Thursday, February 24, 2022

o sorriso de duncan

quão afortunado sabe ser aquele ou aquela que obteve o sorriso de graça de zélia

Wednesday, February 23, 2022

quase me afogando

da janela via o mar
o mar que é um mar de coisas e seres
que nos atraem ao tempo que nos amedronta.
mas o que plantei no quintal
minúsculos e minúsculas 
fruta pão, mangueira, coqueiros
goiabeira e parreiral e mais amoras mamoeiros, abacateiros e jaqueira - e das bananeiras não posso me esquecer, nem das pitangueiras e dos pés de acerolas e pinhas
cresceu tanto mas tanto mas muito
que tapou a vista do mar
e é este o meu dilema ecológico
para ver o verde do mar tenho de cortar o verde das árvores
caso contrário fico a ver navios
mas como vou explicar isto aos bem-te-vis, e tantos outros pássaros que nem sei o nome apenas sei das suas multiplas cores a moverem-se em picardia picando frutos antes que eu possa comer e também aos saguins, timbús, lagartixas, salamandras e as formigas
que para ver o mar do qual tenho medo
mas que me presenteia com suas praias quase infinitas
que esta é minha praia 
que o mar de verde deles me impede de ver sereias acenando até mesmo quando 
eu não estiver mais aqui




juventude transviada

que jovens são esses
que se recusam a morrer 
disfarçados de velhos serelepes
que sobrevivem resistindo a toda sorte de ditaduras
inclusive a da moda
permanecendo fieis a seus ideais 
ora comunistas
ora woodstockianos
acreditando que o novo sempre vem
mas que não saem dos anos 70
quando a utopia mostrou seu corpo e suas caras 
pra morrer 
num logo após
bem antes da
virada do século
empanturrada de fastfood
o que já não lhe permitia
nadar nua
nas noites de lua
nos mares do sul
sem nem ao menos 
ouvir o canto do cisne 
da última banda
da qual já nem se lembra o nome
abafada pelo tilintar de moedas 
que é o novo riff do rock de quem já nem sabe que o rock não morreu
mas que mumificou-se
na pele de um pandeiro
que não shake mais.




Tuesday, February 15, 2022

sem tirar de dentro

eu não quero o para sempre eu quero o aqui e agora e pra ontem.

semana de vinte e vinte e dois

um dia a elite comerá do biscoito grosso que eu produzo. será o funk?

recusa

não quero obituários
não quero lavagens do corpo - e roupa preferida pra enfeitar caixão
não quero velórios
não quero homenagens - nem discussões se mereço ou não
não quero orações que peçam (ou se apiedem) pela minha alma e nem solenidades de passagem 
não quero que me vejam em espírito tampouco lembranças eflúvias nem saudades sentidas
não quero ressuscitar
quero sumir
nem que não seja em boa companhia