Wednesday, April 30, 2014

discutindo a relação

todos nós, em alguma fase da vida, somos inteiramente apaixonados por nós próprios. alguns chegam a adoração. entretanto, sob a força do hábito, do viver, e do tempo, alguns dão um tempo.

neste ínterim, boa parte, segue em frente e arruma novas paixões, de si para si, ou de si para outrem. outros, no entanto, como se não houvesse saída ante o panorama da diversidade, quase sempre assombrosa, voltam a querer-se, por tédio, covardia, costume, o tal hábito, e nem sempre por tirinhas mas até por demasiado, como se tudo o que foi antes, pudesse ser agora e sempre, para sempre o mesmo configurado sem a menor possibilidade de up-grade. 

é ai que a infelicidade bate a sua porta. para sempre. e tome uma vida "crasha".

Saturday, April 19, 2014

enquanto lá fora rola o feriado

aquele que olha de fora através de uma janela aberta não vê nunca tantas coisas quanto aquele que olha uma janela fechada. não há objeto mais profundo, mais misterioso, mais fecundo, mais tenebroso, mais radiante do que uma janela iluminada por uma candeia. o que se pode ver à luz do sol é sempre menos interessante do que o que se passa por detrás de uma vidraça. neste buraco negro ou luminoso vive a vida, sonha a vida, sofre a vida. baudelaire, pequenos poemas em prosa (o spleen de paris).

Sunday, April 13, 2014

bichinhos de estimação

"no jardim da minha memória, moram três leopardos. o primeiro, o mais bruto, pontapeia pela relva a minha cabeça fracturada, novelo de tricô, em carne viva. o segundo, o mais astuto, devora, num canto, o meu cérebro, um bocado a cada dia, apenas pelo prazer de ver a minha lucidez definhar. o terceiro, o mais sonso, logo, mais perigoso, nada faz, uma esfinge, sentado sobre as patas traseiras, olhos fixos, sorriso de buda estampado no focinho. é este, o terceiro, que me assusta. é ele que me me aguarda quando eu nada lembrar; nada souber. quando estiver sozinho, desamparado,a olhar para as árvores desfolhadas do passado, sem poder diferenciar uma cerejeira de um carvalho, quando, naquele jardim, antes tão cheio de vida, só houver confusas reminiscências, espécie de erva daninha que entorpe e asfixia. será aí que ele, o derradeiro felino, dará um único e preciso salto em minha direção. 
e aí, amigo, o que vai será de mim? e aí, amiga, será o fim" (edson athayde in jonas vai morrer)

Wednesday, April 09, 2014

"lepo lepo"


e por falar em estar sozinho, e na pessoa difícil, penso que: excetuando-se as difíceis paranoicas, levam uma vantagem em relação às fáceis; desenvolvem uma relação estreita e contínua;uma amizade duradoura com a solidão, e que costumeiramente, desde que haja algum talento, há de render bons frutos. o silêncio dos pensamentos é algo de muito boa companhia ao contrário do burburinho de mediocridade que a facilidade dos dias atuais possibilitou.


mostre -me um difícil medíocre, e eu lhe mostrarei um dono sem cão.