Saturday, October 14, 2006

novelas de sambaqui

a novela sinhá moça chegou ontem ao fim, mas estrupiada que a senzala da fazenda araruna.

tá certo que todo capítulo final de novela é uma desmoranar de coerências personais. mas sinhá moça conseguiu ser o maior mostruário de desavenças entre o querer e o ser dos indivíduos, jamais visto numa novela.

certo é que, sendo realidade ficcional, as novelas tem uma, digamos, licença poética, para demonstrar as vicissitudes humanas a título de exemplificação. o que parece ser providencial em tempos de group discussion, aqueles amontados de extratos estatísticos vertidos em gente, monitorantes monitorados pelos núcleos de escrita das novelas, que a partir daí de escritas a descritas, moldando personagens e gran-finales ao sabor das opiniões pré-nupciais as pesquisas. isto posto, nunca mais tivemos tivemos aqueles finais de novela escritos exclusivamente da cabeça do autor, de maneira que, ou odiávamos, ou amávamos, as opções escolhidas por pura e livre arbítrio do autor, cujas reações, algumas, até chegavam a virar notícia de jornal. hoje em dia, nem bocejo.

se alguém ainda se recorda, do rafael, a sinhá moça, rodolfo, chicotadas fora, tidos como esteio da reserva moral do núcleo bom da novela, agiam todo o tempo como se tivessem tomado um porre. orá pra lá, ora pra cá, sem a menor consistência ou coerência de propósito. e haja castigos no tronco da densidade dramática que foi atrás da sua siriema fugindo desta trama cujo fio condutor, só se for o do bigode do barão.

para quem ficou chocado com o final de belíssima, onde a vilã acabava em paris em sua garconiére livre de todos os castigos, o fim do barão, e de tantos outros, é um prêmio que caracteriza ~ seria esse o propósito historicizante? - a impunidade vista até hoje.

enfim, os gregos, sabedores das confusões do olimpo, tinham um recurso de dramaturgia - o deus ex machina - que permitia uma solução montada no non-sense que adquiria sentido de acordo com a maestria com que era empregada.

nas novelas de hoje andam empregando o olimpo inteiro como ex-machina. mas nem assim um samba do crioulo doido conseguem. no máximo um melô do bastião, que toda uma vida separado da mãe - e vice-versa - reencontrados em recurso dos deuses, e em lágrimas fundidos a amor eterno, esvanecem o sentimento à separação, por conta do filho da incoerência que andou chorando audiência mais alto ?

assim, até eu escrevo novela. e nem preciso ajuda dos deuses. quer dizer, uma palinha de baco sempre vai bem. afinal, você já ouviu alguma história de bêbado sem coerência?

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