Thursday, January 29, 2015

de relance

ruas cheias, avenidas em pleno vuco-vuco. ou pode ser naquela rua quase beco ou beco quase rua onde se esconde aos olhos dos amadores um dos melhores pé-sujos(tascas) da cidade. 

acontece tanto aqui como acolá. súbito você a vê - ou o vê - e ainda mais rápido do que você viu - ou julga ter visto, acontece na maioria das vezes - evapora-se, escafedeu-se, sumiu.

fazem 20,30,40 anos, um século é o que parece, que você não a via - ou o via - por vezes até julgou, pensou ou desejou ter esquecido. e não mais que de repente tudo volta num olhar de soslaio que confunde. cortou ou não os cabelos? e as crianças ao lado, seus filhos? há quem se espante e diga minha nossa como envelheceu! - queria o quê? são 20,30 ou 40 anos -

paga-se um preço por enxergar de mais - ou de menos - na vida. mas certas visões tenho dúvidas cruéis se valem mesmo a pena. para que enxergar o que não está mais? o que não volta, até mesmo enxergar o que não desaparece? visto ou não visto?

há casos em que a cegueira faz-se necessária. menos para quem ainda assim enxerga de olhos fechados. neste caso, como nos outros, talvez, melhor seria abrir bem os olhos e não deixá-los fechados à vida, espremidos naquela fímbria de retina, tempo, ou geografia, onde o sorriso que nos sorriu, e a lágrima que derramamos, não irão se encontrar tamanha a rapidez do ver ante o tempo em que não tínhamos visto que fecha a janela com batida seca, que dessintoniza a batida de qualquer coração e o sopro de qualquer memória. mas que teimosamente ainda corremos tentando abrir o que nos dará de paisagem o vazio.

sonhar de olhos abertos é uma expressão traiçoeira quando se sonha e se vê o que não é sonho mas que é como se fosse. não me parece alento nunca mais dormir de verdade para manter acordado aquilo que não desperta senão a lembrança de que insistir em relembrar do sonho nos torna apenas sabedores que a noite mal começou e que o dia não trará nova lembranças uma vez que estará ocupado por esta que por conta de não mais que dois segundos nos ficou pregado na testa de saudades rugas.

o que foi - ou quem foi - mesmo que você viu? mesmo vivo era uma sombra, um pedaço de brilho deslocado no passeio. antes olhasse para o outro lado. porque todas as coisas - e os amores - sempre tem um outro lado. escuro, claro, escroto, sábio, leve, otário, mas um outro, que pode ser deixado de lado sem angústias, remorsos ou ressentimentos.

e nunca mais aquele do outro lado da rua, numa esquina, num susto que você não pega mais, aparecerá nas suas falsas dúvidas de verdade.

Wednesday, January 28, 2015

dias de transformação

dias difíceis de acordar e dormir. onde o sono e vida parecem ser beco sem saída.

mas estes são os melhores dias. por que neles se escondem dias de transformação, o que acontece sem que você perceba ou o faça de susto. 

eis que psicólogas se tornam cantoras, ovos se tornam cobras, larvas borboletas, homens pó e pó estrelas e as estrelas em cantos do universo que de tanto contar os homens esquecerão um dia de cantar.

nada do que se apaga foi aceso só por um dia.

e a fumaça do que queima não é o desejo que se esfumaça. é a via láctea que se desdobra universo afora.

agora cuidado para não engasgar na tragada. é a patetada mais comum da transformação.

Friday, January 23, 2015

cosmogonia de boteco ou a teoria do nada

é da natureza humana, privilegiada ou não, preocupar-se com o que não devia. 

ora lá se me dá nos cornos estar interessado sobre o de onde viemos? do porque de aqui estarmos? e do raio que nos parta do para onde vamos ?

nada somos antes, nada seremos depois. e isto não me preocupa nem um pouquinho. 

agora não ser nada durante, ai eu diria que realmente é foda; desperdiçada.


Friday, January 16, 2015

no problems

o mundo anda cheio de pessoas que acham que o resto da humanidade nasceu exclusivamente para resolver os seus problemas.
resolvessem eles próprios os problemas deles, e já resolveriam um dos maiores, se não o maior, problema da humanidade. 

Wednesday, January 14, 2015

demasiadamente humano

na hora de tanto açúcar, diabetes.

na hora de tanto sal, hipertensão - sim eu sei que você gostaria que fosse hiper-tesão. mais sai dessa que na busca disso tudo tudo desandou ainda mais à beça.

enfim, na hora de tanto tudo, tanto nada.

e assim, meu caro, a distopia se torna um lugar comum nesse mundo de gente cada vez mais fora de lugar. mas isso caetano já disse e ninguém ouviu não é mesmo ?

então, "não enche".


Monday, January 12, 2015

auto conhecimento (ou trombada em cheio)

a vida, sequer um sonho, não passa de ledo engano. então, senão a si, tente enganar* os outros da melhor maneira possível. reside nisto uma certa plausibilidade da tal vã, e ainda mais ilusória, felicidade.

*enganar, caro cabrão, não significa armar-se em espertalhão para se dar bem em cima dos outros. significa em vez de genuflexão ante o inevitável ter, nem que seja mísera, certa altivez diante do consigo próprio.