Saturday, February 15, 2014

escatológica


não, meu caro, ou minha cara, não vou ser eufemista. ficar velho é uma merda. seja qual for a idade.

e sem essa de ficar falando da sabedoria acumulada, das indefectíveis possibilidades da terceira - que filho da puta teria a coragem de atentar mais esta contra os velhos? - idade.

mas por outro lado, perai. é uma merda mas não é nenhuma dor de barriga. nenhuma diarreia extenuante que vá além de umas cólicas de lembranças aqui e ali, e de um certo torpor nas extremidades inferiores e superiores, para não dizer na "na zona do agrião".

por isso, com as exceções de sempre, dá para levar. com certo humor, atinge-se até velocidade de cruzeiro. mas não arrisque rima perfeita entre o eiro e o bueiro, no percurso entre o quintal e a vontade de ir ao banheiro. 

porém, sim, concretizam-se outros prazeres na vida que não os desprazeres - é o fundo do poço - para além da dama, do dominó, do carteado, das palavras cruzadas, do tricô e, do valham-me deuses, dos bailes em fim de tarde em alguma instituição geriátrica, todas elas uma merda generalizada. vade retro. idem as preparações religiosas para marcar encontros no céu, que isto só funciona no vaticano, e olhe lá, porquê a eles só resta a liturgia, quando não uns pequenos de sobremesa. 

vá sim, nem que seja de ré, para a biblioteca mais próxima. e se não, se lhe falta tesão para os livros, direto ao bar ou puteiro da vizinhança mais próxima, que lá também residem sabedorias milenares. se perdeu a tesão para isso, finda por aqui a leitura e volte lá para os lugares em volta do mesmo.

de resto, se lhes resta saber, se a questão da velhice é ficar na merda, você já passou por isso, em condições muito menos defensáveis quando era jovem e ou extremamente jovem, bebê para ser exato. quem de nós não pastou na merda enquanto recém-nascido, para não dizer lambuzou-se até não mais fartar? até comíamos, coisa que garanto-lhes, não faço mais agora. e que pretendo não o fazer. mas isso são planos. e planos não se deve fazer sem contar com a possibilidade deles darem em merda.

o que é fato é que ainda velho se pode perseguir ideais, sonhos e paixões. desde que consciente da premência do tempo mas sem o desespero que marca a juventude e sua inconsciência de não saber exatamente o que é perdê-la e quando e quanto isto significa. principalmente se você não se deu a chance de ser jovem, fosse qual fosse a sua idade - não se dar a chance de ser velho é a mesma merda também.

e assim na flauta, soltando seus peidinhos, rompa a barra do dia,sem maiores preocupações do ofício. longe dos conselhos médicos que não batem com a patelas desgastadas e das sombras que apressam-se em acompanhar pernas e mentes que antes só pensavam em tornar-se o mais absurdamente visível e que agora divertem-se até com a possibilidade de tornar-se invisíveis até no não foder

sim, repito: a velhice é uma merda. mas pode ser uma merda consistente. principalmente para vidas que ao invés de ficar resumidas ganham - e não perdem - consciência da própria para além dos quocientes impostos. 


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