Wednesday, July 06, 2022

últimos dias de pauperia*

meu avô materno era calvo calvície alinhada lustro no tom certo mesmo de chinelos de couro transpassado findando a trabalhar num mercado público de bairro excomungado de posses rico que já foi tinha postura elegante mas sem afetação nunca em tempo algum tinha postura de caráter que jamais terei já meus tios filhos de tal avô desalinhados de tudo nada mais preciso dizer de suas calvicies meu pai amazônia intocada e assim talvez esperei a calvície que não me apanhe pelo menos antes dos 50 passou do ponto demorou não demorou mas chegou a beira dos setenta torquato neto que morreu cabeludo e muito mais muito antes disso já dizia que difícil mesmo é não cortar o cabelo quando a barra pesa grande difuso meu cabelo assim até poderia encobrir por mais uns aninhos a alopecia que o finasterida retarda mas que não detém principalmente nos velhos não alivia o termo nem na bula pois bem antes que a barra pese mais do que pesa pois a barra semore vale o quanto pesa decidi eu mesmo imolar a minha amazônia já um tanto ou quanto devastada sem maiores percalços e ditirambos de despedida muito embora as longas madeixas jogadas ao leo me trouxesse imagens que prefiro não são de narrar agora é tudo vento e nenhum cabelo no olho se os cabelos são antenas para os céus como crêem os dreadlocks eu a partir do fato ando meio desligado e furarei as nuvens com o que restar e por certo aquela gatinha de cabelos azuis no esplendor dos seus 90 anos que disse-me em meio a fila no caixa do supermercado que os meus cabelos eram muito bonitos não irá me reconhecer se me vir novamente e certamente nem o espelho nos últimos dias de pauperia                                              ( *título de livro sobre torquato)

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