, varizes, anos novos, promessas, precisam de tempo de vida, mais do que tudo. e isto, é exatamente o que temos cada vez menos. para que então desperdiçá-lo tentando ser o que já não mais seremos, se sequer somos o que prometemos ontem, antes de todos a nós mesmos?