Wednesday, October 01, 2008

pena por pena

imaginar que confinamos seres que não sabem o que é limitação de espaço a um espaço exiguo e "humanamente" preparado sempre me causou uma enorme confusão.

sempre que passo por alguma varanda ou cômodo onde vejo gaiolas com passarinhos, lembro-me que o canto da liberdade assoviado por aqueles bicos é soprado sempre por um apito violentado no furo no peito da ave em vida empalhada. não se consegue imaginar a dor de um ser de asas sem vôo em plena vida por toda uma vida. nem mesmo os que vivem na prisão chegam perto, por mais miseráveis que sejam as suas condições.

?que espécie somos nós, capazes de cantar hinos a liberdade e tornar este mesmo canto tão sufocado, tão aguilhoado, tão mesquinho, tão dilacerado? temos ouvidos assim tão tôscos? que escutando a melodia da tristeza saudamô-na apenas como beleza conquistada em cárcere privado?

creio que para todas as espécies, seria muito melhor que o homem desaparecesse da face da terra. só assim a liberdade a habitaria por completo.

mas desejar isso não seria pregar uma espécie de liberdade condicionada?

da minha gaiola digo que as aves – e alguns homens – não deveriam nunca escutar o canto da liberdade na forma como lhe soam os pássaros com e sem penas. apenas imagina-lo-íamos de uma forma tal, que nunca os pudéssemos aprisionar no que quer que fosse, sequer no pensamento.

e assim, permanecendo livre, quanto mais inatingível, maior a liberdade de nunca tê-los como objeto de domínio, posse, cativeiro ou escravidão.

os sonhos de quem não tem asas são sempre diferentes de quem as tem, inteiras ou partidas. aprisionadas ou perdidas e pior ainda: sequer percebidas




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