Thursday, July 31, 2025

requiem aeternam

vou me dissolver em sonhos não realizados. é a ideia da morte mais próxima que tenho. e que gostaria, se é que me é dado ter o ultimo gosto. o corpo apodrecendo, claro. claro-escuro, miíases finalmente reinando no pedaço numa ciranda em busca da última carne ainda não decomposta - miíases, as populares bicheiras, não comem carne apodrecida, ledo engano se assim pensava - e como os sonhos não tem cheiro, a combustão da podridão dissolvendo a arte da carne em fumacinhas indigestas, devo evitar optando pela cremação, o tal fogo que não arde? já que ninguém se dá conta enquanto os sonhos devaneiam sobre o cadaver que agora em sendo natureza morta, enterrado nalguns dias, se fosse quadro, seria bacon ou picasso ou quem sabe pollock depois de umas semanas. se fosse música - eu gostaria - debussy mas se fosse prapular, dê um rolê - que eu dei - ia bem com a ocasião, modesta para mim. apocalipse now viria a calhar como despedida e o rodin ( sem essa de idéia pra lápide, minhas cinzas vão num barco que não se faz de oferenda pra iemanjá dispensadas na praia manaíra) o pensador condiz com o que não se tem pela frente, pois se muita gente mata o tempo antes do tempo os matar, como a mim matará, morto, o tempo é o infinito que o finito da vida humana rente ao chão não engolirá. gullar disse certa vez que a arte é necessária porque a vida só não basta. mas quem disse que a arte precisa da vida medíocre que levamos? a arte é outra dimensão de tempo espaço pensamento, habitada por quem não morre, basta ver os exemplos. ai de mim, ai de ti, ai de nós, míseros mortais. morremos por nada. os artistas morrem pelo universo afora. e viver assim, contradição, vale a pena. por que mais importante do que se viver do jeito que se quer, uma paralaxe da liberdade, é morrer do jeito que se quer, isso sim liberdade no fim, porque no começo ninguém tem : nascemos escravos e a maioria jamais se libertará, incluindo os praticantes da arte falseada. a morte existe porque a vida só não se basta.

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