Friday, April 28, 2006

eu não sou humano

ver um cachorro perdido na cidade grande ou caatinga mexe comigo cada vez mais.e cada vez mais avesso aos humanos intriga-me àqueles que na sarjeta, comendo restos, trazem metade soltos, metade coleira, cães, todos gordinhos e aparentemte saudáveis, enquanto eles próprios, os humanos, costelas à mostra, dentes em falta, membros esquálidos, ainda sobram em afagos para os cães. nesta hora eu me reconheço, e penso, mais humanamente impossível, o que estarão a fazer com os cães? que tipo de exploração ? facilitador da bondade para com as esmolas ou necessários a mínima segurança de quem perambula e dorme pelas ruas?
olho para os cães pacíficos e obedientes, por lealdade ao que parece, e sinto um misto de inveja, piedade, alegria e tristeza para comigo mesmo.

Wednesday, April 26, 2006

as desgraças de um aniversariante

sabe porque não gosto de comemorar aniversários? escrevia eu um penca de aniversários atrás. porque você leva toda uma vida tentando construir algo e aí vem um dia destes e destrói tudo.
o tal dia do aniversário é de lascar. é uma boutade de adjetivos que lampreiam sobre sí, quanto mais tempo de vida você tiver. se é novo,os mais velhos se aproximarão e teceram loas sobre a juventude para depois dizer que este tal período é uma merda, que você não viu nada da vida, deve ter sido numa destas que inventaram que a vida começa aos 40. pois sim!
tenha você 40, e pronto lá vem a choradeira sobre os bons tempos, aquilo é que era vida, juntamente com os indefectíveis, olha a barriguinha ou você está muito bem pra sua idade. ambos totalmente falsos na inversalidade das proporções.
aliás, tenha a idade que tiver, leve a vida que levar, eles, os sacrosantos sacripantas das datas, comportam-se pior que as viúvas de aluguel a tecer elegios sobre como você é bom camarada - o que é muito perigoso a depender do estoque estílico do ambiente onde se encontam . por falar nisso, lá vem eles cantando aquela corruptela de melodia americana sobre ser bom camarada, sempre com uma versão parodicamente e estoicamente suportada pelo coitado do aniversariante que tem de preparar a festa e depois limpar a casa, se a fizer em casa, doidivanas se o for.
na verdade, só estou escrendo isso hoje porque não é dia do meu aniversário.
porque no dia mesmo, o melhor presente, é esquecer que é o dia - como se já não houvessem lembrado.
assim, a minha melhor vingança - e viver bem é a melhor vingança - será estar longe de quem certamente -e até mesmo, sinceramente, não dúvido, às vezes - adoraria estar por perto a presenciar o meu quase tombamento.
assim,façamos pois um brinde, ao aniversário, de quem mesmo ?

Tuesday, April 25, 2006

vagão das mulheres

goivete, foi uma palavra que aprendi no recife mas já conhecia de ver no rio. refere-se ao ato, hoje classificado de assédio sexual, do rala-rala, rela-rela que acontece despropositadamente ou muito propositadamente nos transportes urbanos.

pois bem, desde ontem o metro do rio, tem dois vagões, adesivados em rosa, com os dizes exclusivamente para mulheres. graças a uma tal lei estadual. ontem e hoje a coisa não tem funcionado. os homens, apesar das vaias e dos seguranças, entram, despropositadamente ou propositadamente, nos vagões destinados as mulheres.

ao que parece a lei natural anda querendo fazer goivete na lei estadual, feita por um homem, ninguém me convence ao contrário, pessimamente intencionado, afinal é daqueles políticos que não esqueceram de mandar afixar dentro do vagão seu nome goivetando a tal lei.

sucos

suco bomba do chico, suco anti-gripal, suco de pitomba, suco de guaraná com açaí, suco de ovo de codorna com panteitonato e chocolate. suco afrodisiaco, suco super bomba, suco quarterão, abacaxi com mel, menta, clorofila e sei lá mais o quê. ora chico eu hoje estou mais pra suco de caroço. e capricha no fel.

Monday, April 24, 2006

coisas pra fazer antes de morrer(de vez em quando isso fica na moda)

tocar piano, andar de patins, pular de asa delta, terminar a casa em baía formosa, dar um espaço decente para todos os meus cães( e gatos e o que mais aparecerem), conseguir, ao menos uma vez na vida, executar (não no sentido lato, que isso já fiz dezenas de vezes) o solo de i´ll de waiting, do devadip, completar a reforma do jeg, dar um beijo em minha mulher e, nucas nas dunas, realimentar as estrelas que refletirão o brilho dos nossos olhos que já faz tempo merecem tal felicidade.
não é pedir muito ou é ? na dúvida, acrescente-se a lista, fazer isso centemas, milhares de vezes, para que o firmamento não vire breu, pensando assim, como direi, desinteressadamente.

andar de ônibus só faz bem

antes que você diga, desde que não seja todo dia, eu digo, principalmente se for todo o dia. ainda mais na minha profissão. o problema é que justamente por causa dela eu não ando muito bem

Sunday, April 23, 2006

em copacabana tudo é rei

para cada sorriso de criança, adulto, idoso ou canino, em dias onde o trânsito é vedado na faixa á beira mar, isto sim o que torna hoje copacana radiante, existe um chico-esperto travestido na luta pela sobrevivência a alugar ou vender, cadeirinhas, bicicletas, skates. aparelhos de ginásticas, sem falar, claro, já cedo, o próprio corpo. a lista é infindável. de memória é impossível guardar mas tampouco anoto: seja para não dar pinta de turista e aumentar minhas probabilidades de tomar uns safanões em troca da minha bolsa, seja para que alguém queira me vender caneta, envelope e sabe-se lá até remédio para a memória.
santa clara, figueiredo, toneleros, barata ribeiro, zigue-zagueio até a bolivar. e todos os cachorros que encontro nenhum tem o ar alegre d´antes. mal-estar dos apartamentos ou mal-estar da civilização carioca? chico desabafa sobre o infortúnio do que é ser carioca hoje, publicado por ocasião do lançamento do seu novo trabalho musical, que traz uma subúrbio com uma letra que corta a trilhos o caminho da central até depois da pavuna produzindo silvos.
eu que não saio de copacabana, mundinho quando muito expandido que vai, no máximo, as fronteiras do começo do leblon - a barra é apenas viagem de memória - ou aos arremêdos da glória - enquanto me pergunto se vou achar casa talvez em santa teresa ou, golpe de sorte, no bairro do peixoto - tenho a dizer que o subúrbio hoje é mesmo copacabana.
onde calçadão, pedras pretas e brancas estão mais sujas do que nunca, mesmo sem perder a majestade.
vai um polidor ai tio ?

Saturday, April 22, 2006

editoria

a garganta seca. uma quase tosse que não se quer cuspida. de repente, a palavra é escarro. melhor engolir. nada pior do que um catarro verde.

um método de peso

a disciplina não dilata as horas nem as comprime.apenas as arrasta.

perigo na pista

escrever ficção e ela tornar-se realidade. ou a realidade tornar-se ficção(e da ruim).

Friday, April 21, 2006

desejum

nos feriados as cidades nos dão a ilusão de são mais humanas. é como se as árvores se enfeitassem, e as calçadas, abrandassem o rítmo dos passos do tempo. tudo flui e escorre sem pressa. um ou outro carro apressado, a quebrar um certa modorra por nós até quase consentida.

manhã mais sonolenta, até um sagui, coloquem o trema por favor, há ? amanhece desperto a chamar a turba para ocupar os espaços hoje mais tranquilos, aventurando-se em galhos carcomidos de centenárias árvores carcomidas pela poluiçõa, as costas da velha mansão dos guinle, nome hoje ligado a fábio júnior e josé wilker, lembram que gulhermina é nome de placa de rua, com outra valorização faz tempo. aquilo que se nos aparece como um despropósito,a casa de quase meio quarteirão, a uns invisível e a outros responsável pelo ar de súbito estupefato, registrem a redundância, recorda aos mais transeuntes do que passantes, de que este era o padrão do bairro, hoje acabado.

aos pés do redentor, vago pela são clemente, a escolha do botequim descanso, pelo critério dos tamboretes e do balcão, importantíssimo, também o número de aposentados que já as nove da matinha, derrubam com calma a segunda cerveja do dia.

dou bom dia a favela santa marta. e respiro fundo, para ver se ainda sinto cheiro da mata. o que me vem é um quase cheiro de chulé, que imagino seja do cristo redentor, que ultimamente anda pisando em sangue.

má idéia ir numa galinha a cabidela já com um gelada destas matinal.
salta uma vitaminha e um joelho de frango e queijo, enquanto engulo já a seco um quarto ou quinto comprimido para esta gripe que não quer me largar.

talvez o cheiro de chulé venha das minhas fossas nasais, eumefize, cavidades, chego a pensar. mas ainda estou em verde catarro, a idade do sangue, sou otimista, há de tardar, alivia-me uma coriza renitente.

engulo o comprimido e algo mais que não vale a pena contar. chega a vitamina, gelada até o tutano, e o joelho, quente até os tornozelos.

fazem-me um brinde, e o aposentado, reina feliz: isto aí faz mal a saúde, gargalhando como a espuma do colarinho da sua cerveja. é rio de janeiro, estou voltando. não vá me brindar com uma sacanagem pior que essa, já basta o joelho ter sido de salsicha.

Thursday, April 20, 2006

entrando na contra-mão

51% dos cariocas querem sair do rio. eu passei a fazer parte dos 49% que estão assim, como direi, encalacrados.

não deu no JB

nada mais triste do que não poder se ler os jornais que se gosta. depois de vários destinos volto a ler o JB. mas ele diminuiu de tamanho com o passar do tempo. isto não deveria ter acontecido comigo? excetuando-se as orelhas e o nariz ?

fiquemos pelo ritual

média, pão com manteiga e um JB fresquinho. se é que isto ainda é possível, com o jornal amassado pela net antes mesmo de sair da forma.

feriados

sempre muito triste e solitários, os feriados em cidades turísticas. até os museus fecham.

vinde a mim as livrarias

como sempre a seção de publicidade com os de sempre. nada de novo nos livros também. mas espere, alguma coisa ali do rmb(roberto mena barreto) a me contradizer. seja você publicitário ou não vale a pena ler, até porque os publicitários vão destestar. estou na saraiva, e o café latte, no cyber coffee, é o dobro do preço. mas graças a isto, amanhã, falo do livro um pouco mais.

ser carioca

alguma coisa dentro de mim ainda diz que sim, muito embora o sotaque já com raiva diga que não. os interlocutores concordam.

no meio do caminho

emtre portugal e recife, fica a bahia, pelo menos é o que acham todos do meu sotaque. da próxima vez passo uma temporada em cabo verde. quero ver então.

botafogo

onde é que estão as mulheres bonitas desta cidade?

Wednesday, April 19, 2006

strawberry fields forever

o olhar curioso ficaria marejado se fosse humano. mas não o é. então as patinhas batendo no vidro frio da janela produzirão um ruido de um arranhado seco a procura do eco que não virá. relutantemente ficará ali por uns dias, alternando miados intermitentes com as necessidades mais prementes a ausência.

de vez em quando o sobressalto, coração aos pulos, pelos eriçados, passinho apressado e a decepção. qualquer porta que se abra, incluindo a da varanda, de onde costumava aparecer para anunciar-lhe que já iria descer, só vai anunciar-lhe que não está mais lá, aquilo que acostumou a estar por quase um mês.

na sua mente de animalzinho que encontrou companhia e subitamente se viu privado dela, não saberei dizer o que se passa. mas alguma coisa há de faltar. com falta na minha. como faz falta na minha mão. se tem sete vidas, saberá resolver-se melhor que eu, tento consolar-me dos altos e baixos da minha única vida, agora, sem dramas, mas com certeza, um pouquinho menor.

das próximas vezes vou condenar-me a solidão explícita. nada de afagos, nada de intimidades. cada qual por sí. sempre foi assim, não vejo motivos para acreditar que não mais o será.

mas por hora um frêmito me anuncia que algo dentro de mim quer romper a barreira das carnes, dos nervos, do espaço, do tempo, e tocar o zezinho ainda que fosse sombra.

a impossibilidade humana diante dos seus sentimentos é algo que somente um animal entenderia ?

Tuesday, April 18, 2006

walk inside

uma calçada longa, mas não muito. quase quarteirão basta. é preciso que tenha uma ou duas ruas para interromper o ritmo dos passos e atravessar rumo a algum destino que nos traga de volta. mesmo que isso rompa o conceito de quase quarteirão.

os muros tem de ter equilíbrio entre vazados e totalmente fechados, para guardar e estimular a essência do mistério. grandes habitações revelam-se não muito apropriadas para acescentar valor a esta calçada. fica-lhe melhor casas simples, casas comuns, com um ou outro detalhe, como uma casa que tem outra casa dentro de casa ou um velho automóvel sob uma lona que nunca vemos funcionar muito emobra esteja aparentemte bem conservado. sim, o automóvel é velho, mas não é uma relíquia, tampouco uma velharia. é apenas um automóvel com duas ou tres décadas de permanência, não se sabe se sempre na família.

nos vazados, há jardins por todo um quintal e quintal que substituem totalmente os jardins. há pequenos aclives e declives. o resto da marcha se faz em planos confortáveis. mesmo quando chega o vento do outono e a temperatura desce ainda que o sol permaneça.

convém que se tenha algo a fazer, como comprar o pão por exemplo, que acaba por ser mais significativo do que discorrer sobre a calçada para simplesmente tomar um café.

muito embora não seja obrigatório, há que se ter um certo vagar e um nada por fazer tão urgente para valorizar a calçada. e o saco de pão deve considerar um certo número de cachorros nas casas de muros vazados ou de grades. convém esmigalhar o pão com antecedência, explicando que aquilo que antecede este procedimento, é o latido de três cães pequeno-médios, um deles sendo mais pequeno, para além de uma casa vizinha, onde se perde a conta dos pequenos.

entre os cães, um vira lata negro, de mancha branca, comum ao peito. de incomum ohos azuis quase estrabicos, efeito proporcionado pela largura de sua cabeça e o afilado de seu focinho.

diariamente latem muito e parecem afugentar qualquer manifestação de carinho. como a calçada não é mais que um quarteirão e como todo dia comemos pão, a repetição se encarregará de aumentar-lhes a ferocidade, de cão pequeno-médio em trio, sendo um mais baixinho e gordinho, ou de aplacar-lhes os rosnados, o que invariavelmente vou fazendo aproximando com cuidado o pulso para que o farejem.

ainda que precise, e seja mais gostoso, convém não alternar os horários de passagem para compra do pão fresco. até porque pela manhã dormem e sonolentos dão a falsa ilusão de desinteresse ou amizade quase conquistada.

miolos de pão a mão, por cima ou por entre grades, considerando, que estão ao nível da nossa quase cabeça. e que a extensão é de aproximadamente 12 metros. há que se ter também habilidade na distribuição certeira dos pedaços para que um não coma mais do que outro e que isso não gere antipatias ao gesto e, pior, brigas entre sí.

isto feito, já na próxima, ainda que sem sacos de pão, no plural, porque num há pães de trigo, noutro, doces, de coco, os três mosqueteiros, chamemo-lhes assim, já se levantam e mudam os seus latidos e posturas, com menos intensidade no marrom de boca mais vermelha. já lambem-me os pulsos, ainda que o de boca vermelha o faça com um certo ar de querer mordiscar-me a mão.

não mais que um mês. ontem, na ida, todos lamberam-me já as mãos. e eu nem trazia nada nelas. na volta, todos contentes reconhecendo os sacos, um com pães de trigo outro com doces, de creme com coco.

o preto, de olhos azuis e manchas no peito, fica totalmente serelepe com a visão do saco. e o baixinho, já manhoso, só quer mais afagos, sob a guarda do mais renitente, de boca vermelha, que mais uns dias e comeria já na mão.

afago-lhes e não lhes dou o pão, apenas um olhar de partida. estou indo embora. há dias em que eu trocaria o amanhã por uma calçada, uma calçada longa, mas não muito. quase quarteirão basta. é preciso que tenha uma ou duas ruas para interromper o ritmo dos passos e atravessar rumo a algum destino que nos traga de volta

Monday, April 17, 2006

check-in

pra muita gente a viagem começa e termina nas malas. o que fica pelo meio não interessa absolutamente nada.

excesso de bagagem

tem gente que começa uma semana antes. tem gente que só faz na véspera. no dia, a maioria descobre que não se tem malas a altura. e uns ditos distraidos ou hiper-atarefados que não tem mala alguma.

auto-ajuda

se livro de auto-ajuda não funciona, você acha mesmo que aqueles que pretendem ensinar como arrumá-las, e não só, como levar apenas o absolutamente essencial, vão funcionar? vai ser crédulo assim na puta que o pariu!

na esteira

rolando assim na frente de todos aí é que percebemos que vamos pagar o maior mico por não preferir a discrição como cor preferida.

bagagens franquiadas

as malas tem o peso da nossa consciência.

voláteis

perfumes e abraços, a gente sempre leva no corpo. mas a falta pesa mais do que os excessos.

etiqueta

não seja eternamente um mala. dê um tempo. viaje. até seu ego agradece.

achados e perdidos

nada pior do que voltar de mãos vazias, quando se tinha tudo antes de encher as malas.

Sunday, April 16, 2006

jobiniana

que outra cidade inspiraria o samba do avião ?
(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com)

fora da mira

cariocamente falando, hoje no rio a proporção é de, pra cada mulata gostosa, uma dezena de balas perdidas.

antes e depois do túnel

morar na na tijuca é uma barra. e a barra, tá a maior tijuca mermão.

em que sentido ?

perguntam os moradores

linha vermelha e amarela

alguém estava minimamente inspirado quando criou esta denominação. pra coisa ficar correta tinha de ser linha verde e amarela. o vermelho já escorre fora da linha há um tempão.

o rio de janeiro continua lindo

bem, hoje em dia isso vai depender muito do seu ponto de vista

Saturday, April 15, 2006

crença

é sempre melhor um sábado de aleluia do que uma sexta da paixão.

louva deus

no brasil substituimos o lava-pés pelo puxa-saquismo.nosso estado de genuflexão passa longe da noção de humildade cristã. por isso ficamos parecendo mais atores pornô olhando para a camêra constantemente para demonstrar o nosso empenho na performance. conforme seja, a babada intensifica-se de acordo com a nossa fé na possível gorjeta.

vade retro

rezemos. mas por maior que seja a fé, isso não nos impede de ficarmos com os olhinhos bem abertos.
de joelhos, olhos fechados e boca aberta, somos passíveis de sermos literalmente enrabados esta onda de tarados de batina e pastores de tais cajados que a(s) igreja(s) andam a proteger e não só, dizem alguns, a estimular.

como são tomé

no dia em que a(s) igreja(s) fizerem literalmente votos de pobreza, eu me converto num poço de doação. por enquanto, dízimos, contribuições e assemelhados ? não dou, não peço, não troco.

não me deixei cair em tentação

longe de casa, a mais de uma semana, a milhas e milhas daqui, o meu amor. mas se aquela vizinha bodyboarder continuar a vir me pedir açucar mais nua do que semi, mal o sol acorda, eu vou passar-lhe a parafina. afinal, de manhã, cedinho, todo pau é de ferro. e eu não.

sudeste

resisti. diabolicamente, continuo resistindo. sim, porque só mesmo com o diabo no coro para não me converter ao pecado mortal de dropar aquela mina. ainda não vai ser desta vez que vou me converter ao perdão. eu sou duro, pelo menos na queda, compactuarão.

otário

no coments

Friday, April 14, 2006

sexta da paixão nacional

sem pão, sem carne, sem vinho. cruxifixão o ano todo, sem direito a ressurreição.

Wednesday, April 12, 2006

jet leg ou friederstadt

rua do rio, cruz das armas. aluguel de bicicleta ou passeio a cavalo? desce-se em sentido perpendicular ao contrário da avenida e cavalgando podemos ir até o conde. mas tenho medo. sou tão pequeno que a pica do cavalo ainda é maior que eu. imagine montado lá em cima? vou nada. ruas de valas e buracos, fruteiras a perder de vista. chão de terra batido, cachorrada correndo atrás. primeiras férias sozinho. lembranças fortes de frio e calor. calor do colo das filhas de amigos dos meus pais, frio dos incontáveis picolés de fabricação caseira, chupados sem medo de dor de barriga. mas uma dor de barriga fina sentindo o calor dos colos das meninas. ainda não ejaculava. mas quase perdi a cabeça de tanto calor. pensava até que meus cabelos iriam cair aos chumaços. de quebra ainda havia o clube, próximo a igreja, sim de cruz das armas, onde dançamos e uma gota de suor caida da nuca de giselda quase me provocaria lágrimas. anos 60. joão pessoa era um novo mundo por descobrir. e eu ainda pra fazer xixi baixava o short. não tinha calças com braguilha.


do bessa ao final do cabo branco. éramos senhores do mar. crescera. já tinha pentelhos em tufos. quase gabeira, sunga mas sem crochê. ao olhos de todos vagabundos. suspeitos de fumar maconha. e caminhar de uma ponta a outra com sorrisos e alegria que rechavam o sol das nossas peles.protetor solar ? passa coca-cola. corpos desnudos, banho sem roupa no bessa à bessa. havia problema não. desabitado. intermares era fronteira sem dono. e cabedelo a rivalizar com os puteiros muito famosos do centro"antigo". centenas de garrafas de vinho branco pacientemente arrumadas, prova da nossa superioridade inelectual, nem vou falar das músicas, acompanhadas de muito peixe cozido e bifes de carne de baleia que ainda podiam ser comprados no mercado de tambáu. eu nem pensava em ser vegetariano. mas já era jornalista. já queria comer a garota magrinha que diziam ser neta de bispo e que andava com a vagabundagem mas dava mesmo para um gente fina frequentador do ellite(sim havia o elite, a referência da orla) que tinha um mp lafer. anos 70. anos depois eu compraria um mp lafer. mas já não se comia carne de baleia. no entanto, o quem me quer, calcadão de manaíra, multidão supercolorida de desejos, vaidades e imbecilidades. não mudaria por nenhum dos anos vindouros, a não ser pela inclusão das meninas de programa que buscaram a igualdade. afinal, puta por puta, sai mais barato, putas burguêsas não passam na prova das informalidades.

manaíra desponta. a quadra é o centímetro quadrado das melhores bundas de joão pessoa, disputando com o pedaço em frente ao lado do iate clube. claro tinha a temporada de veraneio no bessa. mas campinenses não estavam previstas no cardápio. resistira uma década. continuava senhor do mar. agora cavaleiro de passeios noturnos de bicileta ao seixas e cercanias. pra depois descer a ladeira sem mãos no guidão, de olhos fechados, e muito gosto de caju na boca. olhos abertos só para o espetáculo da lua cheia enorme avançando sobre nossas cabeças nas esquinas do farol do cabo branco findadávamos com invasão aos lugares ditos burgueses. daqueles cabeludos, e eu era o mais cabeludo em particular, só perdendo em chamar a atenção para aquela menina que teimava em usar as axilas não raspada, criando seu black-power fora do lugar. chegada na praia as 5.30,saída, como saída? as 20 ainda estávamos lá e tudo girava em torno da praia, manaira forever, agora com banhos a meia-noite para curar ressaca. continuava jornalista, trabalhando aos domingos, dia de praia para amadores, para poder na segunda ter o domínio completo da areia,dos sargaços, das caravelas, com o prazer adjunto de saber que todo mundo estava trabalhando enquanto eu podia livremente coçar os culhões sem maiores chateações. anos 80 e as festas rolavam soltas, do jacaré a baía formosa. o resto do mundo podia se fuder que eu não estava nem aí, apesar de todo o meu engajamento nas questões de alagamar que me valeram o ódio da classe dominante, inclusive a própria jornalística.

até aqui quase paraibano. não havia isso tão forte de ser paraíba como escracho, nem paraibão como sinônimo de rádio grande colado no pescoço de imigrante. especulação imobiliária. manaíra começa a ficar cheia de merda, em matéria de mulher também. começo a ficar senhor, e não mais senhor da praia. como se constrói nessa cidade que não tem tostões nem para pagar as marmitas quanto mais moradia. mas ninguém perde a pose. chic agora é comer tapioca até de chocolate com banana, charque, goiabada, qualquer dia. de caviar falsificado. ovas de algum peixe chinfrim. imagine os peidos. ainda volto por outras razões. não mais as peladas junto do hotel tambaú, totem de prosperidade que quedou-se jogador único de merda na praia a rivalizar com boa parte das novas construções. e que agora nem é mais tão bonito visto de cima. ainda assim um point de velhas amizades, antigas tesões, que não resistiram ao celulite e estrias, observo murchando a barriga, e disfarçando com um infalível se não tivesses casado ainda davas um caldo de cana. risinhos, todos murchamos a barriga, algumas ainda ajeitam o biquini enfiado no rabo, colocando-se numa posição que os arrebita e mostra os pudins de rabos brancos, alguns tão curtos que quase se vê a ameixa. não dá nem mais pra ficar de pau duro porque súbito um arrastão de gêmeos a gritar tio compra, compra, nem sei mais o que, me traz de volta a areia. anos 90 e as coisas estão mas já não são mais como antigamente. quem comeu comeu, quem não comeu não come mais. penso contrariado, mas também contrariando a norma. a ponta mais oriental do brasil, do continente, deixa de ser paraibana - não estou referindo-me a mim - bradam os potiguares fitas métricas à mão, o seixas erodido continua fudido. penso na minha erosão de antão. e murcho ainda mais a barriga.

anos 100, anos zero, o tempo tem lógica circular apenas para ser contado. século XXI, pra não deixar dúvidas. joão pesso jjá esta acometida do mal de quem começa a ganhar todos os defeitos de cidade grande e a perder a maioria dos encantos de cidade pequena. ainda assim penso nela. o jornalista willian costa, no norte, ontem, escreve sobre a vergonha de morar numa cidade capital cujo nome é joão pessoa. nome que não reedita passado que valha a pena. para quem já foi filipéia de nossa senhora das neves, até não soa tão mal, muito embora concorde que cabo branco seria bem melhor. vinte anos de dominação holandesa não marcaram o friederstadt como ja se chamou a capital. em florianópolis, cidade irônicamente também tão bela, findou-se chamada assim, após também passar por outros nomes, para homegear floriano peixoto, o pensamento de alguns também é igual. tá certo que um bom nome ajuda, principalmente nestes tempos de marketing turístico e de aparências cada vez mais desiguais. mas para mim uma cidade é como alguém que amamamos independentemente de se chamar astrogilda. seja lá que nome tenha ou vier a ter.

eu amo joão pessoa. e disso tenho certeza, apesar de soar-lhe filho bastardo, não seria eu que iria não lho dizer.

Tuesday, April 11, 2006

prefácio

escrever me salva. mas também me condena. e me castiga.

ultra passado

sucesso em literatura, é conseguir um emprego público para poder escrever de graça e ainda assim ganhar a vida.

buda peste

.... " húngaro, a única língua do mundo que, segundo as más linguas, o diabo respeita". e o português? purgatório infernal, não ? já sei, este desprezo todo só porque deus é brasileiro. mas a língua de deus , salvo os enganos, não é o esperanto ?

acumulada

todas as semanas jogo na loteria. de preferência quando há prêmios acumulados. mega sena, dupla sena, loto fácil, e até a quina.
pra ficar rico ? não digo que não. mas o ato de jogar neste caso exercita outra função. é que enquanto eu tiver 1, 1.50, 3,50 para jogar, estou rico.
agora ficar mais rico, aí já é bolão.

posfácio

o meu problema com a literatura é que aquilo que escrevo me interessa profundamente. mas nem de raso àquilo que se convencionou chamar leitor. afora isso, sou um sucesso de audiência.

sujeitinho problemático

o meu problema com as línguas é que tenho extrema facilidade para com elas. mas tanto que acabo não falando nenhuma.

cheio de calos

(misterwalk hoje vem à pé. só chega depois do meio dia)

Monday, April 10, 2006

projeto de vida

um olho na missa
outro no vigário,
um passo no pé,
outro por calendário,
uma voz pra campa,
outro pro berçário
um gesto de afago,
outro gesto irado
e muito idealismo,
mas a bom mercado.

(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com)

quase punheta ou celso boy blues

o espermatozóide que me trouxe à tona,
por bazófia ou desleixo da inocência,
cismou de dar vantagens aos concorrentes,
do tipo ora dêem a largada que eu só depois começo a corrida

e sabe-se lá quantos centímetros ou minutos o sacaninha deu de lambada

por conta disso
corro até hoje
atrás da vida
sensação
de pela metade
cumprida
ufa!

(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com)

Sunday, April 09, 2006

cu de sucesso ou sucesso cu ?

no país das tuberosidades esquiáticas, nosso maior produto de exportação, a bunda, de norte a sul da terra brasilis prepara-se para invadir o domingo sem fronteiras, inserida na paisagem já de forma não tão silvestre.

é domingo e o brasil já acorda de pau, ou seria cu duro ?

já vem da sexta e sábado enfunado por pagodes, forrós, bailes funks, encontros bregas, onde de tudo é feito para mostrar a bunda no quase-pleno exercício da sua elasticidade. nem fudendo você faria igual. inda mais grupalmente. daí o sucesso cu destas bundas de banda ou seria bandas de bunda ?

tal manifesto já se inicia no aperto dos trens, ônibus e metrôs, fálica recompensa, onde é feita a consubstanciação da fome com a vontade comer na comiseração pagã no uso do transporte público

não bastassem as “peculiaridades” das nadegas made in brazil, que a tornam uma marca registrada, não registrada — qualquer dia japoneses a registram, como registraram o pequi,o sapoti, nem sei ainda se não o ti-ti-ti - el culo brasileiro, reconhecido até de costas, junta-se a outro cúmplice de sucesso, os biquinis nacionais. aqueles que ainda mais delineam esta mistura de músculos e adiposidade, montadas hoje sobre escolioses fakes e outros artifícios, que vão das calças com recheio a recheios sob intervenção do bisturi, amolegadas próteses de silicone que fazem a redenção das “ tábuas de passar, “ anátema e desgraça de quem não tem bunda neste país. o que por si só significa muito seriamente a possibilidade e a diferença ou não de por tudo ou nada comer e ser comida, garantia portanto de sobrevivência pra muita gente, que desde pequena exercita o requebrado das cadeiras, o baloiçar do pandeiro, o mexe-remexe do cu, desde a mais tenra idade, sexualizando movimentos que alijam dos rebolados, outrora apenas trejeitos infantis, qualquer leitura que não seja a prévia de que com um rabo destes vai longe ou já se vê que a menina tem futuro. reedita-se, principalmente nas periferias, o chamado às “reservas de comida”. ter uma bunda vistosa, ainda que “raimunda”, é passaporte pra ficar por cima mesmo que o tempo todo por baixo, com peso nas costas auto-pisoteando-se de sã consciência no flagelo do prazer ? tal qual pigmeus, ciosos da exibição do troféu, o macho nacional escolhe as fêmeas pelo tamanho da bunda. mas não como caracterização da bunda como reserva de alimento, como nos dizem estudos antropológicos sobre tribos e tribos. a comida é outra. sempre o foi.

bunda urdida ao regaço deitada no bagaço. massa de sangue, suor e caldo de cana; nudez entrecortada na folha dos canaviais, pregas garimpadas por látegos em busca da pedra-cu-já-preciosa, urro e estupro, sina decorrente do caldeamento de europeus, negros e índios, como sempre os negros entrando com a maior parte de semba, suor e sofrimento, para nos dar o prazer do bumbum arrebitado.

a bunda brasileira é a bandeira que fala ao pau de todo o mundo. comissão de costas, embaixada, por tantos mastros empalada. mas não liberta enquanto imagem de um país que cada vez mais brocha e se masturba ao vendê-la.

(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com)

Saturday, April 08, 2006

sem filtro solar

salta uma média com um pão com manteiga. pão dourado até em dia de inverno.

fumegante

a fumacinha do café é um convite sexual à fumacinha do cigarro.

tanino

não deveria haver vinhos vagabundos no mundo. é uma tremenda falta de educação.

dieta forçada

o nosso pãozinho é a maior prova do nosso subdesenvolvimento. ora, se até o diabo amassou, é porque merecia mesmo ser jogado fora.

meia mordida

somente para os cães eu dou a outra face.

solamente liquido

antigamente afogava as mágoas de bar em bar. hoje, de cafés em cafés. e é melhor aproveitar porque em algumas cidades não tem nada mais de líquido que preste.

rumo de casa

enquanto houver animais de rua não estarei sozinho, nem perdido,

Friday, April 07, 2006

ando pensando em exupery

"você é responsavel por tudo aquilo que cativa".

a citação nos fazia rir debochadamente. tempos da ditadura, tempos das misses, que indefectivelmente citavam le petit prince(oui, muitas delas em francês), do antoine de saint-exupery, como seu livro de cabeceira.

não sei quantas delas ou quantos de nós realmente leu o livro. brasil é assim. é o país onde se gosta ou não se gosta de um livro, de um fime, de uma peça, sem o ler, ver ou assistir. mas o fato, impensável, é que, imagine, se alguns de nós, tipos engages, ia lá ler um livro meloso daqueles ? livro de miss? alguns, até durões, talvez, mas no disfarçe.

não sei quem, presenteou-me com um exemplar do pequeno príncipe, anos 60, acho, num formato simpático de caderneta de endereços, capa dura, e umas ilustrações do principezinho louro, que de vez em quando punham-me a matutar, principalmente aquelas, dele sobre planetas, em sua solidão. tempos mais tarde, adquiri num sebo uma edição em francês, sem a graça desta, mas ainda imbuído de um ligeiro deboche.

zezinho, mas é como se fosse manezinho, manezinho é quem nasce na ilha de florianópolis, não sei se você sabe? é o nome que dei a um bichano que apareceu cá por estes dias. pra não parecer provocação aos manés - aqui também mané tem a conotação de otário, trouxa, comumente definido como bocó - uma forma carinhosa presente na ambiguidade dos diminutivos. zezinho é um quase gato de rua, que após uma briga ou uma investida sexual que durou toda a noite, devidamente acompanhada da algazarra que só os felinos sabem fazer, quedou-se ante a porta na manhã seguinte, coro estropiado e uma coriza crônica.

não seria eu que, estando de passagem, ainda mais na casa dos outros, não me conhecesse neste tópico - sempre digo para mim mesmo que não vou mais apanhar animais de rua, e já tenho 14 cachorros, uma gata, e quase meia a dúzia mais, já que os alimento diariamente. quer dizer, agora minha mulher o faz, enquanto estou ausente, com se não bastasse um histórico de ter muitos mais animais - que o alimentaria de esperanças. mas os donos da casa, muito embora não o quisessem, de certa forma o fizeram. comidinha aqui, água ali, zezinho foi tomando conta.

tomando conta fiquei eu. um mucolin pediátrico para os brônquios e seus mucos, um antibiótico que se faz necessário porque a coriza anda renitente, uma pacote de whyskas que confirmou que sim, ele já teve casa, e já comeu ração, tamanha excitação só de ver a embalagem.

zezinho foi conquistando espaço na casa e já na minha vida, sendo a sua maior conquista a permissão, que não foi logicamente dada por mim, de subir e refestelar-se no sofá. não fosse o clima, já teria lhe dado um banho, o que não o impede de roçar-me a barba - finalmente alguém que gostou da minha barba - o que descobri após um cochilo no tal sofá, devidamente acompanhado por zezinho que deitado sobre o meu peito, ninou-me com seu ronronado para depois acordar-me aos quase beijos. e assim, firmou-se um ritual, que já completa mais de uma semana.

mas toda história tem um fim. e o fim para o zezinho, será ficar sem mim. e sem a casa, já que os donos também vão partir para outra e mesmo sendo mais ampla não contemplam a possibilidade de vê-la com mais um morador. nestes dias de procura e espera, zezinho tem me acompanhado, contrariando a falsa noção de que os gatos são " interesseiros" e que só nos procuram na hora da alimentação. zezinho é um cão de guarda fiel. interessa-lhe estar junto e vejo nos seus olhos que nada mais espera do que a companhia do que sabe ele faz-lhe bem. e nos fazemos bem um para o outro como só nossos olhos e nosso peito sabe avaliar.

a não mais de uma semana de partir, hesito agora em deixar-lhe subir o peito e aproveitar este convívio o mais que possa. ao tempo que fico entre as duas crueldades; decepar agora a nossa relação, antecipando-lhe, e a mim, o vazio, pra lá de existencial, que sabe-se lá como será preenchido ou envolver-me o mais profundamente nestes "últimos dias de pompéia " , talvez como se fossemos thelma e louise até o buraco final ?

ontem estive numa livraria e não achei o antoine. e lembrei-me do meu sorriso debochado a desdenhar de mim próprio.

sendo uma história de aviador, eu não consigo, mesmo no fundo sabendo que posso, terminá-la achando um lugar para zezinho no meu avião. o que me recorda das muitas vezes em que intrigado já vi gatos olhando para o céu a procura do ronco daqueles pássaros que tenho dúvidas se não sabem eles levam gentes sem nada na mão.

Thursday, April 06, 2006

dúvidas que valem uma vida

expresso com ou sem leite ?
capuccino com ou sem creme ?
ice cream soda ou milk-shake ?
pitomba ou ingá ?
homo ou hetero ?
sunga ou samba canção ?
com peito ou sem peito ?
raspada ou peluda ?
sem bunda ou bunduda ?
únicos ou gêmeos ?
original ou genérico ?
similar ou pirata ?
a domício ou em domicílio ?
com crase ou sem crase ?
com s ou ç
com garfo ou com a mão ?
com molho ou sem molho ?
com vontade ou dor de cabeça ?
4 x4 ou 4 x2 ?
conversível ou descapotável ?
com piada ou sem piada ?
com bastão ou bastonetes ?
com cera ou com cotonetes ?
com excesso ou com falta ?
com deus ou com deuses ?
com pedro ou com medo ?


triste desíginio de uma espécie cuja singularidade decorre justamente da não assunção- pública - das suas eternas pluralidades.

Wednesday, April 05, 2006

a existência enquanto essência à não desistência

sabe quando você imagina-se super-homem, que nada vai acontecer com você, apesar do que aconteceu com o próprio ?
bom, cada qual, imagino, tem o seu limite e a sua maneira.
a noção de sinapses sempre bandeou a minha. é no preenchimento das sinapses da tua existência que você se conhece ou se desconhece por inteiro. nada de te avaliar quando as coisas vão extremente boas, e nem pense em fazer isso quando tudo está mal ou muito mal
mas há um momento, uma fímbria, um hiato, a tal sinapse, em que os segundos são séculos e os séculos nano-segundos.
aí, se você não perder as estribeiras, monta o alazão e sente-se poderoso até para enfrentar a vida de igual para a igual, porque enfrentar a morte, é o que você operisticamente a cada célula perdida e renovada , você já faz. sabedor que, por maior que sejam as glórias de suas batalhas, afinal guerra perdida antes mesmo de você nascer.
a felicidade - e as discussões sobre o que é e como vem a ser e a sua duração - costumam embotar demais a vida. as infelicidades se traduzidas pela sinapses, trazem de outras formas a agudeza e o clarão do raio que nos divide a testa pelo meio. um tipo de sinapse que só os loucamente lúcidos conseguem apreender e sendo assim antever a queda do tal raio do momento para enfiar-lhes na pelve túnica de sua existência. e têem aí um vagalume aprisionado que será solto e indicará o caminho quando você estiver o mais perdido.
o vagalume eu o vejo, de tempos em tempos, quando não estou ofuscado pela falsa claridade das coisas. há quem chame isso de intuição. interagir com ela já é outra coisa. no escuro, percebo, tudo é mais tão fácil. a menor particula, um peido neon do vagalume, e tudo abre-se como um cine 180 graus. mas viver no escuro toda uma vida ninguém aguenta. é ser espectro do que poderia. na claridade, você julga ver mais, mas é apenas o que não passa de visão dobrada.
sobram as sinapses, cuja duração nenhum humano ainda parece ter elevado para além delas próprias. séculos de nano-segundos cujo colar de perólas partidas não conseguimos serquer ver, quanto mais reaver.
sinapses, não confundir com aquilo que se acordou chamar visão de deus. mas aquela hora em que você descobre que é infinito justamente por ser finito. imortal porque não passa de mortal, o que já me prova o encontro dedo mindinho do pé com a quina da geladeira(tá bom, refigerador).
quer saber? acho que tomei vinho vagabundo demais e acabei por afogar as minhas sinapses por hoje. mas não é todo dia que você fica de pileque de mãos dadas com suas sinapses ou vai dizer que não ?
de volta a realidade vou tratar agora de enxugar o meu vaga lume. estaria ele ainda vivo ? ou acender-se-à novamente ? é tão frágil o farol do vaga lume, assim como o das nossa existência ?

Tuesday, April 04, 2006

boiler

crianças dever ser tratadas, sempre, com ternura. mas sem fervura. mesmo quando o sangue ferve.

educação sentimental ou quase parricida

crime hediondo. não há outra classificação a ser dada para o que pais fazem com os filhos. em todas as épocas, por todos os cornos, em todos os regimes.
chimpanzés, gorilas, leoas, girafas, cavalos marinho, crocodilos, periquitos, cadelas e até mamãe ursa - que ao seis meses incentiva os filhos a subir em árvores bem altas para depois sumir para sempre - tem uma noção imensamente mais harmônica do que seja a importância da primeira infância para seus filhotes.
já a espécie humana é um estorvo nos dois papéis.

metodologia palmar

de amor não dói, dizem sempre os que nos palmadeiam com esmero. eu, que aprendi taboada às custas do incentivo pedagógico denominado de palmatória, artesanalmente preparado com carinho para seu fito educacional, inclusive com um pequeno furo no meio, que sempre me intrigou, mas que suponho seja para resfriar a madeira, tenho de confessar que o método funciona sim, ativando à estaladas até hoje a minha memória. mas julgo ser pouco recomendável para pessoas de fino trato. seu uso pode estragar-lhe as unhas. já para as mamães de baixa renda, pra que bater nos meninos para eles aprenderem taboada? eles vão largar mesmo a escola. espertos não sejam para fazer contas a vida no que levam por fora. a cobrança multiplica e já vem com noves fora.

ateu para sempre

pelo amor de deus não me bate mais não,

Monday, April 03, 2006

inversamente proporcional ou quase trigonometria

pra todos os efeitos, o brasil é um país regido por duas curvas. a das barrigas e a das bundas. todas as demais, incluso crescimento, endividamento, corrupção e desenvolvimento, se resumem a elas. vivemos, não a olhar o próprio umbigo, mas sempre o dos outros. ainda que muita gente confunda umbigo com cu. resta o consolo de que podia ser pior. muito pior. na verdade vivemos a meio pau. e isto serve para todos os mastros, por mais que dêem bandeira que não.

sex shop

no brasil sexo tornou-se um lugar comum. todo mundo diz que é bom de cama. do baile funk ao pagode rasteiro. todo mundo mexe a bunda e balança a pança. mas na hora do vamos ver é tanta ejaculação precoce, é tanto papai com mamãe, é tanta violentação por excesso e falta de discurso; e por mudez e por consentimento de interesses, que gozar no brasil chega a ser uma grande gozação sem gozo nenhum pelo menos para uma das partes. e haja estereótipo do negão de pau grande a mulata de bunda descomunal, do baile funk a punheta visual do desfile da escola de samba. mas e ai? o que somos realmente? uma eterna punhetação de fantasias? um eterno baile de gala gay ? ou a nossa dura realidade é a das ondas de assédio sexual diárias no roça roça dos transportes coletivos, dos encontrões na hora do café, ou do ou dá ou desce extensivo as domésticas e secretárias sexuais ou dos executivos que sonham ser enrabados por travestis não emasculados.
o sexo no brasil ou é a violência do estupro, quase sempre seguido de morte, ou a dormência do casamento por interesses ou é a hiprocrisia da negação dos prazeres, da auto-violentação do celibatarismo ateu.
o prazer de foder no brasil anda meio pelo fodido, pois não ?
ninguem esporra na cara de ninguëm por prazer, só por opressão ?
e como sempre as mulheres engolem tudo a seco.

anos 50

bons tempos em que os meninos batiam punheta até para ilustração de catecismo e as meninas ficavam molhadas até quando lhe punham óstias na boca.

Sunday, April 02, 2006

a terceira vez, pode ser ?

sempre me perguntei: é mais difícil para quem ? para aquele que fica ou para aquele que parte? a ilusão do movimento parte-se também. mas nos dá a sinestesia do movimento. vivo isto neste momento.

terceira vez em florianópolis. a cidade mudou muito. continua bela ou mais bela. mas também mais besta. enburguesou-se de vez(até osburgueses constatam isso). e se o cazuza estiver certo, perderá a poesia em breve, se é que não já perdeu.

a especulação imobiliária sobre os morros e chega as alturas. falta o oxigênio da grana. meus amigos, sim eu tenho amigos, de florianópolis, brincam as gargalhadas quando escutam a pergunta do big brother: o que você faria se ganhasse um milhão de reais? comprava uma casa a beira da lagoa da conceição, mas já começava devendo o condomínio. a realidade é esta. de aõs e ões a vida simples que sugere a geografia vai se incrustando das ostentações que elevam para o plano do impossível gozar como se deve a ilha dos outrora pescadores manezinhos.

desta vez vim bem recomendado por alguém que já estava dentro da agência e com quem seria mais do que um prazer trabalhar. boa entrevista, simpatias de parte-a-parte, tudo teoricamente acertado. mais, escaldado, escaldei: deixe-me a preorrogativa de duas semanas de observação. se tiver de ser, apresento-lhe um plano de ação e começamos pra valer. exultou o meu empregador: — você tem é o perfil pra ser diretor geral.

ao fim da primeira semana, já tinha visto que não ia dar. muita emoção fora do pote, portanto, estrutura ainda não amadurecida emocionalmente para que eu desse o input que, é sempre assim, havia sido pedido: " precisamos mudar!".

já há algum tempo as coisas não mudam em propaganda, eu é que venho mudando pra cacete, de lugar, e pagando alto preço por isso, pois a leitura é a de que você é sempre um sujeito difícil. mas logo eu, que só quero fazer bem feito de de maneira transparente e organizada. por acaso isto é idealismo ou profissionalismo ?

finda a segunda semana, sob protestos, decidi que ainda não seria desta vez. mesmo meus amigos, acham que tomei a decisão errada. que o mundo anda assim mesmo, que o negócio é dar de ombros, engolir alguns sapos e ir tratando da vida, até mesmo para cair fora da propaganda, montando um negócio, apesar do meu negócio ser a propaganda.

acontece, que ocupando um cargo de diretor, tenho uma máxima: diretor dirige, não é dirigido. portanto, ou mando ou desando. acomodar-me ? não casa muito com a minha cara, por maiores que sejam as necessidades de sobrevivência.

e cá estou eu. ilhado, na ilha. não sou suficientemente bom para choverem propostas, ainda mais mercado pequeno. talvez esteja sendo auto-indulgente, não sou suficientemente ruim para poder ser absorvido como objeto de canto. a vida pelo meio é trombuda, melhor pelas pontas devo concluir.

o mais engraçado, se engraçado fosse, é que quanto mais o calo aperta, mais a vontade de caminhar e ser o que sou continua.

se isto não for pura teimosia deve ter alguma coisa de caráter nesta marcha. o chato é que as vezes dá a impressão de que eu sou o que sou sozinho.

e isto só me leva a caminhar ainda mais. se não encontrarei outros que assim o façam, e portanto o meu lugar, encontrarei-me a mim mesmo. nenhum homem é uma ilha ou nenhuma ilha aprisiona um homem, se ele assim o quiser.

afora isto, o que fazer com um milhão de reais ? comprar casa na beira da lagoa é que não o faria, digo contanto os meus tostões. e lá vamos nós a procura de outros paraísos que não sejam assim tão artificiais.

Saturday, April 01, 2006

hum, é pouco. dois não foi bom, três é demais ?

primeira vez em floripa, floripa não era assim tão floripa. era florianópolis. publicitário ainda não muito famoso fez-me o convite para substituí-lo. tava se mandando daqui para o mundo e de vez em quando penso se ele, ainda que inconscientemente, estava mesmo é querendo me sacanear. de leve.

mas confesso que gostei. principalmente da minha visão da ponte brooklin. cheguei a caminhar por ela, meio cagão, vento e altura não me caem muito bem, a uma quadra que estava da agência. lembrei-me da hercílio quando caminhava no própria, na do brooklin, num tempo onde ainda haviam as torres gêmeas, e o mundo de ficção ainda não havia ser tornado realidade.

mas a experiência não foi boa, apesar, das três, a que deixou melhor saldo de trabalhos. em plena época de eleição, parceria com um jornal local nos garantia anúncio de página com variações em torno do mesmo tema, voto e democracia, assim conceituados: "Este anúncio tem este título que é para você lembrar que hoje é uma data muito importante." e tome a foto de um título de eleitor, em várias formulações, ao longo da semana que antecedeu a eleição, dia inclusive, com uma assinatura que falava sobre a democracia e a agência que assinava o anúncio, aliás, quatro.

infelizmente a democracia não era digamos, assim tão praticada na agência. e seguimos adiante. idos de 91 e o primeiro bye-bye florianópolis.

a segunda, foi no ano passado. começou mal já nos contatos telefônicos, depois de um primeiro retumbante. muito rame-rame, depois de falar com o diretor de criação - eu viria substituí-lo porque ele precisava dedicar-se a uma campanha política - me colocaram ao telefone com um cara do atendimento, também sócio. ih! foi mal. mas eu vim mesmo assim. talvez tenham ficado ressabiados com aquilo que adjetivaram de elocubrações, na verdade uma apresentação das minhas convicções e modus operandi. exagerei?

cheguei e ninguém no aeroporto para me receber, o que confirmava minhas suspeitas. se começa assim, assim-assim, isso não vai acabar bem. dirijo-me a tal agência e o feeling não é legal. tá certo que só quem ganhou dinheiro com feelling foi o morris albert, mesmo perdendo o processo de plágio, decadas depois, mas de vez em quando funciona, aliás, durante muito tempo, eu pensei que esta frase era minha. mas aí começaram a dizer que era de outro publicitário hiperpoderosofamoso, de maneira que pensei, não vou lá eu levar um "processo de plágio" por obra minha.

well, depois que você é um chief creative executive officer, o mínimo que se espera, é que não venham fazer você de estagiário - aliás você foi chamado justamente porque tem obra feita - passando um job com teste, ora pois, pois. mas foi o que fizeram. era para uma universidade local. e ainda levei um mal briefing do tal cara do atendimento, daqueles que tem cara de quem serve cafezinho, o que é uma ofensa para o cara do café.

não me senti muito a vontade, mas entre muita falta de saco e vontade de desaparecer - o que fiz depois - fui ao computador enquanto providenciavam minha hospedagem - nem isso se tocaram, com o agravante que depois eu tive de pagar a hospedagem, fazendo um encontro de contas com uma passagem que solicitei fosse fragmentada com parada no rio, onde aproveitaria para dar um alô no mercado, quase vinte anos depois.

we are the champion, me pareceu um bom conceito. minha idéia seria "floranopolizá-la", com elementos locais, musicais inclusive, formando um mosaico de música e gente, numa veia emocional que, apesar de pouco criativa, tinha a certeza que funcionaria, como um diferencial para a tal universidade. o diretor de criação não se pronunciou, provavelmente estava reavaliando ter me chamado, principalmente, depois que lhe mostrei, propositadamente, um filme, gravado entre outros chinfrins, como mostra do que também fazia em mercados onde se faz" filme" com 1.500 reais(não ria, porque tem gente que faz, aqui e lá, com 150 reais, quando não dá de graça). o engraçado era que as sobras do meu portfólio - eu não tenho portfólio até hoje, o que é um handcap, davam um banho no da tal agência. mas o critério de cada um é o critério de cada um.

o tal atendimento, chumbou a idéia. achou muito comum, meio globo esporte, no que concordei com a ressalva que era justamente por aí. não fazer a versão pasteurizada pelo programa, tampouco a da " tia mercury ". se de uma coisa eu tinha convicção, era que este filme faria ferida e a trilha grudaria nos ouvidos, se renuníssimos em torno do bordão, o sentimento e símbolos catarinos, exernados na vibração de quem entra, cursa e saí de uma universidade. a esta altura, segundo dia, eu ja estava de malas arrumadas. ouvi, pacientemente, aquelas cagações de regra, e de novo, me senti como estagiário. e já que era, assim, o que estava fazedo alí. o trato era ficar por três dias, para sentir o ambiente, e eles a mim, e só então decididir se sim ou se não. eu já estava decidido. bye-bye floripa. fim do segundo estágio.

a terceira vez, estou vivendo-a agora. mas já tenho histórias para contar. histórias para domingo e não para sábados que sejam primeiro de abril.