Thursday, March 15, 2007

pour elise ou mar do japão

loyds bar e bar do sumé. e claro, o pontal. onde meus olhinhos de agulha procuravam algo mais na prancha das bodyboarders. nunca fui além dos limites da zona, nem dos quintais do casario operário. coisas do mar e do porto, vista assim, só o transporte para o outro lado, lado de lá onde a memória perdeu o nome. tempo em que comer baleias tinha outro significado.

cabedelo era o polvo comido no loyds, com um pirão amarelo oiro, e um arroz dispensável. era a pedida. entremeando o peixe aos molhos nos fins de tarde começo de noite de tomate e camarão. bom de pirão, arroz dispensável, peixe de folia, assim era o loyds. e olhe que nem gostava de polvo. mas gostava de sair de manaira, no contra o fluxo, e quase anoitecer em cabedelo ainda cedo, atendido pelo velho marinheiro e sua filha, que ví crescer a custa de braços e braços de polvos mortos. quase me sentia comandante, ainda mais quando colocava a mesa no tombadilho, opps! na calçada estufada, na base da castanheira.

sumé era a glória. predador eu era habituê, sedento de caldinhos e outros líquidos, perdi a conta de quantos moluscos, mariscos e outras especialidades em molho absorvi mandando às favas o sentimento ecológico. gozo maior ainda quando ia de bicicleta. de manhã bem cedinho, cátia de frança aos estilhaços no meios dos cornos buzinando canto das araras da sua kukukaya que reencontro em fortaleza sob a forma de um bar musical que virou casa show crescendo que foi enquanto cátia descresceu, sumindo no sesc, ainda que pense se tornar xamã. maresia tanta que até já cheguei a achar cátia bonita, meio tarado, meio platônico musical. vá lá, coisa do tempo dos lps, outro furos, outras baladas, outros sons, outras jornadas, outras cabeçadas, música também por baixo de outras peles.

coisas do mal? estar do súbito? sumé pegou fogo. o bar, não a pessoa. maldade, inveja, briga de amor, vandalismo? muita palha de coqueiro queimando, toco de pau arriado. mulher bonita, nego safado, rachou o bar que tantos os unia, que nos unia a cabedelo. sumé mudou pro lado. abriu outro que não era a mesma coisa. nem bar de cá, nem bar de lá. de cá, ultimas vezes quase mordo um rabo de sereia que escondeu-me um baiacu anos e anos por trás de um cu doce que maduro me chegou bem de fininho depois de anos e anos crescendo em torno de sí mesma rabo de pavão. era tarde. se não moréia, peixe pedra. eu já na dieta de outras águas, deixei passar na areia o rabo que o tempo comeu por mim, gosto de água de coco que sempre que a vejo pede canudinho mas sabe passada.

botaram montes de piche na areia do pontal, tão altos quanto os depósitos de combustível do porto. soturna presença que rememora a queimada do teto do bar do sumé. a menina do loyds cresceu e ficou feia de doer. cara do pai, ficou travada como quem tem filha na zona. fui ficando gordo, afundando as pranchas como baleia, tanto sem memória que encalhei noutras praias.

de cabedelo resta a placa que diz ser ponto zero da transamazônica descambo de uma geografia que não entende quem não saiu e quem não chegou.

deste solstício lambedor, sabe-me bem saber que cabedelo ainda guarda no ventre gente que vai até ela de ônibus lendo rainer maria rilke.

sumé me perguntaria - tal qual se lisboa ficava no oriente - esse gringo é das europa do japão ?

p.s. cabedelo é cidade com nome de ponto da praia que abriga o porto na contiguidade de joão pessoa.

2 comments:

Anonymous said...

já vi você falando de cabedelo em outras histórias misturadas. fiquei doida pra conhecer todas as referências, entender todas as entrelinhas e ter uma brecha pra imaginar o naipe dos rabos de saia da sua época, já que os de hoje nem tanto rabo têm. ou a genética estragou tudo, ou está tudo muito discreto.

agora tenho um carinho especial pela praia do poço. pelos esportes radicais que as pessoas praticam por ali com o som de nada rodeando. meus alunos falam: teacher, I´m from brasília; e aí eu descobri que existe uma brasília dentro de cabedelo. e muito mais.. :)
acho que você tem razão sobre eu ter sorte.

Anonymous said...

sim, a idéia do trem é ótima! paisagem bucólica de deixar o coração na mão. acompanhado de rilke.