viagens,rotas e destinos.pirambeiras,becos e ruelas. atalhos e picadas.portas,pontilhões e ponta-pés. vida trilhada à pele.enfim,um blog que coleciona topadas e joanetes a procura da reflexologia podal.
Monday, November 10, 2025
quase satisfação
não desatei a escrever do nada. digamos que programei o instinto no dia que li que o pedro navas escreveu seu " bau de ossos ", primeiro livro, cujas memórias estenderiam-se em 6 volumes, aos 64 anos. muito embora tivesse escrito poesia antes*, coisa que desastradamente o fiz, ao contrário do pedro, com algumas delas publicadas em suplementos literários de jornais com até certa importância, o que não me envaideceu, até envergonhou, pela absoluta falta de seleção mas de talento nem tanto. um poeta medíocre é um poeta, o que de certa forma satisfaz aos medíocres. não foi o meu caso, atendo-me a satisfação. o primeiro escrito foi num jornal escolar nos tempos de ginásio onde meti a caneta no padre diretor do colégio cujos boatos diziam que ele comprou um jipe, que se tornou famoso - padre e jipe, comunhão no dizer das carolas excêntrica naquele bairro de periferia onde o pula pula do jipe nas ruas esburacadas suscitavam movimentos sexuais as tais? - com a mão grande. nem chegou a ser publicado, pela boa cisma do editor que não teve o mesmo cuidado em se desfazer dos originais, deixando-os esquartejados mas passíveis serem lidos o que quase me custou a expulsão. não vou descer aos detalhes mas não, não sentei no pula pula do padre pra ser liberado. quando cheguei ao jornalismo já sabia dos perigos de tentar buscar a verdade mas qual o quê? de nada adiantou. capítulo à parte, pulei para a publicidade escola que me possibilitou exercer a síntese que nunca foi o forte do " menino bom de redação" já no primário, apesar de como tituleiro, na função de secretário de redação, já sintético no "18 toques e duas linhas" ainda em máquinas de escrever. retornei ao jornalismo com a mesma tendência de não ter senso do perigo. de resto, fui minguando nas duas atividades. escrever não era o plano. mas fora de mercado ou da zona de combate, abri cacetada de blogs para exercitar síntese, conhecimento, ritmo e escrita diversa, sem buscar audiência mas minha atenção para tiques, toques e cacuetes, com prazo de escrita pré definido: 5 a 10 minutos. deu, deu. não deu, fodeu! sim, sou um fodido com sanha de fodedor. não mencionei que escrevi cerca de 80 letras de música, nos anos 70/80 que, na bagaça de hoje, teriam qualidade para não vender. mas voltando ao pedro, encasquetei que também começaria a escrever aos 64. e o fiz, não memorialista, não sei se um pouco antes ou depois da idade. não me levo a sério, nem deveria. quando comecei a compor o fiz porque não sabia tocar as músicas dos outros e nem as minhas, diria meu alterego do contra. e escrevo porque jorra, ora esgoto, ora lágrima, da fonte em algum resto de mata que já foi verdejante. minhas vírgulas esquizofrênicas( batismo do andré ) me acompanham com o socorro de clarice ( as vírgulas são minhas eu as ponho onde quiser ) mas sem o habeas corpus da lispector. em suma, não sou escritor de escrever mas de escreviver com seus baixos quase inundando os altos ( jomard na cabeça ). li cony, hermilo borba filho, dalton trevisan, rubens fonseca, baudelaire, rilke, brecht, genet, artaud, miller, sade, rimbaud, sá carneiro e gente da mesma laia. não me iludo ser da mesma tribo. sou apenas palavreado de extinção. e por falar em extinção, quando pedro morreu, editores amigos seus, como o jaguar do pasquim, omitiram que havia um michê na história, para preservar a imagem do pedro e preservar a família. talvez, só por isso, foi bom não estar no jornalismo e passar a escrever variedades. não aprendi a colocar vírgulas gramaticalmente corretas, a escrever para o que ou quem não seja poucos e tampouco perdi a indelicadeza de perseguir a verdade. há médiocres que vem para o bem dos acima do bem e do mal mas não acima da moral, que reduz partes da sua vida a rascunhos sem direito a tornarem-se escrita plena e libertadora. muito mais que num baú, o pedro humano escondeu-se no "memorialista de fachada" para se proteger dos desenganos da vida real que é sempre escrita com outras letras. um escritor maior numa vida menor. ninguém escreve ou vive impunemente. pedro nos revelou isso não com a escrita mas com um tiro.
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