Wednesday, December 15, 2021

pequeno estudo de antropologia

o humano deixa de ser criança quando perde a curiosidadee quando deixa de ser criança o que se torna o humano besta mas na maioria das vezes fera

Thursday, December 09, 2021

clic

assim como os fotógrafos que preferem o p&b eu vejo o mundo em preto e branco extraio dele todas as cores que os olhos colorizados se negam a ver o meu chiaroscuro existencial é um tanto ou quanto bufo das cores e não se dá ao sfumato
mas permite a cangiante até chegar ao unione. em cada segundo um clic me devolve o que a máquina tira é o mundo e não a máquina que carrego à tira-colo ansioso por ver-se em um clic infinito de desejo e revolucão no entanto falta-me só um clic digo-me enquanto vejo as tiras de sustentação da máquina se esgarçarem é provável que a fotografia registre quando a máquina cair o mundo tombando com ela mas quem terá olhos de ver para além do fotografo                         (robert doisneau)

Monday, November 08, 2021

das gentes sem

quem precisa, quem necessita de gente?  quando se está rodeado de livros? estou de estantes - estanque as gentes - de livros, revistas, folhetos, enciclopédias desditas e mais um monte de paginas soltas, que não se sabe se a procura de encaixe ou livres como nunca? tal como eu? tiquinho afetado, não diria dandi, apontaria a taça semipreenchida com algum tinto francês de renome para compor o parágrafo. mas se quero os livros, mais do que as gentes, é para aprender a não mentir. ou melhor, mentir como ficção, para cutucar a verdade que se esconde mata hari em outras vidas que jamais chegarão as prateleiras, a não ser como dados estatísticos ou manchete já natimorta de crime vulgar com violência amplificada. jamais serão sonetos, poema ou romance, mas talvez crônica, que as crônicas apiedam-se dos desvalidos, desgraçados, das crianças e até dos medíocres.                                                      como disse, pra não mentir, a taça semipreenchida com refresco de goiaba tirada no quintal e onde tapurus também se escondem de gente. não foi dessa vez. eles deviam estar entre os livros. como eu. porque os livros estão em mim mesmo que eu não me lembre deles, ou de títulos, orelhas, conteúdo, ou das tatuagens das minhas mãos que os umedeceram folheando. os livros me fizeram o que sou. grande coisa? bom, imagine sem os livros. só com as gentes? quem precisa de livros? os tapurus; seria a resposta mais certa. mas as gentes dizem que não. os livros, nem que sim nem que não. eu, não  digo. leia se puder. mas não espere explicações no pé de página. 

Thursday, October 21, 2021

Friday, October 15, 2021

último suspiro

se foi hoje mais um                                  gata de outros gatos                              bichano entre tantos                                  que já perdi as contas                                    de tantos nas paredes anotados        chego a moído noves fora                        não são os gatos que tem sete vidas     sou eu                                                         por demais sofrida forma de clarificar    que a morte é um ronronado que cessa  na felina boca que tenta abocanhar              último naco de ar                                            e que sem conseguir congela e paraliza aberta                                                    enquanto eu apenas penso respirar fundo  o morimbundo ar que antes dividiamos sem nojo e que agora me faz tamanha falta a ponto de quase sufocar o que venoso expele                                                       

Saturday, October 09, 2021

decomposição

o amor, nunca morre: dizem incautos, tolinhos de plantão e o costurador de frases feitas. o amor, não só morre, como deixa cadáveres insepultos. e o cheiro, como todo cheiro de morte, é insuportavelmente horripilante e nauseabundo.

Saturday, September 25, 2021

das klaustrophobia

para o claustrofóbico, até escolher entre o caixão e a urna é um terror. se bem que pra se ir para a urna se tem que passar pelo caixão, ó sina, ó vida, ó dores. mas ora, se está morto, o que mais importa? mas se, se ali apertado, como há de se comportar o morto vivo claustrofóbico? e no céu e no inferno, a claustrofobia se cura? ninguém provou. portanto a racionalidade está dando razão aos suores claustrofobicos. aliás, se o humano tivesse mesmo o primado racional não haveriam o pânico, as fobias, cujas explicações suam frio na racionalidade, que não consegue sair-se bem do aperto que é está explicação. traumas, bloqueios psicológicos, desvios da educação, fatores ambientais, castigos tresandados, e peripécias que deram pro torto, tudo pode ser gatilho. se pensarmos como o claustrofobico, o ventre materno não é o tal do receptáculo protetor. o sujeito fica lá por 9 meses comprimido, já sai um tanto ou quanto amassado, e  ainda tem que dar de cara com espaços reduzidos, gadgets da vida moderna, que o perseguirão sem que se de conta até chegar o fatídico dia, que me aconteceu, de enfrentar os aparelhos de ressonância medievais - os tais ditos abertos também não aliviam muito, principalmente se o exame(e o vexame) for do cérebro - você se sente carne de hamburguer prestes a ser esmagado pra tomar a forma - e as mais inusitadas situações, que vão do soterramento em acidentes naturais  (naturais? pois sim) a brincadeiras infantis, onde o claustrofobico é reduzido a contradição de adulto com pânico de criança ( agora imagine a criança claustrofobica com os pais incitando a ação?). em suma, a claustrofobia, é o incomum comum, já que cerca de 5 % da por cento da humanidade é claustrofobica (a porcentagem em cima de bilhões é espalhafatosa ) o que não a impede de ter outras fobias concomitantes ou não, tão ou quanto apavorantes. aliás, pelo andar da carruagem fobia é que não vai faltar no bolso do futuro. quanto a mim, claustrofobico, sim, não arrisco decifrar a ou as razões. castigos intermináveis na infância? sim, e não. não tenho medo do escuro, nem de elevador. mas ficar embaixo de um carro praticando mecânica amadora não me deixa confortável. e, ressonância? bom, não me caguei. mas mesmo no espectro aberto precisei de uma mãozinha pra me safar sem maiores vexames do que quase exasperar as técnicas com minha hesitação ante o "céu que ameaçava desabar" sobre minha cabeça. e aí, novamente a falha do racional: se tivesse de fazer de novo, sem problemas? afinal, passei pelo aperto, sem levantar e sair correndo, ou back to the pavor again? eu é que não vou me testar. passo. e espero que você não passe pelo que passei. a claustrofobia é o reverso da razão. e a razão mete o pé na hora do aperto, asseguro ao espertalhão que acena com a racionalização -  com a muleta das técnicas de meditação ou respiração - para vencer o pavor, como se você não tivesse outras e melhores razões por respirar. caixão ou urna? não alimento dúvidas (nem dívidas). permaneço vivo. até onde a claustrofobia não me alcançar.