acontece tanto aqui como acolá. súbito você a vê - ou o vê - e ainda mais rápido do que você viu - ou julga ter visto, acontece na maioria das vezes - evapora-se, escafedeu-se, sumiu.
fazem 20,30,40 anos, um século é o que parece, que você não a via - ou o via - por vezes até julgou, pensou ou desejou ter esquecido. e não mais que de repente tudo volta num olhar de soslaio que confunde. cortou ou não os cabelos? e as crianças ao lado, seus filhos? há quem se espante e diga minha nossa como envelheceu! - queria o quê? são 20,30 ou 40 anos -
paga-se um preço por enxergar de mais - ou de menos - na vida. mas certas visões tenho dúvidas cruéis se valem mesmo a pena. para que enxergar o que não está mais? o que não volta, até mesmo enxergar o que não desaparece? visto ou não visto?
há casos em que a cegueira faz-se necessária. menos para quem ainda assim enxerga de olhos fechados. neste caso, como nos outros, talvez, melhor seria abrir bem os olhos e não deixá-los fechados à vida, espremidos naquela fímbria de retina, tempo, ou geografia, onde o sorriso que nos sorriu, e a lágrima que derramamos, não irão se encontrar tamanha a rapidez do ver ante o tempo em que não tínhamos visto que fecha a janela com batida seca, que dessintoniza a batida de qualquer coração e o sopro de qualquer memória. mas que teimosamente ainda corremos tentando abrir o que nos dará de paisagem o vazio.
sonhar de olhos abertos é uma expressão traiçoeira quando se sonha e se vê o que não é sonho mas que é como se fosse. não me parece alento nunca mais dormir de verdade para manter acordado aquilo que não desperta senão a lembrança de que insistir em relembrar do sonho nos torna apenas sabedores que a noite mal começou e que o dia não trará nova lembranças uma vez que estará ocupado por esta que por conta de não mais que dois segundos nos ficou pregado na testa de saudades rugas.
o que foi - ou quem foi - mesmo que você viu? mesmo vivo era uma sombra, um pedaço de brilho deslocado no passeio. antes olhasse para o outro lado. porque todas as coisas - e os amores - sempre tem um outro lado. escuro, claro, escroto, sábio, leve, otário, mas um outro, que pode ser deixado de lado sem angústias, remorsos ou ressentimentos.
e nunca mais aquele do outro lado da rua, numa esquina, num susto que você não pega mais, aparecerá nas suas falsas dúvidas de verdade.
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