Wednesday, March 22, 2006

nem azul, nem rôxa

primeira vez, rio, influência de santa teresa? não sei. acho que estava meio escuro por dentro. dura e cheia como se diz. dura de ser ver, e cheia de falhas. ainda assim uma cantada mal dada? rosto bonito, pra que esconder? retrato tenho até hoje. durou pouco. ainda dava pra ver o menino por detrás.
segunda vez, lembro direito não. mas também foi curta. ela e o período. terceira? tenho dúvidas. mas não quanto ao período. e se quarta e quinta houve, mal deu tempo pra escrever.
agora, é pra valer. perdura há meses. já passei do tempo que agonia, mas como incomoda os outros. a mulher reclama, primeiro que espeta, depois que emplastra, antes de partir que é mosca na sopa. viajo e ainda me faz prometer que vou tirar.

um homem é mais bonito com suas dores diz a canção. mas não se trata disso não. também não enjoeei do rosto. afinal, já me acostumei aquilo que é, acrescido agora das marcas do tempo, dos dissabores, da gravidade, da vida e da lei, de maneira que se não usei disfarçe nas piores horas, não seria agora.

passo o tempo a cofiá-la entre o polegar e indicador. não tenho tiques, isto também não é, apenas jeito novo de ir fazendo as contas do que conta e do que não conta. pelo menos instala-se em mim e enquanto cresce tranquiliza-me a calma. vai crescendo como se fosse meu brinquedo virtual. uma trepadeira no muro, um ninho no jardim.
porque tanto incomoda os outros? está ali, quietinha, não se mete com ninguém, não distrata a alma de nenhum vivente. porta-se indiferente ao que ao redor passar, apenas me acompanha e dá-me feições mais etárias ao que dizem ainda não se pregou a minha idade.
que tempos são estes sem sinal algum de liberdade por mais que pareça, que repete-se de desumanidades a cada instante, em que não se pode fazer um corte de cabelo diferente, não se pode intentar de ser emo(bem ser emo depois dos 50 nem pra fazer rima com demo mas vamos lá) que sempre tem quem apareça para opinar se deve ou não deve, se tem ou tem estilo, se fica ou não se fica bem. e isso depois do maio de 68, do flower people, do village people, do people que o pariu?
apenas uma barba, nem azul, nem roxa, grisalha, nem isso um homem pode tê-a e vê-la crescer em paz sozinho consigo mesmo e com ela própria ?

1 comment:

Eliza Araújo said...

essa doeu minha barriga, celso. acho que você tem um belo argumento. digno de um artigo na constituição.

mas quanto a ser emo/demo, não vejo restrições, só retaliações.
:)