Saturday, January 21, 2006

na orla do quase, memórias de manaira a tambau

querem-na arrumadinha, arrumadinha e pra lá de belas
minhas quase praias sem ondas

ai destroem antigos casarões de veraneio
casas de pescadores, colônias e cascalham-te com calçadas de quases tudo inútil
arrancando coqueiros que dão cachos de história por contar e onde muita gente boa foi futrida

arrancam do arquivo fotos em preto e branco de vendedores de brebote, frutas, cestarias, redes e carregadores de peixe fresco
sem esquecer dos gatos de rua e cachorros vira-latas
soprando as jangadas com ventos de má fé
que desejam as gameleiras

agora tudo são pixéis de fiorinos e minivans koreanas
quase desfile de traileres de apetites deturpados
da gente que pisa na calçadinha como estivesse se pisando pegajoso

e como se não bastasse o coco verde perdeu-se da foice

o urbanismo asséptico substitui as mijadinhas purificadoras
dos bebados nos cantos da rua
por boca de esgotos que vão parar nos cantos da nossa boca
amargas bem mais do que ressacas
proibidas ao mergulho

e, toque final,
sobem em seu lugar
arquitetura
de peixes de plástico
como consolo aos aquários dos dias de sol

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