Saturday, September 16, 2017

o tempo dos meia-bôca


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e chegou o tempo em que nos tornamos vitrines das nossas dentaduras. ao menos para aqueles que não são banguelas nas carteiras.

dentadura pode lhe parecer um termo ultrapassado(não para a corega, of course) sendo no máximo aceitável, prótese móvel, coisa de pobre, mas não tanto.

com todos estes implantes soltos por ai, esta uniformização de sorrisos embranquecidos, até facetas que a mercantilização batizou de lentes de contatos(nos dentes, não é uma gracinha?) ao custo de um sala e quarto em bairros nobres das maiores capitais, onde fica a espontaneidade? a verdade dos nosso sorrisos? quão mais resplandecentes, quanto a nossa alegria manifestada por entre as falhas de nossa boca, leia-se dentes trincados na mastigação da vida sem subterfúgios?

é tudo tão igual, tão perfeito, tão flúor do flúor, que antevejo florestas não mais de cadáveres mas de "luzes negras" - lembra dos bons tempos dos anos 70, das luzes que assim chamadas nos tornavam "almas penadas",ainda mais com nossas taras pelas "lourinhas de aparelho" (poupem-me politicamente corretos, que estou do lado do não racismo. mas aos 13, quem sabe o que é isso?  quem por acaso questiona porque só as lourinhas tinham aparelhos? - sim alguns já questionavam, mas não me estrague o raciocínio - já que a tara, não era nas lourinhas propriamente ditas, mas em saber se o beijo era eita! ferro, não importava a cor de quem o usava, pois era a fase onde se pegava e nos apegávamos até em cabo de vassoura.

o braqueamento com suas facetas, e os implantes, há os implantes, escolhidos a dedo, são o sinal supremo da superioridade financeira de alguns, e da paridade de pensamento "igualitário". é tudo tão igual gente, que não há sorriso diferenciado. parece até uma animação de caveiras batendo queixo. aliás, tem gente, atores, cantores, inclusive, que pecado! que até tem dificuldade de movimentar a boca, e nós de reconhecê-los como dantes.

aqui não falo da questão da melhoria fisiológica dos desdentados. não nego isto. mas sim, da banalização do sorriso perfeito, do sorriso esbranquiçado como novo passaporte para a aceitação social e para o reconhecimento como tal.

mundo estranho este, onde tudo que é artificial, tenta nos convencer de que é real, e melhor que o original, mesmo que o original seja um horror, ainda não é o circo de horrores que se tornou o humano com seus sorrisos de dentes emplastados.  é não basta o dente. tome beiço, bunda, barriga, bochecha, biceps, só para listar a parte do cardápio na letra b, já que você sentiu falta dos peitos(pênis ainda não tem, ainda?)

meu dentista estranhou quando recusei o branqueamento. recusei também a plástica nos meus caninos tortos. eles são a marca das minhas mordidas na vida, com suas cáries, bafos, e extrações de coisas tão importantes como os dentes, sim, importantes. mas não mais importantes que as verdades contidas na minha, na sua, expressão facial e nas deles. 

se assim não fosse, imagine matogrosso , sem o seu diastema inconfundível? ou o farrokh bulsara(fred mercury)sem o seu prognatismo(não confunda com protagonismo porra!) exibindo-se como manequins de dentaduras?

a vida, e seu brilho, é bem mais do que uma boca reluzente. e o paradoxo é que só se aprende isto quando se perde alguns dentes ou quando se acrescenta muitos.   
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aos incautos e desapercebidos: ritchie, que já cantava nas abadias londrinas - o cara é inglês, se você não sabe - não conseguiu levar adiante seus estudos para a flauta, pois seus diastemas(espaços avantajados entre os dentes) faziam falhar o sopro. eis que então adotou o canto. seria o mesmo como flautista, à custa de correções dentárias?

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