Tuesday, February 28, 2006

apito

quando se cala, é o apito final.

pas de deux

mestre sala e porta-bandeira: os únicos da brincadeira que se não dançarem na avenida comme il fault dançam desta para outra. isso quando tem sorte.

ponteiro de segundos

relógio do sambódromo não perdoa. atrasou, desconta na hora.

destaque

aquele que não se garante em pé e que por isso mesmo é sempre colocado no alto de um carro cuja maior alegoria é rezar pra não cair.

arquitetura de interiores

esqueceram a bandeira da porta. a sala do mestre tava nem aí.

tirando pontos

no desfile da vida, quem atravessa, fica pra trás. e nada daquela história de para o ano tem mais.

rítmo

no carnaval, línguas correm soltas. corpos escorregam. olhos enxergam a velocidade da luz. e a sede descomunal de vida vai se desidratando ao limite da ressistência.

Monday, February 27, 2006

presidente

de uma escola de samba tem mais autoridade do que o do país. da sua escola sabe tudo e de todos. inclusive do caixa dois.

enredo fatal

a vida de uma escola de samba centenária foi medida em minutos e teve a sorte descartada por um décimo de ponto.

atravessando o samba

se samba não ser aprende na escola porque todo mundo aqui quer dar aulas para a dinamarquesa alí do outro lado do oceano

bateria

suprema humilhação: a bateria que é rainha do desfile tem de aguentar um outra cujo bum-bum é surdo.

passista

a dona da bunda que balança a pança de uma escola inteira

pandeiro marcado

na bunda da passista da mangueira a marca de uma celulite que aprendeu a sambar no lugar errado

acertando a harmonia

se japonês, alemão, dinamarquês, e até inglesa surda aprende a sambar, porque é que a brasileiro não aprende a votar ?

Sunday, February 26, 2006

receita caseira

nasceu com o pênis pequeno o menino
martirizado no vestiário da escola
mas o comprimento d´outros membros
acabaram por dar-lhe certa graça

de graça
comeu todas as irmãeszinhas dos amigos de pau grande
casando-se com a mais gostosa do bairro
depois de ficar conhecido pelas domésticas da circunscrição
como "pirulito de cú "

é bem verdade que ele tinha um dos pulsos pra lá de grosso
pau de cachorro no braço
aquele menino
bendita fratura mal curada
atestava dona teresa
mães de trigêmeas
com um olhar de suspiros
e pequenos lábios estoporados

e tudo por que aconteceu
nenhum, mas nenhum mesmo, sentimento de vingança
só o amor tinha ele pra dar
jurava pra quem quisesse acreditar

da higiene íntima

o poeta é esta lasciva ironia
na agonia de poetizar
professo
a profissão de pro(poe)fe(s)ti-ve(a)zar

como se o desejo pudesse preparar um novo idioma
corrente de palavras pre-paradas

e acrescentando todo o nosso esforço tal a lábia sensitiva
dobrar os acontecimentos num pedaço de papel
tal que se lho entregasse a mulher
(como se ela não o resolvesse
no particular dialeto das soluções do tempo)
abandona-lo-ia
no esquecimento prático
do reconhecimento da sensibilidade do talento
dos amantes separados

fa-zelo um calço aos seus mais novos sapatos
senão falo-ia
íntimo e sorrindo
vi-r(i)lh(a) mais uma vez
enxugar não a minha angústia
mas o corrimento
do colo que já espera por outro

(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com)

Saturday, February 25, 2006

decidam-se

quando eu tinha 16, me diziam: vá com calma
você não tem 33.
agora que eu tenho 33, me dizem: vá com calma
você não tem 16.

pneumotorax

jorro de palavras entaladas no goto
expelidas por golfadas de catarro em sangue
seria fácil fazer poemas assim

difícil é a pós azia
depurar-se por outros
bicabornatos

gorduras

acumuladas em centímetros pra lá de ingratos
sobras das rimas
mal resolvidas
poemas gordurosos formam-se à cabeceira.

acumulados na poeira dos tempos
perigam ganhar vida própria.

poema em gelatina

enquanto aumenta a ilusão
de tirar o poema da barriga

das suas gordurinhas a mais
encrustada em seus devaneios

perde-se o poeta na dúvida dos sabores artificiais
que colam-se às palavras

uva ou framboesa?

qualquer uma diz-lhe o tino
desde que o poema seja de mocotó.

cochilo

por um minuto o mundo pareceu-me outro.

Thursday, February 23, 2006

auto-medicação

estes meus olhos românticos
já rimaram muito com anti-distônicos.

praia do futuro

a praia do futuro só a deus pertence.
a praia do futuro por certo não convence.

bijouteria

joga fora aquela jóia que te deixa cicatrizes no pescoço
meu pensamento já é um colar.

astronomia

perto da tua orelha
a lua é um ovo
sem sal.

poliglota

minha língua
é o meu país.
mas se me prendem a língua
eu mordo a língua.
e faço um novo.

em portugal, e num jornal, para desespero de alguns portugueses.
(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com)

patriotismo

na escola de aprendizes marinheiros, papel novo. outdoors alistam-se para defender a pátria. em caso de guerra, lona.
(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com)

Wednesday, February 22, 2006

Tuesday, February 21, 2006

quase provérvio italiano

não existe pior ladrão do que um blog ruim. isto é um assalto seu fiho da puta!
(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com)

tiro

mas nada de queda. sai cambaleando e continuo vivo. até respiro.

doctor f

plano de sáude santo. mas que outdoor dos diabos! assinatura ocupando quase dois terços de área, somados a demais sintomas de filariose, telefones idem. cheiro acre de éter no ar: dedo de cliente, agência frouxa, trabalho sujo, má ótica médica. vez do estetoscópio usa o hubble, doutor? vez de lâmina, bisturi, serra elétrica? laser, vara do death vader ? enquanto oftalmologista, proctologista ? erro médico doutor. dos graves. propaganda natimorta, verba em coma, consumidor em choque anafilático. cheiro acre de éter no ar. conselho de medicina dá de ombros. sprit de corps.

comentando um outdoor do plano de saúde santa clara
(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot)

projeto de vida

um olho na missa
outro no vigário,
um passo no pé,
um do calendário,
uma voz pra campa,
outro pro berçário
um gesto de afago,
outro gesto irado
e muito idealismo,
mas a bom mercado.
(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com)

serial killer

nada tive a ver com isso, desconjure-me. só no local do crime de passagem. adianta jurar ? autoridade policial lavrou-me ficha, apesar da confissão ignorada. matei sim. várias vezes. mas não crianças e velhinhas sem fôlego, sem tratamento, sem garimpagem, quilos de cliente na concepção. quiseram me incriminar. de favor não é morte, é suicídio. abala a reputação. gosto de requinte quando estripo. é uma questão de estilo, sabe como é, adagas venezianas, capitéis as pombas, virgens decepadas, riméis intactos. nesta cena apenas baccaro, pela metade. autor intelectual não fui. só cafunguei mentirinha de texto. quando faço serviço, faço completo. até o talho. mas não sola de sapatos como fígado. não me creditem sarapatéis. da minha conta este sarrabulho não pode ser.

a proposito de um prêmio ganho em publicidade com peça inscrita sem minha autorização.
(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com)

Monday, February 20, 2006

uivo

o tempo é um lobo que quando uiva nos arranca um pedaço.
(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com)

ironia do desatino

a ambulância do hospital do cancêr, avisto. alquebrada. van koreana. carcomida pelo ferrugem, cancer do ferro, porta traseira. não teria ela direito a quimioterapia ?
(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com)

achados e perdidos

"e sentir na fria lamina do momento
não que houvesse corte
mas leve pressentimento".
poema achado em goiás nos 70. ainda hoje procuro autor.
originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com

karma

minha sina é saber que ainda posso embora seja osso.
(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com)

cafe da manhã

papa de farroz, papa de aveia, papa de maizena, papa de cremogema, papa de sagu, papa de neston, papa de farinha láctea, papa defunto. ahrg! isto traumatiza por vida inteira.
(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com)

revisão histórica

em 64 comunistas comiam criancinhas café da manhã, petiscavam militares. mas com que molho? com que molho ?
(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com)

firula e trocadilho é a puta que os pariu

aférese, alegoria, anacoluto, anaphora, anástrofe, antanáclase, antonomasia, apócope, apóstrofe, assindeto, catacrese, comparação, crase, díacope, diástole, diérese, ectlipse, elipse, enálage, ênfase, epanáfora, epêntese, epifonema, epizeuxe, eufemismo, haplologia, hendiadis, hiperbáto, hyperbole, hipértese, intercalação eufônica, ironia, metáfora, metalepse, metátese, metonímia, onomatopeia, pargoge, parêntese, perifrase, paranomásia, pleonasmo, polissindeto, prosopopéia (personificação), quiasmo, reticência, silepse, síncope, sinédoque, sinquise, systole, tmese, zeugma.
(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com in extended version)

Saturday, February 18, 2006

célula de identidade

nascido aos 27 de abril de 1954
saudável bebe do sexo masculino
filho de uma mãe pudica
e um pai filho da puta
numa maternidade pública
do bairro da encruzilhada
depois de uma cesariana
quase sem saida
que começou e terminou numa noite de muita chuva e sangue
até que a chuva continuou e o sangue esvaiu-se por completo
exigindo uma tranfusão que quase não foi feita porque ninguém queria se molhar para ir buscá-lo.
salvou-se minha mãe pela precisão de um calibre 38 cirurgicamente apontado para a cabeça de um doutor por um capitão de reserva da artilharia da marinha que estava disposto a tudo como um contratorpedeiro.
face ao jogo neo-naval-natal, entre a unidade de guerra e a unidade médica, que de imediato instou-se em minoridade, concordaram as enfermeiras e ajudantes que antes molhado e vivo, que que as vidas secam quando começam a chover no molhado, no que capitulou o tal médico.
face aos relatórios devidamente extraviados, contaram-me a história como um cançoneta de ninar.

na identidade isso não aparece.
que é pra ver se agente esquece.

poesia

dieta pobre de calorias sem sustança
prato sem sal chamado
de alimento d`alma

pesadelo

acordei no meio do sonho e não estava dormindo

quase um meio termo de tudo

era tudo, e por isso tudo acabou num quase nada.

bota-fora

aproveite a liquidação hoje faço de memória.
amanhã já estréia a mais nova coleção de esquecimentos

desodorante

nada dá mais trabalho do que a preguiça errante

respostas

irmãs de criação, em litígio, das perguntas

do sexo

amplexo do nexo, complexo do perplexo, até chegar ao orgasmo, que te deixa paraplégico.

Friday, February 17, 2006

salicilato de metila

literatura é coisa assim-assim, meio por acidente. quando se vê, até quem não sabe faz. mas dói em quem lê. dorzinha de outro jeito que a dor da verdadeira. essa nem passando gelol. não tem cura.

quo vadis ?

ad finem.

beijo carnal

lábio em cima de outro
pedaço arrancado.

era menos neurótico quando roia a unha.

umbigo

canal de entrudo

saxofone

toboga de melodias
que desce na ponta dos dedos
dos lábios ao peito
e na hora do ventre
pulam fora do sexo
daqueles que o tocam
para o deleite dos que ouvem.

nobiliárquico

vaisefuder: barão de anedota que o contava poliglota

lancheira

a necessidade do hoje é o que nos abastece do sempre, na cantina do amanhã.

Wednesday, February 15, 2006

esperança

do poeta é um louva-deus estrebuchando no bico de um bem-te-vi

beijo sincero

promessa de fábrica dos lábios de aplique.

j.j.o agiota

tipo idiota, metido a poliglota. cobra ágio até dos adágios. tomados de empréstimo aos bancos dos alfarrábios. como se fossem pedágios.

lenços de papel

deuses não espirram, conspiram.

volver

meia volta que nunca dá a volta inteira ao que se perdeu.

gol

meio de transporte mais sem graça.

não pára no meio do caminho pra gente mijar na ponta dos pés. comprar cd falsificado
comer bolo bate entope
e fazer promessas quase verdadeiras à menina do caixa.

como se não bastasse
tem umas coisas chamadas de aeromoças
falsas até se o bicho estiver caindo.

quem é aguenta uma viagem com gente assim o tempo todo sorrindo
4,5,8,10 horas sem parar ?

marejando

quando ondas antigas

que respigam nos olhos
sentimentos
que enfunaram nossas velas

em barcos
que
-se dobraram o cabo da boa esperança-
hoje estão cada vez mais longe

espumam a nossos pés

pífano sagrado de maresia
que é a lembrança
de que nós
é que ficamos em terra
quando tudo afundava

Tuesday, February 14, 2006

big-mac

queria comer nem que fosse um sachê, morreu em frente, cheirando coca-cola

cavalinhos de pau

quando a gente menos espera já crescemos e os estamos coiceando

de dar dó

castigo da bicicleta de pneus murchos
pior do que o meu estudando tabuada
ambos voltados para a parede
pensando num mundo sem números
e sem pedras

flauta dôce

a tocar, sempre com açucar demais, melodias enjoadas

glacê

quando vejo a meninada a lamber os dedos, salpicados até a testa, bate-me gana de dizer-lhes, que é bosta de vaca branca, açucarada e metida a spray. qualquer dia faço esta cagada.

carrinhos de lata

sem freio, e sempre desembestados, pumba! acidentados por topadas em que pesem seus meneios

meninos e meninas

quando pequeninos, não tem sexo
mas as mães corujas, e até mesmo as galinhas, estão sempre de olho pra ver se o pinto não vai bicar a passarinha

Monday, February 13, 2006

renato russo

gosto de cachorros e de gatas

surto

devo estar enlouquecendo.
passo mais tempo escrevendo
do que vivendo.
mas escrever, não é viver o que não se escreve ?

fingi dor

nem inspiração nem desdita
tampouco faço fita
coração frio feito grafite de lápis sem cor

página em branco
sempre precipício
no papel ou no computador
e 10 minutos de tempo
que é o senhor das fraturas e dos membros nas colagens
dou-lhes à palavra

10 minutos para escrever sete fiadas ?
sei lá como chamar isso
conta de mentiroso?
e postar
torcendo para não dar de cara com a maitenance
palavra que não abre a guarda
nem para guardar o rascunho

não explica, nem justifica, a qualidade que é réles
mas desmistifica
pra quem se liga ou desliga

mas então é assim, escreve feito puta de papel ?
vem daí o poetastro ?
pior.
pois faço de graça
e nem pensem em me cobrar por isto.

enxugando gêlo

deu trabalho.
suores.
caça palavras borbulhantes
enxugando a testa
para se encaixar
no poema
carregado em festa
de tempestades
em copos de champagne

carência

não faz mal que seja banal desde que não seja bossal

Sunday, February 12, 2006

love horas mais tarde: um semi-conto de réis

para parte da família não haverá amanhã nem depois do amanhã. lotinha ou pernambuco da sorte ? executados nos arredores de paulista. não se sabe se foi " puliça" ou bandidagem canela fina. para cinco deles pouco importa. foi descarga de bala da grossa. dum-dum pelo talo, pela nuca. coisa de animais sem choro nem piedade.

resto dos parentes, lamenta a sorte, grande azar. e conta a sua de escapar. choram por pantomimas dos histéricos caricatos. tem gente que vendo a câmara até rí de "nelvoso". aos brados, gesticulam sem desodorante. protestam e rezam numa perna só. clamam por deuses pelos nomes próprios e governantes só pelos sobrenomes. fossem ditirambos, não se lhe escutar-lhe-iam. rasgam-se aos cortes ainda mais sem vergonha da vergonha nove mil vezes pior assim de vê-los expostos tão mal dispostos, com as roupas ao enxarco de tão úmidas da praia que estampam-lhes a intimidade à seco. malditos grãos de areia atachados a bronzeador que escorre pra partes pudendas, agora sachês de sangue, tornando o flagrante grotesco. fossem ticos e isto não acontecia. mas a folha de pernambuco não perdoa.

no meio do sarapatel das gentes, pacote de farofa que sobrara da ida ao mar. seria pó? tenha dó.

domingo que vem a praia por pedacinhos de instantes ficará mais triste e mais limpa. mais ossos no cemitério, menos ossos para ratos, pombos e vira-latas.

enquanto isso no pedaço dos ricos um frango sente falta daquela farofa em pacotes.
seria mesmo dó ?
tenha pó.

freio de arrumação 1

deus ex-machina

invadiu a calçada em plena contramão. negou-se a ajoelhar no meio fio, acertando em cheio possíveis apóstolos desavisados.
sem trombetas,voaram arrependimentos, mágoa, sonhos e até fé, única gordura naqueles ossos. bora-bora gritado, evangelicamente, a plenos pulmões, retorna o veículo à sua condição terrestre.
no vidro traseiro deus está adesivado como aquele que está no comando.
de onde surgiu mesmo aquela kombi. do velho testamento?

publicado originalmente no cemgrauscelsius,blogspot.com em abril de 2005.

Saturday, February 11, 2006

brasil

não é preciso ser muito miserável para considerar a pátria como a puta que o pariu!

estamos unidos

o que é bom para o brasil é bom para os eua, disse o diplomata.
— ah!, é, retrucou o outro, então chupa aqui.

nome próprio

filho da puta, foi sempre assim que o pai lhe chamou. mas o escrivão, decerto teve pena, e abreviou, né fio?

pronome de tratamento

vossa excelência é um cabra safado por excelência ou é assim mesmo por excedência da excrescência ?

faro

infalíveis narizes dos meninos pobres sempre dispostos a expelir catarro na hora h

revólver

geralmente um tiro pela culatra

quase epitáfio

foi por pouco

12

faz o maior estrago. serrando o cano, se mirar na barriga, o cú do cabra vai junto. se ficar com o braço mole, o coice lhe arranca os ovos. essa arma é bendita. pode levar sem susto que a mardita não faia.

Friday, February 10, 2006

sexo

um dia você ainda vai ter um, dois, ou trans

peitos

se não se mama de um jeito mama-se de outro. não tem jeito.

costas

pra quem gosta de agarrar a anatomia de frente

vagina

há vagas

bunda

já devia vir com anestesia incluída. pedido por nove entre dez estrelas pornô, e até por quem é adepto de parto natural.

tira-teima

tira-tira. não sei porque acreditei nessa sua teima de que não doía

poderio bélico

qualquer pau com mais de vinte centímetros

teco-teco

pau pequeno gasta menos combustível

culinária pra turista

tutú à mineira, moqueca baiana, pato no tucupí, virado a paulista ?
bem, eu gostei mais daquela menininha alí ó.

Thursday, February 09, 2006

experiência própria

tem gente que faz mesmo coisas inimagináveis para garantir a sobrevivência.
os honestos de caráter, por exemplo.

escolhidos pra carniça

urubus. dignos como mais ninguém. e por todos vilipendiados

visão espacial

a terra é planeta cada vez menos visível

puro clichê

a vida real não passa de fantasia

altruísmo

ele era da turma do venha nós e vosso reino nada — nada um cacete! cadê o troco?

umbigo

canal de entrudo

sabedoria executiva

bons peitos. belo par de coxas torneadas. carinha de anjo, com pinta de putinha e uma bunda torneada com zêlo.
uma mulher como esta não pode ficar desempregada.

Tuesday, February 07, 2006

anatéma

como poeta, não passo de um lugar comum fazendo a primeira comunhão.

questão de estilo ou glorinha pascolato

muito sem jeito pra ter algum estilo. apesar disso, fez da falta de estilo, um estilo.

romance furado

não chegou a durar uma camisinha.

primeiro catecismo

se punheta matasse nenhum de nós estaria vivo.

míope

enxergava tudo, mas só a um palmo do nariz.

lei de talião

alho por alho, dente por dente, sibilava ela para ele que a obrigara dia anterior a fazer - e comer - fígado acebolado.

muriongo

vinagre que fazia o maior sucesso nas surubas das saladas tempo em que eu detestava as ditas cujas.

Monday, February 06, 2006

linhas âncora

escritas em pouco mais de três segundos levaram quase 52 anos para desenrolarem-se do carretel

breu

tua púbis na noite daquela noite entocada na caverna de uma calcinha de veludo negro onde eu me alimentei e dormi como um morcego.

molho para mulheres pequenas que querem se sentir grandes

be channel

quem é do mar não enjoa

velas ao mar! velas ao mar!
gritava o velho marinheiro
refletindo na lágrima dos olhos
pequena chama da vela
que carregava na praia
em louvor à iemanjá.

pai rico, filho rico

as crianças de hoje não pedem mesada.
negociam depósitos nas matinês do caixa dois.

sem menta

o mar de olinda amanheceu hoje com mau hálito.

little wing

fly e pousa aqui na minha mão

Sunday, February 05, 2006

nós em pingos d´água

eu sou o invisível que não desaparece. eu sou como a água. vamos, abra as comportas que eu me precipito, e transtorno tudo(apollinaire).

transformar páginas secas em superficies úmidas não é tarefa fácil não senhor. mas é o que fazemos intuitivamente muito antes do nosso nascimento, desde a umidade da criação da vida em oceanos pré-arcaicos até os dedos lambidos na viscosidade do endométrio da pessoa amada.

a água é uma construção que no H20, esconde um labirinto de milhões de seres a se multiplicar, a nos atemorizar, a nos salvar, a nos conhecer, a nos matar, involuindo e evoluindo ao sabor das ondas. são as mares tempestades do ventre e da mente ? e o corpo? o corpo é 90% água. e a água é tenra, é viril, é vil, é delicada, é monstruosa, é afável. a água é grega. a água tem varizes. a água alucina e acalma. a água é tudo-nada quando toca nossos lábios e nada-tudo quando foge por entre mãos dadas.

que seria de moisés sem a água ? só um atormentado homem de barbas brancas e tábuas sem salvação. salvou-lhe a água, que abriu-se e sabe-se lá porque razão assim como poderia ter desabado. queria ver ele segurar aquela onda.

a água é um diamante duro de nascer no fundo do olho. mas nasce com o brilho do olhar do homem no olho da vaca que nos corta ao já não se por de pé, porque ossos e pele precisam d´água. senão, como nadar no meio daquele deserto que é o mar da caatinga sem água ? e o céu ? não é o mar de cabeça para baixo ? talvez, mas sem água.
a água emoldura nossos desejos em nuances de peles molhadas dos corpos a bodybordear na praia. sem água não surtiriam efeito aquelas curvas náuticas, aquelas gretas, aquelas manobras, aquelas contorções, cores , tessituras. água é radical, brother. era a água que fazia a miragem rósea da minha geração de nas blusas coladas em tardes cinzentas nos seios pequeninos de bicos túrgidos das garotas matriculadas em colégio de freitas a nos enxotar. e o que não fazia a água que corria pagão o corpo das mesmas freiras tão pudicas também a nos contristar ? o espírito santo existiria sem a água ? primeiro a água ou o espírito ? sob a água curvou-se jesus aos homens, deuses, animais, crentes e descrentes em sua força. a força da água.

a água apaixona e amolece até os homens duros que deliram por suas carícias como os lobos do mar com seus lábios descarnados e mãos postas. a água fez brecht desembaçar os óculos após escrever “ do rio que tudo arrasta se diz violento. mas ninguém diz violento as margens que o comprimem”. e foram as águas do capibaribe que me fizeram conhecer brecht bem antes dos espetáculos de fernando peixoto. a água lava. a água leva. encharca, seca, ensopa. a água é onde está mergulhada a terra, que foi preciso guilherme arantes para lembrar o verdareiro nome do planeta água.

e da água vem a verdade. porque é soro. não é pau nem é pedra. e se água mole em pedra dura tanto bate até que fura, doem os meus olhhos comprimidos pela água que corre lá fora, chorando por mim em paisagens impossíveis de chorar se não fosse a água. não é o tejo o choro dos portugueses? e onde o tejo deságua ?

vertem água as pedras de minas. vertem água drunks londrinos até a boca da noite, que lá não se bebe a noite toda. tomando a água que eles mesmo passaram tanto tempo para retirar das highlanders de íngremes e pontiagudas boas águas.

a água é assim. a água é ânsia. a água é calma. ensina lições de humildade e grandeza, vitória e derrota, sem perder a consistência até debaixo d´água.

da lágrima sentida ao filete na vidraça. do afluente, que ninguém sabe o nome mas que faz o amazonas, que ninguém se lembra é soma d´outras águas.

água é pororoca. apollinaire. sorvete e tapioca.

água é palavra embora seca na rosa de quem conforta.

em água repousa a mágoa. água mal resolvida de águas passadas que movem moinhos de águas despedaçadas.

água é terra na holanda muito mais que na veneza aterrada. água é meu dedo no dique da alma tampando um furo do tamanho do meu umbigo que a vida logo desata.

água é a vida, escorrendo por entre estas palavras pra muito além da página condensada.
(originalmente publicado no jornal correio da paraíba, em 08 de julho de 1993).

Saturday, February 04, 2006

desperdiçando energia

meu coração está sempre em horário de verão.

caridosa

nenhuma alma carioca empresta o protetor solar para o redentor não ficar com aquela cara de cristo abandonado?

pedofilia política

no rio o culto a juventude é tão descomunal, que até elegeram um governador garotinho, e agora uma rosinha.

bolo

ah! jobim porque você não esperou por mim?

só dói quando rio

cidade das coxas bambas.

sangue bom

O+

tutti-frutti

garotas de programa tem o sabor que você quiser.
e(quase)nunca engordam.

fantástico

fica decretado que sexo entre primos de primeiro grau é proibido a todos da família a exceção de mim que sou um primo já muito distante(moro no acre e só muito de vez em quando visito a família).

Friday, February 03, 2006

Thursday, February 02, 2006

lágrimas de crocodilo

todas as coisas que toco um dia vão morrer.

canetas parker

as palavras dos homens do hoje em dia dá-se um jeito são escritas em tinta lavável.

papel passado

os meu sonhos azuis
guardados num tinteiro que já apodreceu
destampo justamente agora
quando não mais existe o mata-borrão

sem açucar

não rime
madame com aspartame
aspartame com raios que te partam
raios que te partam com é de partir o coração
é de partir o coração com não há outra opção
não havia outra opção com pediu o adoçante com muita afetação
nem desatine
raios que te partam adoçante só com aspartame madame não há outra opção mais isto de não ter açucar não é assim não de partir o coração como disse com muita afetação.

conflitos de geração

os filhos de hoje não tem legenda.

dono do mundo

descansou no sétimo dia porque na época não havia shopping centers.

carneirinha

sonhando acordado você não corre o risco de morrer dormindo.

dialética

pequeninos, tão branquinhos branquinhos e tanto nojo tem de nós, que até vomitam, os urubus ainda filhotes.
já crescidos, pretume de penas e gosmas podres que dão lhe ainda mais cor, enquanto nós branquinhos cada vez mais pela idade que avança para o mais preto dos pretos cada vez mais temos nojo deles.
mortos, mais dia, menos dia, seremos todos, urubus e homens, um nojo só.

Wednesday, February 01, 2006

solidão

cotonete da alma.
principalmente do escritor.
mas, como dizem alguns médicos, ainda que não sejam do espírito, cuidado com os palinetes. a depender do uso, em vez da limpeza, empurram cera pra dentro dos seus ouvidos.
e nos sentidos, ainda mais no caso do escritor.
otite na certa.

sensibilidade

bem longe de ser um dom. muito perto de ser uma desgraça.

ciúmes

uma coisa assim-assim parecida como adorar quentes e frios e ter os dentes extremamente sensiveis.

psicólogos

alguns(muito poucos) atuam como sensodynes d´alma.

kolynos

psicólogos(alguns)reconstroem-nos facetas novas aos sisos e ganham uma "sorriso" de salário.

herança

bons dentes e boa educação.
se herdou, nunca, mas nunquinha mesmo, dirá mal de seus pais em qualquer situação.

crianças

acredite, não valem a pena. eu já fui criança também.