Monday, August 20, 2018

dize-me espelho meu

                                                 melanie griffith teen



inimigo ou aliado?

para a esmagadora maioria, o tempo é inimigo. 

aquele que dificulta as subidas, quando somos centelhas em pilhas, e empurra ladeira abaixo, quando ainda temos a energia de um flash. poucos são os que o tem em conta como aliado.

mas para além de todas as ironias do que é capaz, o tempo é um vingador. e nos dois sentidos. nele, espraiam-se vinganças inimagináveis, que resistem ao próprio tempo; ao tempo que e onde, delicadamente, mas nem tanto, sementes  podem vingar, crescer, frutificar, amadurecer e reiniciar todo o processo, principalmente quando não mais o pudermos contar, vingados que fomos.


mas suprema ironia reserva o tempo em sua vingança - nos dois sentidos - para com os bonitos. a vingança do tempo para com a beleza é implacável. já para com a feiura, tem-se-lhes piedade e uma certa candura.

quem nasce bonito, quase que invariávelmente sentirá o peso do tempo, e a cobrança rentista dos juros de ter sido criança, adolescente, ou mesmo já formado, homem ou mulher de beleza notória;que não escapará da desdita que lhe chamamos vingança. quem nasce belo, dificilmente morrerá belo, o termo a todo tempo o tempo o dirá, por mais que recursos tenha para esticar a beleza. afinal, ninguém é páreo para o bisturi do tempo.

já quem nasce feio, muito dificilmente, ficará ainda mais feio. o tempo lhe faz condolências, algo como uma indenização pelos danos sofridos, de modo que os feios,com o passar do tempo, já não se fazem ou se sentem tão feios, nós principalmente não os achamos( o tempo nos faz acostumar para alguns, para outros, descobrir belezas onde não havia antes) e no lugar onde os bonitos espalham maldizeres, resmungos e blasfêmias, os antes feios, deixam-nos tranquilidade(nunca resignação) quase perfumada, talhada pelo tempo tremido no espelho que agora valoriza suas rugas e expressões e dá-lhes o braço a torcer. mesmo que o feio se torne ainda mais feio - sim é possível - o efeito não se dá nas proporções de quem bonito era e agora não é mais.

quase nada de bonito resta com o tempo aos bonitos. mesmo que sua vida tenha sido um musical, fazem circo de horrores em seus últimos espetáculos.

já os feios, quase todos, claro há exceções, assim como para os bonitos - porém menores do que as entre os bonitos - interpretam seu monólogo com a profundidade que vai além da beleza à flor da pele. os feios revelam-se em ossos reluzentes e contundentes, os bonitos carne estragada, ou no máximo enlatada.

assim o tempo, este ente tão decantado, talvez maldito por nunca envelhecer, ou melhor por fazê-lo em nós, faz-se o tempo que vinga, e o tempo que é templo da vida plena, se souber-mos conservá-la por outras vias que não as da beleza ou feiura exterior.

agora, enfeie-se ou embeleze-se com um barulho destes(que no ocaso do tempo, é um de um silêncio ensurdecedor).

      

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