Wednesday, April 12, 2006

jet leg ou friederstadt

rua do rio, cruz das armas. aluguel de bicicleta ou passeio a cavalo? desce-se em sentido perpendicular ao contrário da avenida e cavalgando podemos ir até o conde. mas tenho medo. sou tão pequeno que a pica do cavalo ainda é maior que eu. imagine montado lá em cima? vou nada. ruas de valas e buracos, fruteiras a perder de vista. chão de terra batido, cachorrada correndo atrás. primeiras férias sozinho. lembranças fortes de frio e calor. calor do colo das filhas de amigos dos meus pais, frio dos incontáveis picolés de fabricação caseira, chupados sem medo de dor de barriga. mas uma dor de barriga fina sentindo o calor dos colos das meninas. ainda não ejaculava. mas quase perdi a cabeça de tanto calor. pensava até que meus cabelos iriam cair aos chumaços. de quebra ainda havia o clube, próximo a igreja, sim de cruz das armas, onde dançamos e uma gota de suor caida da nuca de giselda quase me provocaria lágrimas. anos 60. joão pessoa era um novo mundo por descobrir. e eu ainda pra fazer xixi baixava o short. não tinha calças com braguilha.


do bessa ao final do cabo branco. éramos senhores do mar. crescera. já tinha pentelhos em tufos. quase gabeira, sunga mas sem crochê. ao olhos de todos vagabundos. suspeitos de fumar maconha. e caminhar de uma ponta a outra com sorrisos e alegria que rechavam o sol das nossas peles.protetor solar ? passa coca-cola. corpos desnudos, banho sem roupa no bessa à bessa. havia problema não. desabitado. intermares era fronteira sem dono. e cabedelo a rivalizar com os puteiros muito famosos do centro"antigo". centenas de garrafas de vinho branco pacientemente arrumadas, prova da nossa superioridade inelectual, nem vou falar das músicas, acompanhadas de muito peixe cozido e bifes de carne de baleia que ainda podiam ser comprados no mercado de tambáu. eu nem pensava em ser vegetariano. mas já era jornalista. já queria comer a garota magrinha que diziam ser neta de bispo e que andava com a vagabundagem mas dava mesmo para um gente fina frequentador do ellite(sim havia o elite, a referência da orla) que tinha um mp lafer. anos 70. anos depois eu compraria um mp lafer. mas já não se comia carne de baleia. no entanto, o quem me quer, calcadão de manaíra, multidão supercolorida de desejos, vaidades e imbecilidades. não mudaria por nenhum dos anos vindouros, a não ser pela inclusão das meninas de programa que buscaram a igualdade. afinal, puta por puta, sai mais barato, putas burguêsas não passam na prova das informalidades.

manaíra desponta. a quadra é o centímetro quadrado das melhores bundas de joão pessoa, disputando com o pedaço em frente ao lado do iate clube. claro tinha a temporada de veraneio no bessa. mas campinenses não estavam previstas no cardápio. resistira uma década. continuava senhor do mar. agora cavaleiro de passeios noturnos de bicileta ao seixas e cercanias. pra depois descer a ladeira sem mãos no guidão, de olhos fechados, e muito gosto de caju na boca. olhos abertos só para o espetáculo da lua cheia enorme avançando sobre nossas cabeças nas esquinas do farol do cabo branco findadávamos com invasão aos lugares ditos burgueses. daqueles cabeludos, e eu era o mais cabeludo em particular, só perdendo em chamar a atenção para aquela menina que teimava em usar as axilas não raspada, criando seu black-power fora do lugar. chegada na praia as 5.30,saída, como saída? as 20 ainda estávamos lá e tudo girava em torno da praia, manaira forever, agora com banhos a meia-noite para curar ressaca. continuava jornalista, trabalhando aos domingos, dia de praia para amadores, para poder na segunda ter o domínio completo da areia,dos sargaços, das caravelas, com o prazer adjunto de saber que todo mundo estava trabalhando enquanto eu podia livremente coçar os culhões sem maiores chateações. anos 80 e as festas rolavam soltas, do jacaré a baía formosa. o resto do mundo podia se fuder que eu não estava nem aí, apesar de todo o meu engajamento nas questões de alagamar que me valeram o ódio da classe dominante, inclusive a própria jornalística.

até aqui quase paraibano. não havia isso tão forte de ser paraíba como escracho, nem paraibão como sinônimo de rádio grande colado no pescoço de imigrante. especulação imobiliária. manaíra começa a ficar cheia de merda, em matéria de mulher também. começo a ficar senhor, e não mais senhor da praia. como se constrói nessa cidade que não tem tostões nem para pagar as marmitas quanto mais moradia. mas ninguém perde a pose. chic agora é comer tapioca até de chocolate com banana, charque, goiabada, qualquer dia. de caviar falsificado. ovas de algum peixe chinfrim. imagine os peidos. ainda volto por outras razões. não mais as peladas junto do hotel tambaú, totem de prosperidade que quedou-se jogador único de merda na praia a rivalizar com boa parte das novas construções. e que agora nem é mais tão bonito visto de cima. ainda assim um point de velhas amizades, antigas tesões, que não resistiram ao celulite e estrias, observo murchando a barriga, e disfarçando com um infalível se não tivesses casado ainda davas um caldo de cana. risinhos, todos murchamos a barriga, algumas ainda ajeitam o biquini enfiado no rabo, colocando-se numa posição que os arrebita e mostra os pudins de rabos brancos, alguns tão curtos que quase se vê a ameixa. não dá nem mais pra ficar de pau duro porque súbito um arrastão de gêmeos a gritar tio compra, compra, nem sei mais o que, me traz de volta a areia. anos 90 e as coisas estão mas já não são mais como antigamente. quem comeu comeu, quem não comeu não come mais. penso contrariado, mas também contrariando a norma. a ponta mais oriental do brasil, do continente, deixa de ser paraibana - não estou referindo-me a mim - bradam os potiguares fitas métricas à mão, o seixas erodido continua fudido. penso na minha erosão de antão. e murcho ainda mais a barriga.

anos 100, anos zero, o tempo tem lógica circular apenas para ser contado. século XXI, pra não deixar dúvidas. joão pesso jjá esta acometida do mal de quem começa a ganhar todos os defeitos de cidade grande e a perder a maioria dos encantos de cidade pequena. ainda assim penso nela. o jornalista willian costa, no norte, ontem, escreve sobre a vergonha de morar numa cidade capital cujo nome é joão pessoa. nome que não reedita passado que valha a pena. para quem já foi filipéia de nossa senhora das neves, até não soa tão mal, muito embora concorde que cabo branco seria bem melhor. vinte anos de dominação holandesa não marcaram o friederstadt como ja se chamou a capital. em florianópolis, cidade irônicamente também tão bela, findou-se chamada assim, após também passar por outros nomes, para homegear floriano peixoto, o pensamento de alguns também é igual. tá certo que um bom nome ajuda, principalmente nestes tempos de marketing turístico e de aparências cada vez mais desiguais. mas para mim uma cidade é como alguém que amamamos independentemente de se chamar astrogilda. seja lá que nome tenha ou vier a ter.

eu amo joão pessoa. e disso tenho certeza, apesar de soar-lhe filho bastardo, não seria eu que iria não lho dizer.

4 comments:

Anonymous said...

celso muniz, devo explicar? você sabe que o espírito santo é o pombo, que pelo menos seria polilíngue perto do humano jesus. dizia mamãe que jesus falava um dialeto hebraico misturado com aramaico. procede?

e quanto ao que convencionou-se chamar leitor, considere-me a mais convencional de todas. dessas de raciocínio lento, fadada a retomar parágrafos inteiros, e com uma pinta de astigmatismo de quebra. ram.
:P

celso muniz said...

bem, não sou exegeta, nem pombalino. apesar de andar a defender os pombos da alcunha de " ratos do ar ", no que estariam mais para espírito de porco.
pensei mais na lingua do P, aquela que as meninas, nem sempre tão bonitinhas, costumam falar coisas para nos deixar atordoados com tal velocidade com que usavam a tal língua.

Anonymous said...

que coisa mais bonita.

imagino que a áurea de cidade grande (intragável até hoje por algumas pessoas que conheci) tenha mesmo ofuscado algumas das belezas da cidade. há um desejo de que tudo seja moderno e caro e suntuoso. o shopping que vende coisas de fabricação paraibana e o manaíra shopping com suas lojas da diesel não estão tão longes um do outro no quesito preço. e a ostentação das pessoas chegou a um ponto que até os assaltantes (ostentosos de seu porte físico) assaltam sem armas qualquer pessoa nos pontos de ônibus das redondezas de manaíra e mangabeira.

Anonymous said...

e quanto às praias urbanas de hoje, os barzinhos da orla e suas músicas de forró paraense impregnaram os ares. de cabo branco à tambaú, à manaíra. a diversão do pessoal daqui tem sido ir curtir em recife. triste.