Thursday, November 20, 2025

meia bomba

envelhecer, e bem, é pra poucos. mas calma que nem tudo é um pesadelo na velhice. mas sim, há também coisas terriveis que podem te acontecer nela. exemplo: quando a cabeça quer e o corpo não obedece. e como desgraça pouca é bobagem, o corpo quer mas a cabeça nem sabe que o corpo existe. achou ruim? tem mais, por cima de queda coice: cabeça e corpo nada mais além de cansaço, dor e esquecimento. contudo, se cabeça e corpo, ainda dando umas traulitadas, regozije-se, você estará melhor que a tal geração Z, cabeças de bagre e corpo de frankstein - que me desculpe o original, aquela que precisa de localização atual para achar um endereço - que dirá um cu - senão eles enfiam no umbigo, se for aproximada. a minha geração, pelo menos, pelo tato ou pelo cheiro, chega ao endereço rapidinho. mesmo aos 72, que já não tem a graça dos 69;). a gente bambeia mas ainda saracoteia como ninguém. 

Monday, November 17, 2025

celso boy blues

desta vez não deu. desci (ou subi)  com o felling mas faltou o resto. e assim não me tornei o guitarrista, -ainda que meu foco fosse o canto e a composição - que poderia ter sido. e quando pensei que ainda havia tempo a artrite psoriática endureceu as mãos e o restante das possibilidades, até de tocar com os pés. então, mestres do olimpo, como não há retrofit, a julgar pelo tempo que me resta, se voltar, que eu não volte como um hendrix, um devadip, um clapton, um robin trower, um rory gallagher, um gary moore, um mick taylor, um alvin lee. que eu volte como um. b. b. - o king nem me caberia pois recuso a monarquia mas reverencio o riley ben. p. s. se não der, com muito gosto, já que somos xarás e adoramos blues, podem me legar um celso blues boy que não por mera coincidência adorava e era adorado pelo b. b. king. antes de pedir demais, que alguém o diga, contra solo que acertei na minhas escolhas de ouvido. 

Thursday, November 13, 2025

fazendo estória

viva bem, até não mais poder, as suas estórias. no futuro, quem sabe, elas serão história. e se você mais nada tiver, as terá. e nada mais desgraçado, miserável e terrivel, do que envelhecer sem ter estórias pra contar. fazer história é outra estória. 

Tuesday, November 11, 2025

pequeno grande homem

ah! as coisas pequenas. grandes pequenas coisas que de tão grandiosas, quem pode vê-las por inteiro? senão partes, que nós apelidamos de coisas pequenas. isto posto, como o humano se torna pequeno diante delas. não cessa de se achar, com arrogância emperdenida, algo assim assim, maior de grande, que de grande mesmo ele não tem nada. eternamente pequeno, no grande engano da sua pequena existência, finda pequeno grande homem. e por pura desfaçatez, não mais do que isso, alimenta ideia de que as tais coisas pequenas equivalem a sua própria pequenez, que ele não reconhece grande. e como se tanta pequenez não bastasse, ainda menor, em seu pequeno mapa do tempo, onde sequer aprende, com o ínfimo tempo que lhe é concedido, a verdadeira ordem de grandeza e pequenez, contidas no quântico da vida, com as partículas de suas chegadas e partidas que mal se enxergam na eterna idade. pobre pequeno grande homem.

Monday, November 10, 2025

quase satisfação

não desatei a escrever do nada. digamos que programei o instinto no dia que li que o pedro navas escreveu seu " bau de ossos ", primeiro livro, cujas memórias estenderiam-se em 6 volumes, aos 64 anos. muito embora tivesse escrito poesia antes*, coisa que desastradamente o fiz, ao contrário do pedro, com algumas delas publicadas em suplementos literários de jornais com até certa importância, o que não me envaideceu, até envergonhou, pela absoluta falta de seleção mas de talento nem tanto. um poeta medíocre é um poeta, o que de certa forma satisfaz aos medíocres. não foi o meu caso, atendo-me a satisfação. o primeiro escrito foi num jornal escolar nos tempos de ginásio onde meti a caneta no padre diretor do colégio cujos boatos diziam que ele comprou um jipe, que se tornou famoso -  padre e jipe, comunhão no dizer das carolas excêntrica naquele bairro de periferia onde o pula pula do jipe nas ruas esburacadas suscitavam movimentos sexuais as tais? - com a mão grande. nem chegou a ser publicado, pela boa cisma do editor que não teve o mesmo cuidado em se desfazer dos originais, deixando-os esquartejados mas passíveis serem lidos o que quase me custou a expulsão. não vou descer aos detalhes mas não, não sentei no pula pula do padre pra ser liberado. quando cheguei ao jornalismo já sabia dos perigos de tentar buscar a verdade mas qual o quê? de nada adiantou. capítulo à parte, pulei para a publicidade escola que me possibilitou exercer a síntese que nunca foi o forte do " menino bom de redação" já no primário, apesar de como tituleiro, na função de secretário de redação, já sintético no "18 toques e duas linhas" ainda em máquinas de escrever. retornei ao jornalismo com a mesma tendência de não ter senso do perigo. de resto, fui minguando nas duas atividades. escrever não era o plano. mas fora de mercado ou da zona de combate, abri cacetada de blogs para exercitar síntese, conhecimento, ritmo e escrita diversa, sem buscar audiência mas minha atenção para tiques, toques e cacuetes, com prazo de escrita pré definido: 5 a 10 minutos. deu, deu. não deu, fodeu! sim, sou um fodido com sanha de fodedor. não mencionei que escrevi cerca de 80 letras de música, nos anos 70/80 que, na bagaça de hoje, teriam qualidade para não vender. mas voltando ao pedro, encasquetei que também começaria a escrever aos 64. e o fiz, não memorialista, não sei se um pouco antes ou depois da idade. não me levo a sério, nem deveria. quando comecei a compor o fiz porque não sabia tocar as músicas dos outros e nem as minhas, diria meu alterego do contra. e escrevo porque jorra, ora esgoto, ora lágrima, da fonte em algum resto de mata que já foi verdejante. minhas vírgulas esquizofrênicas( batismo do andré ) me acompanham com o socorro de clarice ( as vírgulas são minhas eu as ponho onde quiser ) mas sem o habeas corpus da lispector. em suma, não sou escritor de escrever mas de escreviver com seus baixos quase inundando os altos ( jomard na cabeça ). li cony, hermilo borba filho, dalton trevisan, rubens fonseca, baudelaire, rilke, brecht, genet, artaud, miller, sade, rimbaud, sá carneiro e gente da mesma laia. não me iludo ser da mesma tribo. sou apenas palavreado de extinção. e por falar em extinção, quando pedro morreu, editores amigos seus, como o jaguar do pasquim, omitiram que havia um michê na história, para preservar a imagem do pedro e preservar a família. talvez, só por isso, foi bom não estar no jornalismo e passar a escrever variedades. não aprendi a colocar vírgulas gramaticalmente corretas, a escrever para o que ou quem não seja poucos e tampouco perdi a indelicadeza de perseguir a verdade. há médiocres que vem para o bem dos acima do bem e do mal mas não acima da moral, que reduz partes da sua vida a rascunhos sem direito a tornarem-se escrita plena e libertadora. muito mais que num baú, o pedro humano escondeu-se no "memorialista de fachada"  para se proteger dos desenganos da vida real que é sempre escrita com outras letras. um escritor maior numa vida menor. ninguém escreve ou vive impunemente. pedro nos revelou isso não com a escrita mas com um tiro.
* escrevi isto provavelmente nos 80 o que difere de aos 80 -  com esta geração de leitores de hoje nunca se sabe. convém explicitar e abusar da refundância, afinal não vão de a a z: ficam no z zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz. 

fábulas nada fabulosas ( quase d'après millor )

há uma fábula paradisíaca que afirma que depois de morto você vai encontrar seus entes queridos. antes do meu riso às bandeiras despregadas deixe-me dizer que meus entes queridos são 34 gatos e 8 cachorros mais uns e outros que alimento esporadicamente quando aparecem, o que significa que é com eles que vou me encontrar, o que, dos males o menor, não torna a fábula menos desparafusada. ora, se entre os humanos, cada vez mais degradadamente abjetos, imperdoáveis, escolhi os animais no meu fade final, nem pelas barbas do profeta escolheria reencontrar humanos, sejam pai, mãe, antigas namoradas ou algum raro amigo, incluindo o alvinho, do qual muito lamento não ter estado com ele por uma última vez. então vinde a mim os animais - as criancinhas que vão as putas que as pariram - mas dos dragões de komodo, destes quero distância. como bem disse o comediante do beck * : no cú de nóe que eles estavam na arca. e como essa barca furada é, cães, gatos, os timbús que não pude salvar, de todos os outros, pássaros, que ficaram nas gaiolas, que não pude arrebentar e os peixes de aquário, que não devolvi aos rios e ao mar, junto ao grupo de saguins que me visitavam caras e bocas a me refletir e os jabutis sempre a me pedir amoras e suas folhas com as quais limpavam a boca da bosta de cachorro que almoçavam com gosto que os faziam lamber os beiços. na minha minúscula arca, caberia na fábula, uma vez inanimados? livros e discos, boa parte mijados dos gatos @#__$!* complementariam o encontro dos quais nunca houve separação e por isso mesmo nunca objeto de reencontro. apenas página arrancada do fabulário que como milhares de outros é fabulística sem estatística de bilhões. o que os vivos não aprendem nunca, é que os mortos não querem reencontro. mortos não querem nada, nada mais além do nada. o nada que tudo abarca inclusive o tudo, aquele tudo que em vida os vivos transformam em nada por pura ganância de querer abarcar o mundo com os olhos que se tornam míopes pelo convívio logo depois de nascer. já com os animais que não tem noção, mas sim premonição, de que vão morrer é tudo agora e depois nunca mais. nós, sabemos que vamos morrer mas não temos idéia de quando e como e tudo vai sendo vivido fragmentado, o importante sempre para depois e o falsamente importante agora( se der fama ou lucro principalmente ) daí o arrependimento que busca o reencontro. animais não sabem que vão morrer mas tem a premonição exata de quando é hora - salvo os atropelos que humanos e animais estão sujeitos - e como sua vida é curta a expandem vivendo mais do que a vida lhes oferece ( ou nós permitimos, com nossa crueldade imparável ). fábulas escondem tristezas e monstruosidades que escondem todos os finais felizes. e final, é ponto. e morrer é ponto final. não há fábula nisso, além da sua que te apavora por mais que você diga que anseia por ela.
* rodrigo marques

Saturday, November 08, 2025

acontece bem embaixo dos lençois

nunca me deixei abater, é fato. mas a tristeza, o sofrimento, a dureza de tantos acontecimentos, onde fui levado de enxurrada, atropelado por jamantas ou largado a sorte de cachorro abandonado ao largo da estrada, são sensações que se leva muito tempo para processar. a navalhada, você sente no momento. é lancinante. o tiro, antes que seu corpo esfrie, quase passa desapercebido. ou seja você está atordoado mas prossegue por instinto. leva tempo e a dor cresce a cada dia que se passa sem que você perceba. é a sua segunda sombra. de vez em quando você olha pra trás e ela está lá. nuvem teimosa que nubla dias de sol. anos se passaram da infância a adolescência, que nem conta me dei que não vivi porque tinha que ser adulto para não vergar e como tal, adulto, dou encontrões na criança, no adolescente. mas como disse, não me deixei abater. segui em frente e não fiquei choramingando nem reclamando tal destino. é isso que sou e o que fui é o que me fez rolar escada abaixo sem perceber direito quem ou o quê me empurrou pois não tinha tempo, mais o tempo do que maturidade. não podia parar pois tantas escadas por subir acabava no rolando pra baixo ser impulso pra rolar pra cima o que é uma estrepolia diante da gravidade dos fatos anteriores já não bastasse a lei da gravidade. o que sou, o que sinto, a cor do meu sorriso, a forma da minha sensibilidade, o olhar sobre o caminho, a vida, onde vim parar? bom, eu sou uma das lagoas dos lençois maranhenses. a analogia gostaria que fosse outra. mas quem de mim chega perto nem sabe o que originou estes lençois que postos em camas de areia, tem como travesseiros, nuvens no céu que deveriam estar abaixo de nossas cabeças para um sono repara(a)dor. l

Wednesday, November 05, 2025

mas não seja simplório

felicidade em excesso? simplifique. tristeza dolorida? simplifique. amigos demais? simplifique. inimigos a mais? simplifique. cores demais? simplifique? muitas oportunidades? simplifique. chegando a uma encruzilhada? simplifique. vislumbrou a luz no fim do tunel? aí não: complique. 

Tuesday, November 04, 2025

quase acertei, pensei

cheguei e sorrindo te dei todos os meus erros, erros que levei uma vida inteira pra cometer. mas você deu de ombros para todos eles, pois só queria saber dos meus acertos. mas como? se até o nosso encontro foi um erro. 

sentença

não se vive impunemente. então, apesar dos pesares, viva o quanto puder, o tempo que puder e enquanto puder. viver significa que você não terá segunda chance e que os deuses não lhe darão está dádiva - esqueça aquela baboseira de que você ganhou uma segunda chanche após escapar do quase inescapável. se escapou é porque continuou a viver, portanto não foda a nossa paciência, pois não há primeira e segunda parte. nem os cinemas fazem mais intervalos para o lanche, ora pipocas! viver é tudo ao mesmo tempo agora - mas os deuses te cobrarão com juros eternos não ter vivido o mínimo que seja. e este. minimo, que se revelará o máximo, vai lhe picar o fígado como a águia o de prometeu, que pelo menos revelou o fogo do conhecimento aos homens, enquanto você morrerá cego por não ter vivido o mínimo. viver é, acima de tudo e de todos, viver por inteiro e nunca pela metade, por receio seja do que for. dizem que o medo o mantém vivo mas cá pra nós o cemitério está coalhado de caras medrosos e de uns poucos corajosos que teimaram em viver por mais do que simplesmente viver por viver. você não vai poder viver tudo que a vida lhe oferece, toma ou você conquista. por isso mesmo viver o mínimo é um desperdício. e todo desperdício significa a morte de tudo e de todos e mais um pouco. se é para não viver, não seja um morto vivo. a vida (e a morte) agradecem. 

Monday, October 27, 2025

reencarnação

humanos sentem ou tem pressentimentos de quando vão morrer. mas não sentem quando vão nascer. talvez porque se o soubessem dariam meia volta e voltariam a não nascer. a lei do menor esforço sempre prevalece até mesmo diante da lei da sobrevivência por mais inacreditável que pareça. eu, não nasci ontem. 

van gogh

em meu silêncio multidões de gritos angustiados enquanto o vento sussurra tempestades que não se calarão. o uivo, o assovio, o vento soprando segredos nunca revelados.
o imperceptível é uma avalanche e sei que nada sobrará salvo a noite estrelada pintada com as dores de van gogh. 

baldeação

próximo ao fim da viagem, espero o troco do cobrador. no destino final, desço e espero o ônibus do nunca vem. sem bagagens e apenas memórias na mão em breve apenas poeira na paisagem. no ônibus do nunca vem não há lugares reservados para idosos. senta quem chegar primeiro. quem viaja em pé, não importa o percurso, não espere que alguém lhe ceda o lugar. delicadezas só se assim chamar freio de arrumação. lotado é preciso fazer valer o sempre cabe mais um. no nada sempre cabe o tudo. no tudo não cabe mais nada. o cobrador então grita: terminal. 

Monday, October 20, 2025

acertando os ponteiros

o futuro(o presente )é digital mas o tempo é analógico*. se assim é, " deus" é o filho da puta" que inventou a obsolescência programada para os humanos (* do ezequias relojoeiro, no you tube )

prometeu

penetra por todos os poros dos que tem sensibilidade artística ou não. arte de verdade dói porque a verdade dói e nunca é indolor. e a beleza, ainda mais cortante do que a dita feiura, dói demais. e se dói em quem a aprecia, usufrui ou enlaça, quem a produz não escapa também do martírio da dor, do exílio, do orgasmo fragmentado a romper os poros em suores, lágrimas e sangue dos desencantados. a arte é a única medida razoável ante a irrazoabilidade da espécie humana. o artista, é seu filho bastardo. o filho da puta que em seus atos de criação comete o desmando de mandar todos os deuses tomarem bem no centro do seu cu.( ah! e os artistas religiosos? como ficam? ora, vai tomar bem no centro do seu cu).

Friday, October 17, 2025

maldição

da precocidade, escapei; de ser filho de famoso, escapei; da genialidade, escapei; mas não da maldição do quase lá. ou seja, fui por pouco. 

rastejando

"deus não deu asas a cobras". mas deu aos humanos. resultado é o que não se vê. continuamos rastejando, mesmo com alguns ícaros. (pintura de zemfir, moldávia)

Tuesday, October 14, 2025

quem não tem colírio usa óculos escuros

a vida é um risco e o risco é um cisco no olho da eternidade. ciscou, riscou, piscou, cabou. 

Monday, October 13, 2025

bem vindo ao admirável mundo novo

homens desprezíveis produzirão obras eternas. homens admiráveis apodrecerão no anonimato. a arte não é um alibi. é expressão da deformidade do mundo em conformidade com a visão do artista. na dualidade médico e monstro, não cabem anjos nem desarranjos. deformados somos nós. é por isso que odiamos interminávelmente todo aquele que faz arte. pois todo aquele que faz arte nunca nos vê com bons olhos. pudera: sempre fizemos por onde.
(francis bacon, autorretrato, 1971)

Saturday, October 11, 2025

achados e perdidos

inocência perdida dos seres humanos, antes ainda encontrada nos bebês, hoje refugia-se nos filhotes das diversas espécies animais. mas nem aí estarão seguras, caso haja contato com humanos. sim: destruímos tudo que tocamos. incluso a inocência. somos todos culpados. não há inocentes entre nós. 

Saturday, August 30, 2025

here come the sun

tudo que amanhece anoitece. mas nem tudo que anoitece amanhece. fotografar este amanhecer me despertou tal sentimento, por mais contraditório que possa ser. talvez porque ainda faça revelações em negativo.

tábula de salvação

vou salvando tudo que encontro pela frente. fotos desbotadas, livros rotos, lps riscados, cassetes empoeirados, cururus perdidos, timbus em apuros, gatos com esporoticose, cães com miíase, lagartixas sem rabo, besouros presos, borboletas ofuscadas, plantas desidratadas, jabutis virados, filhotes sem mães, máquinas enferrujadas, torneiras emperradas, móveis lascados, quadros partidos, abajures quebrados, máquinas de escrever sem fita, computadores sem start, enfim:  profusão de coisas, bichos, plantas e etcs que me cerca, aparece e desaparece, já que não dou conta de tudo antes que o tsunami me alcance. então, eis-me último grão de areia rolando parede acima da ampulheta em meu ofício de sísifo. e o que resta para quem não tem salvação? a angústia de o que será daquilo que salvei; o sentimento de que fiz o que não pude; ou apertar o botão do foda-se, descobrindo agora que não funciona mais? 

Wednesday, August 20, 2025

reviravolta

escapei de boas, sucumbirei as ruins? escapei fedendo, sucumbirei cheiroso? escapei por um triz, sucumbirei em camara lenta? escapei por pouco. sucumbirei por muito? escapei só com a pele dos meus dentes. sucumbirei no riso de um banguela?

Monday, August 18, 2025

livramento

a única liberdade possível está na arte. fora dela, tudo é prisão. mas há quem fale na morte como uma outra possibilidade de liberdade. mas essa não experimentei.

Sunday, August 17, 2025

aos restauradores

não se restaura aquilo ou o que ou quem não se reconhece carcomido.

paralaxe

gosto cada vez mais de fotos em preto e branco. o mundo em preto e branco é muito mais colorido do que o que vemos por aí.

combate

meu maior inimigo, meu pai.

Saturday, August 16, 2025

da fotografia 3

fotógrafos são xamãs. únicos nos quais acredito. mas não são todos. medíocres só penduram cartazes.

da fotografia 2

a fotografia tem algo que os deuses e demônios sempre ansiaram fazer com os homens mas só o verdadeiro artista consegue. proclamo a fotografia como a arte por excelência, a arte prometeica, o furo do prego na caixa escura da vida esborrando luz que queimou os olhos do oráculo. somente os artistas veem o que deuses e demonios sequer tateiam. a fotografia é a arte que tudo vê e da qual ninguém se esconde, estando atrás ou a frente da camera.( foto: antônio quaresma)

da fotografia 1

fotografar, seria criar algo que não existe a partir de algo que existe ou criar algo que existe a partir do que não existe, a não ser no clic, ainda que esteja lá e ninguém perceba a olho nu? o conceito de existência e portanto do que existe e não existe acaba sendo subvertido pelo olho lente do fotógrafo? quando nem ele existe no átimo do momento desta subversão? ou tudo que é sólido se desmancha e se recompõe palpável apenas assim pela fotografia? entre o olho que avista e o dedo que dispara quantos universos desabitados se mostram - ou se escondem - . eis-me divagando o existir de lá não sei onde o dedo faz a curva e o olho dá o bote na velocidade da luz( foto: antônio quaresma ).

Friday, August 15, 2025

tamanho não é documento ou palavras de " consolo "

nas madrugadas em que retornava à casa, no largo são francisco da prainha, contíguo a praça maua, sempre abordado diariamente por um cigarro, me confidencia a puta velha de zona, da qual me tornei quase amigo, em sua infinita sabedoria, notório saber do ofício, em papos semi diários, a frente dos puteiros da praça, com seus neons já esturricados, estes sim, museus do amanhã, entre baforadas exaustas, a sentença das cinzas: " dos homens de pau grande, você sabe o que pode esperar. mas dos homens de pinto pequeno, é certa a incógnita: você nunca sabe do que são capazes. e acredite, por experiência própria, o inesperado sempre acontece. não tenha dúvidas. mas se as tiver, aí já será tarde". pois, eu não seria louco de duvidar. 

imortalidade

não tenho muito mais tempo de vida. mas o que viver de agora em diante será pra sempre.

Monday, August 11, 2025

as aparências ( não ) enganam

tudo começa ou finda no não parece

solstício de verão ou quase morte em veneza

na frente de casa, vizinho que não sei  "daonde", cumprimenta do alto dos seus vinte e poucos anos: - fala coroa!  quase um susto. mais com a gíria velha e menos com a constatação. sim, sou coroa. e se pensar bem, vou além disto, o que afinal acaba sendo bom: afinal nem tão velho na aparéncia para cravarem o terceira idade ( que denominação mais cu) nem tão jovem para escapar do fala coroa. um pequeno choque de realidade, já que às vezes me vejo, sinto, procedo como adolescente, menos por devaneio e mais por espírito, apesar do espicaçado do equilibrio que começa a tontear e das artrites que cavalgam o eia! chegamos cá. desta vez, fiquei menos susceptível do que quando a jovem médica otorrina, em meio a exame básico para avançar ou não com o diagnóstico de sindrome de meniére ( últimamente estou três chic, só doenças em francês como a de peyronie e a artrite psoriática, que não é em francês mais mas parece titulo da legião estrangeira) estalou na cara: -  o senhor tem de se cuidar; porque não parece mas é um idoso, com um sorrisinho algo filho da puta entre o cínico e o este eu ainda pegava, o que creiam-me, dada a situação, não me deixou nem um pouco vaidoso ou com tesão. de tal sorte que o fala coroa foi respondido com o vigor de adolescente, enquanto o sol se punha, ainda dourando corpos de coroa e cabeça de adolescente, devidamente consciente que o arrebol é sinal a se pensar, pois é adolescente ao acordar e coroa ao se deitar. no meio disto há sempre o corpo que cai e a cabeça e espírito que se recusam a ir junto. na próxima consulta a otorrino, me comportarei como velho tarado e gagá, ainda que seja só no pensamento, já que o adolescente nunca foi assediador.

Thursday, August 07, 2025

pro dia nascer feliz

tal e qual areia movediça, religiões. quanto mais você afunda, mais distante está da pretensa salvação. ironia sacralizada, mãos que o desespero julga salvadoras, são as que vão te empurrar pântano abaixo com a ferocidade de compactadoras de lixo. aquele que reza, nestas horas de agonia e falso extase, a não ser o chorume do histerismo e estertores,  estão tão distantes da realidade historica de todo o mal, que hoje já não mais se esconde, que origina e perpetua o é dificil das religiões, que o mais saudavel é você dar uma boa mijada nos portais delas todas. mas cuidado com os seguranças, os únicos anjos que esfacelam seu pescoço sem asas. 

ditos nada populares

manda quem fode. obedece quem não tem juizo.

não foi por falta de recibo

tenho gratidões que não se expressam, ódios que não se materializam, amores infundados e desprezos desmedidos, ainda que justificáveis. meu sorriso, de há muito, quase nunca é espontâneo, principalmente aos dentes neon com os quais me deparo mas vivo despertando reciprocidades.  em suma: para os tempos que correm, periga ser considerado sujeito normal, ainda mais se tiver posses. isto dito, sequer vai precisar de terapia de reposição, muito menos, nem isso, rivotril. diagnóstico recebido, saquei a velha faca de caça, adquirida em leilão beneficente e deixei o doutor estrebuchando, não sem antes desenhar-lhe novas orelhas e livrá-lo daquele nariz que atrapalharia o fecho do caixão. ninguém merece. mas saindo do consultorio, lembrei-me que havia esquecido de pedir recibo para imposto de renda. não faz mal, deduzo na conta do proctologista já lá na semana que vem. já a memoria já não vai bem como dantes. onde foi mesmo que enfiei o recibo? 

reflexos

hoje, os dentes são falsos; os olhos são falsos; os peitos e a bunda, e até o caralho, é falso. é falso o diploma e a tese, que a IA foi que escreveu. é falso o dinheiro, que foi feito pra ser dinheiro de verdade,  assim como o dinheiro de verdade que foi feito para ser falso. ouro falso e as joias falsificadas são quase diamantes desde que não sejam falsificados. estão falsificando até chineses, que hoje estão deixando as falsificações para trás ainda que o estigma e preconceito os acompanhe e siga em frente. é falsa a crença, a religião, o papa, deus e o pastor. mas isso sempre foi. e também o que tem de pai de santo falso não está no terreiro. deuses, santos, entidades, são sempre moedas de troca, cujo câmbio jamais lhe favorece. no combo da falsidade tome os livros "sagrados", todos, onde é sempre o falso que crucifica o profano que não se queda falso. é falsa a esquerda que não sabe diferença entre hipocentro, epicentro e se enquadra na falsa categoria de centro esquerda. já a direita, é sempre verdadeira em suas falsidades, já que a falsificação é sempre a sua mais pura verdade. são falsas as redes sociais, dos perfis as suas finalidades, pérfidas. graças a elas, o falso é o novo totem louvado enquanto a verdade se esgueira por onde ninguém a quer mais ver, mesmo que esteja presente nos sinais que também abrigam falsos verdadeiros. é falsa a ética, não só a verdade, a honra, a fé e o amor, inclusive o amor próprio e até o tesão. e por conta disso, o que você vê no espelho é absolutamente falso em toda sua verdade.

Tuesday, August 05, 2025

Monday, August 04, 2025

sem recuperação

se a vida é um eterno aprendizado, a maioria das pessoas toma bomba. e as que ficam em recuperação, estas é que não aprendem mesmo, principalmente as que acham que sabem tudo. a humanidade está sempre abaixo da média. a culpa é do ensino médio?

Sunday, August 03, 2025

unanimidade

por trás de todo gênio há sempre discórdia.

miragens

as pessoas não percebem que o bom dos sonhos é enquanto eles não se concretizam. uma vez concretizados, é só pesadelo.

Thursday, July 31, 2025

requiem aeternam

vou me dissolver em sonhos não realizados. é a ideia da morte mais próxima que tenho. e que gostaria, se é que me é dado ter o ultimo gosto. o corpo apodrecendo, claro. claro-escuro, miíases finalmente reinando no pedaço numa ciranda em busca da última carne ainda não decomposta - miíases, as populares bicheiras, não comem carne apodrecida, ledo engano se assim pensava - e como os sonhos não tem cheiro, a combustão da podridão dissolvendo a arte da carne em fumacinhas indigestas, devo evitar optando pela cremação, o tal fogo que não arde? já que ninguém se dá conta enquanto os sonhos devaneiam sobre o cadaver que agora em sendo natureza morta, enterrado nalguns dias, se fosse quadro, seria bacon ou picasso ou quem sabe pollock depois de umas semanas. se fosse música - eu gostaria - debussy mas se fosse prapular, dê um rolê - que eu dei - ia bem com a ocasião, modesta para mim. apocalipse now viria a calhar como despedida e o rodin ( sem essa de idéia pra lápide, minhas cinzas vão num barco que não se faz de oferenda pra iemanjá dispensadas na praia manaíra) o pensador condiz com o que não se tem pela frente, pois se muita gente mata o tempo antes do tempo os matar, como a mim matará, morto, o tempo é o infinito que o finito da vida humana rente ao chão não engolirá. gullar disse certa vez que a arte é necessária porque a vida só não basta. mas quem disse que a arte precisa da vida medíocre que levamos? a arte é outra dimensão de tempo espaço pensamento, habitada por quem não morre, basta ver os exemplos. ai de mim, ai de ti, ai de nós, míseros mortais. morremos por nada. os artistas morrem pelo universo afora. e viver assim, contradição, vale a pena. por que mais importante do que se viver do jeito que se quer, uma paralaxe da liberdade, é morrer do jeito que se quer, isso sim liberdade no fim, porque no começo ninguém tem : nascemos escravos e a maioria jamais se libertará, incluindo os praticantes da arte falseada. a morte existe porque a vida só não se basta.

Tuesday, July 29, 2025

meias verdades

para os outros falo a verdade. para mim, invento pequenas mentiras só para ver se sou capaz. com a leve esperança de não ser descoberto, digo sempre que não adianta mentir para falar a verdade. espero que isto  também seja uma mentira. ainda acabo por acreditar.

Saturday, July 26, 2025

antes que o tempo acabe

o tempo é o que se faz dele? supertições à parte, há quem diga que ter relógios parados em casa é um atraso de vida. o sujeito marca passo indefinidamente enquanto mantiver de parede, pulso, bolso ou carrilhão parado. tô lascado então; incrustado no tempo espaço de einsten? há alguns anos, uso relógios de pulso que não funcionam mais. alguns, valiosos financeiramente, como o omega speedmaster série " homem na lua ", outros: nem tanto ou muito longe mas que abrigam contagens de emoções muito mais importantes que o tempo gasto nelas. portanto muito mais valiosos. relógios tem seus mistérios, temores, dissabores e amores. marcam paixões, desgraças, guerras, paz, infortúnios e nem tanto de felicidades. exercem um fascínio que o mais radiante celular jamais terá. e o que dizer daqueles que no meio da foda insistem em não largar do pulso quando surpreendidos pelo pedido de "amor tira o relógio"? medo de que o amante enfie até o pulso nas preliminares? ou receio de que meça o tempo ainda mais curto que o bilau que a penetra? devem ter inventado a mesa de cabeceira para isso. mas nem assim o relógio deixa de assustar que o digam o - nossa! já se passou tanto tempo assim? ou o brochável - mas já vai? não faz nem 10 minutos que chegou. sexo à parte. uso-os mesmo assim. parados, com um prazer ainda maior do que quando os comprei. saímos a passear, tal como ao levar meu cão velho para seus últimos passeios. criamos nosso próprio tempo. esquecemos a hora e vivemos o pulsar do pulso que os sustenta e não mais os move e que em breve também não moverá a sí. mas parados relogios, não contamos o tempo, nem as horas, minutos ou segundos. vivemos eternamente o momento sem nada que nosavise de que o tempo vai acabar em breve.

Friday, June 13, 2025

Friday, June 06, 2025

almofadas da ilusão ou quaresmices das boas

voltas em torno de si mesmo, antes da luz na retina - tão real quanto virtual - virar imagem no seu cérebro. um trem saindo do túnel ou um novo amor? não saberia antes de dobrar a próxima curva e cair de joelhos. amanhã será outro dia?

Thursday, June 05, 2025

um corpo que cai

já nem estou mais aqui. frequentemente perambulo mundo afora montado nalguma música, pintura, fotografia, memória ou soluço. entre o futuro passado e o presente movediço me ausento. de certa forma antecipo o que virá. estranhamente é uma sensação boa e tranquilizadora saber que tantas coisas não faço e nem farei mais. quase esboços do que fui e croquis do que não serei. uma multidão de fotografias ou melhor negativos não revelados mas bem vívidos na química dos meus sabores e dissabores. ligeiramente enebriado, percorro anos e anos na velocidade da luminescência do meu lusco fusco em começo do fim da existência. ora cigarra, ora vagalume, um acorde diminuto, um sono aumentado. o corpo cai, algo que não é nem alma nem espírito se levanta. não vou junto. mas também aqui não fico. última penugem e sopro. mas quem garante?

Thursday, May 29, 2025

quase um segundo

não acredito em xamãs, a exceção de uns: fotógrafos. quando digo uns e não todos, porque nem todos tem a capacidade de estabelecer conexões com espíritos e outros, mundos de forma que, muito mais que respeitosa e admirativa, me metem medo; tamanha profundidade de suas revelações com aquilo que, não só não vemos, como jamais imaginamos que possam existir. lenda ou má interpretação, há quem diga que os índios não gostam de ser fotografados porque fotos ( fotógrafos portanto ) roubam a alma - alguém se lembra do mito de uma geração, filme do oliver stone, sobre os doors, com val kimer baixando o jim e seu diálogo com um índio que lhe avisa sobre o roubo da alma? -. acredito piamente que sim. nada, nem ninguém, religioso que seja, psicólogo, psiquiatra e o que mais queiram citar, chega nem perto do que a fotografia (fotógrafos portanto) revela ao prescutar o humano num "clic", obtendo resultados que vão além do divino ou diabólico, como o senso comum costuma definir fenômenos que não entendem e que outras atividades, até científicas, gastam anos e não imprimem a realidade captada ou seria reconstruida?  de forma tão instantânea. a fotografia é algo, me atrevo, que nem o universo quântico consegue decifrar, pois ela capta o que está mas não está lá, no momento de sua obtenção. é o ôlho dentro do ôlho da máquina, dentro do ôlho do tempo espaço que pisca para nós durante toda existência mas que só a fotografia consegue piscar de volta causando o espanto do que se deixa fotografar sem dar-lhe tempo de posar. e isto vale até para as selfies ( não aquelas tagarelas narcisisticas das redes sociais). coragem de roubar a sua própria alma - sinais dos tempos - hoje quase todo mundo tem. mas feito por um xamã, pode ser uma experiência devastadora -  para o bem e para o mal. não recomendo aos medíocres. muito menos aos que se dizem fotógrafos de " celebridades".