Saturday, February 28, 2015

não é tão somente uma questão de escolhas

o senso comum, espraiado na literatura dos lugares comuns da auto-ajuda, diz alguma coisa mais ou menos assim: a vida é o que você faz das opções que você constrói ou que se lhe aparecem - isso lhes tiraria o valor ? -  porém, o acaso e a necessidade, quando você está realmente "fudido", quase nunca se dão as mãos, a não ser em templos evangélicos, que é para você ficar com os bolsos descobertos.

ledo engano se me disser que o cotidiano hoje não apresenta muitas opções de você ser quem realmente é, ou o que deseja, em meio ao irônico mundo multifacetado de possibilidades tantas de símbolos e imagens que na maioria das vezes representa mais o vazio da vida atual do que o enchido de linguiça que se tornou a vida para a maioria das gentes.

sempre há opção, mesmo quando não há opção alguma, se o ab ovo não feneceu, o que não deixa de ser uma opção partida ao meio. o não perder a consciência dos fatos é sempre uma opção a mais nestes casos em que a manutenção da personalidade insurge-se como um obstáculo ao bem suceder-se na vida.

cá do meu buraco tenho um livreto de inúteis anotações fúteis onde rabisquei o seguinte: entre o medíocre o e o ruim, eu sempre fico com o ruim. esse ainda pode ter jeito. creio ser um pensamento inevitável para quem também acredita que o bom é inimigo do ótimo. e persegue o ótimo mesmo que isso não seja bom quando a perseguição se dá por interesses outros que não a necessidade de intensidades mais extensas do que os zeros a direita da sua conta bancária.

se você não precisa do ótimo para viver, ótimo. mas não pense que fica mais fácil a sua opção. a simplicidade das escolhas é tão difícil como enxergar na simplicidade o ótimo que você perseguiu como um cão ao seu rabo deixando de enxergar o "osso" que estava a volta tão perto.

nestes casos dificilmente há volta ou voltas. a não ser volta e meia para o desaparecer de vez como pessoa. e não venha me dizer que foi por falta de opção.

Thursday, February 26, 2015

faro fino ou a ironia das coleiras



animais revelam muito mais sobre a personalidade do "dono" do que o dono sobre a personalidade do animal. 

sim, creio que sim. mas é preciso cuidado com as generalizações; e ter faro para ter discernimento sobre os estereótipos do bem, do bom, e do mau, para não falar do feio e do bonito.

não é fácil. aliás fica pra lá de confuso, por exemplo, no caso de hitler, e de seu conhecido amor pelos cães - que ia além dos pastores alemães. sem contar que o regime nazista, foi o primeiro a reconhecer os direitos dos animais (há controvérsia em relação a inglaterra) paradoxalmente, no mesmo ano em que abriu darau, publicava-se: 

«No novo Reich nunca mais se permitirá a crueldade com os animais». Em 1934 proibiu a caça. Em 1937 regulou o transporte de animais por estrada e, em 1938, o de comboio, para que os animais fossem transportados em condições decentes" 

mas na maioria dos casos - incluindo os rappers - é " tiro e queda". muito embora certos donos definam com crueldades a personalidade de um cão, eles acabam por ser revelados - em suas grandezas e pequenezas - pelos sinais emitidos por seus animais, quando não próprios. 

mas é preciso ter faro para tal discernimento. e faro fino é com os cães, e não com os humanos, supostamente, apesar da nossa indissociável animalidade nunca usada para o bem, sequer da própria espécie.

Friday, February 20, 2015

dissabores




























todos temos. quem não. e quem não, por certo os há de ter, e muitos. falo de cátedra. porém, por mais fútil que possa parecer, entre os muitos que tive, e olhe que não foram poucos, poucos se comparam ao de sentir que o gostinho do toddy mudou. ali compreendi que não haveria mais criança em mim e sabe-se lá que adulto sensaboria viria ser.

dizem às más línguas que as pesquisas determinaram um novo sabor. mas como? se ninguém me perguntou nada. talvez porque se sim, ouviriam um sonoro não. pra que mudar um gosto de vida assim, num lamber de beiços, só porque algum engravatado(à época) teve a infeliz ideia de propor a mudança, por motivos de que somente alguém que teve uma mãe que por certo não lhe deu toddy haveria de achar? que saberia este sujeito de toddy? e do que aquilo significava para nós? nada. não sabia nada. e foi um nada que nos deixou com o gosto de nada na boca que jamais voltaria ser do toddy que tanto amávamos.

ah! você acha então que eu estou exagerando? que não passo de um adulto sentimental que fica chorando pelo toddy derramado? então vai conversar com a turma que tomava ovomaltine e de súbito se viu sem o sabor suíço que era "puro malte". mas não diga que é um cara ou uma cara da pesquisa. o risco de ficar sem sentir sabor é imenso. brutal? bom, foi o que fizeram com a gente. sem dó nem piedade. deram um nó na nossa garganta, a tal ponto, que falou em achocolatado, eu engulo em seco. e nada mais que que se compare ou pareça com toddy desce. 

o certo é que, alguns dissabores a gente esquece. outros, morremos com eles atravessados na garganta.

p.s. felizes foram os putos(as crianças) de portugal. lá o sabor do toddy que valia a pena resistiu até os anos 90. quando lá fui, e lá morei, antes do vinho, e de qualquer outra coisa, bebi todo o toddy que podia até não poder mais. uma overdose de toddy que durou anos e anos. até mesmo quando voltei ao brasil carregado de toddy nem um pouco preocupado em ser pego pela fiscalização. o problema é que fui. e na minha cara vi um sujeito da tal fiscalização pegando a lata com olhos marejados e dizendo, anda passa, vai em frente, como se não houvessem dezenas dela nas minhas malas. passei. e fui-me embora. não sem antes, separar algumas latas, e com um bilhete deixá-las para serem entregues ao tal funcionário. creio que assim não haveria risco de alguém dizer que subornei a fiscalização. afinal, passara e nada foi combinado. no bilhete estava escrito: - nestas não há coleção de índios. tinha certeza absoluta que ele saberia do que estava tratando. e assim, mais um sabor juntar-se ia ao meu dissabor que por alguns anos foi dissipado em goles e goles intermináveis do "sabor que alimenta" meus bons gostos até hoje, apesar do enorme dissabor do acontecido. tal como os índios, eu e o tal cara da fiscalização, fomos derrotados pela ferocidade da sede de lucros do homem branco cujo sabor que sacia por certo não é do toddy de antigamente.




Thursday, February 19, 2015

lei da compensação ou quase não dá para ser outsider

mas faça zag e se segure. não fique no zig-zag que ai é que você vai ser tosquiado mesmo.
já que o mundo não anda exatamente como eu andava a espera, eu também reservo-me ao direito de não andar ou ser como todo mundo esperava que eu andasse ou fosse, a começar da indefectível família, tradição e sociedade.

o que mas me emputece, é que eu não encho o saco de todo o mundo, o tempo todo, por tudo e por nada, a começar de ficar buzinando no transito nem bem o sinal abriu, ou nas filas, a gritar o próximo quando o próximo já o deixou de ser.

eu, no máximo dou umas incertas aqui e acolá, que nem sequer fazem cócegas dada a minha insignificância no preterido equilíbrio da desdomesticação ou desmistificação que por si só não basta  - dada a dominação exacerbada a letargia da euforia - ainda mais nestes tempos de carnaval. sou low profile. ninguém mexe comigo e eu passo desapercebido, que é a minha mais nova descoberta de modalidade de felicidade que já anda perigando ser impossível.

bolas! o mundo inteiro parece que se acha no direito de vir me encher o saco dizendo como eu devo andar, devo ser, devo comer, devo foder, devo cagar, devo até não mais poder. até inventaram a figura do treinador pessoal do como fazer para seus haveres e deveres serem otimizados, sabedor desde já, para sua informação, que você vai ficar esmerado no dever adoidado e um pária na toga dos haveres. é a lógica da suruba do comportamento social, que incita os amestrados ao caminho do sucesso assentados nas diretrizes de querer foder sempre o que está na frente, esquecendo o que lhe vai no rabo, com força e sofreguidão não é sorvete. é fumo mesmo. 

então fica o recado, para os da frente e os detrás: não estou interessado. foda-se o mundo! e o mundo todo! mas não todo mundo, porque deve andar por ai uns alguns que talvez ainda sejam capazes de salvar o mundo dele mesmo. mas, quiçá, não o mundo todo. por que ai começa tudo de novo.

Saturday, February 14, 2015

a verdade é que, provavelmente, não sei contar piadas


meus inimigos, muitos, mas nem tanto como gostariam, dizem, alguns, que não poderiam ter melhor amigo. provavelmente pelo trato que tenho com a verdade: sempre em primeiro lugar. e por ser sincero em minhas lutas e postura nas frentes de batalha;

já os amigos, poucos, a maioria, desejam-me aos seus piores inimigos. provavelmente porque não lhes poupo da verdade ainda que lhes seja desfavorável -  na maioria das vezes é - expressa na sinceridade, para eles sempre fora de lugar, dos comentários sobre seus mal-feitos e também sobre seus parcos acertos, sendo o parco a outra face dos meus desacertos, segundo eles, que não foram poucas as vezes que me tiveram como "muy amigo".

dizem de caras assim como eu, que são impingidos ou sofrem do mal do "fogo amigo", expresso no bordão, perde o amigo mas não perde a piada, aquele que queima indiscriminadamente as possibilidades sociais de nexo, compreensão, e engrandecimento profissional, que costumo chamar de arrivismo, carreirismo para os menos íntimos com o dicionário, ainda mais em tempos de redes sociais.

disléxico talvez eu seja, no que escrevo e no que percebo da escrita deles. mas não sou, com certeza alguém que troque a amizade pelo riso imbecil da piada fácil. aliás, tenho cá comigo que um riso de mentira, não passa de um escárnio da verdade. e não vejo nisso grande piada.

isto posto, não venha me contar lorotas, como se fosse verdade, esperando que por ser seu amigo, eu me desfaça em gargalhadas. 








Thursday, February 12, 2015

"existirmos, a que será que se destina" ?

está lá; em qualquer compêndio filosófico, do acadêmico ao empoeirado das bancas de revistas, que o bem mais precioso ao dito humano é a liberdade.

e a história, com tanta história de lutas titânicas e sanguinolentas, extermínios, idas e vindas, vitórias e derrotas, reviravoltas, impasses, tenacidades e superação, daquelas de verdade, e que por isso mesmo fazem a bíblia parecer gibi de segunda, e jesus protagonista de filmes da sessão da tarde, também pode registrar a que ponto chegou este conceito de liberdade nosso mais caro bem.

para alguns, o bem mais caro, bem... é o rolex, o bugatti, a lua de mel em dubai, e a muito pouco idílica, certamente farisaica, e nada mais tresandada a noveau riche que é a cobertura à beira mar, dita e sublinhada, na barra da tijuca.

para nós, pós-60, que nos meados dos anos 70 atingimos a universidade, ainda casa de libertações, revoluções, trepações, conhecimento e dúvidas, não deixa de ser um baque chegarmos a um novo pós-60(desta vez o geriátrico) vendo a universidade transformar-se em centro de obscurantismo e repartição precatória na concessão de diplomas para o exercício do sub-emprego com ares de conteúdo secular que fariam os cursos de correspondência ultrajados tamanho baixio de qualidade - para não falar da universidade à distância.

é de se arrancar os cabelos, de quem ainda os tenha, estar cara a cara com o conceito de liberdade almejado à exaustão onde os olhos lacrimejantes devem-se ao sacrifício físico de horas e horas de aulas de como burlar as dificuldades que são contornadas com truques e apetrechos que não traduzem conhecimento aplicado e sim esvaziamento dele, justamente para a consecução do objetivo libertário catequeticamente (digamos que quis dizer catequese caquética) expresso na aprovação para o concurso público - qualquer um, não importa suas verdadeiras aptidões desde que lhe seja dada a garantia de infelicidade profissional a custa da segurança e da boa vida de muitas horas trabalhadas a menos do que a mais folgada das atividades cá fora, e muitos salários a mais do que faz por merecer a mais árdua tarefa exercida por não concursados, como a dos professores, para completar a dessintonia dos concursos, sem deixar de sublinhar que as escolas preparatórias para tal são uma máquina de fazer dinheiro ao custo ainda mais alto de moer ideais, valores e comportamentos, com a promessa da falsa liberdade de se garantir na vida - desde quando alguma coisa é garantida na vida para além da morte, o que sabem todos, menos os que fazem concurso, claro.

obviamente, que o componente financeiro, no sistema que vivemos é um passe livre, ao menos para ilusão da liberdade. mas o capitalismo, contraditório como ninguém - a  liberdade nunca é contraditória - se por um lado exige renda para transpor os muros e enjaular-se dentro, é o mesmo sistema que lhe escraviza, e mais e mais, para que consiga os meios de pagamento deste enjaulamento tido como libertador.

e assim, resumo da ópera: a luta pelo bem mais caro ao dito humano, tal como está nos compêndios filosóficos, dos acadêmicos aos empoeirados nas bancas de revistas, nada mais é do que a luta para ficar engaiolado a salvo das intempéries da natureza da própria liberdade.

liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós, cantamos um dia enquanto lhe cortamos as asas mal o voo foi ensacado. e se um dia assim cantamos, liberdade abre as asas sobre nós está na hora de abrir a liberdade nós mesmos em nós próprios, olhando em volta, transformando o singular no interesse plural onde: antes o pouco para muitos, todos, do que o muito para poucos, quase ninguém. 

sem esta liberdade no pensamento, não será diferente hoje, não foi diferente ontem, não se vai longe. aliás, fica-se cada vez mais longe do que é ser humano, por mais que o que seja ser humano hoje seja vergonhosamente escravo de tudo, de todos, e de si próprio, a mais miserável das escravaturas. 

Friday, February 06, 2015

escola josé pedro varela(8-2) - estácio, rio de janeiro. turma 10 (d.ondina) em 10/05/62
























lembro. sim me lembro de cada um deles como se fosse hoje, agorinha mesmo. não importa se este hoje tem mais de 50 anos. e olhe que nem sou desses que ficam repassando as lembranças naquele cerimonial de refazer percursos imemoriais que acabam descambando para o álbum de família. desse eu escapei.

mas catando livros a procura de amigos, e quero que saiba desde já que nem todos os livros são seus amigos, mas o que são, são mesmo - encontrei a foto. incrustada numa pseudo encadernação da época, a se desmanchar como imagino estejamos todos nós que estamos nas fotos, decerto uns tantos já passados para outro estado de clique.

só sei que de súbito vi que gostava dos que lembro e gosto com carinho dos que não. até dos invisíveis; que nunca me passaram desapercebidos. recordo seus estratagemas para ultrapassar o tempo que parecia, para eles, menos divertido do que para nós, tidas como crianças "normais" se é que isto é possível. no entanto, admito, tive certa dificuldade em me reconhecer - na foto e no espírito. mas lá estou: orelhas de abano, olhar focado, e um certo ar de quem já sabia que o que tempo pela frente não seria assim-assim , digamos, um recreio de refrigerantes. 

mas acima de tudo, ah! bons tempos. tempos em que ninguém da turma tirava zero em redação(na época chamava-se composição). e por falar em composição, vem-me a percepção agora, é o que tem de sobra nesta foto, cujo vértice é cabeça de alguém na quina onde o vento dobra, e que me induz a ver sob a janela, o que nunca vi dantes: vasos de plantas, que nem sei se esquecidas ou não, mas que por certo, naquele momento, elas que viveriam menos do que nós, estavam tão certas do seu lugar como nenhum de nós mesmo hoje sabe se está agora.