Sunday, January 29, 2006

farofada

galinha assada, farofa, arroz e batata frita, e aquele marzão de asfalto nos botes de ônibus. até chegar a praia, metade do almoço e domingo já foi pra pança.

mal chegados lá e já tem genro querendo aproveitar o óleo da galinha para assar a sogra. como se o óleo de bronzear vagabundo já não tivesse cuidando do caso.

de cunhado pra cunhado, vendo a galinha naquela posição de frango assado e já há disputa na porrinha de quem vai comer o sobre-cú da galinha da tua prima.

as mulheres sonham com métodos de emagrecimento salva-vidas e homens sem barriga de arrotos. mancebos que lhes pinçem as varizes do desejo. fazendo-as, ao menos uma vez na vida, gozar como se goza hoje até nas novelas das seis. concordam com tipos e manequins. divergem se é melhor gozar com ou sem porrada. mas concordam por unanimadade que porrada sem gozar aí não dá. baixa o pau.

as mais velhas, depois de meia dúzia de filhos, já aconselham as irmãs mais novas a deixarem-se ir ao cú sem maiores arrodeios, que embora não dilate tanto assim — elas ainda não viram certas fita pornô- dói menos que parto anestesiado por rezas de parteira. ninguém é tão ou mais ingênuo assim de achar que posto médico ou maternidade de periferia tem algum tipo de remédio. quanto mais de anestésico. e médico? nem de cuspe.

enquanto isso a filharada pátria, consegue misturar naquelas barriguinhas de umbigo mal cortado, farinha, areia, sorvete, goiabada, catarro, cream-cracker, dindim, produzindo um patchouli que é o orgulho da família e garante a defesa do território ganhando mais alguns metros na areia. mais um pouco e já virava quadra de pagode repleta de funkeiros com direito a tráfico e seguranças.

pelada alí, mergulho aqui, branquinha cá, e apesar de tudo e de todos, e da vida que não anda fácil, todos se divertem. e se esbaldam como só pobres sabem fazer. grau de felicidade rigorosamente mensurável pela quantidade de areia que retém em suas roupas de banho e nas dobras a mais que todos carregam já sem-vergonha do ridículo. praia frequentada por pobre é uma zona. onde a alegria perde os bons modos e a vida respira muitas vezes aliviada. já, há que se fazer o registro, praia de rico, é um nojo. uma coisa muito organizada, mas tão organizada, que a praia vira cartão postal. aliás, você já viu cofrinho de rico cheio de areia ?

ninguém afogado hoje, braços e pernas intactos, apenas queimaduras de primeiro e segundo grau e uma rusga só de arranca rabo, coisas de uma pelada que acabou antes de começar sem ninguém ir as vias de fato. a lamentação geral é de que galinha é um bicho que devia crescer tanto quanto perú, principalmente o cú, piada de fim de festa de cunhadinho insôsso e metido a engraçado como só êle acha. e já temos a aquarela do bucólico da família da periférica? brasileira contemplando, pra lá de embriagada de tanta beleza, o sol descendo no poente naquela praia de terminal dos circulares, agora ainda mais enriquecida de coliformes, que receberão reforço quando as comportas das bocas, pensadas para fluir tão-somente águas fluviais, abrirem-se na escuridão da noite como travestis de cloacas dos bem de vida. enquanto a noite não vem, o cair da tarde encaixa-se como uma pluma no lábaro que ostentas estrelado.e para completar o verde pendão, ao longe, como toque de recolher, uma cuíca não sabe se rí ou chora.

fecha-se o isopor da cena e estampa-se a logomarca de camiseta de político demagogo sob a correia do vazio de conteúdo.

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