Wednesday, December 31, 2008

bipolar

o feliz ano novo está cada vez mais e mais e mais, velho. mas a gente insiste em tratá-lo como criança. coisas da terceira idade?
Now playing: stevie ray vaughan - life by the drop via FoxyTunes

Tuesday, December 30, 2008

descomplicadora ou complicando ainda mais

passei a vida almejando ser simples; mas como compliquei, já que fato é, o ser simples é pra lá de complicado.

e é isso que nos mata, quando não enterra antes, vez que quando a vida complica-se por demais, dá-se a morte que a tudo simplifica. menos a morte em vida, coisa bastante complicada pra se explicar assim de forma simplificada que não é bem o contrário de morte morrida.

mas independentemente desta, não vá ficar aí pensando que morrer é simples, nem que viver é complicado. tente viver(e morrer) sem se complicar, mesmo se a coisa estiver complicada. facilite, mas mas não entregue de bandeja. cuide-se pois, para não ser simples demais ou seja: não se quede um "simplesinho" que pior, nem sendo simplório.

quando o simples torna-se um complicador em vez de simplificador pode-se dizer com certeza que você está simplesmente complicando quando no máximo deveria estar sendo complicadamente simples.

Now playing: Van Morrison - Keep it Simple via FoxyTunes

Saturday, December 27, 2008

reveillon de mim mesmo ou good-bye stranger

de tempos em tempos deveria ser obrigatório: separar-mo-nos de nós mesmos por um tempo. nada de visitas ao espelho. nada de referências amigáveis, ou não, que nos possibilitam ir acompanhando o trabalho do tempo em nossos rostos, em nossos corpos. em nossos sinais particulares de existência, para além do conto da carochinha de que há gente para qual o tempo não passa.

aparências, longe delas por um tempo, teríamos, enfim, um encontro com a verdade que começa a granular-se a partir dos quarenta para alguns, outros mais cedo do que tarde, mas nunca, nunca.

após este período, digamos sabático, de nós mesmos com a nossa imagem, teríamos sim, um quadro de como realmente estamos bem diferente daquele(s) a quem vamos nos acostumando no dia-à-dia do espelho, que dilui mui lentamente a imagem com a qual convenciona-se que gostaríamos de ser lembrados na maioria dos casos.

e ai, entenderíamos, a verdade - ou a falsidade - de quem não nos vê há muito tempo, e de seu tamanho espanto, que logo tentam consertar com disfarce que não cabe no tamanho do susto, ante o que o tempo fez do rosto que pensamos existir, e que de há muito não está mais ali, enganados que somos pelo espelho que nos dilui aos pouquinhos, como ele mesmo ao sofrer ação dos respingos da pasta de dentes, cuja abrasiva espuma também colabora com o sorriso que sequer imaginamos rí de nós o tempo inteiro ao tempo que nos derrete a moldura.

de volta deste tempo, tomaríamos o mesmo susto - que entre tantos há de ser nalgum se soslaio positivo como sinal dos tempos - que tomam aqueles que não nos vêem há muito e que que teatralizam variações repetidas pelo tempo como o " nossa como você está bem; o tempo para você não passa", enquanto dizem para elas próprias à boca chiusa ou mais tarde em conversas pra fora do tempo - minha nossa como ele, ou ela, está acabado, ou sibilam sorrisos de quase vingaça "pensou que ia ser jovem a vida inteira? ", confissões que muito provavelmente você trocará consigo mesmo reproduzindo as mesmas reações em cadeia.

quanto a mim, desapareço e volto de tempos em tempos. e a cada vez sou outro no espelho, bem diferente do bem acabado que ironicamente julgava ser, esquecendo a ironia agulhada da expressão bem acabado.

depois de tantas idas e vindas, em tempos desencontrados marcados por pausas síncopadas, um rosto em mutação me diz que o importante mesmo não é estar mal ou bem: e sim não estar acabado. o resto vai se compondo. mesmo quando se decompôe em partes ou no todo de um rosto que imaginamos conhecer ou desconhecer, tal como a imagem superficial que o associa em contabilidade adulterada de rugas e pés de galinha contabilizadas em perdas ou ganhos a depender das contas apropriadas.

dando um tempo descobre-se que este rosto desaparece quando se constata que o tempo apenas nos emprestou, talvez até mesmo por engano, disponibilizando-nos imagem que não é, nem nunca foi, nossa, apenas para tomá-la de volta, quando mais nos apegamos a ela que se vai sem sequer nos dar direito a um goodbye acalentado.

Now playing: américa - goodbye via FoxyTunes

Tuesday, December 23, 2008

brasileirinhas

que o brasil é, decididamente, uma pais bunda, é óbvio abundante. mas e o brasileiro? não passa sequer de um povinho cu?
Now playing: erasmo carlos - aquarela do brasil

Monday, December 22, 2008

ia abadá, abadá sifú

no brasil, à rigor, nada é preto no branco. tudo é fantasia; barata, haja vista o preço do ultraje.
e por falar nisto garçom, o que é que esta mosca faz na pedra de gelo do meu uísque que de sopa não tem nada?
Now playing: xutos&pontapés - estupidez via FoxyTunes

zé sozinho ou álibi para ser do jeito que sou

infância sem patins, patinete ou pebolim.
agora querem me incluir na turma da peteca da praia do poço.
puta que o pariu! que eu vou.
phodam-se!

Now playing: Carlos Dafé - Zé Sozinho via FoxyTunes

Thursday, December 18, 2008

" eu pensei que todo mundo fosse filho de papai-noel"

por toda a parte, a sensibilidade do natal pipoca como se uma data pudesse resolver os problemas do calendário humano. preocupações, as mais dignificantes, principalmente com os pedidos das criancinhas com suas intermináveis listas de presentes, necessários ou não, como o é necessário o quilo de farinha para a boca que não tem feijão.

mas e as criancinhas que nem mais voz tem? alguém se preocupa com seu silêncio nestes tempos de badalos e sinos que não ecoam em suas respirações ?

Now playing: the mahotella queens - ma , africa via FoxyTunes

Friday, December 12, 2008

instrumento de tortura

toda flauta doce tem um gosto amargo.

quem recebeu o instrumento da tia ou da mamãe-vovó, devidamente acompanhado do método para a educação sabida musical sabe o azinhavre na boca. uns, de tanto, perdeu o bico até para assobio, para não dizer as asas para a música.

Now playing: Lulu Santos - ninguém merece via FoxyTunes

Monday, December 08, 2008

apagão geral

dizem que o natal é sobretudo uma festa de luz interior, o tal espírito de natal.
mas a julgar pelo número sem-fim de luzeszinhas (e viva o made in china) e luzeszonas(nas árvores dos shoppings, principalmente) a humanidade anda pra lá de apagada.
no peito, sequer uma luzinha cu de vaga-lume que seja.

Now playing: boozoo bajou - night over manaus via FoxyTunes

Thursday, December 04, 2008

adônis

já fui bonito um dia e não me dava conta disto. quando dei, já era, feio.

Now playing: bixo da seda - é como teria que ser via FoxyTunes

Wednesday, December 03, 2008

filosofia de para-choque

de que vale vencer sem paixão? lutas inglórias são mais apaixonantes. agora, onde coloco isto: no traseiro ou dianteiro?
p.s. não vale para para-choques de caminhões caixa-forte.

Now playing: Pata de Elefante - Sooopraaa!!! via FoxyTunes

Wednesday, November 26, 2008

sem pádedeus

se chegou onde chegou e não tem escolha ou você está sozinho ou está solo: sapateie. mas não chore. chorar só vai estragar sua fantasia.

Now playing: Jarabe De Palo - Cry (If You Don't Mind) via FoxyTunes

Monday, November 24, 2008

vôo de ícaro

encontro a pomba ao cair da noite trêmula junto a um portão que lhe é falso abrigo. tem uma das asas machucadas e quase não oferece resistência quando lhe pego. no chão, que não é seu território, será presa fácil de gatos, cachorros e sabe-se lá de alguém que não terá o que jantar.

tenho-lhe imensa pena e não penso nem um pouco que os pombos são os "ratos do ar", com suas pulgas e três ou quatro possibilidades de transmissão de doenças que podem matar um homem. mas não posso ajudá-la, pois não tenho mesmo como abrigá-la numa casa já ocupada por cães e gatos as pencas.

é claro que num esforço além do que posso fazer agora, poderia levá-la e ver o que conseguiria fazer pela sua asa que não sei se abocanhada. mas de certa maneira também não posso me permitir a este voo. coloco-a então sobre um muro alto de parapeito e plantas que podem servir-lhe de abrigo, em noite que ameaça chuva e de onde se cair, agora ou pela manhã, não sei o que acontecerá.

e saio voando, ou melhor, mancando dali.

Now playing: The Black Crowes - Oh Josephine via FoxyTunes

Friday, November 21, 2008

de uma tragada só

- filho da puta profissional ou amador? indagou o incubido sem paciência.
- ahn? titubeou o farsante, medo vazando os olhos. o desentendido decifrando a mensagem. bilhete final chapado com o suor de cuspe na testa.
- amador. afinal deu-se por concluir. profissional não se engasga com caroço quanto mais sem. e, tendo dito, disparou o teco bem no meio do cú do filha da puta, amador - a propósito: dizem que assim o atingido leva um tempão pra morrer e dói pra cacete. um sangrar preguiçoso em dueto com uma dor ácida que só piora a medida que o sangue se esvai. filho da puta a gente mata assim. não tem essa de dar teço na cabeça ou no coração, coisinha ridícula e asseada, rapidinha mais para perdão do que para fim de fatura. e na medida, não deixa de ser um ato de responsabilidade social: zero desperdício de balas, que chumbo é coisa ruim pra natureza.

então, é no cú. a merda peidando alto, mais que o balaço, meleiro do caralho, flash do fato mais parecido com fim de feira. mais preste atenção, se o filho da puta, alem de amador for bundão, a coisa não é fácil. portanto, se a via for essa, aprume o bicho e facilite a obra enterrando o cano até o tambor. mas num força, se não trava e ai nem queira imaginar a merda de outra cirscunstância. isto observado, não falha com método, metodicamente falando.
(continua)

esta história de matar é vicio. coça que nem cio. se começa, não para. não se mata por gosto que não seja outro de sangue. controlar? adianta jurar que bem que tentei ? digo até que de fumar até deixei. mas matar, ainda mais com a quantidade de filho da puta, profissional e amador, que anda por aí? não é fácil. deixar de fumar, a gente até que deixa. mas de matar-matar, a porca torce o rabo. não dá jeito. é da hora. o sujeito passa um tempo na moita, disfarça com outros prazeres, bebida, mulher, comida, tabaco, mais dia menos dia o dedo coça e aí o trabuco campeia. foi assim que na falta de coisa melhor matei um filho da puta, amador, o que é bem diferente de um filho da puta profissional, não por questão de status mais por questão de senso do dever aplicado.

mas era filho da puta, e isso é o que interessa no frigir dos ovos(deles).
mas sabem de uma coisa? buraco feito, bateu um vontade de fumar de matar. foi preciso muita força de vontade. segurou, apertado mas segurou. e não fumou. se agüentar mais duas destas, lampejou que tava curado - da falta de tabaco.

vicio filho da puta este de fumar. mais fácil matar filho da puta. e foi assim que comecei a tragar ao maços.

Now playing: John Forgety - Joy of my life via FoxyTunes

Friday, November 14, 2008

básico instinto ou isso que levas aí

gosto imenso da sensação de não ter destinos e ao mesmo tempo de saber que não há para onde correr.

a vida ali na frente, sem pedaços de escolha, apenas o bife do mal passado fomentando o molho da parte que virá.

e o que virá, virá. não se sabe se colo ou companhia ou apenas sombra de alguém pra cravar-lhe a lâmina que cerze a cicatriz. o corte da realidade é caco de sonho não conquistado. não sangra mais arde como nada igual.

nestas tardes em que o sono bate mais o calor o repele como mosca, presumo que o sono é apenas um todo, desmembrado. a vida não.

feita de pedaços contabilizados no todo. alguns são o todo que se torna maior que os pedaços outros. d´outros, apenas pedaços que nunca somarão metades.

assim, ando cada vez mais sozinho. e quanto mais sozinho mais acompanhado: do todo ou em partes eu me abasteço de mim mesmo. e torno-me um vivente cego para as lâminas deste ser vidente.

Now playing: Fito Paez - Eso que llevas ahí via FoxyTunes

Wednesday, November 12, 2008

daqui a cincoenta anos

- faz tempo não?
- nem tanto;
- ora se faz, nem me lembro quando foi a última vez?
- deve ser por isso então que pergunta?
- pergunta?
- faz tempo não?
- ah! isso é força de expressão. frase do tipo quem é vivo sempre aparece. na falta de coisa mais elaborada a gente solta o clichê.
- mas faz tempo não quer dizer que a gente desapareceu?
- não é bem assim. é apenas uma maneira, digamos resumida, de tentar saber o que a pessoa andou fazendo quando estava longe dos nossos olhos.
- quer dizer então que aquela estória de que o que os olhos não veem o coração não sente é falsa ?
- não sacrifica. eu estava só perguntando como você tem andado; e não por onde tem andado. em suma, se estava vivo, capice?
- ah! então tá bom. quando souber te respondo.

Now playing: allman brothers - in memory of elisabeth reed via FoxyTunes

Thursday, November 06, 2008

quase purê

“fé cega, faca amolada”, descasque esta: certas batalhas existem para serem travadas e não para serem vencidas.

é duro compreender isto. muito mais que perde-las. são derrotas ainda mais solitárias, porque desabonam o compreensível. ao perdedor que não fique de joelhos, um esgarçar de ironia, quase riso, que disfarça a trajetória do sal da lágrima perdida.

nesta batalhas, os vencedores fazem disto um alarde ao nível do carnaval. e o riso da vitória, fantasiosa ou não, é sustentado por números. e números são números. mas até para eles, perdedores são como noves fora.

com as máscaras de tal carnaval, o cordão dos puxa-saco cada vez engrossa mais, enquanto você não passa de porta-estandarte do bloco da solidão. quase suicídio é o sentimento. quase: eles só te matam se você quiser. caso contrario torna-te um incomodo sobrevivente a tal ponto que te chamarão de louco. eis a verdadeira face da lucidez. a cara borrada é a deles, não a tua.

de resto, cascas aos perdedores e aos vencedoras as batatas.

Now playing: I califfi - marshal jim 100 via FoxyTunes

Monday, November 03, 2008

um olho no humano outro no prato

um fundo de garrafa pet mal cortado. o suficiente para que seja improvisado um comedouro para que o gato sarnento de rua faça as refeições que lhe propus dar.

nada demais, eu sei. no espaço das calçadas fronteiriças sempre que saio ele está lá. vigiando cada vez mais os meus passos e dando-me bom dia quando saio ou boa noite ou madrugada quando chego.

o gato de pequenos olhos amarelos tem linha. black-white, se não fosse a sarna a altura do pescoço, que lhe deixa quase parecendo um galo em petição de miséria, seria uma peróla em qualquer sofá de cobertura.

penso que se tiver acesso a alimentação que não seja provida azeda ou quase-podre pelo lixo, sua sorte pode melhorar. não há de alcançar o sofá, mas alcançará mais rápidos muros e outros roteiros de fuga. já que na vida de rua, olho vivo sem forças, não basta para sobreviver.

com o gato aprendo que existe algo que não melhora. não a sua sarna, mas a enorme coceira humana em sua sina de sarna. já perdi as contas das vasilhas que andei a cortar para improvisar o tal vasilhame onde o tal gato possa se alimentar. mal as coloco, e sempre tem alguém a chutá-las, despejá-las, roubá-las, enfim, desaparecem como se o destino raso a que se lhe destinam agora fosse algo mais importante do que matar a sede e a fome do gato que tem linha, apesar da sarna, coisa que decidamente os humanos, adultos e crianças, que somem com a vasilha não tem.

para não perdê-las, fico de vigia, e o gato, que aprende rápido, como se já não soubesse o que é o dejeto humano após tanto tempo na rua, come o mais rápido que pode, para tentar salvar o pescoço: um olho no humano, outro no prato.

um simples vasilhame de pet "malamanhado" acaba sendo o portal revelador de quem é quem neste mundo de chuta-vasilhas sem nexo: o gato sarnento que tem linha, e que não a perde. mesmo sabendo que sou eu que lhe ajuda, e que não chuto - nem vasilhames, nem gatos - mantém a distância, alertando-me para evitar o contágio com os sarnentos sem linha que indubitavelmente são os humanos e não o gato que ainda que sarnento seja o é de outra espécie.

Tuesday, October 28, 2008

lusco-fusco

olhos verdes sargaço, era o mar. mar não, oceano.
olhos azuis estelares era o céu. céu, não era o universo.
olhos castanhos mel, era o próprio, próprio não, era mais que isso, sendo a pura própolis, a visão da colméia nua.
olhos negros como o petróleo, petróleo não, eram o pré-sal a superfície.
olhos cinza fôscos, nenhum brilho à vista, mais ainda assim não havia nenhum prenúncio da escuridão que lhe poria fim ao lume para todos os olhos que não tem a correspondência da visão de quem apenas enxerga pela imaginação.

Now playing: The Flying Burrito Brothers - Just Can't Be via FoxyTunes

Thursday, October 23, 2008

item de bagagem

andava a procura do lugar que imaginava tornaria tudo diferente. um lugar só seu, tão seu que nenhum outro lugar pareceria igual. mas o que precisava ser diferente era o próprio. do jeito que estava, não iria mesmo a lugar nenhum que não fosse ele. o que dava no mesmo de sempre: ficar a pensar num lugar diferente.
Now playing: Brett Anderson - A Different Place via FoxyTunes

Tuesday, October 21, 2008

um quase bocejo

tenho dormido pouco ou quase nada ultimamente. não se trata de insônia ou de algum castigo posto. o dia é pouco para quem não tem nada a fazer. para se ficar na mais completa vagabundagem seriam preciso no mínimo quarenta e oito horas só para o período vespertino.

o nada fazer toma um tempo absoluto do fazer tudo mesmo que ele se traduza em nada neste momento.

há tantos sonhos por dormir que por enquanto é melhor não acordá-los.


Now playing: sondre lerche - sleep on neddles via FoxyTunes

Sunday, October 19, 2008

lazer invertido

em dias de domingo, só pra variar, deviamos todos subir o morro como descem os meninos do morro para a praia. desconfio que, sem revanchismos, e sem paternalismo, sairiamos ganhando, inclusive o espírito de meninos outra vez.
Now playing: Milton Banana - O menino desce o morro via FoxyTunes

Monday, October 13, 2008

passeio vespertino à beira-mar

um pouco de ar marinho vai me fazer bem no final da tarde. e lá vou eu, iludido, mirando pombos em orlas que não tem gaivotas e onde os ratos afugentam gatos, mal respeitando chusmas de cães que vão vivendo enquanto podem por alí.

se isso já não era um prenúncio, as narinas trazem-me a verdade em flagrância que nos é a todos familiar. maresia? qual nada. o mais profundo e inequívoco cheiro de bosta, que antevem mancha marrom a brotar tripudiando do verde daquilo que já foi meu mar.

de graça resta a placa que alerta aos turistas sobre a possibilidade, bem concreta, de ataque dos tubarões. quer dizer, se eles ultrapassarem - tubarões e humanos - não a barreira de coral mas a de bosta daqueles que a fizeram e contemplam da varanda dos novos edifícios a beira-mar da primeira cidade patrimônio-cultural do país.

moral da história: ou a nossa cultura é uma merda ou nosso maior patrimônio agora é bosta.

Now playing: Agalloch - The Isle Of Summer via FoxyTunes

Sunday, October 12, 2008

a tensão ao cruzar a linha


ultrapassada a linha, a maioria pensa logo em voltar. por poucos metros que sejam, a distância da volta metamorfoseia-se em quilométrica. e, para piorar, nada do que você deixou lhe espera, mesmo quando abre os braços para você.

a linha que separa o que foi e o que pode ser, é justamente você. e ainda assim, são poucos os que cruzam a linha com algo mais que tesão.





Now playing: Brett Anderson - Knife Edge via FoxyTunes

Wednesday, October 08, 2008

moldura ou: creme dental com flúor

".... quando olho no espelho, estou ficando velho e acabado".

o velho hit do cassiano bateu hoje de frente com a minha imagem. velho e acabado? pergunto a mim mesmo ainda mais trincado: por dentro, ou por fora, o que mais velho e acabado?

a vaidade, ou talvez um resto de afirmação da sobrevivência, procura saídas frente a imagem, que ainda consegue sorrir diante dos sete anos de azar a mais. talvez esta a melhor resposta. ainda consigo cuspir diante das "questões existenciais", levantadas pela mente sonolenta de quem ainda acorda com dantes.

diante da falsa idade do dilema que tem lá a sua verdade, a testa franze mais: o que seria pior? estar mais velho e acabado por dentro ou por fora?

bem, pior que isso, só mesmo os dois ao mesmo tempo, gargarejo.

termino de escovar os dentes e desembaço a imagem do espelho. por hoje ainda dá pro gasto. amanhã estarei melhor do que ontem, se não fossem estas olheiras que a espuma de outras manhãs as vezes esconde.




Now playing: cassiano - a lua e eu via FoxyTunes

Thursday, October 02, 2008

o futuro do antigamente

saudosos estão sempre a dizer que antigamente é que era. isso e aquilo, antigamente é que era bom.
eu, quero saber é como vai ser o antigamente do futuro.

Now playing: zuco 103 - fome total via FoxyTunes

Wednesday, October 01, 2008

pena por pena

imaginar que confinamos seres que não sabem o que é limitação de espaço a um espaço exiguo e "humanamente" preparado sempre me causou uma enorme confusão.

sempre que passo por alguma varanda ou cômodo onde vejo gaiolas com passarinhos, lembro-me que o canto da liberdade assoviado por aqueles bicos é soprado sempre por um apito violentado no furo no peito da ave em vida empalhada. não se consegue imaginar a dor de um ser de asas sem vôo em plena vida por toda uma vida. nem mesmo os que vivem na prisão chegam perto, por mais miseráveis que sejam as suas condições.

?que espécie somos nós, capazes de cantar hinos a liberdade e tornar este mesmo canto tão sufocado, tão aguilhoado, tão mesquinho, tão dilacerado? temos ouvidos assim tão tôscos? que escutando a melodia da tristeza saudamô-na apenas como beleza conquistada em cárcere privado?

creio que para todas as espécies, seria muito melhor que o homem desaparecesse da face da terra. só assim a liberdade a habitaria por completo.

mas desejar isso não seria pregar uma espécie de liberdade condicionada?

da minha gaiola digo que as aves – e alguns homens – não deveriam nunca escutar o canto da liberdade na forma como lhe soam os pássaros com e sem penas. apenas imagina-lo-íamos de uma forma tal, que nunca os pudéssemos aprisionar no que quer que fosse, sequer no pensamento.

e assim, permanecendo livre, quanto mais inatingível, maior a liberdade de nunca tê-los como objeto de domínio, posse, cativeiro ou escravidão.

os sonhos de quem não tem asas são sempre diferentes de quem as tem, inteiras ou partidas. aprisionadas ou perdidas e pior ainda: sequer percebidas




Now playing: yothu yindi - Tribal Voice via FoxyTunes

Tuesday, September 30, 2008

Sunday, September 28, 2008

causa mortis

choramos pelos brinquedos perdidos mas não pela perda do espírito da brincadeira.
e é isto que nos mata(antes do tempo)

Now playing: BLS - Lost Heaven
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Friday, September 26, 2008

tatibate

- qual a sua música preferida, perguntou, puxando conversa.
- o silêncio, respondeu-lhe, pausada e musicalmente falando.
Now playing: charlelie couture - mon amour interdit via FoxyTunes




Tuesday, September 23, 2008

ausência imperdoável

detesto enterros.

primeiro, porque a coisa em sí fede. sejam flores, sejam parentes, seja o presunto. apesar de tudo que se diga e se faça em contrário.

segundo, porque para quem tem como meta o "descanse em paz", preço de tal cerimônia também cheira a furto.

pretendo não ir ao meu. mas ao que tudo indica não terei como justificar a ausência de uma presença que certamente não fará falta alguma. mas que contentará a muitos, a uma distância quanto mais melhor. ainda que muitos reclamem da falta de troco para o pedágio.

meu projeto de vida, ou seria de morte, ser escapadiço ao velório apesar de aí já não mais ser. se o enterro é uma grande sacanagem. o velório é o supra-sumo. enquanto o cadáver luta para acostumar-se com a fria, as orelhas fervem a cada legenda dos "convidados". devo providenciar então, algum para o suborno. se quiser escapar dessa roubada que é o velório, espécie de entrada para o prato principal que fatalmente levará alguém a comer a sobremesa: a viúva ou o viúvo. em que pesem uns degenerados que não param de pensar em traçar o resto da família incluindo as avós e poodles.

se antes bastavam umas moedas para o barqueiro,agora exigem cadastro,identidade e cpf e fiador. fiador para o morto?! sim, principalmente se ele for muito vivo.

por isso tudo mesmo estou mortificado desde já. mas por enquanto vou fingindo, ao que tudo indica mal: os cus dos coveiros que o digam.

Now playing: Lesbians On Ecstasy - Mortified
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Monday, September 22, 2008

Sunday, September 21, 2008

ao tabelião

de minha mãe, as pernas finas. do meu pai, o "bucho de guaru". da minha vó, as manchas da erizipela.

do meu avô, a propensão a ficar sábio mas quase certeza arruinado; como se não bastassem as ameaças do coração.

dos tios, a próstata sempre ameaçadora.

perante tal lista que, se continuo, revelar-se-ia interminável, resolvi então dar uma basta. e me auto-deserdar, desta herança de família que reunida praguejou irredutível. nem os primos aceitam que eu cumpra outro destino que não seja a sina.

atesto-lhe de firma reconhecida que o meu destino será outro: o de não passar adiante tal tradição, mediante o recurso de abdicar também de filhos. coisa que na família apenas um intentou mas que sofreu o recurso da adoção.

blood is blood. mas comigo não violão. nas minhas veias corre mágoa.

Now playing: Serj Tankian - The Unthinking Majority
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Wednesday, September 17, 2008

Tuesday, September 16, 2008

cântico quase quântico

piamente acreditava que paralelas se encontram ao final. quantos múltiplos do tempo que se mede com outro tempo levaria, ao menos para que chegasse próximo de um afago, ainda que fosse calafrio nas penugens da mão dela ?

eternidade sem curvas? ou de novo seria preciso um big-bang?
Now playing: washington espinola - feeling allright
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Monday, September 15, 2008

anti-onda-éter

?que deuses são estes que para serem ouvidos cada vez mais precisam de programas de televisão? de horários comprados na latada, com a grana arrancada da comida das crianças, dos remédios do idosos, da esperança tomada da auto-resolução da vida por bispos em constantes cheques-mates endossados por eles mesmos?

patrocinadores e patrocinados garantem que sua fé em deus lhes dá mais espaço, sobretudo.

Now playing: Erasmo Carlos - queremos saber
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Sunday, September 14, 2008

afeganistão

montanhas de pedras picando a vista; enquanto prometeus às avessas revelam a escuridão dos homens, não importa a fé.
Now playing: Yusuf Islam - Midday ( Avoid City After Dark )
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Saturday, September 13, 2008

como um pudim

tiro na nuca da moral. caiu de boca. as testemunhas negaram o fato, como convinha à pudícia.
Now playing: La Oreja de Van Gogh - cuentame al oido
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Friday, September 12, 2008

das más companhias

cada vez mais chego a conclusão(nada modesta)de que não há melhor companhia para mim do que mim mesmo.
Now playing: Rinôçérôse - My Demons
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Thursday, September 11, 2008

uma questão de vocação

para ser ermitão. pois nada como não ter quem lhe importune, a começar de você mesmo.
Now playing: renato teixeira - vira-bosta
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Wednesday, September 10, 2008

das mulas

tenho muitas dúvidas sobre um processo eleitoral onde a quantidade predomina(sempre) sobre a qualidade; onde vota-se obrigado em nome da liberdade; e onde candidatos ditos democratas arrestam milhares, milhões de votos com base em suas praticas desonestas e até criminais.

mas não tenho dúvidas nenhuma sobre a democracia. ainda que ela permita isso.

certeza tenho mesmo, é que nós não fazemos por merecê-la ou fazê-la melhor. isto antes, durante e depois do voto. e assim sendo, talvez por isto mesmo, a mula manque.

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Now playing: Van Morrison - School of Hard Knocks
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Monday, September 08, 2008

gramática mortal

na saída da lan house, pé esquerdo no asfalto, direito em cima do meio-fio. não deu tempo sequer de colocar os dois em paralelo. um solavanco e no tranco passou-se no vácuo do vulto que a tudo escureceu. foi livro pra todo lado, gramática aos seus pés. no último respiro ainda ouviu de memória as recomendações maternas: "do colégio para casa, que lugar de gente decente não é na rua". e assim, de pronto, expirou um sonoro vá pra puta que os pariu! que deixou ensimesmados os poucos transeuntes que presenciaram o brado.
tivesse um pouquinho mais de vida e não escaparia da correção de memória: - pra não, viu? que pra é coisa de gentinha.
mais um pouquinho de ar e ela ainda lhe torturaria: quando é que você vai aprender a escrever no português correto meu filho? freqüentando lan house é que não vai.
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Now playing: Stanley Clarke - School days
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Now playing: Stanley Clarke - School days
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Sunday, September 07, 2008

too far(anjos do sul)

pensou que o caminho da volta seria mais rápido do que o de ida mas esqueceu-se do quanto havia caminhado.
talvez melhor assim. podia desanimar e querer voltar do meio.
fora longe demais. e nestes casos a volta só podia ser para frente. para sempre.
e esta foi a descoberta de quem descobriria o que nunca descobriu apesar de ter percorrido todo o caminho.
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Now playing: Sergio Dias - Anjos Do Sul
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Friday, September 05, 2008

memórias modestas

feito de muitos que não conseguiam ser um só ele não conseguia ser ele mesmo.
alma fragmentada ou sementes por desbrochar?
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Now playing: Luiz Melodia - Congênito
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Wednesday, September 03, 2008

histórias que as fonoaudiólogas não contam

era gago. e se precipitadamente você julga que isso atrapalhava o casa nova, pode ir tirando o cavalinho da chuva. muito pelo contrário era disso que elas gostavam. e como.

curiosidade e o uso da palavra ou melhor das meias palavras certas. elas comiam os dedos para saber o que ele estava querendo dizer. havia riso sim, mas não o riso da pilhéria, da galhofa, do vexame. havia o riso nervoso do que será que aqueles lábios carnudos(gago sem lábio carnudos não tem lá muita chance) queriam dizer. e o segredo maior era que para além da curiosidade delas, aquela pendenga feminima mal resolvida que ele explorava muito bem: qual delas não gostaria de ser aquela que lhe curou a gagueira, pelo menos momentaneamente, a tal ponto de ouvir o que as outras nunca ouviram? e assim lá ia ele. gago por cima mas muito ágil e fluente por baixo.

da ala masculina, ninguém nunca acreditou muito nesta história. mas encasquetavam-se: não era rico, bonito nem tanto, e mesmo " que melasse o pinto no açucareiro toda manhã" nenhuma evidência pomposa do porque fazer aquele sucesso todo com as mulheres, fossem quais fossem, independente de estatura moral, carnal, espiritual. o gago atraia mais mulheres do que papel-mosca. e mulher-mosca(depois das mulheres frutas vem as moscas) nunca era demais, e assim passavam boa parte do tempo a pensar muitas vezes numa certa pose de pensador que não correspondia exatamente a figura de rodin.

e assim, quem diria, era o galo do pedaço, gago. absurdo ou impossível, o gago despertava o sol, quer dizer o calor da bacurinha no mulherio.

mas como nem gagueira dura para sempre, mudaram os tempos, outras mulheres no pedaço e eis que esbarra numa fonoaudióloga que ninguém sabe se contratada pela tal ala masculina que fez-se desgraça daquelas que não é pouca nem bobagem: curou-lhe a gagueira.

hoje mais solitário e melancólico do que pequeno príncipe a sós em outro planeta, não passa de um tatibate a tresandar delirantemente a busca de emoções fortes, a tal ponto de pensar em fazer da língua semi-coto que lhe traga a gagueira de volta.
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Now playing: Sheryl Crow - If It Makes You Happy
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Sunday, August 31, 2008

felicidade geral

- infelizmente, para mim e para meus inimigos, sou do jeito que sou.
- mas e os amigos?
- bem, alguns parecem ser mais felizes do que somos.
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Now playing: van morison - underlying depression
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Thursday, August 28, 2008

Sunday, August 24, 2008

gênese ou matrix(versão demo?)

do ponto de vista dos evangélicos, aquilo que é circunspecto ao universo da parábola é tomado como verdade absoluta e factual, através da eloquência do cuspe que parece ser ainda maior que a idéia de fé, uma espécie de geléia real que depositada na realidade verbal adensa-a à condição de realidade factual inquestionável.
e a verdade factual? bem esta é tratada em toda sua existência como se fosse assim parábola ou melhor seria: fábula?


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Now playing: George Harrison - here comes the moon(demo version)
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Thursday, August 21, 2008

Sunday, August 17, 2008

intermitentemente, familiar e padrão, o que de um jeito assim como está, já é um anormal normal

saberemos cada vez menos o que é ser humano, livro das previsões, citado por saramago, na abertura de “ as intermitências da morte”; livro cujo busílis é a “greve da morte”, num certo pais onde subitamente ninguém mais falece, com as conseqüências ad absurdun disto.

no brasil, a morte trabalha dobrado. faz hora extra, se desdobra no terceiro, quarto turno, e nos sábados, domingos e feriados, está lá fazendo bico de vigilante, com sotaque de milícia ou policia em linha com traficante.

pode-se dizer filosofastramente que no brasil, todo mundo leu, mesmo sem saber quem é wittgenstein: afinal, cada dia a população pensa mais na morte, tratada como quase da família fosse, mais dia ou menos dia, mais cedo ou mais tarde, de pré-aviso avistada, estando sempre onde sempre esteve mesmo apesar do nosso pensamento de que ela lá não estaria assim pensando fazendo tudo ao nossa alcance para que ela nos alcance com mais trabalho do que o mal súbito do mais simples ao mais complexo que quanto mais é o trabalho dela sem complicar.

a morte, no brasil, é hoje a operária padrão. e ainda assim pensando nela, nos abismamos mas não reconhecemos a posição em que, não ela, mas nós, a colocamos.

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Now playing: fug - el diablo
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Saturday, August 16, 2008

câmbio negro

algumas pessoas, tão à frente do seu tempo, pagam por isso muito alto preço.
mais do que epítetos de lunáticos, erráticos, bruxos ou semeadores da desordem, o esquecimento é a taxa mais conservadora deste câmbio que desvaloriza à desgraça aquele que troca a mediocridade geral pela abstenção a ordem tida como natural das coisas.

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Now playing: Novos Baianos - Samba do Sociólogo Louco
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Thursday, August 14, 2008

duela a quien duela

mau negócio brigar com os mortos. de saída você já está em desvantagem.
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Now playing: Joss Stone - Bruised But Not Broken
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Sunday, August 10, 2008

um dia D ou seria um dia P?

de dúbio.

pra uns júbilo
pra outros urro.

nenhuma unanimidade à vista
neste dia de paternidade pra lá de duvidosa.

resto do ano
é um salve-se quem puder
pelo menos enquanto durem as prestações

e nem pense que amor com amor se paga
porque agiota ou banco que se preza
não perdoa nem pai nem filho nem seu se seu fosse
garantido assim que a data nunca fique em branco.

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Now playing: Ave Sangria - O Pirata
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Friday, August 08, 2008

o silêncio é ouro

o verdadeiro negócio da china é promover falsas aberturas e encerramentos pra valer.

a única abertura destas olimpíadas, foi tão ou mais ensaiada do que as reuniões do partido e os discursos do comitê(olímpico idem). e são tão convicentes que em cada parte do mundo - isso já antes dos jogos, imaginem agora - há uma lembrança de que por qualquer troquinho nós fechamos os olhos a qualquer muralha a liberdade a nossa frente.

o extraordinário deste espetáculo não é o que vemos. mas é o que acontece nos bastidores. que a despeito da sua grandiloquência, mesmo que seja apenas um sopro o que nos chegue, é completamente silenciado pelas regras do jogo que nós ajudamos a construir na ânsia de enxergar a todo custo o que não se vê.

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Now playing: rita ribeiro - olhozinho
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Wednesday, August 06, 2008

da mais profunda escuridão

como todo aquele que via pensou sempre que enxergava tudo que podia enquanto podia mas decididamente nunca tinha ido tão fundo.

a tal cegueira cotidiana agora súbita e intemporal era agora a única forma de enxergar o que nunca havia enxergado antes.

coisa sem graça a desgraça. tanto tempo cego enquanto julgava que via. e agora, cego, pressentiu que finalmente passaria a enxergar alguma coisa para além do óbvio fato de estar mais cego do que nunca.

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Now playing: les innocents - lune de lait
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Tuesday, August 05, 2008

olho vivo

olhar firme não significa nunca olhar para os lados, acima ou abaixo.

o verdadeiro olhar firme, consegue descobrir coisas novas onde antes só se vê o normal. e é ainda mais apurado do que o olhar que só vê coisas novas e enxerga montanhas as sombras que lhe fazem os cílios.

ver o novo de novo onde só se viam coisas velhas é algo que não se faz às cegas de lembranças. olhe firme, olhe para onde anda, olhe para o que desanda e não desanda. mas lembre-se que olhar é algo mais do que ver, o que exige apenas estar de olhos abertos simplesmente.

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Now playing: baaba maal - dunya salan
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Saturday, August 02, 2008

crise de identidade

em nossas carteiras o papel é do american bank note ltda., com o copywright de ambos os lados da célula de identidade.
pô!nem ao menos somos uma s.a?

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Now playing: nilson chaves - toca tocantins
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Friday, August 01, 2008

gil demitindo-se da cultura antes de ser ministro

“a cultura a civilização
elas que se danem ou não

somente me interessam
contanto que me deixem meu licor de jenipapo
no papo das noites de são joão
somente me interessam
contanto que me deixem meu cabelo belo como a juba de um leão

contanto que me deixem
ficar na minha
contanto que me deixem
ficar com a minha vida na mão
minha vida na mão
minha vida

a cultura a civilização
elas que se danem ou não

eu gosto mesmo é de comer com coentro
eu gosto mesmo é de ficar por dentro
como eu estive a algum tempo na barriga de claudina
uma velha baiana cem por cento

a cultura a civilização
elas que se danem ou não"

(gilberto gil, 1969)


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Now playing: Gal Costa - Cultura E Civilização
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Sunday, July 27, 2008

gangorra

priorize o elevado. mas não se esqueça que o impulso vem sempre de baixo para cima e nunca de cima pra baixo. este só lhe enterra.
mas cuidado como a intensidade do impulso. intensidade também lhe ferra.
não seja comedido. apenas seja leve. que o resto sobe.
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Now playing: Gilberto Gil - The Three Mushrooms
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Saturday, July 26, 2008

foi você que começou primeiro

a turma dos turbantes quer pegar a turma dos sem turbantes ou foi a turma dos sem turbantes que quis pegar a dos não turbantes?

não se sabe. que dizer; sabe-se mas falseiam-se os com e sem turbantes.

agora se a turma dos não turbantes tivesse turbantes e as dos turbantes não tivesse turbantes, seria diferente?

sério? mas de qual turba é você ?

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Now playing: Cat Stevens - Miles From Nowhere
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Friday, July 25, 2008

remember

todos aqueles que ajudei algum dia me esqueçeram.
os que não ajudei, nunca.

há um empate técnico de certa forma.
não fico lembrando de quem ajudei.
mas não esqueço quem não.
eles mereciam e eu não esta lembrança.

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Now playing: air - Track 06
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Wednesday, July 23, 2008

o ator e o método

entre o acting e o timing escolha o timing que é definitivamente o mais importante.

até mesmo a verdade, independentemente do acting, sem timing pode ser transformar em algo desastroso. não se esqueça que grandes mentiras, mais pelo timing do que pelo acting, passaram a história como a história é. pequenas mentiras no acting certo colocaram a verdade a nocaute.

e esta história que a verdade sempre vem à tona, experimente fazer isso fora do timing para ver o resultado afogado.

o fato é que nem sempre o bom acting ajuda. o bom acting sem timing torna-se over. com o timimg certo, mesmo o mau acting, ganha um certo ar de espontaneidade e credibilidade.

fazer a escolha, também é uma questão de timing.
agora parta para o acting, se for o timing.

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Now playing: ian dury - you´re my baby
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Monday, July 21, 2008

dolores da dercy

morreu não como um bicho acuado.
mas como bicho preso na cela da pseudo-liberdade
que seus palavrões pensavam lhe dar

tornou-se escrava disto só
bicho de circo centenário
exibido pela idade
que não lhe calava a boca
mas tornava o escracho ainda mais escravizante
quando sempre teve muito mais para mostrar
inclusive no silêncio
que dela sempre foi arrancado aos palavrões

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Now playing: Flaviola E O Bando Do Sol [Brazil] - Noite
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Thursday, July 17, 2008

quem viver verá ?

no pilar da sabedoria o homem zen, como os políticos, nunca diz que sim ou não. diferentemente deles, jamais diz jamais ou talvez. apenas veremos.
e assim séculos se passaram mas não tantos ainda como ainda é preciso apenas para o veremos.

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Now playing: caetano veloso - oração ao tempo
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Saturday, July 12, 2008

elementar

a teimosia em sí não é um defeito. o defeito está no tipo de teimoso que a abriga.

Thursday, July 10, 2008

amy: ame-a ou deixe-a

que tem gente que gosta de dar palpites na felicidade dos outros sabemos aos montes.

winehouse, estimulou novamente a outra categoria: a que gosta de dar palpite na infelicidade dos outros. quer dizer, infelicidade na nossa maneira, certinha, amarradinha, merdinha de ver as coisas.

freaks, junkies, outsiders sempre hão de existir. ao menos para nos mostrar como é a nossa droga de vida desencorajada por uma normalidade que é uma droga só. esta sim, droga poderosa, devastadora. mais viciante do que crack. do qual devemos passar ao largo da cracolândia que alimentamos em cada cidade que viemos principalmente por conta da nossa moral assétpica, que primeiro “guetiza” depois anuncia concessões à ajuda mas só se mudarmos o modo da percepção do mundo daqueles que não o percebem como os ditos normais, equilibrados, que ao fim e ao cabo são os únicos responsáveis pelo que esta aí.

não me dá a menor dó desta gente que fala da amy como uma indigente, coitadinha, que tem por castigo o desatino do espectro de perdida. tudo em nome de um movimento anti-enfisema hipócrita, e em nada solidário.amy passa as ser o exemplo da vez para mostrar o que acontece com mocinhas que chutam o balde. é a bomba relógio que antecipa o fim do blackbird que queremos – sempre- ver na gaiola. deste mal das gentes não sofro: querer – sempre - colocar na gaiola os que cantam a liberdade, seja ela auto-destrutiva ou não. e toda a liberdade – autêntica – é destrutiva de alguma coisa. é o preço da liberdade . mas não desta que aceita cartão de crêdito ou débito.

o mundo é o que é por estar repleto de gente que a tudo enfisema, incluindo a própria vida. asmática pela pequenez e mediocridade que palpita a todo instante sobre a vida da amy. até aquela coisa que apresenta o jornal da manhã da globo, arvora-se a palpitar sobre o “desperdício” que á trip que todos afirmam bad - pra quem cara pálida?) da amy.

julgamos, sentenciamos, praguejamos pelo que a droga da mídia nos enfia no cerebelo. no fundo são estes que mataram jimi, janis, cazuza, renato e outros tantos. vida e voz amordaçada, sem nem um porre que tenha valido a pena, sem sequer experimentar o absinto do que ousam falar, eis a gloriosa classe mírdia a professar sua peninha de plantão(dias sim, dias não
eu vou sobrevivendo sem um arranhão da caridade de quem me detesta )isso sim é dose cavalar da pior de todas as drogas: o coquetel de cinismo, hipocrisia, interesses financeiros, e religiosos(dá para separar?) e haja qspês dos momentos que compõem a falsa moral da amoralidade.

a verdadeira droga que controla a nossa cabeça é o éter entre o que pensamos, dizemos e fazemos. por isso cada vez mais gente perdida no mundo (e não só das drogas) onde os não-drogados são os maiores viciados na destruição do que quer e quem quer que seja que não fume, beba, injete ou mame o que para eles é considerado absolutamente normal. normalísssimo.

junto deles amy não passa de alguém careta demais cuja ingenuidade vai se extinguir – não pelas drogas – mas pelos efeitos da combinação de mídia e show-business, regurgitando o vômito de sempre das questões familiares e particulares em nome da síndrome de abstinência falsamente provocada.

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Now playing: Amy Winehouse - Intro/Stronger Than Me
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Wednesday, July 09, 2008

insone

apesar da escuridão no meio da noite as coisas ficam mais claras. mas justamente nesta hora você pega no sono e amanhã recomeça tudo outra vez. às escuras.

Tuesday, July 08, 2008

pêndulo

não é porque você não o tem o rabo preso que vai sair por ai abanando o coto a torto e a direito. pois é assim que muita gente acaba por tê-lo preso. abane o suficiente para deixar todo mundo com vontade de lhe ver ainda mais de rabo solto.

Monday, July 07, 2008

trabalho forçado

julho chega e os pais não sabem o que fazer com os filhos.
por quê os fizeram? por quê fazê-los?
bom, se não sabem o que fazer com os filhos nas férias, não saberão responder os tais porquês.

Sunday, July 06, 2008

separações

as vezes, as dos outros, nos fazem sofrer mais do que as nossas.

Saturday, July 05, 2008

sem acostamento

mal acostumados ao costume, costumam sofrer mais do o de costume.
e é assim, pela força do costume, que achamos que nada mais se move em outra direção, que não seja a que estamos acostumados, o que em outras palavras quer dizer que estamos parados já faz tempo.

Friday, July 04, 2008

irônia semiótica

de um jeito ou de outro, che continua libertando. que o diga betancourt.

Wednesday, July 02, 2008

a elegância


para poucos. principalmente para aqueles poucos que se permitem no exagero, e ainda assim permanecem exageradamente contidos numa elegância tal que lhe reconhecemos o estilo nem que seja pela aba.

Monday, June 30, 2008

Sunday, June 29, 2008

no ressurrections


viva enquanto está vivo.
parece óbvio, estúpido? é não.
tem gente que deixa para viver quando está morto.


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Now playing: aynsley lister - little wing
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Thursday, June 26, 2008

semler

o best-seller, o livro do não-schollar-escolado, o revolucionário que impressionou o mundo dos negócios, o livro que vendeu dois milhões de exemplares, negociado por um quarto do seu valor, numa liquidação de pré inventario do wall-mart, abandonado na cesta dos 9,90, as dúzias.

quem virou a mesa de quem à seco ?

Wednesday, June 25, 2008

relações desfeitas

ficar pensando nelas necrosa a memória
e afinal, você não é nenhuma lagartixa para ficar esperando o rabo crescer

parte para outra
e que venham novos rabos partidos.

Saturday, June 21, 2008

a queima-roupa

comprar fitas piradas, invocam, é lidar com o dinheiro do crime organizado no país.
mas qual o dinheiro que circula no brasil que não seja fruto do crime organizado?
(a começar do banco central).

Friday, June 20, 2008

quase cuspida

na ponta da língua residem abismos dos quais já saltamos para o vácuo há séculos antes de descrevermos sustos que não houveram com palavras.

Thursday, June 19, 2008

acento português

os sabores das palavras tem vida própria
nenhuma reforma ortográfica vai mudar isso
nem lá nem cá
para a felicidade das más línguas sem acertos
e regras tortas de uma diplomacia de particípios pretéritos
que pulula dos acentos e hifens como se ao mar já não fossem jogadas as palavras cujo destino só a elas cabe a a mais ninguém, donas do seu nariz e do som com que querem sair das bocas que só se unem em beijos, quando há.



Now playing: xutos & pontapés - tonto
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Wednesday, June 18, 2008

Tuesday, June 17, 2008

descontando o atraso

o que foi, foice
braço, mão, paixão, perna, pedaço de seio ou orelha
agora coto de vida irrecuperável
eis a sua nova tatuagem avant-garde.

Monday, June 16, 2008

novidade algures

pense. pense novo. mas insisto em avisar, vai trazer mais problemas à si do que aos outros.

Sunday, June 15, 2008

quase apnéia

já fui melhor do que sou. e com o passar do tempo vou construindo a certeza de não serei pior do que já fui.

de certo modo, isto equivale a dizer que não estou tão ruim quanto já fui. e que ainda posso melhorar no que tenho de melhor. ou pior, na pior das hipóteses.

ambas as hipóteses existem, o que é fato. na prática realmente significa que sempre podemos evoluir mesmo na regressão ou vice-versa.

complicado? nada. tudo é muito simples quando você está vivo. mesmo quando pensam que você está morto.

só não pode é esquecer de acordar.

Thursday, June 12, 2008

bio-ética

não há hormônio do crescimento para a baixa estatura moral.

Wednesday, June 11, 2008

placar adverso

ah! o futebol, com seu poder monstruoso de despertar as massas; para a ira, a paixão, o desvairio, a superação, o fanatismo e até a barbárie.

que estranho time chamado este brasil? onde as suas torcidas, passivas, que vestem camisetas e bonés do time adversário para torcer cabisbaixos, são incapazes de manifestar a mesma energia, a mesma indignação, a mesma revolta, a mesma capacidade de organização – vândala que seja – quando está em jogo contra sí a injustiça, o desmando, a opressão, o achincalhe, o preconceito, o poder que arbitra, como bem quer e pode, não só o resultado dos jogos mas as regras de um jogo desregrado, onde só os mesmos ganham e a torcida só paga para ver isto mesmo.

se estou falando assim porque não gosto de futebol? não. eu até gosto de futebol. não sou é fanático. e meu time é dos sem-camisa e pés no chão.

Sunday, June 08, 2008

smiles

cada vez mais difícil reconhecer um sorriso verdadeiro. tanto branqueador a solta por aí que nem mesmo um sorriso amarelo nos aparece para o dar o sinal de que pelo menos um sorriso falso ainda podemos ver de verdade.

Friday, June 06, 2008

paradoxos convergentes


momentos fulgazes eternizados na memória
momentos eternos fulgazes pela mesma memória
que se defende e se arranja como pode

o eterno torna-se fulgaz e vice-versa
eternizam-se como um felpa no cerebelo do homem tornado minotauro
ou desaparecem como desaparece o tempo que nos leva de crianças a homens num susto ruim

tempo medonho, tempo pedófilo, tempo, tempo, tempo, tampo mau, tempo bom, sempre em falta, nunca em excesso, de linhas tênues entre o que é, o que já foi, o que está vindo e já passou pelo hoje com gosto de nunca mais

em farrapos de lembranças
o fito do tempo
agulha uma memória de belezas que cerze terrível cicatriz
já que nada é mais convergente do que a beleza e crueldade daquilo que é belo e do que não é
na memória de quem não tem mais
e se lembra aos lapsos dizendo que antes tê-las vivido do que não
ledo engano do que se foice

assim, rastro de sangue e crueldade
molda a existência a amnésia
que seletiva o que não queremos lembrar, tal como aquilo que não queremos esquecer
muito embora nunca saibamos bem o que devemos esquecer ou lembrar
confudidos no tempo da memória que converge paradoxalmente para a velocidade proporcional ao peso que se carrega alem da tara
tal qual um velho caminhão torto e desgovernado que desce ladeira abaixo com o mesmo êxtase da juventude em subidas

isso dura um átimo
deslocamento que atinge outros lados da vida
que a morte não

aí sim nos lembramos e esquecemos realmente de tudo
num jorro que afoga-nos em memória
preanunciada desde o começo
tão cheia e tão vazia que se imaginou inesgotável
num paradoxo de convergências ou vice-versa que estoiraram o saco

Saturday, May 24, 2008

sem sentido

flexibilidade é para com os contorcionistas;
disciplina é para com os bailarinos;
amor incondicional é para com os animais;
precisão é para com os ou as cobras;
infalibilidade, nem para nem com os deuses;
pecado é para com, e somente, os gloriosos;
o inferno, é aqui, e não cabe todo mundo que já está, quanto mais a maioria, que deveria, mas fica de fora;
mas o céu, o céu sim, é para todos. todos os sem ter nada mais o que fazer da vida para acreditar numa eterna, desperdiçando a coisa mais valiosa que já teve em mãos aqui e agora;
por isso, a rigidez é para com os mortos;
perdão, só se for de vingança;
e palavras, só as sem sentido. porque são as únicas que ainda realmente tem algum para e com.

Wednesday, May 21, 2008

pontuação

canalhas, quase sempre, tem sempre razão. mas quando não tem, eliminam o quase. sempre.

Saturday, May 10, 2008

parece coisa de cinema

valente é o nome do filme que serviria mais para j.lo do que para a melhor combinação de queixo, nariz, madeixas louras e olhos azuis de hollywood, sem falar da inteligência e, acima de tudo, independência: jodie foster. mas jodie é foster(não foi intencional) e vê-la atuando é sempre um prazer, ainda que não salve o argumento.

tal qual nossa maitê, o tempo passa e suas belezas permanecem. não intactas. permanecem. reconhecemô-las como quarentonas ou cinquentonas, rugas marcadas e expressões que lhes são próprias da velhice que lhes deseja. mas são belas quarentonas e cinquentonas, que certamente não dirão i want to be alone, pelo menos tão cedo ao que parece.

valente trata de vingança, prato que se diz come-se frio. mas não é esta a questão.a questão é que os chicanos agora são a bola da vez em todo roteiro onde não dá mais para colocar negros como nigger. antes de obama a coisa já havia mudado a ótica para o politicamente correto: aquela safra onde todo negro quer ser denzel washington na pele dos papéis de quem faz justiça no blockbuster do verão(que saudade de sidney poitier)mas sempre sob a mira de um white reaça todo. por isso mesmo mexicanos são os maus da fita agora ou seja: todo cucaracha que falar espanhol(argentinos falam castelhano, não esqueçam) não só neste mais em uma porrada de filmes que começa a refletir que o muro erigido pela indústria de los angeles é bem mais danoso e efetivo, se é que se pode dizer isto, que o muro de bush.

se é claro para muitos que não foi o poderio bélico que elevou os usa a categoria de dominador mas sim a indústria do cinema com sua amplificação, distorção e imiscuição do american way of life, não deve ser coincidência que mediante a pressão do méxico o cinema antecipe na sua forma ideológica o que será um país com mexicanos pulando o muro por isso mesmo necessário.

os próximos filmes colocarão nossos rodrigo santoros de periferia como a bola da vez?
nossos zés cariocas vão virar urubus?

bom, há diversas formas de vingança. no filme jodie acaba convencendo um detetive, negro of course, que é melhor mesmo eliminar os chicanos do pedaço assumindo nem que seja o papel dos brancos para preservar o agora seu.

e tome de the happy end.

Friday, May 09, 2008

semana cinematográfica

o filme é super lançamento. o astro do gladiador é a estrela. mas pera aí, o que é que faz na cena aquele celular quase do tamanho de um tijolo e ainda mais com uma baita de uma antena ?

ah! super lançamento reciclado?!!? um filme do passado apresentado no presente como se fosse o futuro intocado?

que mentes brilhantes. recauchutar um filme que passou desapercebido e servir o requentado como se fosse o prato do dia.

mas pera aí de novo. isso não é um tipo de pirataria da boa fé dos que só descobrem o tijolo depois da tijolada?

escolha o seu idioma e xingue a vontade

por uma questão de coerencia, retirem pelo menos os filmes anti-pirataria já que não deu para editar o celular carantão.

e isso foi só o começo da semana que começa pelo fim da picada.

Thursday, May 01, 2008

do trabalho e seus dias feriados mal e porcamente contabilizados

uai? não deveria ser o dia da preguiça, que o diga o paul lafargue?
p.s. se não sabe quem é o autor do "direito a preguiça", deixe de ser preguiçoso e aproveite o feriado, que já nem é tão mais feriado assim, e aprenda. genro do marx, detestado por ele, digamos que ele escreveu o "ócio criativo" da época.
pode acreditar que dá um trabalhão inglório ser preguiçoso o que geralmente acontece com quem trabalha muito, mas não segundo as normas.
pensando bem, o dia do trabalho, está mais para dia da escravidão. branca?

Monday, April 28, 2008

o livro dos insultos


de rui castro sobre seletas de h.l.mencken, caricaturado na capa acima. nele, entre outras pérolas, lê-se que poucos bichos são tão estúpidos ou covardes quanto o homem. quem sou eu para duvidar se os comentários postados não o desmentem ?

se descubro-me estúpido, não fico nada feliz. mas se me descobrisse covarde certamente não ficaria nada alegre. em compensação escapo de ser o "reductio ad absurdum da natureza animada", que é, ser estúpido e covarde ao mesmo tempo.

então, ao menos um coisa de cada vez. se não for possível ser cada vez menos coisa e mais homem(se nem todo homem é covarde, todo covarde é homem?) e nunca a coisa toda ao mesmo tempo, principalmente ambígua.

e quem quiser que confie pra começar - como diz mencken - em deus, aquele que sempre nos tapeou no passado.

de antemão, antes que a estupidez e a covardia abatam-se sobre os de sempre, valho-me de mencken para subvertê-los: um relincho vale mais do que dez mil silogismos.

o certo é que comentários não incomodam - a maior covardia seria a sua censura - mas a covardia do anonimato presente no elogio ou no ataque acabam por transformar a estupidez assinada em peça digna de respeito.

Sunday, April 27, 2008

da mais completa falta de juízo

um imbróglio qualquer e recomendam-me: - procure um advogado de sua confiança.
desde quando há advogados confiáveis?
alguém já viu advogados no inferno? pois. o diabo é uma besta mas não é besta.

Saturday, April 19, 2008

ao reverso

um só homem bom e só
um só homem só e bom
um bom homem só e sal
um só homem sal e só
um só homem bom e doce
um só doce sem amargo
sem embargo um homem
só é bom
um só sal e doce
um homem só um
inteiro
entre tantos meio
homens
quase nada de sí
só apenas sós
sem bom, sem sal, sem doce
já nem são homens bons ou maus
só sal, amargo, azedo, só apenas
multidão de homens sem sal
sem sol, sem sombra,
sem, sem, sem, sem
as dezenas de centenas
sem centelhas
aos milhares de reversos
sem versos
sem pegadas
sem estepes por alcançar
sem contudo saber que o tudo deles é sempre sem sempre e já agora para sempre cada vez mais distantes do
homem bom e só
doce e sal
que soa azinhavre em meio a tal multidão

Wednesday, April 16, 2008

isabella: crônica de uma morte anunciada


sempre a defendi, mas agora tenho de concordar: a televisão realmente faz mal às crianças. mal que de quanto mais abominável mais se faz interminável numa série sem vida sobre isabela. nenhum ser a tal ponto destratado imaginaria tamanha desconstrução na decomposição de uma vida infantil em nome de uma solução que somente uma sociedade doente a tal ponto por climaxes de audiência vicia-se no insaciável aumento de volume em vez de desligar todos os aparelhos responsáveis por isso, inclusive o policial e jurídico, que se integram ao espetáculo de forma nada neutra.

a ânsia mórbida de descobrir os culpados não faz de nenhum de nós inocente. e já a partir do segundo dia nos enfeixa na lista dos suspeitos que alimentam o caldo putrefálico onde as nuances mostram-nos exatamente como somos: sedentos de corpos de delito e nem um pouquinho verdadeiramente comprometidos com a essência do absurdo que acontece diante da barbárie de um provável arremesso de uma criança de seis anos de uma janela de apartamento exatamente como todos os dias faz a maioria dos moradores com a garrafa pet, o amasso do maço de cigarros, o papel do bombom descartado ou cascabulhos qualquer que no fundo do ato não deixa de ser uma espécie de treinamento para a falta de comprometimento com os bons valores que se existentes jamais alimentariam um espetáculo igual a este, quer como atores, quer como telespectadores.

Tuesday, April 15, 2008

reforma ortográfica


caráter,honra,valores,coragem,princípios,ética,responsabilidade,vergonha,honestidade,
verdade. alguém meteu a mão na ortografia e reformou o texto original. o que está escrito não está batendo com o que se fala. o que se fala não está batendo com o que está se fazendo. o que está se fazendo não está batendo com o que se está pensando. e o que está se pensando é uma trombada ortográfica a tal ponto que deixa estas páginas enrugadas por gente de cara de pau pra lá de alisada pelos verbetes ausentes.

Friday, April 11, 2008

ponto de vista


como lhe parece o mundo visto assim de cabeça pra baixo?
como lhe parece o mundo visto assim de cabeça?
como lhe parece o mundo visto assim ?
como lhe parece o mundo visto ?
como lhe parece o mundo ?
como lhe parece o ?
como lhe parece ?
como lhe ?
como ?

Thursday, April 10, 2008

queda para o baixio

fechem as janelas da tv para que mais meninas iguais a isabella não caiam no fundo do poço que se tornou o jornalismo brasileiro na sua ânsia equivocada e amoral de alta definição de uma espécide de voracidade jornalística que reproduz o sangue dos fatos em cardápio cabidela.
fazer da tragédia drama barato como se isso fosse novela, chega a ser tão hediondo quanto o acontecido em sí.
as suposições retransmitidas em caráter de repetência dramatizada à exaustão não revelam ânsia pela verdade tampouco indignação pelo fato. apenas exploração do vácuo moral e ético que se abateu sobre todos nós do alto daquela janela.

Monday, April 07, 2008

fora do calendário


era uma segunda-feira com cara de domingo que queria ter nascido sábado completamente apaixonado pelo dia de amanhã como se ele não tivesse morrido ontem.

Saturday, April 05, 2008

passa a régua


numa tarde de sábado modorrenta, bandos das gentes vazia lotam bares de homens pombos e mulheres pardais.

embebedando-se de tédio, não se vê nada nas mesas que preencha palavras de espírito.

uma comedoria intensa, uma cagadoria igual. sem canto por fazer os arrotos compoem a sinfonia.

ao canto, na perna esquerda de alguma mesa, conversam gato esquálido, cachorro vencido pelos carrapatos e barata semi-morta.

a vida é curta. muito curta, confirma uma formiga estatelada que ali mesmo, ontezinho a noite, perdera asas num vórtice orllof.

no fundo, no fundo, o ambiente está às moscas. retrato do sábado que nem sequer começou no se acabo do antes do ontem.

Friday, March 28, 2008

não salva nem a sí próprio

o último filme dele é tão ruim que, nem ele, que consegue resgatar seja o que for em qualquer buraco que esteja, consegue salvar-se dele próprio. e menos ainda resgatar a imagem do que um dia suscitou debate ideológico tatibate sobre a face lisa da ideologia de poucas palavras e haja flecha, faca e explosão no melhor estilo pipoca caveirão.

john rambo, o quarto filme, consegue a proeza de tornar-se uma paródia de sí tão séria que o rambo da amazônia, se comparação houvesse, elevar-se-ia aos pincaros de cinema cult.

a coisa é tão feia que nem sequer combina com ketchup do fast-food onde você vai lambuzar-se de verdade. no filme, o sangue derramado em nome de uma produção literalmente sem pés e cabeças, é ralo e qualo o produto roteirizado e dirigido por um stallone que sequer lembra o silvester.

e isso é tudo que você vai retirar do filme que um dia enfaixou a cabeça de uma geração que ainda assim tinha mais miolos do que ele tem hoje.

p.s. o trailler é muito melhor que o filme. acaba rapidinho. portanto não tortura nem meleca ninguém.

Wednesday, March 26, 2008

todo poder as putas mas não aos filhos


aquilo que votações e revoluções não conseguem as putas estão fazendo ou seja: destronando poderosos falso-moralistas que sob todos os ângulos são grandessissimos filhos da puta. mas não misturemos uns com as outras. por uma questão de ordem na pauta deveríamos ter mais putas, por exemplo, no congresso(e menos fihos da puta) e teríamos uma limpa que de forma prática faria a reforma política que todos dizem desejar mas não votam. aliás, nem eles, nem nós.
somos portanto filhos da putas imprensados entre nossa covardia filho da puta e uma orquestração filho da puta do poder filho da puta que a todos domina menos as putas quando elas resolvem botar a boca no trombone como só elas sabem fazer.

Wednesday, March 19, 2008

violência televisiva


na televisão um programa sobre os maus tratos e violência para com os idosos. dois tipos de violência são exibidos. aquela em sí, de cuidadores disparando porradas e empurrões criminosos em gente que nem parece humana, tamanha distancia de sí mesmo naquilo que já foi, e a violência, repetida, da velhice levada ao extremo na decrepitude inflexível do tempo. chega a se sentir o cheiro do decomposto pelo texto do repórter no ar, acirrado pelas imagens sem qualidade captadas por cameras ocultas, que agora nos fazem testemunhas oculares do abandono e miserabilidade da espécie.

canal seguinte, sobras de gostosas levadas ao ar por apresentadora semi-acéfala numa espécie de tunel do tempo invertido, se nos fosse permitido assim viajar pela outra ponta da baba humana.

desligo a tv e vou dormir sentindo a pele despregar mais um pouco do que já fui e já não sou. creio que esta noite, em minutos, envelheci décadas.

já não era sem tempo ?

Monday, March 17, 2008

com os meus olhos de cão

título de livro da hilda hilst, escritora-texto, que na sua casa do sol, para além de homens e mulheres das teorias e práticas literárias,abrigava mais de cincoenta cachorros.

cansado, labute da minha obra diária de nunca menos de 12 horas chego a casa onde me esperam 13, que já foram mais, ficando eu viúvo de suas ausências.

a última, águia, dobbermann, contrariava todos os estereótipos em relação a raça e a sua utilização idiota nos filmes. meiga e carinhosa, tornou-se mãe, irmã, companheira de brincadeiras do tsunami, vira-lata preto com orelhas de dálmata e uma pulsão que lhe antecipou o nome. só águia aguentava o tsu.

sem ela, tsu perdeu-se no pedaço de quintal que lhe cabe, impossibilitado de estar com os demais, por conta das brigas com folks e ganido.

cabe-lhe então o passeio, no fim da noite. quase capotando, mal deixo o carro na garagem, ele explode no convite à rua.

sigo-lhe os passos e vou assomando novas energias. chego a orla inteiro junto com o tsu que sucumbe a grandiosidade do mar. seu menear da cabeça e seus olhos levam-me junto as sensações de olhar o mar, se não da primeira vez, após longo tempo distante.

deixo-me levar cada vez mais por sua curiosidade e tento exergar com seus olhos de cão
o que ele vê naquele mar escuro de onde incessantemente curioso suga uma brisa e marolas que não espantam as andorinhas noturnas que bicam a areia que lhes alimenta.

não sei se tsu, aonde enxergo apenas saudade e um desejo que águia desponte na impossibilidade da vida ressurgida na escuridão das águas, vê apenas as outras possibilidades de brincadeiras que a vida nos proporciona, tal como as marés entre suas idas e vindas, vazantes e cheias, perdas e ganhos.

o fato é que ainda não consigo abanar o rabo. tsu faz isso por mim. e neste instante, com meus olhos de cão vêjo nele um cão-beija-flor que insiste em me lamber apesar de tal espinho.

Tuesday, March 11, 2008

primeiros socorros e direção defensiva

dia de prova de revalidação da carteira de condução. é irônico falar em direção defensiva e primeiros socorros num pais onde as estradas não permitem a prática de direção defensiva por questões infra-estruturais e os primeiros socorros sempre soam aos últimos. junto comigo um velho motorista de caminhão que tem as mãos suadas pois vai pilotar um computador pela primeira vez. mas fácil seria dirigir um truck sem cambio sincronizado. os calos das mãos que devem ter dirigidos muitos fenemês são por sí só quase mouses. mais isto não lhe confere intimidades com a máquina. apenas o distancia ainda mais do gabarito de um teste pra lá de desgabaritado. sorri nervoso e pergunta sobre o teor da prova. nada que você não tenha conhecimento na prática e o bom senso não responda a resposta certa.olha para mim misto de desconfiado e apavorado e entendo a sua preocupação. alguém de bom senso diria que sobreviver tanto tempo nas estradas brasileiras depende de bom senso?

Saturday, March 08, 2008

tropa de elite 3267

a rua foi assaltada, quer dizer alguém ou melhor o carro de alguém que trabalhno no escritório não se sabe bem de que do governador. ele ou parte dele manda colocar dois pms de prontidão doravante o dia todo.
e lá ficam eles o dia todo de pé sem poder sentar um minuto sequer, normas do regimento,ordem unida,tática dos sem número.
enquanto isto os assaltantes descansam impunes esperando a policia se cansar.

Friday, March 07, 2008

inversamente proporcional ?

pesquisa enterra estigma sobre a velhice como agente conservador mostrando que quanto mais ficamos velhos mais liberais nos tornamos. minha conclusão é que com a expectativa de vida progressivamente a aumentar caminhamos para nos tornar uns devassos. mas isto decididamente não é culpa nossa. é dos jovens. nunca houve uma geração tão reacionária e babaca como a de hoje. fazer sexo com o computador? minha nossa. haja punheta sem imaginação.

Monday, March 03, 2008

nike dá-te asas

um velho par de tenis entrelaçado no alto dos fios. alguma alma voadora desprendeu-se deles sem autorização paterna?
cópia relés, nem valeu o tiro na nuca. ficou lá perdido no espaço. originais não ganhariam tanto destaque. estariam a passos largos dali.
outras pernas, outras palavras.

Saturday, March 01, 2008

somos todos animais

o meu amor por cachorros é incondicional. e por cachorras também, claro.

Tuesday, February 19, 2008

Thursday, January 17, 2008

no wireless

misterwalk agora caminha em terras onde não há net,e portanto orkut, wayn, my space, carbon made, flickr, sem deixar de por isso ter gente antenada.
esporadicamente, se passarmos por alguma aldeia que tenha um net-café, quem sabe postemos alguma coisa.
caso não, fica para o carnaval ou depois dele, na quarta cinzas que antecipa o armagedon que nos espera.

Wednesday, January 02, 2008

hellboy, passagem de ano ou feeling allright

nem champagne nos pés, nem beira-mar, nem branco.
pipoco de fogos: aquele martirio para quem gostaria apenas do silencio da paz; não bastasse a desconfiança do embutimento do aviso dos traficantes que em 2008 vai ter droga para todos se fartarem, a policia inclusive.
mas o pior são as promessas jamais cumpridas que vão desde as promessas de emagrecer, parar de fumar, dar um jeito na vida, e a pior delas(escolha a sua opção) pedido de paz mundial e juras de amor eterno(por motivos óbvios desconsiderei promessas de políticos de situação e oposição)
dias antes vejo um filme que com efeitos especiais tenta reproduzir os efeitos especiais que só as mentes de uma geração conseguiam emprestar aos gibis. a fala de um dos personagens, ele próprio um gênio em corpo de aberração(não bastasse a aberração de ser gênio) referindo-se a outra aberração em crise, isto por si só mais uma aberração: quando se é uma aberração descobre-se que em certas horas só se pode contar consigo mesmo.
tenho o mesmo sentimento toda a passagem de ano.
e durmo com um sorriso do hellboy que envelhece distante alheio a tudo mais que não me faça realmente feliz.