Friday, November 30, 2007

de soslaio



3 pombos na janela que voam em curva espantados pela adolescente ao celular.
um casal de namorados num pega mas não pega ali mais à frente.
o bem-te-vi que escapa da sombra do gato.
e o reflexo do meu olhar caindo ao poente na visão que divide-se pela faca do tempo interminável em que o olho pisca e toda imagem é cisco duro como um batente.

Tuesday, November 27, 2007

nada magnânimo

peguei-me na prática de um magnanismo que em mim desconhecia. selecionando livros para dar de presente, assim como músicas(sim caro leitor não se dá mais discos, leia-se cd, dá-se músicas) entre tantas outras coisas que julgo eu magnanimanente, sempre, a contribuir para a melhora dos seres ao redor do meu alcançe, evitando a armadilha do dar o que eles gostam para cair na ainda pior do dar o que eu gosto.
mas que grande descarado me tornei, descubro na encolha, para não usar de outros vocábulos, digamos assim menos magnânimos. fazer dos meus olhos e ouvidos os ouvidos ávidos de uns poucos ouvidos surdos, não moucos, que conheço e que imagino a influenciar para o bom caminho.
e isto exatamente num momento em que estou a me auto-desencaminhar farto desta parcela magnânima do mundo que quer fazer das suas experiências cardápio de outrem em todos os sentidos, todas as colunas, todos os sites, todos os meios.

Monday, November 26, 2007

projeto de vida

pedem-nos, implacavelmente, retidão na vida.
mas quem disse que a vida é reta?
não é a vida um céu e inferno de curvas abruptas e sinuosas, de sobes e desces, desconcertantes, de lentidão e velocidades estonteantes? de girandõlas e redemoinhos ascendentes e descendentes?


estamos rodeados de guardas de trânsito ávidos em multas. há juizes morais que nos infernizam a vida, esquecendo que para cada lanterna que nos cobram apagada, não legislam eles em punição própria e adequada por crateras em suas rodovidas na estrada de muito pior sortilégio, estas sim que nos perigam a vida com muitos piores danos. aliás, iguaiszinhos ao que nos faz a guarda em "blitzs".

farto de levar multas de quem a torto e a direito quer me cobrar retidão. observo que
retidão na vida é morte, tal qual lhe arrumam no caixão. mas deixo claro, que convém manter uma certa retidão de princípios, sejam eles curvos, oblíquos ou o que seja. sem no entanto confundir retidão de princípios com retidão moral, pois esta costuma deixar seus ditos praticantes num estado de corcundez que é atingido muito antes do equívoco da longevidade retilínea.

e se nada entendeu, seja reto, como niemeyer. que justamente por isso é o senhor das curvas.

Saturday, November 24, 2007

senso de paternidade

fazendo charminho, desastrados ou dengosos, toda vez que meus cães sentam-se ou pululam a minha volta, e me olham com o sentimento que sei, é amor aos catorze pedaços, corrobora-se aos píncaros a minha decisão de não querer ter filhos e optar por uma vida de amores caninos e caudas abanando, com mares de céus naqueles olhares lânguidos onde remelas são estalactites da mais pura sinceridade.
o que parece uma barbaridade nesta escolha, apenas é mais pura expressão do senso de paternidade que tanta gente diz ter mas do qual duvido muito. afinal, um pai sempre sabe o que é melhor para seus filhos.

Friday, November 23, 2007

território II

visto assim pelos olhos do siri, a enorme bunda branca da dona boa esparramada na areia parecia uma loca. e o que é melhor, bem disfarçada por sargaços. não imaginem o faniquito que ela deu ao se ver nas garras do dito cujo buraco a dentro, ou quase.

Wednesday, November 21, 2007

território

o cachorro vira-lata latiu para a dona boa que abanava o rabo no seu pedaço. pudera. onde já se viu uma dama assim tão vagabunda?

Tuesday, November 20, 2007

gostosa

de longe não assustava. mas de perto, a coisa pega, quer dizer não pega.
biquini vermelho, corpo empapado de água oxigenada, dois vidro e meio só para a barriga, outros tantos para cada peito, mais meia dúzia para os culotes e nadica de meio para a bunda que não tinha.
todo domingo, lá estava ela na antiga praia do quartel de casa caiada.
espetáculo grotesco? o que é isso para quem não conhece felinni? niente, se coubesse italiano no seu pedaço de areia.
mas o fato é que anastácia do jeito dela vivia feliz a sua vida e deitava e rolava naquele pedaço inventando trejeitos de pin-up.
chegava por volta das dez e meia e antes das três voltava a pé percorrendo o longo trajeto no asfalto quente que fervia onde não devia e esfriava aos buracos na ladeira de onde morava ela lá pelos bultrins cruzando espaço doutras olindas.
resto da semana, cozinhando em espaço exíguo de bar e restaurante de fim de linha, onde era conhecida pelo mocotó, não o próprio, mas com pirão, que não vou "butar" areia na história relembrando a praia.
e com um mocotó daquele, faziam fila, o que é de imaginar, pra comer o prato da gostosa, como era conhecida.
fim de semana, merecido, quem não sabia, ouviu como zoeira braba o reconhecimento do lá vem a gostosa, por um dos da fila em fim de semana aproveitando também o pedaço, e muito menos quando ela gargalhando rispostou: - já tá babando de longe heim, tô aqui pegando uma corzinha que é para dar um grau no material, amanhã você vai querer chupar até os ossos.

Monday, November 19, 2007

numa certa ponte histórica do recife

atravessou a ponte ligeiro e já na cabeça da ponte lembrou-se, não sabe como, a sua andava uma merda, que saíra de casa sem documentos. voltar tudo aquilo, puta que o pariu, calor sufocante, suor escorrendo em pingas, gente feia e mal cheirosa a lhe atrapalhar os passos, chutou as pilastras e bradou isso é uma tabaca de chôla. mediu a distância entre uma cabeça e outra da ponte e quase chorou de tanta raiva da distancia hiperbolizada pelo sol à pino. caralhos me fodam! voltar um carai, nem que se foda. e pulou na frente do ônibus que lhe petelecou a bunda projetando-a sobre a murada fazendo-o cair de cabeça na lama fétida do rio. desemborcado o cidadão, repetia quase afogado, voltar um carai, cuspido de lama em plena bosta de rio.
populares prestativos e bombeiros amuados convergiram. surtou e foi de gaia.
de cima da ponte um bando de cornos mansos amontoava-se sob um sol à pino para apreciar a teimosia alheia.

Thursday, November 15, 2007

pior que um amor perdido

o gatinho que alimentei até se tornar gigante, hoje não me reconhece mais. súbito sumiu do telhado juntamente com a gata mãe, grávida, que por quase mês, não sabia deles. ela não ví mais. teria morrido de parto, veneno, cachorro ou carro? ele, encontro na rua seguinte, mancando e assustado, sem a memória olfativa que talvez a distância hoje imposta não permita o reconhecimento.

acontece também com pessoas. subitamente, desaparecem, e ficamos assim sem entender porquê. faz parta das gentes. agora, com animais, nos causa ainda mais estranheza porque não entendemos seus motivos, já que sempre temos a pretensão de entender os motivos das gentes ou pelo menos atribuir-lhes loucura, ingratidão ou puramente sacagem, traição.

com os animais é diferente. a cara assustada que não reconhece aquele a quem saudava com largos ronronados produz um não sei o quê que torna o silêncio lancinante. e mostra que a limitação humana é algo bem mais tonitroante do que a incapacidade de saber o que acontece ali na rua mas está muito acima dos telhados das nossas cabeças.

Monday, November 12, 2007

porque progresso não é a mesmo coisa que desenvolvimento

cada vez mais a compra de carros é facilitada.
cada vez menos se tem espaço para circular com eles.
breve vamos chegar mais rápido andando a pé.
o progresso é deveras impressionante para quem é impressionável.
as bicicletas, cada vez mais caras e roubadas. os tênis idem.
mas continuamos firmes perseguindo os fins com todos os equivocos dos meios.

Friday, November 09, 2007

um pouco de céu


nada mais do que de estrelas pó de pirlimpimpim e um azul infinito e distante a povoar. um pouco de céu é algo que todos querem conquistar. mas cada um a sua maneira, ainda que vivendo por isso, evita o método mais fácil de lá chegar. aquele que pressupôe um
pouco de terra por sobre o corpo que não mais sonha o que de certo estraga a paisagem.
penando bem, dispensemos por hoje esta ânsia ancestral por um pouco de céu e este pouco de terra que ao final fará o céu desabar sobre nossas cabeças e não mais aos poucos. fiquemos por cá às voltas com os muitos do inferno que ao menos em parte nos permite outras vontades inclusive esta de um pouco de céu.

Wednesday, November 07, 2007

escridura.

todo texto é pretexto. mas nem todo pretexto é texto que valha a pena. este por exemplo.

Sunday, November 04, 2007

olimpo mais embaixo

acordo e descubro que minha mulher ronca.
ainda bem penso. e com alívio passo a amar-lhe ainda mais.
antes assim. estava difícil sustentar o relacionamento com uma deusa.

Friday, November 02, 2007

Thursday, November 01, 2007

puro amor

cachorro! disse ela.
vaca! disse ele.
e se amaram com a furia e o amor que só os animais de espécies diferentes podem expressar.