"não tenho tudo que amo mas amo tudo o que tenho" é uma das piores bobagens que já vi em matéria de auto-piedade disfarçada de tirada magnânima. e que acaba penduricalho em algum para-choque de caminhão ou emplastrado em carro popular daqueles que não se sabe bem qual é a cor da pintura tamanho o desgaste e os remendos.
se visse isso num porsche - sim eu prefiro os porsches as ferrari mas porsche nenhum chega aos pés de um bom e velho jeep, dai porque - até acharia piada, mesmo que fosse a expressão de um humor um tanto quanto dândi.
mas como não, fico com a verdade dos fatos devidamente convertida: não tenho tudo que amo, consequentemente não amo tudo que tenho. dizer que sim, isto sim seria pobreza de vida para além dos vidros traseiros trincados e muito mais para os dianteiros embaçados.
a vida nem sempre é amável, e é por isso que ela é o que é. as vezes chega a ser miserável já que ela nos faz ter a obrigação, miserável, mesmo que miserável - de espírito e de carteira - você não o seja - de ter de respirar e seguir em frente, muitas vezes a um custo que não é pouco, e nem um pouco amável.
deste modo nem tudo que você tem - seja pessoa ou coisa - pode ser amado, ao menos como deveria, se você é daquele que acha que nasceu para o descalabro do amarmos uns aos outros, e tome lá na outra face. creio que deste modo, isto sim seria findar desalmado com o que realmente merece algo mais que ser amado em filosofia de adesivo ou para-choque.
muitas e muitas vezes não gostar é a melhor forma de amar ou preservar o que seja lá isto seja. compreender isto já é uma seria uma maneira de se auto-amar para além da filosofia do para-choque e do adesivo emplastrado que por mais que se distancie da realidade não nos leva muito longe, e muito menos a lugar nenhum que não seja um nada daqueles que realmente não valerá a pena o trânsito nos brônquios.
então das duas uma: abandone de vez o para-choques, como o fazem certas gentes que se atiram a vida de peito aberto, o que é sempre temerário e por isso mesmo exige peito, ou então adote uma filosofia, se não menos rasteira, que seja menos pomposa que a sua boleia na dita cuja vida que é ainda mais curta que o conselho.
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