Friday, August 25, 2017

em busca dos eu perdidos

Resultado de imagem para proust
valentin louis georges eugène marcel
ou apenas proust,
 tocando sua guitarra imaginária.
imaginação dele ou nossa?

sim, caro leitor, há um pingo, o certo seria dizer, cuspe, de proust, por aqui. sou mesmo um otimista degenerado, e sigo crendo que, na farofada da web, gente há que sabe quem é proust, e que, menos ainda, o leu - compreender, só sendo otimista assim na casa do caralho(mas existem sim).

é um tempo terrível, este. dizem que as pessoas, a humanidade, está perdida. diante dos novos tempos - que nada de novo trazem aos nossos viciados erros e saltibancos acertos. 

também pudera! neste novos tempos, que de novos nem a etiqueta do homem remarcado, foi retirado ao homem = a mulher - sua mais inata propensão autóctone: a capacidade de errar - e acertar - por conta própria.

explico, se você não é "leitor de proust". duas coisas são fulcrais na formação do homem= mulher. o tempo, e o erro. a humanidade chegou ao que chegou, e olhe que não é grande coisa(talvez isso seja só uma figura de linguagem) depois de um quase interminável período - ou seria lapso? - de tempo. e também graças ou desgraças de seus incontáveis erros. então, na base da tentativa e erro, aos trancos e barrancos, chegamos aqui. e mesmo que o resultado não seja assim tão alentador - pelo menos para os "leitores de proust" - não foi mole, nem foi pouco. mas que foi muito atabalhoado, foi. apesar da linha sinuosa, que para os leitores de (você já sabe né?) que nunca se enganam, que examinada distanciadamente, é  reta.

o que acontece agora? sem ter aprendido nada, ao que parece, com seus erros, a humanidade - o sistema capitalista assim dizendo - estabeleceu os novos parâmetros do homem com base na busca desenfreada da eliminação dos erros(o que não quer dizer a busca da perfeição, existencial ou espiritual, ou o que quer que isso seja) e da maximização dos tempos. ei-nos senhores como o mais novo fruto, que não bastasse ter sido enxertado, agora transgênico (não confunda com transgênero)de maneira a não produzir limalhas à engrenagem.

a formação do homem = mulher - dá-se como experiência (mal-sucedida, cravo) em ratazanas. somos instigados a acelerar o tempo de amadurecimento(eu chamaria de idiotia) desde a mais tenra infância, incluindo ai a sexualização, a erotização biotônica(que é diferente da sexualidade), ao plural de atividades(aulas de ballet, inglês, tênis, natação, robótica, empreendedorismo, tudo ao mesmo tempo agora, que este é que é o mal(não as aulas em si) de modo que a criança perde o tempo de ser criança, e nem sequer chega a adolescência sem a carapaça de robot que lhe é impingida. assim, não tem como o já humanoide não apresentar "defeitos de fabricação" que, se classificados como desvios de conduta desinteressante ao sistema, sofrem logo o recall das psicólogas de plantão, que tratam de eliminar o que restou de aparente humano, pelos cuidadores do pedaço.

adultos, uma geração inteira já formada pelo sistema neste sistema, sequer cogita o tempo para os filhos. o tempo, e o tempo do pai = mãe - com os filhos foi sendo- e as figuras, paterna e materna - substituídos, primeiro pela jurássica, hoje, televisão. depois os jogos, também jurássicos, em seu começo, até chegar-mos aos smart phones, que tudo englobam, e que delineiam e permeiam a idiotia geral. nada de atividades lúdicas ou telúricas. apenas o preenchimento da vida - e de seus valores, na verdade um troca-troca - por gadgets tecnológicos que dão uma sensação de modernidade e poder pra lá de ilusórias, e má compensação ao desandar da consciência, com suas crises, de pais e filhos, num play desgovernado, e assim sucessivamente, já agora ao longe de novas gerações.

eis os novos tempos de coachings, de personal trainers - do que você imaginar, até de "colocar sal no feijão. agora não temos mais eus a procura do verdadeiro eu de si próprio, o que só acontece com as tais tentativas e erros, dentro da parte do tempo que nos é concedida a tal procura, nem sempre fecunda. mas isso é a vida real. fora dela, tudo mais é matrix.

mas agora, matrix ou não, de cara, qualquer eu é imbecil. o coaching, dizem - na mentira assim são vendidos - são os novos feitores da ajuda imprescindível para você melhorar sua performance. de tal sorte, que sem ele, você é um soldado dado com o morto antes da batalha. game over para o seu eu, sem eles, dizem os prospectos.

e para maximizar( a palavra que foi o leviatã do surgimento destes novos tempos) o seu eu pessoal, depois do seu eu profissional, surgem os personais de tudo o que você imaginar. dos físicos, aos psíquicos, até aquele que lhe mostram o ângulo correto da inclinação necessária para palitar os dentes com mais acuidade. em suma, você é conduzido, na vida pessoal e profissional, ao máximo que podem arrancar de você, o que é bem diferente de tudo o que você poderia dar, o que só se descobre com o tempo das descobertas dos erros e acertos, na infância, na adolescência, na média idade, no trabalho e na vida pessoal e, sim, também mui importante, na velhice. quando se faz a prova dos nove das respectivas retrospectivas, e que nalguns casos ainda determinam mudanças felizes, ou que sejam infelizes, no tempo e trajetória da vida que lhe restar.

mas não. isto hoje lhe é negado em nome da proficiência efetiva ao rumo traçado. só que este rumo não foi traçado por você - mesmo quando pensa que sim. e sim, pelo conjunto de circunstâncias criadas para fragilizá-lo a tal ponto(eles vendem como fortificação do seu espírito, assim como as "bombas" para os músculos e cérebro) que você desaprende a reconhecer o seu eu. e ai, sim, você estará cada vez mais dependente deles, porque vai se perder de si a tal ponto que se perderá do seu eu para sempre. constituindo-se finalmente, de vários eus , mas nenhum seu verdadeiro eu.

aqueles que não seguem tais predicados são os socialmente inadequados, o novo nome para os outsiders, para os freakers, para os porra-loucas, para os revoltados, se assim o quiser.

deve ser por isto que há "tão poucos leitores de proust" na web. no mundo lá fora já não se acha. por aqui, o que seria um novo caminho, também se perdeu. 

e agora: quem busca o tempo perdido, acha alguma coisa além de proust? para além da "legião" ?

quem sabe fuçando os sebos da vida, os eu originais ainda não tenham se desencontrado, desintegrado? 

é recherche pra ser. 


  

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