Friday, April 26, 2024

átimo

nada mais longo que um breve instante. e como se o longevo não bastasse, há os casos (e não só de amor) onde este breve se queda para sempre.

Sunday, April 21, 2024

daquelas

remexendo e esvaziando gavetas. estufadas de tantas lágrimas e risos em bolor crescente, acho até fotos desbotadas com os gases dos tempos passados, a forçar as paredes de tais gavetas presas por um futuro que em breve não mais as sustenta. tanta vida vivida e vida que foi embora e pior: vida que não chegou a ser vivida. mas o que mais me chateia é a poeira dos tempos. isso causa uma alergia daquelas. e o resultado não é saudade ou muito menos depressão nem sequer leve nostalgia. mas porra, dá uma rinite daquelas.

Saturday, April 20, 2024

a plenos pulmões

vida é sopro. catacrese que nos diz que é átimo ou seja: nada mais que  breve instante. mas este sopro não vem de nenhum soprador de vidro divino, como muitos espertalhões sempre quiseram fazer crer. fazendo disto seu meio de vida; e assim encher seus bolsos, em sua ânsia de roubo e poder, desfiguradamente engabelando paspalhos que creditam a deuses seu sopro de vida e assim submetendo ela, a sua vida, a ditames que só a enfraquecem, enquanto perdem o controle sobre a mesma. ou seja novamente mais e mais se metamorfoseando em títere. e títere, é sabido, não tem vida própria. e muito menos pulmões. assim, é sensato, rico, magnânimo, que seja você a soprar a sua própria vida. portanto as suas velas, longânimo que seja ou senha para tal. mas tal assoprado, há que cuidar, não seja de tal forma destrambelhado ou de tal modo assaz ansioso que o sopro saia pela culatra ou seja pelo cu, o que lhe trará uma vida cu, vida de merda ou não mais que um peido, o que convenhamos é uma bosta. mas há antídoto. há que se demandar sensibilidade, inteligência, afeto, para as gentes e para as artes, sem esquecer os bichos e a natureza, incluindo a sua própria, que não se desliga da outra por mais que vivamos um tempo onde assim o é e que por isso mesmo estamos a perder tal quantidade de sopros que vivemos asfixiados pelos outros e por nós mesmos. carece cuidar que antes de soprar temos de aspirar: o bom ar, os bons sentimentos - e nada disto tem a ver ou precisa de deuses - tão delicadamente como assopramos a nuca do amante ou o arranhão da criança, que depois de cessar o choro,  descobrirá que o assopro também contém bactérias ou seja: quem assopra também morde. e que muita gente assoprada morde os beiços. 

Sunday, April 07, 2024

to be or not to be

não sei se sou mais humano porque os animais, o olhar dos animais, me emociona profundamente ou se há muito deixei de ser humano, por que os animais, o olhar dos animais, cada vez mais me emociona profundamente; e é neles que me reconheço.

Wednesday, March 27, 2024

desencontro

deve o escritor correr atrás do leitor ou leitor deve correr atrás do escritor? nem uma coisa nem outra. devem se encontrar mesmo que o desencontro seja assunto tratado ou destratado. e então, pra que tanta pressa?

Tuesday, March 26, 2024

unas cositas más

há coisas que escrevo para mostrar como sou ou como não soul? ( sim, eu sei, o " trocadilho" é raso mas não sou das palavras profundo) também não sou amostrado. mas já fui. já fui também amestrado - mas nunca domesticado - e hoje não sou uma coisa nem outra. apenasmente amostra grátis do que muitos bem pagos não. não preciso de gorjetas, se é que me entende. se entendo ou não do riscado o risco é muito mais seu do que meu. vou escrevivendo como diria o jomard. mas nem sempre vejo ou vivo por onde pisam ou voam as palavras. e aí levo uma pisa, enquanto a vizinhança pede pizza com guaraná, diet, argh! posto que escorre nas minha veias sangue do kibe cru, feito com as sobras do que não é osso, na carne que se desprega da minha in sensatez rasteira mente pró pus poética, para encher o saco que cada vez mais pesa o quanto não vale mas que me vale a pena, já que sou península, nem ilha ou continente e muito menos dormente.

Sunday, March 24, 2024

curvas

eu sou o homem que dobrou a esquina do futuro quando ela já era a esquina do passado.

reflexo

que homem é este, que miro no espelho e o espelho não vê?

Friday, March 22, 2024

encontro de contas

sobrevivendo, o que fica de verdade é que a vida me deu muito mais do que tomou. se o que tomou foi mais importante do que deu eu nem relincho mais, pois se dado pela vida não tenho que ranger os dentes. se ela podia ter avisado no que tomou? bom, ela támbem não avisou quando deu. e quem disse que num caso ou noutro ela não avisou e eu é que não notei porque estava vivendo desabrochadamente? o fato é que contabilizar perdas e ganhos nesta vida - ou vc acredita que tem outra ? - não é só tempo perdido. é ofício para contador, que não é o meu caso. já em contação de historias, sou personagens. já fui chinfrin, já fui quixote, de pança nem a de sancho e olha que até já fui mercúrio mas isso no teatro e quase famoso algumas vezes. da vida o que mais levei, contra e a favor, foi a ironia como as coisas aconteceram e as histórias de desenrolaram? sim, a vida, no fundo ou no raso, é uma grande ironia sendo ela, isto mesmo, a própria. e algumas ironias da vida são impagáveis alguns, lamentam muito mais o que perderam - e muitos realmente perderam muito mais do muitos outros suportariam - do que até mesmo o pouco que ganharam. mas em matéria de vida, o que é pouco e o que é muito entre lucros e perdas que ao fim e ao cabo estão fadados a ser cessantes? se vivermos a vida tão somente pela aritmética duvido que não tenha sido uma vida chata do caralho, tal qual é preencher declarações de imposto de renda, onde você busca deduções para justificar gastos e obter devoluções ilusórias pois se gastou gastou não tem volta a não ser que você creia que a vida devolve com lucros, o que mais parece conversa daquele tipo de pastor que faz de jesus o maior estelionatário de todos os tempos além de agiota asqueroso. há que se viver sempre e sempre é melhor sem objetivar lucros maiores do que as perdas. no fim, no encontro de contas, viveu mais quem teve ganhos ou perdas de tamanho incomensurável. mas não tente fazer caber tudo isto num formulário. talvez fique bem num epitáfio. mas vai escrever o quê? que a vida ficou lhe devendo ou que saiu dela sem dívidas? quanto a mim, talvez o gastei o que podia e o que não podia. - e se pudesse gastava desbragadamente muito mais. mesmo que os outros não lhe tenham dado crédito em vida, a vida sempre lhe deu. se você não usou agora é tarde. mas isso é pensamento para ruminar nos estertores. e como você ainda não está sepultado aproveite, mesmo que esteja com tônus deteriorado, o cheque em branco que a vida lhe dá ou o pix que seja, se isto lhe faz sentir mais moderno. só não aja como os incautos que estão começando agora e já com a velha mentalidade de " economizar em vida para usar na morte". evite o desperdício diria a ironia nem tão oculta.

Monday, March 18, 2024

c'est lá vie

vida é inevitável. mas pobres humanos fincam pé no "a morte é inevitável". como disse cazuza, eu vi a cara da morte e ela estava viva. até ela. como o disse torquato, a turma da morte é fogo. mas a turma da vida é viva. e quem não vive não morre. por isso tantos cadáveres ambulantes por aí. não sou zumbi. meu bloco é dos quem não pode se sacode. e vamos balançar o esqueleto. nem precisa chamar o síndico. é só chacoalhar a mesmice que a vida encanta. quem canta seus males espanta. afrouxa o riso e segura o cu. todo o resto é lucro. tributável, of course.

Monday, March 11, 2024

quase quântico

eu não sou escritor. apenas trapaceio com (as) palavras - "que servem muito mais para esconder do que pra revelar", escrevi um dia numa canção apaixonada, sem trapaças - . e o maior erro de um trapaceiro é julgar-se escritor. isto serve para alguns escritores, que aceitam ser chamados de escritores quando sequer trapaceiros são. é o desastre é caquético quando não se é uma coisa nem outra e se julga ser as duas. não ser nada na maioria das vezes é sempre melhor que ser tudo que não se é.

Sunday, March 10, 2024

hapiness is warm gun

talvez o que melhor defina o humano seja a constatação de que nós somos seres destinados à busca. e entre as buscas, seja pelo desconhecido, seja pela fama, pelo dinheiro, pelo sexo, pelo poder, a mais buscada, incessantemente, é a tal busca pela felicidade, que na maioria dos casos leva a infelicidade total. é certo que o humano, cujo poder de adaptação as mais terríveis tragédias, dores ou dilacerações é quase inacreditável, é absolutamente desprovido da capacidade de ser feliz e sentir-se bem com isto. haja paradoxo. e se assim não fosse não teríamos o quadro histórico do seu vagar em busca da felicidade. do início dos tempos a atualidade verifica-se de maneira constante sua assinatura da incapacidade de ser feliz. o preenchimento do buraco do ser que não consegue ser feliz cabe uma centena de titanics dentro - e toda sorte de gadgets, que vão de ferraris a ilhas no pacífico, aos horrores de dubai, incluindo os mixurucas bifes com ouro (argh) - já o ser feliz, não tem buracos, além óbvio dos fisiológicos. tem a pele lisa, quase não tem cravos. sorrisos cativantes com ou sem dentes, que contagiam ao tempo que incomodam os infelizes como uma picada de mosquito renitente. diante de tanta simplicidade - o ser complexo e sofisticado é o contraditório da ideia de felicidade - nos fazem catituar onde o nexo desta alegria oriunda da felicidade em seres que também geralmente não tem apegos materiais dignos de registro. aliás, a felicidade, gosta de se esconder no anonimato da miséria o que não significa que basta ser miserável para ser feliz ao tempo que estabelece que não há lei - embora tentem - que determine que o miserável não possa ser feliz. se há a miséria da filosofia por que não a miséria da felicidade? para contrapor a miséria da infelicidade que aflige ainda mais abastados, porque estes são mais frágeis as adversidades por mais que a sua abundância material dê um aparato que não é garantia. se a felicidade é um algodão doce, o tal efêmero que se desmancha no ar, o ser que consegue ser feliz é um caçador de borboletas, que não as espreme dentro de um livro ou em mostruários empolados. apenas faz o arco do movimento de pega como se estivesse tentando pegar o arco-iris com puçá sendo neste movimento o próprio. e cujo sorriso nunca é frustante com a falha, por vezes mais radiante, ainda que contido, do que com a alegria da captura, que se catapulta quando a solta. já o infeliz é praticante de safari. pendura cabeças de rinoceronte, leões e gamos na parede para eternizar a sua sina. o lugar comum de que a felicidade está nas coisas mais simples é o lugar incomum que poucos acham já que as coisas para o infeliz tem de estar sempre em seu lugar. a felicidade faz uma bagunça em nossas vidas. deve ser por isso que apesar da procura desperdiçamos várias oportunidades querendo alça-las a prateleiras. decididamente lá ela não cabe nem lá ela se acha. se a felicidade não passa de uma ilusão que a realidade macera. lamentamos informar que a realidade também o é, espécie de ilusão. e que a felicidade não máscara a realidade, como somos induzidos a pensar, ela a desmascara. por isso é tão temida por muitos (inclusive pelos mantenedores do poder) e apreciada por tão poucos. a felicidade é uma arma quente já dizia o cantor.

Tuesday, February 27, 2024

um dia

cansada, minha alma deixou-me ir; enquanto fica perambulando por aí. mas tem volta?

Wednesday, January 03, 2024

uma questão de fé

não levo a menor fé em quem não diz palavrão. menos ainda, em quem troca o caralho! por caraca! ou caramba! e muito menos, em quem do nada para nada, por tudo, usa o jesus amado, meu deus, valha-me nossa senhora, tirando a porra do seu lugar, para manifestar " divinamente" o seu espanto moral, desencanto ou tesão reprimida ou porque não tem nada a dizer. estou farto desta gente hipócrita, eufemista e subrepticia. fodam-se. vão todos logo pra casa do caralho.