"no jardim da minha memória, moram três leopardos. o primeiro, o mais bruto, pontapeia pela relva a minha cabeça fracturada, novelo de tricô, em carne viva. o segundo, o mais astuto, devora, num canto, o meu cérebro, um bocado a cada dia, apenas pelo prazer de ver a minha lucidez definhar. o terceiro, o mais sonso, logo, mais perigoso, nada faz, uma esfinge, sentado sobre as patas traseiras, olhos fixos, sorriso de buda estampado no focinho. é este, o terceiro, que me assusta. é ele que me me aguarda quando eu nada lembrar; nada souber. quando estiver sozinho, desamparado,a olhar para as árvores desfolhadas do passado, sem poder diferenciar uma cerejeira de um carvalho, quando, naquele jardim, antes tão cheio de vida, só houver confusas reminiscências, espécie de erva daninha que entorpe e asfixia. será aí que ele, o derradeiro felino, dará um único e preciso salto em minha direção.
e aí, amigo, o que vai será de mim? e aí, amiga, será o fim" (edson athayde in jonas vai morrer)
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