Thursday, February 08, 2007

por obra das versões ou das aversões?

provocar o maior número possível de reações ou provocar a mesma reação no maior número possível de leitores?

alguns escritores, pretensos ou não, dividem-se, a sí e a sua obra, nesta dicotomia. nem sempre claudicante quanto a perspectiva daquilo que julgamos chamar literatura. e haja terminações que sejam, dos obtusos ao ditos herméticos.

vivemos um tempo em que paulo coelho é sinônimo de escritor(nunca de literatura, é bom deixar claro) e de magistral sucesso. como se o sucesso nesse tempo de retumbantes fracassos do compromisso do homem com o homem, e portando da obra com a literatura, fosse medidor de alguma coisa.

se entrar na academia, medida o é, por certo, não é de qualidade, de há muito. um verdadeiro escritor aceitaria fazer parte de uma academia ? bom, alguns nomes de qualidade inquestionável o fizeram. a maioria nem tanto. mas a qualidade dos escritores nunca justificou a academia. aliás, a má qualidade doutrem, também não.

enquanto atenho-me ao meu desalento pela falta de talento, vou consolidando tal enervação ao ler manoel de barros, joão guimarães rosa, rubem fonsêca, ultimamente as topadas, dalton trevisan, nosso eterno vampiro, meu avô ranzinza saramago e joyce. dublinenses, obviamente, já que seu livro de maior peso, acaba por ser isso mesmo na estante. devo ser muito franzino para ler ulisses. e assim sendo, releio rilke.

elegias de duino, que um dia hei de entender sem exegetismos, e que abaixo reproduzo introdução, toma-me pela mão a porrada, que devolvo aos anjos em pedradas. já cartas a um jovem poeta, que responde-me pelo número 530, da coleção pocket books plus, da L&PM editores(os seis reais mais bem empregados de toda uma vida)conseguem o que parecer ser impossível: provocar em mim, e a todos a quem presenteio, ao que parece, exatamente a mesma reação como se provocasse o maior número possível de reações o que só um verdadeiro e bom escritor consegue fazer.

e olhe que ao contrário do que está sendo feito atualmente ele não conta com a parceria baixada de deus. muito menos em tom de auto-ajuda. inclusive aos do tipo seja isso, seja aquilo ou aprenda a dar o cu como o escorpião. e até mesmo as coleções analógicas que começam com o cartas a um jovem isso, aquilo, aqueloutro.

rilke simplesmente escreve simples de qualidade ainda mais em suas cartas. e é esta a sua complexidade. simples o suficiente para ser profundo sem ser demasiado simples ou um raso complexo.

ao mesmo tempo em elegias, voa porque mergulha abissal onde só enxerga a luz quem vive a claridade na mais completa escuridão ou quem sabe o vice-sem versa.


"Quem se eu gritasse, entre as legiões de Anjos me ouviria? E mesmo que um deles me tomasse inesperadamente em seu coração, aniquilar-me-ia sua existência demasiado forte. Pois que é o Belo senão o grau do Terrível que ainda suportamos e que admiramos porque, impassível, desdenha destruir-nos? Todo anjo é terrível. E eu me contenho, pois, e reprimo o apelo do meu soluço obscuro. Ai, quem nos poderia valer? Nem anjos, nem homens e o intuitivo animal logo adverte que para nós não há amparo neste mundo definido. "(trecho de abertura da primeira elegia, in elegias de duino)

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