Sunday, December 31, 2023

contabilidade reversa

será que farei 69 aos 70?

não é lendo as orelhas que se chega ao cérebro

hermilo borba filho; rainer maria rilke; paulo francis; carlos heitor cony; o vampiro de curitiba(dalton trevisan) e baudelaire, estão, com destaque, na lista dos que me influenciaram a viver. não digo escrever, porque se assim o digo, ponho por terra a "máxima" que ler bons escritores vai fazer de você, se não melhor, alguém que valha a pena ser lido. um não paulo coelho, não ser, já me basta - consciente de que estou a quilômetros de produzir sequer um borrão dos citados, ainda mais que, se muito, não passei das crônicas, gênero dificílimo, onde rubem braga, paulo mendes campos, nelson rodrigues, já demarcaram território difícil de estabelecer cabeça de praia, ainda mais onde entrincheirado está machado de assis - o que já é um feito fenomenal não afundar nos caminhos do mago do faturamento. os escritores citados, juntos, não venderam sequer um quarto do que vendeu o dente de coelho, amuletando-se num misticismo equivalente a "macumba inspiracional zen de auto ajuda filosófica de shopping". e olhem que deles já se pode dizer eternos, clássicos, enquanto o coelho jamais passará de um fenômeno editorial. tolo esbravejo da mais pura inveja dos zero à esquerda? não diria isto quem leu " os pequenos poemas em prosa", o spleen em paris, de baudelaire; o ventre de cony; as cartas a um jovem poeta de rilke; a trilogia de novelas de hermilo; as novelas nada exemplares de trevisan ou as crônicas de francis, de quem muito se falou mal de sua incursão na literatura mas o homem tinha estilo, até mesmo quando blefava, o que não é para amadores. disso tudo, o melhor que me ficou foi: nem sempre ler os bons nos torna bons. mas ler os maus nos torna piores. assim, ler os bons nos afasta dos medíocres e nos permite escapar da falsa literatura onde o dente de coelho roi não só o seu bolso como o seu cérebro. então pode-se assim dizer que o junta-te aos bons é fulcral. assim, mesmo que não te tornes um deles, não estarás em má companhia. e neste caso, antes bem acompanhado do que solo.

Friday, December 29, 2023

stand down

perco o amigo mas não perco a piada. "que estupidez perder um amigo por conta de uma piada". que fique claro desde já que o problema não é a piada; é a qualidade da piada ou do amigo nalguns vasos. até os inimigos merecem uma piada onde o humor não despreze a sutileza e o riso seja não um peido mas uma navalha sobre seus pescoços.

Monday, December 25, 2023

fazendo tipo

pergunta ressurgente. do repórter iniciado a parente chegado. escritores, cantores, escultores, fotografia, cada um a sua pena, gostam de enfeitar a resposta. comigo não violão. por quê escreve? não tergiverso. escrevo porque gosto de conversar comigo mesmo. e como ainda não estou no estágio de ficar falando comigo mesmo no meio da rua ( que eles erroneamente classificam como estar falando sozinho) escrevo. ah! mas e os leitores?  como eles participam desta conversa? bom, não acho de bom tom alguém participar da conversa alheia.

Saturday, December 23, 2023

pintando o presente

não porque seja natal - dar um presente no natal, para mim equivale a dar uma dedada em cristo ainda na cruz - e como calhou de só agora achar o exemplar que ilustra a postagem e que procurava há tempos, adquiri o exemplar, um pouco surrado mas íntegro, num sebo virtual sim senhor - o que deve sair incomum para alguns que acham que presente só valem os saídos das lojas em sacolas outdoor de marcas - para presentear alguém, que o merece, obviamente: por quê dar presente a quem não merece, por força da imposição de datas, equivale a presente de judas. este, vai logo depois da virada do ano, para fugir deste tempo de dedadas e de vendilhões de gorro. presentes, no meu parco entendimento idiossincrático, excêntrico é o que eufemisticamente dizem, só valem fora das datas que o comércio estabelece como oficiais e que "de brinde" estabelece  também como sanção praticamente excomunhão a quem não der. assim, não dou presentes no natal, aniversários, seja do que for, nascimentos, batismo, dia dos namorados, criança, mãe, vó, nem da paz mundial. presente pra mim, é antecipar o futuro e resgatar o passado, na alegria de no instante presente lembrar de alguém e de certa forma demonstrar que estamos presentes no seu infortúnio ou no seu júbilo para além do presente. alguns presentes fazem sorrir, outros chorar. penso que o presente ideal faria alguém chorar de rir ou não. mas talvez pela pouca habilidade satisfaço-me, ego à parte, se o presenteado chorar ou rir. e quiçá não seja porque achou o "presente de chorar ou rir" se é que me entendem. lembrança tida, busquei um livro, por presente. a pessoa é "mais velha" e por certo não cultiva a estupidez, a idiotia, a ignorância, da geração que pensa lacrar quando diz que mais de duas linhas é textão. não lacra mas de certa forma traz na testa o lacre de analfabeto funcional, algo que neste país dá mais do que "xuxu na serra". e nada de autores " besta sellers" que este tipo de literatura nem pra papel higiênico serve. mas um autor local mas universal : canta a tua aldeia e serás universal, já dizia um certo tolstoy - quase esquecido a não ser fora dos círculos bem restritos que gostam de textão. e os textos de hermilo, se não o presente, em certas passagens fazem chorar de rir sem abrir mão da seriedade com que agrava sua literatura que seriedade não é sisudice. assim, vindo de um sebo - instituição que nos alivia o bolso (mas nem sempre) e o espírito, possibilitando encontrar velhos amigos (se você não considera os livros seus amigos você está cercado de falsos amigos) - que julgavamos desaparecidos, isso por sí só um grande presente para mim também, que é boa está sensação de presentear não o que a gente gosta mas algo que não desgoste presenteado e presenteador. não quero tecer loas a mim próprio: mas creio que a escolha foi boa. assim, contribuo de certa forma para que os sebos continuem possibilitando encontros; e ao escolher um autor cuja obra merece bem mais reedições possibilito novos encontros, novas amizades e oxalá eflúvios a quem o ler. se for gostado se fará eterno. mesmo que não passe do instante do recebimento que o presente nada mais é do que isto: vida em átimo.


o sono é sagrado


na manhã nublada de dezembro os gatos dormem. gatos são animais crepusculares, o que quer dizer que eles dormem entre o alvorecer e anoitecer. espalhados pela casa, inusitados são os locais de escolha para tal sono. o que importa não é o lugar, é a lição deles dada de que o sono é sagrado, seguida à risca, ao contrário dos humanos que reclamam da falta de sono - leia-se dificuldade para dormir ou sono sem qualidade - quando justamente os próprios despropositadamente vilipendiam o próprio. mais velho, já não durmo tanto, eu que sempre dormi pouco, o que dizem outros humanos, que também não dormem muito bem, não é bom mas é característica desta fase crepuscular, que antecede o sono eterno (e ainda bem que é sono porque se for insônia eterna, aí fodeu!)apesar da rede convidativa que tantas vezes divido com eles mas não aprendo, assim como tantas outras coisas, ponho-me a escrever pequenas sonecas, como esta. mas de uma coisa tenho certeza: quando aqui já não mais estiver, eles não deixarão de dormir por minha causa, nem no primeiro dia da eterna ausência. pois para eles, sempre, o sono é sagrado e nada o deve interromper. isto posto, percebo-me sonolento em plena manhã e caio num sono ronronado, quase tão gato como eles.