está lá; em qualquer compêndio filosófico, do acadêmico ao empoeirado das bancas de revistas, que o bem mais precioso ao dito humano é a liberdade.
e a história, com tanta história de lutas titânicas e sanguinolentas, extermínios, idas e vindas, vitórias e derrotas, reviravoltas, impasses, tenacidades e superação, daquelas de verdade, e que por isso mesmo fazem a bíblia parecer gibi de segunda, e jesus protagonista de filmes da sessão da tarde, também pode registrar a que ponto chegou este conceito de liberdade nosso mais caro bem.
para alguns, o bem mais caro, bem... é o rolex, o bugatti, a lua de mel em dubai, e a muito pouco idílica, certamente farisaica, e nada mais tresandada a noveau riche que é a cobertura à beira mar, dita e sublinhada, na barra da tijuca.
para nós, pós-60, que nos meados dos anos 70 atingimos a universidade, ainda casa de libertações, revoluções, trepações, conhecimento e dúvidas, não deixa de ser um baque chegarmos a um novo pós-60(desta vez o geriátrico) vendo a universidade transformar-se em centro de obscurantismo e repartição precatória na concessão de diplomas para o exercício do sub-emprego com ares de conteúdo secular que fariam os cursos de correspondência ultrajados tamanho baixio de qualidade - para não falar da universidade à distância.
é de se arrancar os cabelos, de quem ainda os tenha, estar cara a cara com o conceito de liberdade almejado à exaustão onde os olhos lacrimejantes devem-se ao sacrifício físico de horas e horas de aulas de como burlar as dificuldades que são contornadas com truques e apetrechos que não traduzem conhecimento aplicado e sim esvaziamento dele, justamente para a consecução do objetivo libertário catequeticamente (digamos que quis dizer catequese caquética) expresso na aprovação para o concurso público - qualquer um, não importa suas verdadeiras aptidões desde que lhe seja dada a garantia de infelicidade profissional a custa da segurança e da boa vida de muitas horas trabalhadas a menos do que a mais folgada das atividades cá fora, e muitos salários a mais do que faz por merecer a mais árdua tarefa exercida por não concursados, como a dos professores, para completar a dessintonia dos concursos, sem deixar de sublinhar que as escolas preparatórias para tal são uma máquina de fazer dinheiro ao custo ainda mais alto de moer ideais, valores e comportamentos, com a promessa da falsa liberdade de se garantir na vida - desde quando alguma coisa é garantida na vida para além da morte, o que sabem todos, menos os que fazem concurso, claro.
obviamente, que o componente financeiro, no sistema que vivemos é um passe livre, ao menos para ilusão da liberdade. mas o capitalismo, contraditório como ninguém - a liberdade nunca é contraditória - se por um lado exige renda para transpor os muros e enjaular-se dentro, é o mesmo sistema que lhe escraviza, e mais e mais, para que consiga os meios de pagamento deste enjaulamento tido como libertador.
e assim, resumo da ópera: a luta pelo bem mais caro ao dito humano, tal como está nos compêndios filosóficos, dos acadêmicos aos empoeirados nas bancas de revistas, nada mais é do que a luta para ficar engaiolado a salvo das intempéries da natureza da própria liberdade.
liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós, cantamos um dia enquanto lhe cortamos as asas mal o voo foi ensacado. e se um dia assim cantamos, liberdade abre as asas sobre nós está na hora de abrir a liberdade nós mesmos em nós próprios, olhando em volta, transformando o singular no interesse plural onde: antes o pouco para muitos, todos, do que o muito para poucos, quase ninguém.
sem esta liberdade no pensamento, não será diferente hoje, não foi diferente ontem, não se vai longe. aliás, fica-se cada vez mais longe do que é ser humano, por mais que o que seja ser humano hoje seja vergonhosamente escravo de tudo, de todos, e de si próprio, a mais miserável das escravaturas.
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