- religião?
- não tenho.
- não tem ?
- não,não tenho
- mas como não tem? nem uma fezinha ?
- fezinha quem tem é quem joga no bicho
- tá bom então, uma simpatia ?
- simpatia, é uma coisa que não combina com religião. tem a ver mais com superstição, crendices ou coisas do gênero, vá lá misticismo.
- não é desta que estou falando, não se sente mais identificado com alguma?
- identificação é coisa que se faz quando se providencia o bilhete de identidade.
- pôxa! mas você é difícil, gosta mesmo de complicar, não é mesmo ?
- de jeito nenhum. quem gosta de complicar é religião. aliás complicar, condenar, comercializar, e olha que nem vou chegar as outras letras do alfabeto.
- o que quero dizer rapaz é que entre todas as religiões não tem nada que lhe desperte ao menos curiosidade, desejo de se aprofundar. e por gentileza não me venha com outras tiradas.
- tenho bastante curiosidades. mas não deste tipo. muito sinceramente não espero muito de deuses, salvo mitologias. e da humanidade já não espero nada faz tempo.
- não é possível que você seja totalmente ateu ?
- o que não é possível e você entregar sua vida na mão de quem usa a outra para lhe ferrar.
- mas quem lhe ferrou? muita gente, com certeza. mas deus nenhum, pois para me ferrar eu teria de acreditar, coisa que não acredito. eu sou assim um incréu de carteirinha, entendeu?
- mas...
- não me venha com mas mas mas
- quero dizer, nunca ouviu as histórias sagradas?
- ouvi muitas estórias que não batem com a história.
- é assim que você se refere a bíblia?
- não, a bíblia não é minha referência. mas admito, tem lá um enredo que em muitas partes é pau a pau com as histórias da marvel.
- marvel?
- os super-heróis, aqueles que tem shazam para tudo.
- isto é blasfêmia?
- não acho. blasfêmia é o sujeito fazer correntes abençoadas, daquelas do tipo para salvar o casamento, para prosperar os negócios, para fazer andar os entrevados, enfim, para supostamente libertar de uma coisa para prender noutra. e ai é um tal de vale tudo que não me comove, muito pelo contrário.
- está falando os evangélicos?
- não só dos evangélicos. cada religião engorda o livro caixa com gestões que aparentemente são diferentes mas residem no mesmo princípio.
- princípio?
- melhor dizendo, falta de princípios.
- falta?
- excesso se assim o quiser. você não pode dar um peido sem que isto seja regulado por assim ou assados.
- mas a religião, ao contrário do que você diz, liberta.
- é livre um pássaro na gaiola? não me parece?
- mas não há gaiolas na religião?
- de todo o tipo, a começar dos alçapões dos templos e igrejas, e até nos terreiros, onde se sacrifica a vida dos animais, para além da sua liberdade de existir para outros fins.
- sim, nisto eu concordo. estas religiões, são diabólicas.
- já eu discordo. não me parecem diabólicas. parecem mais humanas, como mais humanas são as entidades, na verdade projeções humanas sobre as qualidades e defeitos humanos, coisa que as religiões indígenas, também exploram.
- ah! mas estas são mais pagãs ainda? chegam a ser bárbaras
- quer coisa mais bárbara do que o princípio de todas as religiões?
- como assim?
- um ser supremo que decide - ou quer impor sua decisão através de primeiros ministros ...
- primeiros ministros ?
- toda religião não tem um ministério?
- agora vou fazer como você ministério e seus mistérios, para testar a fé do homem?
- isso que dizer que mulher não tem fé?
- homessa! estou usando a palavra homem no sentido genérico ao ser humano.
- não me parece, as religiões tem verdadeiro pavor as mulheres. é uma misoginia que suplanta a figura do diabo, este um pobre coitado sempre a levar com tudo, apesar da sua contribuição ao erigir dos deuses.
- contribuição ?
- sim, o que seria das religiões, dos deuses, sem o diabo?
- mas isto é um absurdo?
- será? o que temos aqui me parece um caso de simbiose que é um verdadeiro case universal. uma lucrativa convivência que perdura por séculos, e ao que tudo indica com lucros divididos meio a meio.
- lucros? a religião não visa lucros meu filho?
- não? oh! e a grandiosidade dos templos, igrejas e espetáculos dá-se assim por esmolas ?
- as esmolas, dízimos, são contribuições de fé. ninguém é obrigado a dar.
- tem razão, ninguém é obrigado. é muito obrigado mesmo por todas as formas, das aparentemente mais inocentes as mais canhestras e canalhas.
- você tem um linguajar inadequado as questões da fé e da religião?
- ai é que está, ao cunhar um linguajar específico, as religiões, as fezes(sim, isto é o plural de fé) elas impôem o seu poder. linguagem é poder. já nos ensinam os médicos, xamãs, curadeiros, místicos e sacerdotes, ora pois pois, com seu latinório a nos fazer de rasteiros que não decifram a linguagem das alturas.
- não é isto, trata-se de um ritual.
- sim, mas todo ritual tem um objetivo que é de, senão convencer, perpetuar o " esclarecimento", aquele tipo de esclarecimento que dá-se pela manutenção da ignorância.
- é isso que é para você a religião?
- sim. não há revelações nas religiões, só encobrimentos.
- não dá para conversar com você.
- mas quem puxou conversa foi você sobre assunto que não tenho o menor interesse em alongar.
- a vida é longa meu filho - isto para alguns - então vai chegar uma hora que você vai sentir falta da religião, principalmente quando tiver que acertar as contas com deus.
- eu não tenho contas a acertar com deus. e se tivesse não seria eu o devedor, de certeza. e portanto este tipo de anátema não me pega.
- é o que diz todo pecador, todo aquele que não acredita em deus até chegar a hora h.
- bom, chegada esta hora ai é que não vou precisar mesmo de deus, não acha? talvez de uma boa dose de anestesia, seria o ideal, de tranquilidade para assim morrer. na falta de anestesia alguma outra droga também viria a calhar.
- mas isto só se consegue com deus, pela força de alguma, vá lá, religião, para você não dizer que estou puxando a brasa para a minha.
- o problema das religiões é que elas querem impor a sua necessidade onde nada mais se faz necessário. onde seria ou poderia ser necessário, elas se omitem ou negociam seus termos?
- negociam? deus e a religião, não é motivo de negociatas.
- não é o que diz a história, hoje mais ainda, basta ver o que acontece no congresso, com uma negociata sem fim pelos homens da religião.
- religião e política não se misturam meu filho.
- ah! é? digamos que história também não? não tem uma religião que tenha escapado das negociatas políticas. aliás o fim da religião, é o poder.
- poder só de deus.
- mas se é assim, porque deus precisa de tantas estruturas hierárquicas de poder, de papas, de bispos, de pedros e paulos? de edires e malafaias, de franciscos e cíceros(não o da catilinária).
No comments:
Post a Comment