Wednesday, December 26, 2018

the last words

misterwalk, o blog, finda aqui e agora .

é o fim da "picada"

se você gosta de beatles (the end, of course)
vai de beatles

se gosta de doors( the end, of course, porra!)

abra a porteira
porque até tião carreiro
cantou o fim (o fim da picada).

e também 
rita lee

" ah! é o fim da picada
depois da estrada começa uma grande avenida
no fim da avenida, existe uma chance, uma sorte, uma nova saída
qual é a moral, qual vai ser o final dessa história ? "

(perguntem pra ela porque que eu já me mandei faz tempo)










Thursday, November 22, 2018

fazen do in possível

conclamam a fazer o impossível
gurus da grandiosidade 
que se dizem atentos
às passividades
entendidas como possibilidades não exploradas
talentos não desencavados
e isto pesa
pois quem gosta de se sentir incapaz de ir além? 
(a maioria da humanidade gosta)

cofiando desditas
filosofo que se o possível não é suficiente
a impossibilidade o seria?
ou apenas demonstração de malabarismo narcisista
de quem quer tornar nossa imanência transcendente?

simplifico então 

faço o que posso - e o que posso faço com vontade -
o que não posso
passo

passo do frevo, passo
passo do lui, posso

só não passo o que posso
porque ai, isto sim, seria covardia de viver

passo a passo o posso vai me dizendo ora sim, ora não
qual é o meu caminho
assim o impossível vai tomando seu rumo(e eu o meu)
pedra no caminho
que em vez de topar
passo por cima
quando posso
quando não posso
não passo por baixo
tampouco dou passo em a(l)to falso
mas de escorregadela
quem se livra?
e lá vamos nós outra vez
no passo do posso não passo
mas sem fazer pose


Saturday, November 17, 2018

aula de catecismo(incompleta)

- religião?
- não tenho.
- não tem ?
- não,não tenho
- mas como não tem? nem uma fezinha ?
- fezinha quem tem é quem joga no bicho 
- tá bom então, uma simpatia ?
- simpatia, é uma coisa que não combina com religião. tem a ver mais com superstição, crendices ou coisas do gênero, vá lá misticismo.
- não é desta que estou falando, não se sente mais identificado com alguma?
- identificação é coisa que se faz quando se providencia o bilhete de identidade.
- pôxa! mas você é difícil, gosta mesmo de complicar, não é mesmo ?
- de jeito nenhum. quem gosta de complicar é religião. aliás complicar, condenar, comercializar, e olha que nem vou chegar as outras letras do alfabeto.
- o que quero dizer rapaz é que entre todas as religiões não tem nada que lhe desperte ao menos curiosidade, desejo de se aprofundar. e por gentileza não me venha com outras tiradas.
- tenho bastante curiosidades. mas não deste tipo. muito sinceramente não espero muito de deuses, salvo mitologias. e da humanidade já não espero nada faz tempo.
- não é possível que você seja totalmente ateu ?
- o que não é possível e você entregar sua vida na mão de quem usa a outra para lhe ferrar.
- mas quem lhe ferrou? muita gente, com certeza. mas deus nenhum, pois para me ferrar eu teria de acreditar, coisa que não acredito. eu sou assim um incréu de carteirinha, entendeu?
- mas...
- não me venha com mas mas mas
- quero dizer, nunca ouviu as histórias sagradas?
- ouvi muitas estórias que não batem com a história.
- é assim que você se refere a bíblia?
- não, a bíblia não é minha referência. mas admito, tem lá um enredo que em muitas partes é pau a pau com as histórias da marvel.
- marvel?
- os super-heróis, aqueles que tem shazam para tudo.
- isto é blasfêmia?
- não acho. blasfêmia é o sujeito fazer correntes abençoadas, daquelas do tipo para salvar o casamento, para prosperar os negócios, para fazer andar os entrevados, enfim, para supostamente libertar de uma coisa para prender noutra. e ai é um tal de vale tudo que não me comove, muito pelo contrário.
- está falando os evangélicos?
- não só dos evangélicos. cada religião engorda o livro caixa com gestões que aparentemente são diferentes mas residem no mesmo princípio.
- princípio?
- melhor dizendo, falta de princípios.

- falta?
- excesso se assim o quiser. você não pode dar um peido sem que isto seja regulado por assim ou assados.
- mas a religião, ao contrário do que você diz, liberta.
- é livre um pássaro na gaiola? não me parece?
- mas não há gaiolas na religião?
- de todo o tipo, a começar dos alçapões dos templos e igrejas, e até nos terreiros, onde se sacrifica a vida dos animais, para além da sua liberdade de existir para outros fins.
- sim, nisto eu concordo. estas religiões, são diabólicas.
- já eu discordo. não me parecem diabólicas. parecem mais humanas, como mais humanas são as entidades, na verdade projeções humanas sobre as qualidades e defeitos humanos, coisa que as religiões indígenas, também exploram.
- ah! mas estas são mais pagãs ainda? chegam a ser bárbaras
- quer coisa mais bárbara do que o princípio de todas as religiões?
- como assim?
- um ser supremo que decide - ou quer impor sua decisão através de primeiros ministros ...
- primeiros ministros ?
- toda religião não tem um ministério?
- agora vou fazer como você ministério e seus mistérios, para testar a fé do homem?
- isso que dizer que mulher não tem fé?
- homessa! estou usando a palavra homem no sentido genérico ao ser humano.
- não me parece, as religiões tem verdadeiro pavor as mulheres. é uma misoginia que suplanta a figura do diabo, este um pobre coitado sempre a levar com tudo, apesar da sua contribuição ao erigir dos deuses.
- contribuição ?
- sim, o que seria das religiões, dos deuses, sem o diabo?
- mas isto é um absurdo?
- será? o que temos aqui me parece um caso de simbiose que é um verdadeiro case universal. uma lucrativa convivência que perdura por séculos, e ao que tudo indica com lucros divididos meio a meio.
- lucros? a religião não visa lucros meu filho?
- não? oh! e a grandiosidade dos templos, igrejas e espetáculos dá-se assim por esmolas ?
- as esmolas, dízimos, são contribuições de fé. ninguém é obrigado a dar.
- tem razão, ninguém é obrigado. é muito obrigado mesmo por todas as formas, das aparentemente mais inocentes as mais canhestras e canalhas.
- você tem um linguajar inadequado as questões da fé e da religião?
- ai é que está, ao cunhar um linguajar específico, as religiões, as fezes(sim, isto é o plural de fé) elas impôem o seu poder. linguagem é poder. já nos ensinam os médicos, xamãs, curadeiros, místicos e sacerdotes, ora pois pois, com seu latinório a nos fazer de rasteiros que não decifram a linguagem das alturas.
- não é isto, trata-se de um ritual.
- sim, mas todo ritual tem um objetivo que é de, senão convencer, perpetuar o " esclarecimento", aquele tipo de esclarecimento que dá-se pela manutenção da ignorância.
- é isso que é para você a religião?
- sim. não há revelações nas religiões, só encobrimentos.
- não dá para conversar com você.
- mas quem puxou conversa foi você sobre assunto que não tenho o menor interesse em alongar.
- a vida é longa meu filho - isto para alguns - então vai chegar uma hora que você vai sentir falta da religião, principalmente quando tiver que acertar as contas com deus.
- eu não tenho contas a acertar com deus. e se tivesse não seria eu o devedor, de certeza. e portanto este tipo de anátema não me pega.
- é o que diz todo pecador, todo aquele que não acredita em deus até chegar a hora h.
- bom, chegada esta hora ai é que não vou precisar mesmo de deus, não acha? talvez de uma boa dose de anestesia, seria o ideal, de tranquilidade para assim morrer. na falta de anestesia alguma outra droga também viria a calhar.
- mas isto só se consegue com deus, pela força de alguma, vá lá, religião, para você não dizer que estou puxando a brasa para a minha.
- o problema das religiões é que elas querem impor a sua necessidade onde nada mais se faz necessário. onde seria ou poderia ser necessário, elas se omitem ou negociam seus termos?
- negociam? deus e a religião, não é motivo de negociatas.
- não é o que diz a história, hoje mais ainda, basta ver o que acontece no congresso, com uma negociata sem fim pelos homens da religião.
- religião e política não se misturam meu filho.
- ah! é? digamos que história também não? não tem uma religião que tenha escapado das negociatas políticas. aliás o fim da religião, é o poder.
- poder só de deus.
- mas se é assim, porque deus precisa de tantas estruturas hierárquicas de poder, de papas, de bispos, de pedros e paulos? de edires e malafaias, de franciscos e cíceros(não o da catilinária).

Tuesday, November 13, 2018

poema perneta

todo fim tem um começo
todo começo tem um fim
e não há quem duvide
todo meio tem um meio

por isso nem me descabelo
nem me despenteio
se não sei que sei que não mais alvoreio
muito embora isso seja de arrancar pentelho

Wednesday, October 24, 2018

reminiscências históricas ou escadaria abaixo toda pepeca e pinto ajuda

nos anos 60, o aparelho sexual mais usado era o elevador. disputava pau a pau, na verdade degrau por degrau, com as escadarias dos prédios - quanto mais altos melhor - quem era mais safo e preciso na hora do pau nas coxas; e no pau e bucetinha pra que te quero, quando um simples pigarro fazia tudo correr escadaria abaixo. porém, mais do que dúvidas sobre o sexo naquela época, ainda hoje há montes de dúvidas sobre quem se sobressaia melhor quando o pigarro era na porta do elevador, seguido de furiosas batidas do  - vou chamar o porteiro! que nalguns casos já estava devidamente corrompido a nosso favor, provavelmente pra lá de "entretido" com os catecismos do zéfiro, adquiridos a duras mesadas, para comprar o seu silêncio, e a sua demora em verificar o elevador emperrado. 

o certo, é que depois destas, nem vigor de pré-adolescente conseguia fazer subir de novo qualquer coisa que não fosse palpitação e risos safados da escapadela que por pouco não ia pica a dentro. sou levado a pensar que gostávamos mais da adrenalina da escadaria abaixo. do que o pau abaixo do umbigo, ou do elevador que nos levava para o alto. para só então, alguns poucos, descobrir o tamanho do "fundo do poço".

tempos outros, não as chamávamos novinhas, lolitas, quem raio sabia o que era isso? mas sabíamos que estávamos já na idade de tudo descobrir da melhor ou pior maneira. e que fosse calcinha bunda rica, ou com furinhos, que nem assim as faziam bunda de pobre, o certo é que tínhamos muito mais que dez dedos, talvez para compensar o peru que muitas vezes morria de véspera, tamanha ansiedade e nervoso.

fato é, que as meninas eram sempre as mais mais do pedaço. nos iludiam, fazendo-nos crer que nós as iludíamos. o final disto eram punhetas intermináveis, misturadas as lágrimas lambidas, tal qual lambíamos aqueles pelinhos que agora nunca mais. não que elas fossem volúveis. nada disto. mas elas nunca estivem na nossa. tampouco na próxima. elas sempre estavam noutra muito mais a frente. ao contrário do que tentam fazer parecer, as mulheres, enquanto meninas, amadurecem muito mais rápido. para, infelizmente, encruar depois em algum casamento que as faz ser o que nunca foram. e os meninos, não vou dizer pobres meninos, se tornam não raro, os machões odiosos que conhecemos.

mas antes disso tudo, e de tudo isso, éramos seres de calças curtas. de tal forma que, pelo que me lembro, da minha turma, eramos todos cavaleiros. nada de julgamentos comportamentais ou adjetivos nada galanteadores sobre as meninas. no máximo um comentário sobre a peitaça de fulana, ou sobre o quase desmaio de sicrana(ainda sequer sabíamos que o nome disso era gozar). alguns de nós gozávamos sem ejacular. e os que ejaculavam, muitas vezes diziam eles mesmo- eca!, enquanto algumas, raras, arriscavam o-  é bom pra pele, tem gosto de abacate. abacate? bom que tem viamina tem, dá o que pensar.

nos anos 60, apesar da repressão, naquele quarteirão do bairro do estácio, para além do cheiro da marmelada colombo, fábrica vizinha ao nosso edifício, faziamos nós as nossas. sim, porque tudo era mesmo uma marmelada. o sexo não passava de brincadeira de crianças, como deveria ser todo o sexo, que os adultos sempre acham um jeito de estragar.

          (depois haveria o carro, mas isso, pra nós, já era anos 70. a dureza continuava)

           

Sunday, October 21, 2018

asas pra que te quero

"que´sta merda abana mas não cai!

o grito, algo cômico, algo pânico, veio lá das poltronas de trás. junto com a desaceleração da aeronave, que nos parece tranco, mais para "freio (travão) de arrumação"* - exatamente sobre a ponte 25 de abril, o que, ao alvorecer(a depender do seu horário de partida/chegada) é um sinal que estamos à breve tempo da aterragem; dá-nos a pista, do aeroporto de lisboa, agora chamado humberto delgado, na portela. o que não me permite, nem lhe dá o torto de fazer, trocadilho barato, com porteira de chegada, que experimentei primeira vez, no já longícuo 1991, que nem em vôos de coração consigo recompor. dai em diante, de 96 a 2002 foram sensações tantas, iguais e díspares, por cerca de dez vezes, trancos tantos, que ainda assim, hoje, já não me abanam, já que não saio mais do chão, pousado nos roídos das paixões que aconteceram ou deixaram de acontecer, justamente porque não mais abanei o rabo daqui.

quem já foi a lisboa, saindo do brasil, sabe bem o que é isto. da primeira vez, realmente, assusta. das outras, nem tanto. mas "o peso do ar" faz o pássaro mais parecer que vai rugindo, mugindo, desandar ao mar, tamanha tonitroância das turbinas, o que não me deixa, embora gostasse, de chamar de arrulhos, tentativa que chamarei de poética, pra não dizer patética, entre as tantas que ensaiei nas chegadas e partidas à nova casa de além mar.

a tap, e a seus aviões, devo o início da compreensão da lógica cartesiana da expressão do pensamento, pelo menos cotidiano, português. o que me facilitou a vida, pessoal e profissional, bastante conveniente a um homem das letras publicitárias, afastando-me das anedotas farofas, que brasileiros, os tais que se acham providos de (falso) humor(para além do mau), costumam usar para tripudiar da "falta de inteligência lusa". mas quando percebemos que os aviões lá descolam, e não decolam como cá(e aterram/aterragem, e não aterrisam, como dizemos, o que está mais perto de aterrorizante) se não formos mais estúpidos, do que costumamos ser, vemos o quão é genial o sentido. afinal, aquela " merda que abana mas não cai", e que pesa dezenas, dizem alguns centenas de toneladas, consegue descolar do chão, não sabe-se lá muito bem porquê - dizem alguns que é a tecnologia, eu acredito que deve-se tão somente a fé do piloto -  e isto posto, eis-me aqui no trocadilho patético, é "muito descolado", fixe, dir-se-ia por lá, gíria(diriam calão, os portugueses) "das antigas, assim como meus tempos naquelas terras, dos quais, com passar do tempo, já consigo descolar-me, não sabendo ainda se tal descolagem é para o bem ou o mal.

do dezembro de 2002, até meados de 2017, mesmo sem sair daqui, fiz e refiz as viagens em vôos passados, e a querer futuros. mas fui perdendo empuxo, o que é natural, até para os aviões. com o tempo, salvo para os obstinados mais que tudo, que não é o meu caso, todos perdemos força. e ganhamos peso a mais na fuselagem - quando não nas vontades sonhos e memórias. e assim fui ficando cada vez mais com o pêso dos tempos, se não no corpo - talvez fosse preferível - nos sonhos e nas vontades de alçar o que quer que seja(sim, o tesão também fica pesado).

nem pássaro, nem avião, grudado ao chão de distâncias cada vez maiores, diria hoje o passageiro lá bem atrás, nas poltronas e no tempo: cuidado que esta merda agora abana, e só cai.

e assim lá vou eu abanando, e caindo para o alto, nas asas da canção, porém sem mais nada espreitar para além da falta de ar.

* quando os ônibus, sempre cheios no brasil, estão com passageiros mal distribuídos nos auto-carros(ou muito à frente, ou muito atrás) os motoristas acionam o freio subitamente, o que faz com que os passageiros se desequilibrem e assim recomponham sua distribuição(mas nem sempre o equilíbrio é conseguido, quando não, muito pelo contário: abanam e caem).
  

         

Monday, October 15, 2018

"redemption song"

hoje
cada vez 
que fundo 
afundo em mim
é como redenção
ainda que espaço destroçado
nunca caberá
em post-cards
rendição 

se outrora
já saí tanto
batendo porta
tambor
em meio a tanto 
quebranto
sempre rastro de revolução
ainda que algumas resoluções
e batidas
não tenham sido as melhores


sim
quebrei cara 
e coração
parti alguns braços
inclusive os meus
mas rim e fígado intactos
apesar de não aguentarem mais
tanta saideira


porém 
em qualquer quebrada
sempre 
inteira
luminosa ou sombria
estava lá
a música

e se ela estava lá
por quê eu não haveria de estar?
mesmo do jeito que sou
estou
alquebrado
ou ainda quebrando
tentando os acordes perfeitos
ao lado de quem nunca o será
digo eu olhando
para mim
ontem 
e hoje para ela
que se foi no amanhã
antes que eu me fosse agora

então
sonora caliente senhora
me faz sonhar 
com o que eu tenho ainda intacto
para que quando acorde 
para o nunca mais
apesar de partido
eu saiba que tudo foi real
ainda que eu tivesse comigo
o que não se sente
quando se está(ou se pensa) inteiro
ainda que provavelmente isso também já tivesse pra lá do partido.
 
    

Monday, October 01, 2018

"certezas da dúvida"


se fosse um humano (ainda mais nos tempos de hoje) teríamos dúvidas se o animal estaria segurando ou empurrando a criança.

sendo um cão, não! e esta é a diferença básica entre os animais e os humanos; e o porquê deles nos quererem tanto bem, sem duvidar de quem.

não é outra a razão, pela qual são mortos frívola ou cruelmente por nós. não por sua estupidez? em afeiçoar-se aos humanos? mas sim porque o fazemos por razões tão estúpidas, quanto nossas dúvidas, acerca deles(e de tudo o mais). 

e assim, os ceifamos - ou eles nos deixam ceifá-los, ao menor titubeio(nosso) justamente por pensar, que nós também seríamos líquidos e certos. quando na verdade, somos apenas, quanto mais duvidosos, mais certeiros e cruéis, nas certezas de nossas dúvidas.








Friday, September 28, 2018

reta final

              ainda em dúvida se gosto mais dos versos ou dos controversos

bukowski é deles

Friday, September 21, 2018

sem azucrinação

se alguma vontade post-mortem me é reservada, que eu não tenha velório.
detesto aquelas môscas em volta.

Tuesday, September 18, 2018

moxinifada



de que adianta o goleiro fazer defesas difíceis se ele leva gols fáceis?

de que adianta o centroavante fazer gols difíceis se ele perde gols fáceis?

ah! meu amigo, minha amiga, oxalá estivessemos falando só de futebol.

Friday, September 14, 2018

Monday, August 20, 2018

dize-me espelho meu

                                                 melanie griffith teen



inimigo ou aliado?

para a esmagadora maioria, o tempo é inimigo. 

aquele que dificulta as subidas, quando somos centelhas em pilhas, e empurra ladeira abaixo, quando ainda temos a energia de um flash. poucos são os que o tem em conta como aliado.

mas para além de todas as ironias do que é capaz, o tempo é um vingador. e nos dois sentidos. nele, espraiam-se vinganças inimagináveis, que resistem ao próprio tempo; ao tempo que e onde, delicadamente, mas nem tanto, sementes  podem vingar, crescer, frutificar, amadurecer e reiniciar todo o processo, principalmente quando não mais o pudermos contar, vingados que fomos.


mas suprema ironia reserva o tempo em sua vingança - nos dois sentidos - para com os bonitos. a vingança do tempo para com a beleza é implacável. já para com a feiura, tem-se-lhes piedade e uma certa candura.

quem nasce bonito, quase que invariávelmente sentirá o peso do tempo, e a cobrança rentista dos juros de ter sido criança, adolescente, ou mesmo já formado, homem ou mulher de beleza notória;que não escapará da desdita que lhe chamamos vingança. quem nasce belo, dificilmente morrerá belo, o termo a todo tempo o tempo o dirá, por mais que recursos tenha para esticar a beleza. afinal, ninguém é páreo para o bisturi do tempo.

já quem nasce feio, muito dificilmente, ficará ainda mais feio. o tempo lhe faz condolências, algo como uma indenização pelos danos sofridos, de modo que os feios,com o passar do tempo, já não se fazem ou se sentem tão feios, nós principalmente não os achamos( o tempo nos faz acostumar para alguns, para outros, descobrir belezas onde não havia antes) e no lugar onde os bonitos espalham maldizeres, resmungos e blasfêmias, os antes feios, deixam-nos tranquilidade(nunca resignação) quase perfumada, talhada pelo tempo tremido no espelho que agora valoriza suas rugas e expressões e dá-lhes o braço a torcer. mesmo que o feio se torne ainda mais feio - sim é possível - o efeito não se dá nas proporções de quem bonito era e agora não é mais.

quase nada de bonito resta com o tempo aos bonitos. mesmo que sua vida tenha sido um musical, fazem circo de horrores em seus últimos espetáculos.

já os feios, quase todos, claro há exceções, assim como para os bonitos - porém menores do que as entre os bonitos - interpretam seu monólogo com a profundidade que vai além da beleza à flor da pele. os feios revelam-se em ossos reluzentes e contundentes, os bonitos carne estragada, ou no máximo enlatada.

assim o tempo, este ente tão decantado, talvez maldito por nunca envelhecer, ou melhor por fazê-lo em nós, faz-se o tempo que vinga, e o tempo que é templo da vida plena, se souber-mos conservá-la por outras vias que não as da beleza ou feiura exterior.

agora, enfeie-se ou embeleze-se com um barulho destes(que no ocaso do tempo, é um de um silêncio ensurdecedor).

      

Thursday, August 09, 2018

2040*

é quando vamos sentir de maneira irretrocedível os efeitos de tudo o que estamos fazendo agora, somado ao que já vinhamos fazendo já há algum tempo, em matéria de poluição e destruição. é irreversível dizem os catastrofistas. é vero, dizem os trofistas. é lero dizem os sofistas. como eu só sou surfista, vou aproveitar a onda como posso. porque quando ela quebrar eu já terei caido da prancha antes. bem antes ?

*originalmente publicado aqui mesmo, em 27/10/2006

Saturday, July 28, 2018

por entre orelhas

bibliothèque nationale de paris

o conhecimento não nos traz a felicidade (pessoal) como seria de se supor ou apregoa-se por aí. 

há quem diga que na ignorância se é mais feliz, ou na extrema inocência, como o de uma criança e seu sorvete. mas sem dúvida, o conhecimento nos permite entender as causas das tristezas e mazelas (sociais), e isso pode nos trazer ainda mais infortúnios (como ser feliz em meio a tanta infelicidade?) (a "maioria consegue"). até porque, nossas tristezas particulares, nos revela o conhecimento, nem sempre são tão particulares assim. 

de forma que, ainda que nos seja doloroso, o conhecimento, nada é mais doído ou triste que ser, seja o que for, feliz ou triste, sem saber realmente o porquê. mas quem se importa? 

afinal, para maioria dos humanos, sentir (ainda) é mais importante do que compreender(mas se pode compreender sem sentir? - a filosofia diz que sim - ) o que nos reduz a outras espécies(mas sem a habilidade deles).

e quando finalmente compreendemos isto, na maioria dos casos, resta-nos não muito mais do que o sinto muito.




Monday, July 16, 2018

sol à pino*


numa célebre ponte histórica do recife, atravessou-a ligeiro; e já na cabeça da ponte lembrou-se, não sabe como, a sua andava uma merda, que saíra de casa sem documentos. voltar tudo aquilo, puta que o pariu! calor sufocante, suor escorrendo em pingas, gente feia e mal cheirosa a lhe atrapalhar os passos, chutou as pilastras e bradou isso é uma tabaca de chôla. mediu a distância entre uma cabeça e outra da ponte e quase chorou de tanta raiva da distancia hiperbolizada pelo sol à pino. caralhos me fodam! voltar um carai, nem que se foda. e pulou na frente do ônibus, que lhe petelecou a bunda, projetando-a sobre a murada, fazendo-o cair de cabeça na lama fétida do rio. desemborcado o cidadão, repetia quase afogado, voltar um carai, cuspido de lama em plena bosta de rio. populares prestativos e bombeiros amuados convergiram. surtou e foi de gaia. de cima da ponte um bando de cornos mansos amontoava-se sob um sol à pino para apreciar a teimosia alheia.

*originalmente publicado sob título de numa certa ponte histórica do recife, em 19,11,2007.

Friday, July 13, 2018

pé de página *


sim, os livros são uma janela para o mundo. mesmo quando se dá as costas a ele, ao mundo e, nalguns casos, até aos próprios livros, depois de lidos ao desprezo. 

creio que há livros que não se esquece jamais, pois estamos dentro dele ou ele dentro de nós, ainda que esqueçamos quem os escreveu e até os personagens ou o conteúdo não ficcional. 

mas para alguns as janelas do mundo permanecerão fechadas para sempre. principalmente para os leitores de um livro só - a bíblia principalmente - ou o capital que seja, ou o decameron ou a ilíada, ou ulysses ou o arco-iris da gravidade. 

e atenção: por mais bonita que seja a arrumação da biblioteca, livros são para serem desarrumados. só assim desarrumam o pensamento que se quer sempre em pezinhos de barro. sim, ao contrário de quem pensa, muito ou pouco, muito pelo contrário, livros são "para confundir e não para explicar". pois o mundo explicadinho, convenhamos está se transformando nesta merda que vivemos. 

portanto, leia, desarrume, desaprenda e faça de novo, e de novo, até não precisar do rascunho dos outros no de dentro para fora ou no de fora para dentro dos livros.

publicado aqui mesmo em 09 de novembro de 2014*

Monday, July 09, 2018

um olho no prato outro no humano *

um fundo de garrafa pet mal cortado. o suficiente para que seja improvisado um comedouro para que o gato sarnento de rua faça as refeições que lhe propus dar.

nada demais, eu sei. no espaço das calçadas fronteiriças, sempre que saio ele está lá. vigiando cada vez mais os meus passos, e dando-me bom dia quando saio, ou boa noite ou madrugada quando chego.

o gato de pequenos olhos amarelos tem linha. black-white, se não fosse a sarna a altura do pescoço, que lhe deixa quase parecendo um galo em petição de miséria. seria uma pérola em qualquer sofá de cobertura.

penso que se tiver acesso a alimentação, que não seja provida azeda ou quase-podre pelo lixo, sua sorte pode melhorar. não há de alcançar o sofá, mas alcançará mais rápidos muros e outros roteiros de fuga. já que na vida de rua, olho vivo sem forças, não basta para sobreviver.

com o gato aprendo que existe algo que não melhora. não a sua sarna, mas a enorme coceira humana em sua sina de sarna. já perdi as contas das vasilhas que andei a cortar, para improvisar o tal vasilhame, onde o tal gato possa se alimentar. mal as coloco, e sempre tem alguém a chutá-las, despejá-las, roubá-las, enfim: desaparecem como se o destino raso a que se lhe destinam agora fosse algo mais importante do que matar a sede e a fome do gato, que tem linha, apesar da sarna, coisa que decididamente os humanos, adultos e crianças, que somem com as vasilhas, não tem.

para não perdê-las, fico de vigia, e o gato, que aprende rápido, como se já não soubesse o que é o dejeto humano após tanto tempo na rua, come o mais rápido que pode, para tentar salvar o pescoço: um olho no humano, outro no prato.

um simples vasilhame de pet "malamanhado" acaba sendo o portal revelador de quem é quem neste mundo de chuta-vasilhas sem nexo. o gato sarnento que tem linha, e que não a perde - mesmo sabendo que sou eu que lhe ajuda, e que não chuto, nem vasilhames, nem gatos - mantendo a distância, alertando-me, para evitar o contágio com os sarnentos sem linha, que indubitavelmente são os humanos;e não o gato que, ainda que sarnento seja, o é de outra espécie.

publicado aqui mesmo em 08\11\2008

Tuesday, July 03, 2018

bom dia*


as portas da padaria, o cão vira-lata aguarda alguém que lhe seja capaz de dar bom-dia, com um pedaço do que seja pra comer.

contemplo-o antes de estacionar. de porte médio, pelo castanho, olhos caramelo, tem mesmo cara de gente boa, e já me ganha de saída, ou melhor, de entrada. se estiver aqui ainda quando eu sair ganha uma festa e um pedaço do meu café.

adentro a padaria para o habitual. o de sempre, confirma a moça do outro lado do balcão o que confirmo com um aceno - o de sempre é uma vitamina de banana, pão com ovo e um café médio sem leite (já basta o da vitamina).

do assento do balcão, que mais parece assento de guarita, elevo-me a condição de observador privilegiado de todos que estão dentro da padaria naquele momento. são cerca de vinte pessoas, entre crianças, adolescentes, um pouco mais, maduros e gente quase senil. nenhum deles tem um sorriso na boca. sequer naquele começo de manhã ensolarada. muito menos os empregados.
guardo pouco menos de um quinto do pão com ovo que é ainda um pão francês avolumado.

pago a conta e dou ao cão, esta altura já com crise de consciência.
pela espera, rabo abanando, e aquele sorriso de bom dia que só o otimismo de um cão enxergava naquela manhã, apesar de ser um cão de rua, merecia tomar café no meu lugar.
mas claro que num lugar onde os sorrisos estivessem a altura do sorriso largo do seu. bom dia de cão, que era muito maior do que de todos aqueles de uma padaria inteira.

*originalmente publicado aqui mesmo em dezembro,12,2007.

Thursday, June 28, 2018

apostema

hopper


pensar, faz doer(sthendal).
mas nada é mais doloroso do que viver.

Saturday, June 23, 2018

por trás do espartilho

the broken column, frida kahlo

talvez por educação formal (e informal) da profissão - sou redator antes de tudo - não me deixo levar, tampouco impressionar, ou sensibilizar, pelo lugar comum, pelo déjà vu, pelas frases feitas, pelos bordões, dito populares, pelas figuras de linguagem, analogias de camelô, metonímias rasteiras, sobretudo abomino eufemismos, e metáforas rasas, cacofonias e pleonasmos então? nem vou aprofundar.

pois bem, quando se trata de amor, minha nossa! o repertório do que detesto promete. começa e finda pela bucha do "coração partido", que ninguém merece mais. 

o coração, tal como o sabemos, não é lá orgão que se preste a partição, sendo isto figura ou não. o coração esbagaça-se, desmancha-se, entumesce, deteriora-se, mas sua partição é algo que dificilmente acontece na natureza dos fatos. mesmo que ele leve um tiro de calibre 50(ou machadada) vai pro caralho, mas não se parte em bandas, tal como imaginam músculo bovino semi-congelado, retalhado em açougue. pode até ser fatiado por algum serial killer gourmand. mas partir? no sentido de quebrar em partes contadas ou como estilhaços de cofrinho ou quebra-panelas, eis o improvável batendo forte por aqui.

então, porque raios cristalizou-se esta patologia poética do "coração partido" quando se fala de amores inconclusos, perdidos ou das tristezas do abandono?
puro eufemismo meu caro, olha ele por aqui.

quando se trata de dores de amor, elas não vem do coração. vem de algo bem mais terrível e doloroso: vem da quebra da coluna vertebral, a espinha dorsal que fica engasgada, muitas vezes para o resto da sua vida, em vários lugares que não o dela. e a quebra da coluna vertebral você já pode imaginar os estragos decorrentes. menor delas a dificuldade de retomar outra vez o passo.

coração, até por transplante se dá um jeito. já coluna, quando quebra, por porrada, mal-jeito ou por conta de amores interditos ou não, eis o ser humano fragmentado, quando não paralisado, tetraplégico de emoções, e de uma forma dolorosa a tal ponto que faz parecer que as dores do coração tão decantadas, não passem de dormência passageira.

frida é kahlo é única, porque viveu na coluna a nossa percepção eufemística de tais dores. e foi direta ao ponto. expondo a fragmentação de uma vida dolorosa, por questões de saúde, e de amores, vivida de forma algoz em que a dor tornou-se catapulta para a explosão artística, onde a beleza emergiu da tragédia de suas dores em multi-coloridas formas cuja partenogênse foram a poliomielite e mais tarde amputação da perna em consequência.

bem disse o veloso(não o rui mas o caetano): "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é". frida, o sabia como niguém. nós, não: ficamos na chorumela do coração partido, misturando saliva furtiva e lágrimas desgarradas ao som de corazon partio - alejandro sans - (que se for ouvido na versão dueto com ivete sangalo, puta que pariu! que desgosto).

portanto caro leitor(a) mantenha a coluna reta - mesmo que ela esteja rachada - e não se deixe partir por quem já foi acreditando que partiu seu coração.

frida pintando a vida como ela o é

Sunday, June 17, 2018

carpe diem*

virada do ano. todo mundo fazendo promessas de tudo um pouco e sabe-se mais o quê, para mudar de vida. dos pequenos aos grandes detalhes, como por exemplo, perder a barriga, a verruga, livrar-se da operação na bexiga ou refestelar-se no prêmio da loteria que é quase certo não virá. 

vida - bem ou mal - vivida, e seus traços, são como varizes. uma vez instaladas, não adianta querelar. seja qual for o laser que se sonhar, elas vencerão e ficarão eternizadas na batata dos seus tiques existenciais para sempre. mesmo que apagadas por recursos dolorosos - são falsas também as promessas que não vai haver dor - e prontamente não se as vejam, elas e você sabe, estão lá. 

quanto a mim, de há muito não faço promessas. concentro-me em não tentar ser uma pessoa nova - ou na mania de fazer tudo velho de novo como se fosse outro sob a disfaçatez de uma falsa mudança, a viver como novo, as mesmas coisas de sempre(mas há quem acredite que vai perder a barriguinha - sem deixar de abarrotar-se de chopps e chouriço - e que o sexo tântrico vai salvar seu casamento ou união de outros interesses).


satisfaço-me com os centavos atirados a fonte do desejo, que carregam o pedido, sem troco, de manter-se exatamente como sou, fiel a mim mesmo, e a minha teimosia taurina. afinal, leva-se uma vida - tantos nem assim - para aperfeiçoar o que quer que seja, inclusive os defeitos, que se aprimorados à excelência, acabam-se tornando virtude, ao contrário das virtudes que não resistem as tentações que derrubam promessas, que esvaem-se na duração do tempo de bolhas de espumantes. 

sonhos, varizes, anos novos, promessas, precisam de tempo de vida, mais do que tudo. e isto, é exatamente o que temos cada vez menos. para que então desperdiçá-lo tentando ser o que já não mais seremos, se sequer somos o que prometemos ontem, antes de todos a nós mesmos?

* publicado aqui mesmo em 8/01/2010

Wednesday, June 13, 2018

o himalaia sou eu - também pode ser você

royal enfield himalayan: o fleugma britânico
da marca das "café racers", agora montadas na india
sob as vestes de um modelo com, e para, o melhor espírito do devagar
e sempre(e economicamente)

well, dizem que já estou numa idade onde quase todos buscam o nirvana. eu,  ficaria satisfeito se atingir o himalaia. e já agora, a himalayan, of course, que me inspirou a escrever sobre a "motoridade", depois de tanto pisar em dunas móveis, e me enterrar em castelos de areia, em tardes praianas. acaba sempre que você coloca-se à altura dos seus obstáculos. portanto: mire baixo, e acabará sempre na merda.


antes das divagações de sempre, deixe-me dizer, se é que não sabe, que a royal enfield, é a marca de motocicletas mais antiga do mundo, em produção contínua – fez seu primeiro modelo em 1901 - e que no século passado mudou-se de armas e bagagens do reino desunido para a índia. de fabricante de armas passou a fazer motos, com um slogan bem apropriado: feitas como armas ou coisa parecida, sem contar que foi a primeira a fazer uma moto à diesel.

de motos, não sou marinheiro de primeira viagem. tive algumas. comecei flertando com a jawa 125 - e não necessariamente nesta ordem -  honda 125, yamaha 180, sahara 350, honda 400 II, cagiva elephant 900, yamaha gts 1.000. todas elas, a sua maneira, habilitam-me a dizer-me um motard, até porque fui mais longe do que me levariam as estradas do meu país. mas as trail, ah! as big- trail, principalmente por conta da cagiva, são mesmo uma paixão. já amei as triunph, e já olhei pela cerca do jardim as bmw 1200 gts. o tempo passou, a resistência física não suporta, antecipo, quase 300 quilos das meninas fogosas, isso à seco. então, para não ficar no papai e mamãe, resolvi desistir de sair montado por ai nos meus cavalos e mulheres de sonho, condensados no sexo louco ou suave que é pilotar uma moto. ainda mais se for com destino a lugares que a vizinhança não se arrisca nem em pesadelos.


por isso mesmo, já havia tirado motos das minhas last words, e encaixado os jipes, decididamente. mas eis que os tais indianos resolver fazer uma moto, com sotaque inglês, destas que te prometem levar ao fim do mundo(o começo não me interessa), baseada na confiabilidade de um motor tradicional, carburado, de mecânica com fácil reparação, altura que facilita a vida de quem tem 1.75, monocilíndrica, 400 cilindradas, peso médio, e um visual clássico, que remete a paixão pelo que vem à frente, e não pelo que ficou e logo some do retrovisor.

não sei como se diz caralho! em hindi. tampouco nas outras cerca de quatrocentas línguas que se fala por lá. mas foi o que disse ao vê-la em imagens das notícias que dão conta que, talvez, no segundo semestre ela já esteja à venda no brasil. noutros países, mais de cem, maioria dos quais também não sei como dizer caralho na língua natal( o que é um problema para quem se aventura por ai, ficar com o caralho enrolado na boca) já está rolando, inclusive com edições especiais. caralho!

para os sedentos de velocidade e potência - e visual dos mangás japoneses - a himalayan, pode ser uma decepção: a velocidade de cruzeiro não irá além dos cem por hora(a favor do vento); não permitirá grandes esticadas e retomadas de aceleração, sem esgoelar o conta-giros, leia-se motor, e nada de guinadas bruscas, escudado nos novos gadgets de eletrônica embarcada, que isso não é seu forte. é uma moto "pura&dura", com os defeitos e qualidades que carrega, para além dos daqueles que a carregam mas sem os poréns destes. portanto, apta a desbravar caminhos(não com aquele brilho dos vídeos testes) desde que você saiba e esteja preparado para os altos e baixos, quedas e derrapadas, de qualquer caminho que o faça seguir em frente.

sinceramente, não sei se chegarei a tanto. vontade não falta. mas vontade só não sobe montanhas, por mais que se use a figura da vontade como moto de parábolas inspiradoras - principalmente nas empresas ditas moderninhas, que as usam como motivação para esfolar seus empregados.

de qualquer forma, não sou besta de acreditar que se não vou ao himalaia o himalaia vem até a mim.

julgo-me mais esperto; e arrisco a figura: o himalaia já está aqui; bem dentro de nós. e na maioria da vezes, nós não o subimos, mas descemos de bunda no chão, de quatro, pateticamente. subir, nem pensá-lo, para a maioria dos mortais.

como sou mortal, e prezo a minha bunda, com os apegos de outrora, digo que sei não, a himalayan pode ser uma boa desculpa - e ajuda - para subir ao topo antes de despencar de vez para o mais alto dos abismos. então caiamos de pé, ao menos na estrada, que seja. 

figura de linguagem ou não, sei que de qualquer maneira estou indo, nem que seja à pé. aprendi que é sempre melhor morrer em movimento do que viver parado . e assim, lá vamos nós subir outra vez, o himalaia que cada um, a sua maneira, carrega dentro de todos nós; e que por isso mesmo é sempre tão atroz para com os que reclamam do peso da vida. o que nos leva a acreditar que a moto é mesmo o veículo mais adequado para tal viagem, já que não permite levar muita bagagem, muito menos garupa(se leva cairão os dois de bunda antes de meio trajeto). 

então, é você com você mesmo e o moto condutor que julgar mais apropriado para chegar ao seu destino.

बीएम विन्डो एओ हिमालयिया *


        


em hindi, quer dizer: bem-vindo ao himalaia. p.s. não pense que o google tradutor vai lhe ajudar nesta viagem porque não vai não. de modo que a mímica, e o inglês perdido, é o que deve levar em mente.

Monday, June 11, 2018

na falta de um lenço(que pode ser ainda de pano ou papel)

a dor
é o catarro
que engulo
para não cuspir
na calçada

e saio assoviando alceu valença 
como se nada tivesse acontecido 



        

Thursday, June 07, 2018

o lugar exatamente aonde


este sou eu agora 

para alguns é triste
é estar só
ilhado, preso até
encastelado
sem saída
fim da vida 
em ruínas
sem saída
abandonado
no way
deve fazer frio
e o mofo deste lugar?

que lugar mais sombrio
lugubre até
uma falta de perspectiva
dele quem se lembrará?

o que não me assusta
é que: sim;é isso tudo e mais um pouco até
mas é exatamente onde quero e posso estar

quantos podem escolher onde, quando, e como estar ?
como veem, não sou eu que estou miseravelmente ilhado.



Sunday, June 03, 2018

das ilusões dos sentidos

tudo que vejo, vira palavra
tudo que olho,vira sonido
tudo que escuto, vira raio-x 
tudo que toco, não se tocou
tudo que como, diz-me como gostas
ainda que digas que isto não cheira bem

tantas vezes fiquei surdo com o que vi
assim meu olho, virou catarro
o que não toquei, esqueci a música
o que comi, nunca foi devagarinho
(cabei não aproveitando)
e lambi de nariz tapado

rumino o que resta pra baixo da língua
palavra míope
sem sonido
como vi vi
quase engasguei
com o que não vejo que me acerta
sem o cheiro que me esgota

assim sendo
palavra, virou cuspe
tateio às escuras, seixo brilhante encontrado no raio-x
o que não comi, escuto agora
e engulo as ilusões
sem nenhum sentido de olfato
embalado por jambalaya
que pensava eu ser a nossa jabuticaba




Sunday, May 27, 2018

da falta de visão ampliada*



a presbiopia veio, como é de se esperar, por volta dos quarenta e poucos, o que é sempre muito pouco quando se vive de olhos abertos para o que vier.

a falta de visão para longe, mais tarde, dez anos depois, mais ou menos, a memória talvez já acompanhando a falta de visão.

acostumado, por formação - ou deformação - profissional a focar nos detalhes, e neles buscar, para o bem e o mal, a diferença, sem óculos, perde-se, por assim dizer, o distanciamento crítico. é o que acontece agora quando estou sem lentes.

ao mesmo tempo, surge uma nova maneira de ver as coisas - na verdade de não ver - o universo turvo, ao contrário do que poderia se pensar, é mais bonito, as mulheres, por exemplo, principalmente. sem lentes, inclusive as do amor, todas são belas. não há imperfeição. vê-se, ou melhor é tudo uma programada ilusão de óptica. a loura fatal, onde de loura apenas a tintura que lhe corrói o tônus, a depender dos nossos reflexos ressurge teen.

na verdade, descobri este novo dom da visão por esquecimento dos óculos. como sem eles apenas perco os detalhes, mas continuo tendo a visão do todo, arrisquei dirigir sem eles. e aí não deu outra: um mundo novo abriu-se para mim.

mulheres feias passaram a se sentir atraentes; homens carrancudos, não mais que de soslaio tornaram-se simpáticos, grupos grotescos tornam-se pitorescos e assim por diante. e de certa maneira, torno-me um mensageiro da felicidade, pois assim cego, nada me espanta; e a tudo reajo com a naturalidade da suspensão do susto pela ausência da percepção da forma esvaziada nos seus contornos, mas devidamente preenchida pelas expectativas de outras ânsias.

quem assim olhado, passada a sensação da impossibilidade internalizada do primeiro instante de recusa pelos olhos de quem sempre enxerga o mesmo, guarda lembrança para o resto dos dias destes. e, como dizem os especialistas em serem convocados para redundar nos tele-jornais , a autoestima aumenta e o bem estar se espalha, deixando todo mundo mais feliz neste desfoque acertado.

e como a felicidade é um tipo de crack de efeitos e duração ainda mais devastadora , não é de surpreender que isto vicie. dá mesmo vontade se sair sem óculos a todo instante, para ver a vida mais feliz. um vício dentro de outro chamado vida, do qual também é muito difícil largar por vontade própria, de maneira que vamos procurando enxergar o que nos mantém vivos mesmo que por desfoque os mais ou menos que vislumbramos enxergar.

e assim, apesar de todos os desenganos, que os acertos ou enganos da nossa visão boa ou má sempre acabam por nos trazer, ou para aqueles para os quais depositamos nosso olhar mais profundo ou equivocado, esta falta de visão ampliada nos conduz a amores cegos, cujo melhor é que não tateiam no escuro como fazem aqueles despertados pelo melhor da nossa visão.

no fundo, no fundo da retina, olhamos e sabemos que não está lá. nem sequer nos nossos olhos. é algo muito antes dela, também da formação da lágrima, e até do brilho que se recusa a nos espelhar como realmente somos em nossa mais completa escuridão.


publicado aqui mesmo em 27 de janeiro de 2009.