Thursday, June 28, 2007

alcançando o nirvana

escrevo sempre com alguns dos cachorros aos meus pés. invariavelmente lá pelas tantas da madrugada um deles se aproxima e com a pata posta sobre a minha perna interrompe a escrita com um pedido de cafuné.

devidamente assoberdado, tento resistir inflando-me da autodisciplina da não interrupção para tentar dar um ar sério a girandôla de palavras as quais tento atribuir utilidade em significação e que talvez por isso mesmo caçoam de mim como bolas de gude a fugir-me das mãos.

mas quem resiste a um rabo abanando? e olhe que não é de nenhuma mulata mas apenas de um cachorro vira-lata que me convida de volta à vida que esquecemos onde está.

no momento que acedo a seu pedido o mundo torna-se perfeito porque pára de existir. somos só eu e o cachorro que me conduz ao nirvana onde ele e eu somos uma só respiração.

neste momento percebo o quão é tão difícil para os monges budistas, mesmo os tibetanos, alcançar o nirvana: eles não tem rabos de cachorro a abanar-lhes a vida demostrando o quanto é inútil esta postura de lótus que ainda periga nos deixar bífidos com o rabo sem balanço.

esqueça o dalai lama. preste atenção nos rabos que abanam, de preferência naqueles que estavam petrificados pelo abandono e maus tratos, e que você ao retirar da rua, do canil municipal, da casa de onde não tem amigos, do fim da feira fétida, fez abanar.

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