Thursday, June 07, 2007

corpus christi

mais do que um feriado hoje é um dia para não se esquecer. tem sido há assim há quase cincoenta anos para aquela turma de pós cinquentões do dominó ao abrigo do largo de campo grande.

corpus christi, corpo de deus. ou mehor, corpo de uma deusa. passados todos aqueles anos que se refletem nos cabelos brancos da turma do lá e lô e até mesmo na falta deles, mais do que a data em que se lembra do filho de deus lembravam eles mais fortemente dos filhos que não fizeram na deusa.

não que fossem ateus ou não temessem a deus. muito pelo contrário. católicos apostólicos, batismo, crisma, primeira comunhão,alguns até coroinhas. mas nada que se impusesse por mais divino que fosse lembrança do corpo e do espírito de nilsinha.

nilsinha, já por volta dos seus 11 12 anos era tudo que qualquer mal intencionado podia demonstrar para derrubar a tese de pedofilia. não que fosse a prática da turma. muito pelo contrário. dos 11 homens apenas um conseguiu beijá-la. os outros ficaram na mão. aliás, já um mulherão aos 12 anos, nilsinha tinha toda a malícia que a mais maliciosa das mulheres junto dela pareceria uma extrema farsante. nilsinha era assim porque era assim, estava nos poros, nos bicos dos seios pequenos, na boca pequena que suscitava outras bocas, nas coxas volumosas que contribuiram em muito para a manutenção do índice corportal daquela turma que também derrotou a teoria de que masturbação fazia crescer cabelos nas mãos. motivos; bem, vocês nunca viram nilsinha de shorts. nua estaria mais vestida. de shorts, a malha acentuava ainda mais uma bunda para sempre maravilhosa na lembrança daquela quase irmandade. e foram aqueles shorts os responsáveis por horas e horas de trepação no pé de mangueira que dava para a janela do quarto de nilsinha. dizem as mas línguas que a velha piada que se masturbação matasse as gostosas estariam mortas, foi criada graças a nilsinha. nilsinha era a subversão de todas as lições do catecismo, do manual de conduta do colégio militar. dos 12 aos 16 anos nada mais existia quando nilsinha passava todas as tardes para a compra do pão na padaria de bairro.

certas lembranças só aqueles homens em volta do jogo de sentar pedras poderiam falar, mas eles mantinham um silêncio de cúmplices. ninguém comeu, não ia ser agora que iriam falar. não se cantam certas pedras. apenas um a beijara, dia que meteu-lhe a mão nas coxas, subiu-lhe a bunda, beijou-lhe o sutiã como se bico do peito fosse e sentiu além da língua no céu da boca a mão de nilsinha pegando em cheio seu pau que derreteu-se ao primeiro toque. nunca dissera nada a ninguém. mais do que orgulho pela façanha sentiu-se culpado toda a vida por ter sido o único a ter acesso ao que os outros apenas imaginavam anos e anos a fio, muitas vezes chegando a meia dúzia de punhetas diárias no que teria sido o melhor período das suas vidas.

por isso hoje, data em que nilsinha tinha sido atropelada, era sim um dia de corpus christi. mas não do cristo que hoje era um dia por demais crucificado para se lembrarem de alguma coisa mais que fosse divina, pois nada mais divino e pecaminoso do que a lembrança para sempre de nilsinha, ponte entre o céu e o inferno, a inocência perdida e a sexualidade achada, sexo imaginado por uma década viva como o mar se abrindo para receber aqueles homens que enterraram-se na areia até hoje.

para aquela roda de dominó nilsinha significou uma aliança partida apenas por aquele que a tocara e que por isso mesmo sentia-se a parte fraca do anel fundido. no jogo de dominó daquelas vidas uma peça perdida que marcava o feriado de vidas onde seu corações jamais bateram noutro como final de partida.

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