Sunday, July 30, 2017

tríplice certeza

esboço de um homem e seus animais de estimação(makarova olga\dreamstime)


da vida, tenho certeza, levo três paixões: livros, música, cinema. paixões, ressabio, mais ou menos correspondidas, entremeando, desde já, que o menos, é por minha conta.

alguém me sussurra, não falas das "minhas paixões por animais" ? - coloco no plural porque não seria fiel dizer paixão por animal, visto que não me restrinjo a espécies ou espécimen - no que respondo: não! não há paixão. apenas há que sou deles. como se fosse um. e não apenas mais um. e, em se tratando disso, não é paixão. é mesmo amor. correspondido ou não, incondicional. até quando minha auto-estima se agacha, e fere o traseiro na calçada.

Tuesday, July 25, 2017

reflexões dos já agora com poucos reflexos*

frente ao espelho, observo cabelos brancos com seus arrepiados de vitória , e exclamo: well, as coisas estão clareando.

juquinha, meu alter-ego de catupiry, não se contém e desembesta: foooda-se! vai ser otimista assim na puta que te pariu!


Foto de Biblioteca Azul.

* originalmente publicado no guardanaposdeescriturario.blogspot.com

Thursday, July 20, 2017

não há espaço no espaço celeste para que o espaço entre o humano e a animalidade seja preenchido com alguma piedade sobre nós


laika foi colocada no foguete sem provisões, um desperdício, julgaram os homens, dito cientistas, que a sacrificaram, já que sabiam que ela não iria voltar. talvez este seja o aspecto mais cruel, desta conquista. a economia de recursos, talvez não pelo aspecto econômico, mas pelo aspecto sentimental. que pensaria laika, sozinha, comprimida, assustada, a girar em volta da terra, provavelmente sem entender as voltas que o mundo dá? na terra continuamos indiferentes para a grande maioria dos animais. e não importa o seu amor por nós. ao menor pretexto e lá se vai a nossa amizade pro espaço.

Monday, July 17, 2017

de orelha a orelha

auto-retratos de van gogh cujo talento atormentado não cabia em um só

é muito mais comum do que se pensa. quando a miséria de um homem serve à riqueza de outro, muitos sorriem de orelha a orelha, desdenhando até de quem a perdeu. 

Friday, July 14, 2017

da teoria da relatividade

me and my self(ie)
  Há 18 horas
dos colegas da infância e da adolescência, fui único a não dar certo. eles sucumbiram ao sucesso. enquanto eu fracassei com louvor

Tuesday, July 11, 2017

para muito além das sete vidas

gosto de devagar vagar as 

noites no escuro pela casa 

vazia


o silêncio em banho-maria 

ronrona aos gatos 

espalhados cômodos a 

dentro, aveludando a 

situação confortavelmente

cujo brilho contrasta ton sur ton


sem a companhia humana 

todo e qualquer espaço é imenso

e não há censuras - para as mentes privilegiadas, sequer auto-censura, que 

não é lá muito o meu caso, dizem os gatos com seus olhares "de profundis"


sem ecas, pego-me a assoar o nariz, muco à distância, longe da irritação da 

rinite, onde o fungado é quase disforme ronronado, de outros tecidos, 

precedendo o trajeto da "ranheta" rumo ao chão de mosaicos,

assaz quase soar de trombeta


gosto também, mas não me lambo, nem me lambuzo, apenas assoo e ressoo 

e gosto porque isso é matéria viva, que me faz gostar de saber que serei imortal

e gosto mais ainda porque sabedor que não fiz nada de imemorial - não escrevi 

livros, não fiz grandes feitos - apenas existi, existo, e existirei mil anos à fora 

ainda que seja à forra(uma náutica vingança?) mesmo que como muco, assim 

como a vida que seja átimo de voo entre o assoo o mosaico


e mesmo que ninguém o saiba - da minha imortalidade, e da minha fungada - 

sei que existi, existo e existirei, enquanto ranho da existência 

que, sabidamente, só os gatos sabem contemplar sem sobressaltos

Saturday, July 08, 2017

assim-assim ou vida de supetão

de súbito, súbita pontada

em meio ao sono

costas aguilhoadas

num eis-me aqui despertando de sono quase eterno

viro-me, acordo, e vejo que estou morto.

a vida também acaba assim

assim-assim

quando se acorda para ela

e não para quando se dorme.





Wednesday, July 05, 2017

da maldição dos sem asas



quase nunca olhamos para o céu atentamente.

por quê basta olhar para o céu para sentir que somos pássaros presos numa gaiola apertada onde nem sequer nos foi permitido ter asas.

mas como nunca olhamos para o céu atentamente, continuamos a servir alpiste para os pássaros de quem foi roubado o céu.

o mesmo céu que os olhava e eles ao céu tão atentamente, mas tão atentamente, que esqueceram que neste mesmo céu havia uma espécie cuja única ideia de voo é prender os de alguém, seja pássaro, igual ou espírito.