Saturday, March 29, 2014

sem complexos - e sem vírgulas

de uma lista de quase mil nomes garimpados talvez em algum dicionário escritos em papéis kraft cinza bem gramaturados nos quais nos anos cinquenta se embrulhava carne de charque um a um listados pela etimologia ou seja pela origem e significado meu pai escolheu meu nome o que anos mais tarde me passaria na cara enquanto ainda garoto ao que não dei muita importância apesar do latim celsius excelso ou seja sublime elevado alto até porque anos a fio esbravejei até quase me acostumar a vê-lo escrito como selsun nome de shampoo contra caspa sem falar no celsio sezio çelcio e também nem sequer ao entendimento do orgulho de ser nome incomum da época ao tempo que hoje já tão comum que até me fazem raiva certos homônimos tivesse nascido hoje etimologia às favas pelos encontros desencontros vocabulares ou lá que seja do mesmo pai creio que não seria um wanderglaysson da vida o que não garantiria vida mais ou menos facilitada o que por certo um bom ou mal nome faz e desfaz o que se torna relativo num mundo onde a avaliação do nome começa pela carteira e que por isso mesmo me faz ficar puto quando colocam o senhor na frente o que acredito ser desrespeito ao nome de qualquer um que seja e no meu caso ao meu pai afinal foram quase mil nomes escolhidos a dedo para se colocar um senhor que não significa nada mais nada menos do que o resquício de um tempo colonial escravocrata ou reverso de uma modernidade onde é mero índice prestidigitador de um falso atendimento esmerado que os manuais de serviço ao cliente recomendam para se evitar a informalidade que hoje não é mais bem vista diferentemente da que havia no tempo em que meu pai escolheu um a um entre mais de mil nomes o nome que para ele nunca soube ao certo me faria uma pessoa melhor e ou superior aos demais o que deveras parece não aconteceu pois me acostumei a ele como todos se acostumam mais dias menos dias uns mais outros menos com os nomes sejam eles complexos ou nem tanto uns e outros a depender do cingido sem complexos como aconteceu comigo



Thursday, March 20, 2014

marcando território








o mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família. mario quintana

Thursday, March 13, 2014

tá estranho ou cuidado para não sair por onde entrou e ou vice-versa




"Um sujeito trajando bermudas dessas com bolsos laterais largos, uma camisa esporte qualquer e um par de sapatos irrelevante vinha com um saco da tal farmácia na mão, acompanhado por alguém que parecia ser um velho amigo, daqueles com quem a comunicação oral já foi tornada quase dispensável pelo tempo. Mesmo assim ele dizia:
Estranho, velho... muito estranho. Muito estranho. Muito estranho... Tá estranho...”. A cada repetição da palavra, a estranheza ia ganhando peso e concretude, tornando-se mais indigesta, ácida e cabeluda. A que diabo de estranheza estaria aquele passante de short cargo se referindo afinal?
Aquilo magnetizou minha atenção de tal maneira que me fez levantar da mesa, deixar sobre ela óculos, xícara e outros pertences para tentar ir atrás por alguns metros e desvendar algo mais daquela mensagem cifrada que, apesar do curto vocabulário e do excesso de repetições, parecia conter uma dose incomum de sabedoria, especialmente se comparada à cota média dos comentários colhidos ao pé do ouvido naquele movimentado passeio público.
É violência, desigualdade demais, medo, economia zoada, gente pobre e rica se acabando no crack, o povo passando mais tempo numa caixa de lata com rodas tentando se mexer na cidade do que vivendo, uma pressão desgraçada e uma competição animal até para comprar um pão com manteiga na esquina, corrupção nojenta até nas esferas mais insignificantes do poder, empresas estatais gigantes à deriva, povo na rua reclamando e quebrando coisas a toda hora, gente amarrando ladrão no poste e descendo o sarrafo. Estranho... tá tudo muito estranho...
Tô pensando em ir embora disso aqui, véio...” foi concluindo nosso personagem enquanto amassava entre os dedos a boca do saquinho de papel com logotipos de laboratórios que trazia nas mãos."
( excerto do texto do paulo lima, publisher da trip, sobre conteúdo principal da edição)


Sunday, March 09, 2014

e por apenas mais 2.627, reais você leva o ar-condicionado "grátis", esbodegava-se em tal apelo o locutor

clélia de souza e silva dando ares da sua liberdade por aqui;
com seu fiel gurgel que não a descabela há 28 anos

a tal da maturidade, em mim é como ar-condicionado em carro popular:o carro custa tanto e mais tanto se quiser o ar; 

então pra sentir você tem de pagar - pagar pra sentir é sempre uma exorbitância;

em sendo assim, eu continuo um teen emocional: a cabeça fora da janela do corpo, é isso ?



Saturday, March 01, 2014