Monday, November 10, 2025

fábulas nada fabulosas ( quase d'après millor )

há uma fábula paradisíaca que afirma que depois de morto você vai encontrar seus entes queridos. antes do meu riso às bandeiras despregadas deixe-me dizer que meus entes queridos são 34 gatos e 8 cachorros mais uns e outros que alimento esporadicamente quando aparecem, o que significa que é com eles que vou me encontrar, o que, dos males o menor, não torna a fábula menos desparafusada. ora, se entre os humanos, cada vez mais degradadamente abjetos, imperdoáveis, escolhi os animais no meu fade final, nem pelas barbas do profeta escolheria reencontrar humanos, sejam pai, mãe, antigas namoradas ou algum raro amigo, incluindo o alvinho, do qual muito lamento não ter estado com ele por uma última vez. então vinde a mim os animais - as criancinhas que vão as putas que as pariram - mas dos dragões de komodo, destes quero distância. como bem disse o comediante do beck * : no cú de nóe que eles estavam na arca. e como essa barca furada é, cães, gatos, os timbús que não pude salvar, de todos os outros, pássaros, que ficaram nas gaiolas, que não pude arrebentar e os peixes de aquário, que não devolvi aos rios e ao mar, junto ao grupo de saguins que me visitavam caras e bocas a me refletir e os jabutis sempre a me pedir amoras e suas folhas com as quais limpavam a boca da bosta de cachorro que almoçavam com gosto que os faziam lamber os beiços. na minha minúscula arca, caberia na fábula, uma vez inanimados? livros e discos, boa parte mijados dos gatos @#__$!* complementariam o encontro dos quais nunca houve separação e por isso mesmo nunca objeto de reencontro. apenas página arrancada do fabulário que como milhares de outros é fabulística sem estatística de bilhões. o que os vivos não aprendem nunca, é que os mortos não querem reencontro. mortos não querem nada, nada mais além do nada. o nada que tudo abarca inclusive o tudo, aquele tudo que em vida os vivos transformam em nada por pura ganância de querer abarcar o mundo com os olhos que se tornam míopes pelo convívio logo depois de nascer. já com os animais que não tem noção, mas sim premonição, de que vão morrer é tudo agora e depois nunca mais. nós, sabemos que vamos morrer mas não temos idéia de quando e como e tudo vai sendo vivido fragmentado, o importante sempre para depois e o falsamente importante agora( se der fama ou lucro principalmente ) daí o arrependimento que busca o reencontro. animais não sabem que vão morrer mas tem a premonição exata de quando é hora - salvo os atropelos que humanos e animais estão sujeitos - e como sua vida é curta a expandem vivendo mais do que a vida lhes oferece ( ou nós permitimos, com nossa crueldade imparável ). fábulas escondem tristezas e monstruosidades que escondem todos os finais felizes. e final, é ponto. e morrer é ponto final. não há fábula nisso, além da sua que te apavora por mais que você diga que anseia por ela.
* rodrigo marques

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