Sunday, April 02, 2006

a terceira vez, pode ser ?

sempre me perguntei: é mais difícil para quem ? para aquele que fica ou para aquele que parte? a ilusão do movimento parte-se também. mas nos dá a sinestesia do movimento. vivo isto neste momento.

terceira vez em florianópolis. a cidade mudou muito. continua bela ou mais bela. mas também mais besta. enburguesou-se de vez(até osburgueses constatam isso). e se o cazuza estiver certo, perderá a poesia em breve, se é que não já perdeu.

a especulação imobiliária sobre os morros e chega as alturas. falta o oxigênio da grana. meus amigos, sim eu tenho amigos, de florianópolis, brincam as gargalhadas quando escutam a pergunta do big brother: o que você faria se ganhasse um milhão de reais? comprava uma casa a beira da lagoa da conceição, mas já começava devendo o condomínio. a realidade é esta. de aõs e ões a vida simples que sugere a geografia vai se incrustando das ostentações que elevam para o plano do impossível gozar como se deve a ilha dos outrora pescadores manezinhos.

desta vez vim bem recomendado por alguém que já estava dentro da agência e com quem seria mais do que um prazer trabalhar. boa entrevista, simpatias de parte-a-parte, tudo teoricamente acertado. mais, escaldado, escaldei: deixe-me a preorrogativa de duas semanas de observação. se tiver de ser, apresento-lhe um plano de ação e começamos pra valer. exultou o meu empregador: — você tem é o perfil pra ser diretor geral.

ao fim da primeira semana, já tinha visto que não ia dar. muita emoção fora do pote, portanto, estrutura ainda não amadurecida emocionalmente para que eu desse o input que, é sempre assim, havia sido pedido: " precisamos mudar!".

já há algum tempo as coisas não mudam em propaganda, eu é que venho mudando pra cacete, de lugar, e pagando alto preço por isso, pois a leitura é a de que você é sempre um sujeito difícil. mas logo eu, que só quero fazer bem feito de de maneira transparente e organizada. por acaso isto é idealismo ou profissionalismo ?

finda a segunda semana, sob protestos, decidi que ainda não seria desta vez. mesmo meus amigos, acham que tomei a decisão errada. que o mundo anda assim mesmo, que o negócio é dar de ombros, engolir alguns sapos e ir tratando da vida, até mesmo para cair fora da propaganda, montando um negócio, apesar do meu negócio ser a propaganda.

acontece, que ocupando um cargo de diretor, tenho uma máxima: diretor dirige, não é dirigido. portanto, ou mando ou desando. acomodar-me ? não casa muito com a minha cara, por maiores que sejam as necessidades de sobrevivência.

e cá estou eu. ilhado, na ilha. não sou suficientemente bom para choverem propostas, ainda mais mercado pequeno. talvez esteja sendo auto-indulgente, não sou suficientemente ruim para poder ser absorvido como objeto de canto. a vida pelo meio é trombuda, melhor pelas pontas devo concluir.

o mais engraçado, se engraçado fosse, é que quanto mais o calo aperta, mais a vontade de caminhar e ser o que sou continua.

se isto não for pura teimosia deve ter alguma coisa de caráter nesta marcha. o chato é que as vezes dá a impressão de que eu sou o que sou sozinho.

e isto só me leva a caminhar ainda mais. se não encontrarei outros que assim o façam, e portanto o meu lugar, encontrarei-me a mim mesmo. nenhum homem é uma ilha ou nenhuma ilha aprisiona um homem, se ele assim o quiser.

afora isto, o que fazer com um milhão de reais ? comprar casa na beira da lagoa é que não o faria, digo contanto os meus tostões. e lá vamos nós a procura de outros paraísos que não sejam assim tão artificiais.

2 comments:

Anonymous said...

a li aqui deseja boa sorte.

não é fácil achar paraísos naturais quando as pessoas estão irremediavelmente artificiais. de vez em quando faço a mesma pergunta de fernando pessoa - ainda há gente no mundo?

tomara que hajamos.

Alex Camilo said...

Pois é, meu velho, chega um tempo que curvar-se começa a dar, no mínimo, uma puta dor nas costas. Por isso o melhor é sempre manter-se ereto ou então aguentar um ardência que não tem banho de asseio no hipoglos que resolva. E nós sabemos, voismecê é daqueles poucos que sabem apanhar o sabonete que caiu usando a embaixada.

Um abraço,