Tuesday, November 07, 2006

“systen out”

meus congenêres ficam com um cara mais basbaque do que a minha quando me pedem o número e lhes respondo que não tenho celular.

é-lhes quase um insulto, não o ter. nem que seja o mais chinfrim dos aparelhos. passo-lhes assim um atestado, mixto de decadência e desatualização, que não vêem lá com bons olhos. muito menos com bons ouvidos, presumo. já que não conseguem entabular uma conversação sem o minimo de interrupção, até mesmo na hora do vamos ver se está na caixa postal.

tiro por mim. quase um ano de desintoxicação. e minhas minhas orelhas vão cada vez melhores, mais ainda porque aboli o i-pod, este cotonete urbano, cujas vibrações vão nos ensurdecendo imperceptivelmente.

vou aproveitando a recuperação de uma sensibilidade que não sabia perdidas e alegro-me pela reversibilidade que não costuma acontecer.

ontem imaginei estar delirando ao ouvir o bater de asas de borboletas. mas sim, era verdade. prontamente pensei com um ar muito do sacaninha, pronto: agora vou poder ouvir até o barulho do dos pelinhos doirados dos grupos de adolescentes do colégio aqui vizinho, nestes dias de ventos de verão menos sutis.

mas que nada. todas-todas com celulares. uma sonoplastia de zumbidos e zumbis, algo esquizóide. a produzir uma sonoplastia de jogos, previsíveis, mas que ainda assim para os quais não serei convidado, apesar de ter a sensibilidade, e não só, dos ouvidos preservados, justamente agora quase, exagero, pré-adolescentes.

ainda assim continuarei sem celular. até encontrar um par?
enquanto isso, ainda mais sacaninha, vou apurar os ouvidos e captar silvios dos morcegos. quiçá assim, algo vampiro, me imagine no lugar dos celulares a trinir naqueles ouvidos com meus piercings de memorias.

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